No país de Galahad
viveu outrora um príncipe chamado Jefté que muitas vitórias alcançaram contra
os inimigos de seu povo. Jefté era judeu e governava um povo judeu.
Aconteceu que outra
tribo, também de judeus - a de Efraim -, movida por negra inveja e ambição
resolveu apoderar-se dos rebanhos e das terras de Galahad.
Informado de que os
efraimitas haviam atravessado o Jordão e invadido os seus domínios, iniciando,
desse modo, uma guerra covarde e injusta, organizou Jefté uma aguerrida tropa
de Galahad e marchou contra os invasores. Foram estes vencidos e tiveram de
fugir.
Para impedir a fuga
dos inimigos, ordenou Jefté que uma de suas colunas, postadas na margem oposta
do Jordão, se apoderasse de todos os pontos em que esse rio pudesse oferecer
fácil passagem.
E, assim, os soldados
de Jefté, por ordem do príncipe, vigiavam dia e noite todos os vaus do sinuoso
rio.
Quando um desconhecido
descia das terras de Galahad buscando a margem oposta, os esculcas de Jefté o
prendiam. Seria aquele homem um inimigo que abandonava Galahad ou um aliado
fiel que retornava à sua aldeia? Os soldados o interrogavam: - Acaso és
efraimita? - -Deixem-me passar. Sou da tribo de Jefté, sou de Galahad!
A desconfiança atirava
em todos as cinzas da incerteza. Estaria mentindo o homem?
Como apurar a
verdade? O próprio Jefte, consultado pelos seus oficiais, não sabia como
decidir. Um dia achava-se o chefe vencedor em sua tenda de guerra
quando um ancião de Galahad foi procurá-lo. Era um sábio, o homem. Estudara os
dialetos das diversas tribos e conhecia os mil segredos do linguajar dos povos.
- Príncipe! - disse o
sábio. - Existe em nosso idioma, o hebraico, uma palavra dotada de dom
extraordinário. Essa palavra pode revelar se uma pessoa qualquer pertence a
nossa tribo ou se perfila entre os inimigos que desejam a ruína e a destruição
de Galahad. Jefté, sensato e inteligente, venerava os sábios.
Perguntou-lhe,
pois: - Que palavra e essa? - - É a palavra “xibolete” (*) -
explicou o filólogo. - Um homem de Efraim pronuncia essa palavra de modo
especial: "cibolete" (a primeira sílaba denuncia logo a diferença!),
ao passo que os nossos amigos articulam claramente: "xi-bo-le-te!
Nesse mesmo dia
determinou Jefté que todos os suspeitos fossem interrogados pelos vigilantes
que guarneciam as passagens livres do rio.
- Acaso és
efraimita? Respondia o interpelado com ousadia: - Ora, deixem-me passar!
Sou de Galahad! Pois não veem? - Dize, então: "xibolete"!
E tudo ali mesmo se decidia.
Se o interrogado
falseava na pronúncia de "xibolete" (impossibilitado de articular bem
a primeira sílaba), era logo degolado.
E foram, assim, -
afirmam os historiadores - por causa dessa palavra, sacrificados quarenta e
dois mil prisioneiros!
Por causa do episódio
famoso citado na Bíblia (Juízes 12:6) o termo "xibolete" passou a
designar qualquer expressão que possa servir para
caracterizar a forma de falar de certa região ou Estado.
(*) Xibolete significa "espiga
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