PÉ ESQUERDO E USO DO CHAPÉU




Em 01.08.2014 o Respeitável Irmão Rubens Sanches Hernandes, Loja Verdade e Justiça, 3.263, REAA, GOB-PR, Oriente de Campo Mourão, Estado do Paraná, apresenta a questão seguinte:

Com qual pé devemos ingressar no Templo?

Temos um membro do quadro que sempre nos questiona, como, por exemplo: Por que usamos chapéu nas Sessões de Câmara do Meio? Nossa resposta sempre foi no sentido de que se trata de uma antiga tradição e não pretendemos interrompê-la, por não haver impedimento em nosso Ritual.

Esta semana, indagou onde está previsto que devemos adentrar ao Templo com o pé esquerdo?

Gostaria de contar com o auxílio do Irmão.

Considerações:
1 – Quanto à questão no REAA.´. de se ingressar no Templo começando com o pé esquerdo de fato é mera filigrana, já que isso nem mesmo está previsto no ritual em vigência e nem mesmo em bons rituais derivados de fontes de água limpa – não confundir ingresso no Templo com romper a Marcha do Grau. Nesse caso ambas as situações são distintas e, aqui está de tratando apenas de se ingressar no Templo.

Ocorre que alguns autores ocultistas impondo as suas opiniões pessoais derramaram rios de tinta inventando essa “estória” de se ingressar no Templo com o pé esquerdo. Daí não tardou muito para que pseudo-ritualistas aderissem à temerária ideia.

Racionalmente esse equivocado procedimento não possui justificativa alguma, salvo aquelas impostas pelos “achistas” que, não raras vezes acham tudo bonito e ainda querem impor procedimentos que não estão previstos.

2 – Já no tocante ao uso do chapéu a questão é outra, pois esse costume possui base existencial característica em alguns Ritos maçônicos, como é o caso da prática no Rito Escocês Antigo e Aceito.

Embora a Maçonaria não possua origem hebraica como querem alguns autores menos avisados, desde o século XVIII, após a criação e adoção pela Moderna Maçonaria da Lenda de Hiran Abif como o lendário construtor do Templo de Jerusalém, muitas práticas místicas relacionadas aos hebreus e judeus passariam a se fazer presentes em muitos trabalhos maçônicos conforme o rito praticado, tanto na liturgia e ritualística assim como na decoração dos Templos.

Uma das razões facilmente explicáveis é que a Maçonaria, embora sem ser ela considerada uma religião e com a sua autêntica idade de aproximadamente oitocentos anos de história, nascera à sombra da Igreja Católica (cristã), cujo Cristianismo indiscutivelmente possui suas raízes influenciadas pela cultura hebraica.

Nesse sentido, a ortodoxia judaica sustentada pelo Sepher Há Zoar (Livro do Esplendor) que trata em linhas gerais, segundo a sua cultura, das relações humanas com “Deus” traduz por esse costume de que o Homem deverá manter sempre a sua cabeça coberta, desde o oitavo dia de vida - marcado pela circuncisão (brit-milá) que simboliza a aliança abraâmica com “Deus”. 

Na prática, entretanto, essa cobertura da cabeça é realizada pelo uso obrigatório do kipá, que é na verdade o solidéu – do latim soli Deo = só a “Deus” – quando da realização das cerimônias litúrgicas judaicas, embora muitos ortodoxos mantenham constantemente a cabeça coberta também por um chapéu preto.

Em Maçonaria e particularmente no REAA.´., onde geralmente a cobertura da cabeça é feita com um chapéu negro e desabado, tradicionalmente deveria ser obrigatória para todos os Mestres nas Sessões do Terceiro Grau e apenas para o Venerável nas sessões do Primeiro e Segundo Graus.

Lamentavelmente em muitos rituais esse tradicional costume não está mais previsto. Também existem Ritos em que esse procedimento de cobertura é obrigatório para todos os Irmãos em todos os Graus simbólicos e em qualquer Sessão.

Ainda na questão da influência hebraica e o uso do chapéu nas práticas litúrgicas de muitos ritos maçônicos, explica-se o fato, sob o ponto de vista teísta, que essa cobertura, tal como no judaísmo, recomenda também que acima da cabeça do Homem, de modo transcendental, onisciente, onividente e onipresente está a presença de “Deus”, ou o Grande Arquiteto do Universo para a Maçonaria.

Em tese adverte a insignificância humana perante o “Criador”, evidenciando a incapacidade de compreender a divindade, já que sendo a cabeça a morada da mente e do conhecimento, a sua cobertura denota nessa interpretação. Em última análise é o símbolo da submissão do Homem a “Deus”.

Sob o ponto de vista histórico e figurado na Moderna Maçonaria, a cobertura da cabeça remonta das cortes europeias, sobretudo na França do século XVIII, quando o rei na presença dos seus súditos (inferiores hierárquicos) cobria a cabeça em alusão a sua superioridade (figuradamente é o Venerável nas sessões de Primeiro e Segundo Graus).

Já o rei reunido com seus pares todos, em menção a igualdade, mantinham a cabeça coberta (é o que ocorre em uma Sessão do Terceiro Grau – todos são Mestres).

Concluindo, ficam então aqui consignadas essas considerações que ponderam justificativas para os procedimentos alusivos ao tema (uso do chapéu), entretanto fica o alerta de que o mencionado apenas se propõe a trazer luzes para relevar costumes hauridos da tradição maçônica sem, contudo se arvorar em desrespeito dirigido a qualquer ritual legalmente aprovado e em vigência.

Como fora aqui anteriormente mencionado, muitos desses costumes relacionados ao uso do chapéu, lamentavelmente não mais estão previstos nos rituais, ou quando não em outros, usa-se o termo “a critério do Venerável”. Como a imensa maioria nem sequer entende a razão da prática, o que se diria então se a mesma ficasse “a critério do”.

T.F.A.
PEDRO JUK

Fonte: JB News – Informativo nr. 1.563 Florianópolis (SC) – quinta-feira, 8 de janeiro de 2015


Um comentário:

  1. Bom dia Ir.'.! Sabe me informar se em algum momento o uso do chapéu constou como de uso obrigatorio em algum rito?
    Contato: Mauro Sérgio Guimaraes (mauroguimaraes00@yahoo.com.br)

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