A BÍBLIA DOS MAÇONS

É um problema bastante complexo, porque o podemos examinar a partir de vários aspectos complementares. Primeiro, o essencial, a presença ou não da Bíblia, ou, mais genericamente, do Volume da Lei Sagrada (VLS) na oficina; depois, o papel que ela desempenha ou não no recinto maçônico, tanto como “luz” ou “utensílio”.

Some-se a isto a participação da Bíblia na trama do ritual maçônico que apresenta a particularidade que divide com o companheirismo, de completar um fundo bíblico, essencialmente do Antigo Testamento , através de toda uma série de lendas parabiblicas que se desenvolvem no ritual para delas se retirar uma lição simbólica ou moral; enfim, a extraordinária variedade de “palavras” correspondentes a cada grau, palavras de passe, palavras sagradas, “grandes palavras” que os ritos, e especialmente o rito escocês Antigo e Aceito (REAA), nos seus 33 graus – não economizam nem um pouco.

Algumas observações preliminares. Nós provavelmente seremos incompletos, mas privilegiaremos os ritos que conhecemos bem e, especialmente, aqueles que praticamos regular ou ocasionalmente, porque na nossa opinião, a Maçonaria, para ser verdadeiramente compreendida, deve ser vivida espiritual e emocionalmente, e não ser apenas sinónimo de conhecimento.

Também o nosso comentário será essencialmente baseado nos três principais ritos praticados na França: o Rito Francês, o Rito Escocês e o Rito Escocês Retificado, pois não conhecemos os ritos ingleses a não ser através de textos que consultamos mais ou menos regularmente (fico feliz em concordar!). Por outro lado, para nosso grande pesar, não foi possível, por razões essencialmente linguísticas, usar os rituais alemães ou suecos. Quanto aos ritos praticados nos países latinos, eles não oferecem grande originalidade em relação aos que já conhecemos.

Outra observação. Trata-se de “ritos” e não de “obediências” ou “potências”. Portanto, não levaremos em conta “exclusivos”, “excomunhões” ou reivindicações de irregularidade. Além disso, o Rito Francês, conforme ele é praticado no Grande Oriente, ou o REAA na Grande Loja são ritos tão diferentes com o mesmo nome usado na Grande Loja Nacional francesa? Não, sem dúvida, porque as suas fontes são comuns. Nós mesmos (tremo só de pensar) fizemos algumas alusões à “Maçonaria de Adoção”, que continuou até meados do século XIX, a Maçonaria feminina atual contentando-se em organizar – muito inteligentemente, diga-se de passagem – os textos masculinos do REAA ou do Rito Francês.

Notamos também que o Shiboleth da regularidade, aos olhos da Grande Loja Unida de Inglaterra, não é a Bíblia no sentido estrito, mas o VLS, isto é qualquer livro básico de natureza religiosa, e a crença no Grande Arquiteto e a sua vontade revelada. Mas, se a Maçonaria tem, segundo as Constituições de Anderson de 1723, tem a pretensão, diga-se de passagem, com alguma justificação, de ser o “centro de União” e de agrupar “os homens bons e leais ou os homens de honra” e de probidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças religiosas que os ajudam a “se distinguir “, ela não deixa de ser o resultado de um legado, de uma tradição e de circunstâncias históricas que lhe deram uma estrutura mental e um equipamento intelectual cristão, essencialmente reformado no início e mais ecumênico a seguir. Existe – e não pretendemos abordá-la -. uma maçonaria “sem Bíblia”.

Com efeito, onde quer que a Bíblia não é a alimentação diária dos Irmãos, ela se desvanece ou desaparece em favor do “livro da Constituição” na Bélgica e na França – evolução que não é de forma alguma incompatível com a crença no Grande Arquiteto conforme mostra a história do Rito Francês de 1787-1878, onde se prestava juramento ao Grande Arquitecto sobre o “Livro da Lei”.

Israel é, obviamente, a Torah, sem o Novo Testamento, e noutros lugares o Alcorão, o Avesta, Confúcio. O REAA especifica, além da Bíblia, os Vedas, o Thipitaka, o Alcorão, o Zend Avesta, o Tao Teh King e os quatro livros de Kung Fu Tsen. Na loja (Inglesa) de Singapura, os irmãos têm uma dúzia de livros sagrados. E o Irmão Rudyard Kipling expressa perfeitamente este ecumenismo: “Cada um de nós falava do Deus que conhecia melhor.” Mas, onde começa e onde termina o sagrado? Por que não os Pensamentos do Presidente Mao? Pode-se ainda se perguntar se a prática de religiões como o confucionismo está em harmonia com o conceito de “Vontade Revelada”, tal como concebido pelas religiões monoteístas da Europa ou no Oriente Médio.

Enfim, fazemos, ou tentamos fazer um trabalho de historiador. Isto significa que teremos de distinguir o que é histórico do que é bíblico e, em relação à Bíblia e a história, o que é pura lenda, deixando claro que para todo Maçom, a lenda não passa da tradição no dogma católico, isto é, algo que assume valor doutrinário.

Por outro lado, não nos cabe neste momento fazer a exegese do que seja biblicamente inspirado e muito menos dos textos utilizado. Menos ainda, praticar os métodos alegóricos, tipológicos ou analógicos caros aos Padres da Igreja e aos dialéticos medievais onde encontramos muitos vestígios das “Old Charges” (os Antigos Deveres) que regulamentavam a Maçonaria operativa. Para nós, o Templo de Salomão é um edifício construído por um rei de Israel para a glória de Yahwe e não temos que querer saber se ele representa a igreja ou o Cristo. Isto pode parecer simplista para alguns, mas não acreditamos na virtude da mistura de gêneros.

Analisemos agora o nosso primeiro ponto: a Bíblia, “instrumento” em loja, sobre a qual se presta juramentado. Você não precisa fazer prova de vasta erudição para constatar que a Maçonaria “operativa”, aquela dos construtores, intimamente ligada ao mundo clerical, pelo menos, pela construção de catedrais, era – como, a propósito, era o corpo dos ofícios – “guildas de artesãos”, “empresas” diferentes – de inspiração cristã, católicos na Inglaterra até a Reforma, anglicanos ou reformados posteriormente.

Na França, Itália, Espanha, eles permaneceram fiéis à Igreja romana até ao seu desaparecimento natural ou supressão revolucionária. Às vezes, com o estofo de uma guilda profissional, mais frequentemente distintas das confrarias de penitentes. Elas estavam colocadas sob a invocação de santos padroeiros da profissão, e para “as pessoas da construção” muito particularmente “os Quatro Mártires Coroados” (Quatuor Coronati) que a encontramos na Inglaterra, mas também na Itália (Roma) e na França (Dijon). Além disso, não parece que, ao contrário das guildas, sempre suspeitas para a Igreja e o poder civil, estes “corpos” tinham, por pouco que seja rompido com a ortodoxia. Mas, voltemos à Inglaterra.

É difícil afirmar que a Bíblia figurava entre o “material” das lojas operativas inglesas antes da Reforma, pelo menos segundo o que pudemos deduzir das “Old Charges”. Por outro lado, sabemos que se prestava juramento ali, e que nada há de original, já que o “negócio jurado” era a regra um pouco por toda parte.

O fato é que os primeiros documentos – o Regius (cerca de 1370) e o Cooke (cerca de 1420) – são perfeitamente silenciosos. Assim nenhuma suposição deve ser excluída: a Bíblia, quando se podia ter uma, o que, antes do desenvolvimento da impressão talvez não fosse tão fácil, o “livro” dos estatutos e regulamentos corporativos, relíquias como é tão frequentemente o caso na França? De qualquer forma, o juramento tinha um carácter religioso que ele conservou – exceto na Maçonaria “secularizada”.

Os documentos mais recentes, mas também posteriores à Reforma, são mais explícitos e o juramento sobre a Bíblia é, mais frequentemente afirmado pelo “Grand Lodge Manuscript ” nº 1 (1573), e No. 2 (1650), o “Manuscrito de Edimburgo” (cerca de 1696): “Fazemos com que eles tomem a Bíblia e prestem juramento”, o “Crawley” (cerca de 1700) onde o candidato jura sobre o livro sagrado por “Deus e São João”; o “Sloane” do mesmo período, sobre o qual a questão permanece em dúvida, o “Dumfries” nº 4 (cerca de 1710). Pode-se, portanto, supor que, desde a Reforma, o juramento sobre a Bíblia se tenha tornado a regra, o que levou o historiador francês A. Lantoine a dizer que este era um “Landmarks de contrabando huguenote”, uma expressão engraçada, mas definitivamente exagerada. Esta constatação não nos deve fazer perder de vista a perfeita ortodoxia católica primeiro, depois anglicana, das “Old Charges”. A este respeito, o texto mais característico é, sem dúvida, o “Dumfries nº 4” (cerca de 1710), descoberto nos arquivos da Loja desta pequena cidade, localizada na Escócia, mais nos confins da Inglaterra.

O autor dá ao Templo de Jerusalém a interpretação cristã e simbólica tradicional e se inspira tanto no Venerável Bede quanto em John Bunyan. As orações são estritamente “niceanas”. As “obrigações” exigem a fidelidade a Deus, à Santa Igreja Católica (isto é, anglicana no sentido do Livro de Orações), ao mesmo tempo que ao Rei.

Os degraus da Escada de Jacob evocam a Trindade e os doze Apóstolos; o mar de Airain é o sangue de Cristo; os doze bois, os discípulos; o Templo, os filhos de Deus e a Igreja; a coluna Jaquim significa Israel; a coluna Boaz a Igreja com um toque de antijudaísmo cristão. Lemos com surpresa: “Que ela foi a maior maravilha vista ou ouvida no Templo – Deus foi homem e um homem foi Deus. Maria foi mãe e, entretanto, era virgem”.

Todo este simbolismo tradicional e a “tipologia” cristã admitida até o desenvolvimento da exegese moderna, encontra-se neste ritual. O catolicismo Romano, afirma Paul Naudon. Certamente não – ou melhor, certamente mais – porque podemos pensar que este é o redesenho de um texto mais antigo. As citações bíblicas são retiradas da “Versão Autorizada” do rei James, o que testemunha a ortodoxia anglicana do tempo da piedosa rainha Anne.

Se a Maçonaria se tinha mantido fiel a esta ortodoxia, ela não pode ter pretensões de Universalismo. E é isso, aliás, é que é regularmente produzido sempre que se quer vincular mais estritamente o ritual maçónico a uma confissão religiosa. O Rito Sueco, de essência luterana, não saiu do seu país de origem. O Rito Escocês Retificado, de tom nitidamente cristão, viu a sua expansão limitada.

Ao contrário, o REAA, os ritos agnósticos, os ritos anglo-saxões “deconfissionalizados” são susceptíveis de desenvolvimento infinito. Este é, portanto, o grande mérito de Anderson e dos criadores da Grande Loja de Londres de ter entendido perfeitamente o problema. As Constituições de 1723 permitiram a expansão, embora na linha de uma Inglaterra já orientada em direção ao fluxo.

Assim, em países cristãos, a Bíblia era e permaneceu com o VLS, os testemunhos do século XVIII são quase unânimes, e as coisas quase não mudaram. Nos países anglo-saxões, ela é a primeira “luz simbólica”, o Esquadro e o Compasso são as outras duas. No rito de Emulação atual, a Bíblia deve estar aberta sobre o triângulo do Venerável, orientada no sentido de o dignitário a poder ler, e recoberta pelo esquadro e o compasso A página na qual o livro está aberto não é indicada, mas é tradicional – e moda – abrir no Antigo Testamento, quando se inicia um israelita. Nos EUA, a Bíblia é geralmente depositada sobre um altar especial no meio do Templo.

No REAA, a Bíblia está presente, aberta durante os trabalhos e colocada sobre o “altar dos juramentos” instalado ao pé dos degraus que conduzem ao Oriente e é recoberto com um pano azul com bordas vermelhas (as cores da Ordem). Ela pode ser aberta em qualquer lugar; é aberta preferencialmente em Crónicas 2.5 e em I Reis 6.7 onde se trata da construção do “Templo de Salomão.”

Na França, a Bíblia conheceu destinos diferentes. Os documentos mais antigos que possuímos mostram grande religiosidade, de orientação um tanto jansenista, e sabemos pelos textos de origem policial, que a Bíblia era aberta no primeiro capítulo do Evangelho de João. Tradição que se conservou perfeitamente no Rito Retificado, de inspiração claramente mais cristã.

Mas, nos países católicos, a Bíblia não é, como na Inglaterra, o alimento espiritual da maioria dos cidadãos, especialmente depois que o Concílio de Trento limitou as possibilidades de leitura pelos simples fiéis. Além disso, conservando uma expressão religiosa sob a forma do Grande Arquiteto, que será colocado em questão somente em 1877, a Maçonaria francesa, na sua expressão majoritária, a Grande Loja e depois o Grande Oriente, viu desaparecer lentamente o livro dos “utensílios das Lojas” desde meados do século. Quando, nos textos de unificação do Rito Francês de 1785 – 1786, o “Livro das Constituições” assumiu o seu lugar, ao lado do esquadro e do compasso, sobre o triângulo do Venerável, não houve qualquer protesto, e nem mesmo o Inglês o formalizaram.

Exceto nos ritos totalmente seculares – como o atual Rito francês – os juramentos que acompanham a iniciação e os “aumentos de salário” são prestados sobre o VLS. O que, em 1738, irritou muito o Papa Clemente XII que, na famosa bula de excomunhão In Eminenti, fala de “juramento estrito prestado sobre a Bíblia Sagrada.” É óbvio que, para o mundo anglo-saxão, um juramento não tem valor a não ser que ele tenha um significado religioso, atitude encontrada nos tribunais ou na “inauguração” de uma Presidente americano.

Não houve grandes mudanças em três séculos: o “Manuscrito Colne nº 1” especifica a forma do juramento: “Um dos mais antigos, tomando a Bíblia, e apresentando-a, de modo que aquele ou aqueles que deve(m) ser iniciado(s) maçom(s) possa(m) pousar e deixar estendida a mão direita sobre ela.

A fórmula do juramento será então lida.” No Rito de Emulação atual, o candidato ajoelha-se e coloca a mão direita sobre o Volume da Lei Sagrada, enquanto a sua mão esquerda segura um compasso com uma das pontas dirigida contra o seio esquerdo exposto. Ao pronunciar a obrigação, o Venerável, na sua mão esquerda, trará o Volume, afirmando que a promessa foi feita “sobre este”.

No Rito Escocês Retificado – que conservou algo da tradição cavalheiresca da maçonaria francesa do Iluminismo, completamente ausente em países anglo-saxões – o candidato coloca a sua mão na espada nua do Venerável pousada sobre a Bíblia aberta no primeiro capítulo de São João.

A promessa é feita sobre “o Santo Evangelho”. No Rito Escocês Antigo e Aceito, o candidato coloca a sua mão direita sobre as “três grandes luzes” que estão sobre o “Altar dos Juramentos, o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso”, enquanto o Grande Experto coloca uma ponta do compasso sobre o seu coração e, “sob a invocação do Grande Arquiteto do Universo,” o candidato “jura solenemente sobre as Três Grandes Luzes da Maçonaria.”

Na França, nos anos 1745, de acordo com o Segredo dos Maçons do Abade Perau, o candidato se ajoelhava, o joelho direito descoberto, a garganta exposta, um compasso sobre o peito esquerdo e a mão direita sobre o Evangelho, “na presença de Deus Todo-Poderoso e desta sociedade.” Observe-se que o Rito Francês de 1785 prescrevia o juramento “sobre os estatutos gerais da Ordem, sobre esta espada, símbolo da honra e diante do Grande Arquiteto do Universo (que é Deus).”

Daniel Ligou

Tradução de José Filardo

Fonte

  • Bibliot3ca Fernando Pessoa

 

 

O MESTRE E A CÂMARA DO MEIO

 

 

Denomina-se Câmara do Meio à reunião ou o local de reunião dos mestres maçons.  o ritual do grau de mestre do GOB, em sua página dezesseis, último parágrafo insta que a decoração deve ser a mesma para sessões magnas e ordinárias. ou seja, a loja deve estar decorada em preto, em seu cortinado deve haver lágrimas prateadas em grupos de três, cinco e sete, indicando que choram os aprendizes, companheiros e mestres pela morte do mestre entre os mestres.  Este rigor na decoração serve para nos recordar ou incutir que é um local consagrado a dor e a consternação.

O luto pela morte de Hiram, a tristeza pelo trabalho interrompido e a impotência perante a situação dão a este drama psicológico um peso de consciência capaz de fazer com que o mestre maçom reflita sobre o que, realmente, veio fazer na maçonaria.

A palavra mestre provém do latim magister e significa “aquele que dirige e ensina”, derivando também de magis que significa “o mais justo, o mais elevado, o mais evoluído, o mais sábio, o que se aproxima da perfeição”.

Acompanhando os raciocino supracitados e considerando que as oportunidades de realização de sessões mestre são raras, se perde por muitas vezes o verdadeiro escopo da câmara do meio que é (ou deveria ser) o de instruir os mestres. em vez disso dão lugar, por muitas vezes, a assuntos que deveriam ser tratados em reuniões administrativas.

Não raro um ou mais irmãos mestres solicitam na palavra a bem da ordem que se faça uma câmara do meio para “se lavar uma roupa suja”. ora se a loja é consagrada a dor e a consternação e se nos reunimos para fazer novos progressos na maçonaria e tal progresso só pode ser alcançado através da educação continuada, por qual motivo ou razão nos reunimos como mestres só para elevarmos nossas vozes e brigarmos?

Na tentativa de justificar este terrível equívoco, diz-se que é melhor por estarmos a coberto dos aprendizes e companheiros. O mestre tem por obrigação para consigo mesmo de instruir-se para cada vez mais instruir com qualidade e a Câmara do Meio é a oportunidade de dar instrução aos mestres. Desrespeitar o ato solene da sessão de mestres é análogo a brigar em um enterro de um ente querido.

A discussão acalorada, as diferenças, os acertos de contas e outras coisas de ordem administrativa que podem gerar rusgas e desavenças devem ser tratadas em particular, por mediação ou por um conselho.

Reunimo-nos em Câmara do Meio para celebrar a inteligência, a sobriedade, a sabedoria e a capacidade de soerguimento do trabalho destruído pela ignorância, pela violência e pela ganância e o mestre tem a obrigação moral de não cometer os mesmos erros incorrendo em discussões inúteis e embates desnecessários, deve ocupar seu tempo em buscar ser melhor para servir melhor, lembrando sempre a máxima de Pitágoras: “Se o que tens a dizer não é mais belo que o silêncio, cala-te”.

           Luiz Fernando Corrêa - M.’.I.’. CIM 301.513

ARGBL Philantropia e Ordem II – GOB-RJ

A ABÓBADA DO TEMPLO - UMA VISÃO SINÓTICA


 

O tema é por demais interessante, para não dizer necessário, pelo menos para os estudantes da matéria, assim como eu. Desse modo, é oportuno afirmar que não se pode precisar, exatamente, desde quando os Templos destinados às iniciações vieram a ser construídos, sob a inspiração da imagem do Universo. Todavia, sabe-se que, desde intrínsecas eras, a decoração de seus interiores, sempre demonstrou essa tendência, sobejamente.

No Industão, na Índia, na Pérsia, no Tibete, na Grécia e em muitos outros locais, enfim, em todos os outros países, cuja história noticiou a existência desses Templos, vem prevalecendo, na mente de seus idealizadores, a ideia de se imprimir nos Templos, uma reprodução mais ou menos semelhante ao sistema cósmico. Assim sendo, com o fito de se perpetuar a imagem dos Céus, é que os tetos desses Templos eram e, ainda hoje são, o esboço da construção, na forma mais original de uma abóbada celeste.

A suntuosa decoração, aposta àquelas coberturas dos Templos Maçônicos, respeitava, invariavelmente, a reprodução cuidadosa do firmamento, intercalado de nuvens de todos os feitios, coalhados de estrelas e inúmeros astros planetários, formando um conjunto harmonioso e representativo do cosmos.

A abóboda dos Templos antigos, "ad argumentandum", fixava um ponto para contemplação e, interessante, deixava no espírito do iniciado, uma impressão maravilhosa e indescritível, acerca do misticismo presente no seu traçado por demais peculiar, fundamentado nos corpos celestes que rodeiam a terra, majestosos e colossais, nas suas trajetórias e representações simbólicas, naquele ambiente de estudos e aprendizado singulares, um suntuoso painel representativo do espaço ocupado pelo gênero humano.

Inobstante o progresso experimentado, haurindo essa tradição secular, os seus propósitos de fidelidade às origens, a Maçonaria manteve o pensamento e passou a construir seus Templos, em todas as partes do mundo, com iguais características. Então, nesse desiderato de convergir as preocupações de seus filiados para a aspiração mais objetiva de um verdadeiro engrandecimento espiritual, determinou que nos tetos de suas Lojas fossem aplicadas a cor azul e se destacassem nuvens, estrelas e alguns planetas.

A abóbada azúlea de uma Loja Maçônica representa, destarte, em primeiro plano, o sentido de universalidade da Instituição. A cor azul predominante ali, passou a simbolizar a magnanimidade e lealdade provadas como virtudes que elevam a alma humana. O emprego dessa cor, na abóbada do Templo, sequencialmente, justifica a representação simbólica de todas as emulações dirigidas pelo bem e pelo amor fraternal divinizados.

Durante a intercorrência de suas reuniões templárias, acrescente-se, todos os membros dessa sublime Ordem - os maçons ativos - deverão ter sempre presente em suas cogitações, o significativo valor simbólico, decorrente da abóbada celeste, em sua imponente representação.
Nesse mesmo sentir, a distribuição das estrelas, nesse revestimento que encima o recinto, obedece à seguinte ordem:

Localizada mais ou menos no centro da abóbada, a constelação de Orion que, no viveiro celeste, fora do zodíaco, dá ideia de um gigante desenhado com oito estrelas da constelação dos Plêiades, que fazem forcejar os ombros imagináveis do touro, como inspira a sua disposição, motivo pelo qual precisa ser estudada e entendida, sobretudo.

As cinco Hiades, que lembram as Ninfas, filhas de Atlas, que tomaram por encargo a criação de Apolo, desde crianças, tem rico significado místico, merecendo a atenção de quantos estudam os assuntos ligados a Ordem, ou que convivem com os seus mistérios iniciáticos e seculares.
A conhecida Aldebarã, da constelação de touro, é a única de cor meio avermelhada, assinalando o olho direito da figura, em cujos ombros cintilam as Plêiades.

Do outro lado, a meio caminho da constelação de Orion, mais par o nordeste, vê-se Régulo, da constelação de Leão; ao norte, o grupo da Ursa Maior, com sete estrelas, que é a constelação mais antiga, nos registros da Astronomia. Já foi chamada de "sete bois da lavoura", perdidos nas vastas pastagens dos Céus, dando origem à palavra Setentrião; a nordeste, vê-se Arcturo, uma magnífica estrela de cor amarelo dourado, que assinala o joelho esquerdo do "Boieiro", guarda dos "sete bois da lavoura" que forma a Ursa Maior; ao leste, a Spica, da constelação de virgem, que quer dizer "espiga", sempre à sombra da constelação de Leão; a oeste, Antares, uma soberba estrela vermelha, de brilho médio, da constelação de Escorpião, assinalando o lugar do coração; e, ao sul, a chamada Formalhaut, que é assinalada na mão direita da inofensiva figura de virgem.

Na parte situada sobre o Oriente da Oficina, o planeta Júpiter, o maior dos mundos de nosso sistema planetário, sete satélites escoltam sua grandeza, pois é sete vezes mais largo que a terra. Os nossos antepassados o qualificaram como o soberano dos deuses mitológicos, devido à nobre lentidão com que ele procura o zodíaco; ao ocidente, Vênus, cuja localização no espaço é entre a terra e Mercúrio, o mais próximo do Sol. É conhecida, também, como a estrela Pastor, a mais radiosa e mais brilhante do Céu.

Os poetas gregos lhe deram, por essa razão, o nome de Deusa da Beleza, também chamada de Vesper ou estrela da tarde e Dalva ou estrela da manhã; próximo de Orion, está Saturno, com seus satélites, parte do mesmo sistema planetário a que pertencemos, irmão da terra, porque gira em torno dela, em função de seu equador à pouca distância de seu solo, há um vasto anel achatado e delgado, formando um imenso círculo em forma de cinto, seguido de um anel, protegido por um terceiro, como um arco gigantesco lançado por cima do planeta, com a posse de dez luas.
Assim, as estrelas falam do passado e contam velhas lendas, ilustradas por caprichosas imagens de quadros mitológicos, sem valor para a ciência, mas sobremaneira atraentes para os espíritos sonhadores.

Muitos desses quadros, revivem as lembranças dos heróis, cantados por Homero, Hesíodo, Ovídio e, posteriormente, pelos egípcios e hindus, contempladores do espaço sidério.

Sem que se prejudique a visibilidade das estrelas, são intercalados os diversos fingimentos de nuvens, na abóbada. Na parte que corresponde ao Oriente, não é admitido esse gênero de decoração.

Nesse sentir, o aspecto que devem assumir as nuvens do Ocidente, é o assemelhado dos "ninhos" ou "cúmulos", bem pardacentas, com nuances mais carregadas para o lado sul. Na proporção que se vai aproximando do Meio-Dia (centro da Oficina, onde está a constelação de Orion), as nuvens deverão ir desaparecendo em nuances amenizadas, em forma de "stratos" e "cirros". Na altura das balaustradas, cessa a presença de nuvens, na abóbada do Templo.

Nesse mesmo sentir, ainda, a variação de tonalidade das nuvens, verifica-se à medida que se aproxima da parte correspondente ao Oriente. Este particular, simboliza a progressão dos conhecimentos adquiridos pelos iniciados. Desse modo, todas as tempestades e nebulosidades que pudessem afligi-los, ou abafar suas finalidades, as melhores da vida, vão desaparecendo, do mesmo modo, à medida que caminham para a frente.

Na área alternada com o Oriente, não existe nuvem alguma e deve apresentar um panorama de perfeita tranquilidade. O maçom para chegar a merecer a localização no Oriente, faz-se naquele que completou o ciclo de toda aprendizagem, portanto apto para exercer a plenitude maçônica.

No verdadeiro Templo de Salomão, a parte que hoje corresponde ao Oriente das Lojas, lugar onde a Luz Eterna permanecia para irradiar, em todas as direções, era denominado de "Sanctun Sanctorun". Por esse motivo, todos a aceitavam como a área mais santa do Templo, cujo acesso era proibido aos profanos, só admitido o ingresso de Sacerdotes, assim mesmo àqueles que se sentissem embalados pela serenidade que os fizessem esquecer todas as inseguranças e imperfeições da vida comum.

O Venerável Mestre, como Chefe da Oficina e mestre intelecto de cada obreiro, fica colocado abaixo desse trecho da abóbada, oferecendo aos maçons membros, o ensinamento litúrgico de que a luz penetra, serena e inexoravelmente, onde se cultivam os dotes da inteligência e do saber, para sublimação do espírito sobre a matéria.

Acrescente-se, por oportuno, que fixando o olhar na abóbada do Templo, despersonalizado de sua vida tumultuada, afastado das preocupações profanas do dia a dia, todo maçom estudioso sentir-se-á colocado acima de todas as castas de sofrimentos morais e físicos.

Contemplando-se na sua magnitude, à margem das ilusões terrenas, o maçom convencer-se-á, finalmente, da verdade inquestionável de que o Mestre dos Metres - o Grande Arquiteto do Universo - somente galardoará àqueles que saibam cumprir bem os seus deveres, como cidadão e como Obreiro da Arte Real.

As constelações estrelares, disseminadas pelo teto azulino do Templo dedicado à virtude, simbolizam os laços importantes que prendem todas as obras da criação, umas às outras, assim como a criatura ao seu Criador.

Norioval Alves Santos

ESTOU EM FAMÍLIA, MAS NÃO ESTOU NA MINHA CASA

Meus irmãos, trago para vossa apreciação uma dúvida que cultivei durante muito tempo, melhor dizendo, desde a minha primeira visita a uma loja que não era do meu rito. Logo no início dos trabalhos notei que eu efetuei a bateria do grau de maneira diferente dos demais, bem como a aclamação. Também lembro que outro visitante fizera o sinal de ordem de maneira um tanto diferente.

Fiquei perturbado com aquilo, pois era à época, um inexperiente aprendiz. O mestre de cerimônias veio em meu socorro e disse que eu ficasse a vontade e procedesse conforme meu rito. Ao final da sessão pedi ao irmão que me ensinasse acerca daqueles procedimentos para que eu me comportasse de acordo com aquele rito em uma futura visita, o que lhe causou admiração. acredito que ali compreendi ou comecei a compreender o que significa fazer progresso na maçonaria. 

É ponto pacífico em maçonaria que, quando em loja que não é do seu rito, o maçom proceda de acordo com o seu, mantendo os  sinais, bateria, aclamação, toques, movimentação, etc. sem prejuízo ao andamento da sessão. porém, é inegável que tal proceder em certos momentos do desenvolvimento do ritual, pode causar algumas confusões (este é meu ponto de vista) e algum prejuízo para a egrégora.

Senão vejamos: imaginemos uma sessão em uma loja do REEA, depois de todo o empenho do mestre de cerimônias de distribuir os cargos, ordenar o cortejo, etc.  em que estejam presentes irmãos do rito Adoniramita, moderno, brasileiro, Schoeder e de York e tomemos como exemplo a abertura dos trabalhos na hora da bateria e da aclamação como já citei. ouviríamos um "bater de palmas" tão diverso e uma coisa parecida com um pregão na feira livre, em vez do uníssono levantar das vozes dos irmãos. qual seja, pela bateria: o-o-o, oo-o, o-oo... pela aclamação: H.'.H.'.H.'., l.'.I.'.F.'., G.'.G.'.G.'., V.'.V.'.V.'....( aqui deixo minha homenagem ao rito brasileiro, que instrui, na sala dos passos perdidos, aos irmãos que estão tendo seu primeiro contato com o rito). esta ligeira confusão ainda seria precedida por um "bater de cabeças" entre os aprendizes e companheiros, dado o fato de que as colunas são invertidas em alguns ritos, em particular o de schroeder em que os aprendizes sentam-se nas fileiras mais ao centro da loja.

Comparando com a vida profana, a convivência em sociedade e vida profissional nota-se que o comportamento muda ou se convenciona de acordo com o local que adentramos ou pretendemos frequentar. por exemplo: em visita a um parente ou amigo, manda a boa educação que nos comportemos de acordo com os hábitos daquela casa, deve-se se trajar adequadamente de acordo com o local de trabalho, não se deve falar alto em um templo religioso, ainda que seja uma filial da empresa que trabalhamos não é como se estivéssemos em nossa filial, um profissional do esporte ( que trabalha labuta de short e camiseta) não compareceria em um tribunal trajado desta maneira, mas de acordo com o que rege as normas para tal situação. 

Não é razoável impor nossos usos e costumes e como sinal de respeito nos adequamos aos locais e situações. seguindo este raciocínio, exponho a vossa apreciação a seguinte reflexão: não seria mais sadio, educado e instrutivo que o maçom, mormente os mestres, adotassem o costume de se instruir sobre o procedimento ritualístico quando em seu primeiro contato com  rito adverso ao que pratica?

A maçonaria, que tanto prima pela uniformidade, posto que se influencia nas ordens de cavalaria e militares, talvez deixe este ponto aos cuidados da liberdade, mas imaginemos agora uma sessão aonde os irmãos fossem previamente instruídos ou tomassem o cuidado de se instruir sobre os pontos aludidos neste trabalho, que, diga-se de passagem, não tem o intuito de se instituir como verdade, mas de instigar a pesquisa e enriquecer o conhecimento maçônico.

Certamente o maçom deve, primeiro saber e tomar a maior intimidade possível com o rito que pratica para não se tornar um especialista em generalidades, mas conscientizar-se que está deixando de lado uma excelente oportunidade de aprimorar seus conhecimentos a partir desta simples iniciativa.

A harmonia, junto com a paz e a concórdia formam a argamassa mística que nos une e foi pensando nisso me inspirei em trazer à baila este meu pensamento, que torno a dizer, não pretende se instituir como verdade absoluta, mas um ponto a mais a ser observado e estudado. por fim, faço minhas as palavras de João Guilherme Ribeiro quando afirma que “ maçom que  não conhece outros ritos não sabe o que está perdendo”. 

Deixo convosco a reflexão e espero de todo o coração que este acanhado trabalho venha a nos instigar a estudar mais e assim fazer novos progressos na maçonaria. 

Luiz Fernando Corrêa M.’.I.’. CIM 301.513

ARGBLS Philantropia e Ordem II – GOB-RJ

 

 

 

O CARÁTER DO HOMEM MAÇOM - UMA ANÁLISE À LUZ DA PRÁXIS MAÇÔNICA.


 

Muitas vezes vemos irmãos se manifestarem intra e extra templo sobre que o irmão “X “ não tem um bom caráter, o Irmão “Y” é mau caráter e o irmão “Z” é de caráter duvidoso, dúbio.

Tais ponderações me levaram a estudar esse assunto, dentro de nossas Oficinas dentro de uma visão Médica, Psicológica, Sociológica e de relações humanas, à luz da Doutrina Maçônica.

Muito difícil formar opinião a uma simples visão.

O Universo do relacionamento humano é vastíssimo, complicado, com Nuances diversificadas dentro das normas sociológicas da boa ou má “vizinhança”.

Assim, definiríamos genericamente o Caráter como:” Conjunto de traços morais, psicológicos etc., que distinguem um indivíduo, grupo ou povo; índole; temperamento; qualidade; firmeza de atitudes.”

Mau caráter: “Quem demonstra maldade ou qualidades negativas de caráter; pessoa sem escrúpulo; que engana as pessoas sem o menor constrangimento; desvio de caráter (para o mal); diz-se daquele ou daquela que age sem decência, sem pudor, sem sensibilidade humana.”

Nesse sentido podemos compreender o caráter como algo que se forma para manter uma estrutura necessária ao desenvolvimento do indivíduo.

Porém, quanto mais rígida e inflexível for a estrutura do caráter, mais esse caráter se transformará em uma resistência que tenta manter o material inconsciente fora de alcance, fazendo com que o indivíduo passe a reagir de modo automático como um mecanismo de defesa.

Ou seja, o caráter não é uma escolha deliberada, ele se forma devido a necessidade do indivíduo se proteger do meio externo.

O caráter é uma reação àquilo que foi experimentado na infância.
Cada caráter é único porque cada experiência é única.

Caráter é a maneira a qual a pessoa se apresenta e se comporta em suas relações.

É a atitude psíquica particular em direção ao mundo externo, específica a um dado indivíduo.

É determinado pela disposição e pela experiência de vida, assim, podemos considerar tipos de caráteres onde se apresentam comportamentos mais ou menos ajustados à realidade e ao contexto social.

Na Maçonaria, deveríamos ser todos, pessoas de BOM CARÁTER.
Mas, infelizmente, temos muitos membros, que não poderiam ser definidos dentro dessa premissa.

Cada dia que passa fica mais escasso encontrarmos alguém de caráter totalmente ilibado, mesmo na Seara Maçônica.

As virtudes, que são evidências do caráter, hoje, ao invés de serem regras, têm sido raríssimas exceções!

Parece que é mais fácil nivelar todos por baixo, pelo que se deixa de ser ou fazer, e abandonar de vez qualquer sentimento de “excelência”, “hombridade” e “obrigação”.

Estamos sendo varridos violentamente por uma ideia de niilismo moral, onde tudo se reduz a um nada comportamental!

A sensação que se tem é que não tem valido mais a pena prezar pelo nobre e pelo ético.

Este contexto de relativização e banalização de valores tem contribuído para uma fragmentação conceitual e, consequentemente, prática do que significa caráter.

Assim, meus amados irmãos, temos que ter em mente que a formação do caráter leva em consideração não apenas o meio em que o ser humano vive, mas também a sua história.

Falar de caráter é lidar com a história do indivíduo: o que ele foi no passado, o que ele é no presente e o que ele será no futuro.

Certamente, o seu caráter no presente agora é determinado pelas experiências acumuladas no passado anterior e por suas expectativas projetadas para o futuro posterior.

É simplesmente impossível dissociar nossa história de nossa estrutura; divorciar nossa identidade de nossos sonhos!

Dentro de nossa vida privativa, coletiva, familiar e, também dentro de nossa Sublime Instituição.

Noutras palavras, tudo o que priorizamos como essencial, ou não damos tanta importância; as escolhas que fazemos, as decisões que tomamos e os rumos que seguimos estão intimamente ligados e giram em torno do caráter que temos e construímos.

Acredito que devemos nos preocupar mais com o que somos de verdade e não vivermos tanto em função do que aparentamos ser.

Devemos retomar o caminho do caráter.

O caminho do coração.

Vai parecer meio retrógrado e anacrônico ser honesto, onde se cultua a hipocrisia; ser diligente, onde se louva a indolência; ser humilde, onde se prega a arrogância.

CONCLUINDO:
“Precisamos voltar ao tempo em que nossas palavras eram a assinatura de nosso coração e as marcas de nossas mãos calejadas eram a prova de um “caráter aprovado".
Quando semeamos um pensamento, colhemos um ato;
Quando semeamos um ato, colhemos um hábito;
Quando semeamos um hábito, colhemos caráter;
Quando semeamos caráter, colhemos um destino.

Que o GADU, nos ilumine e guarde hoje e sempre e nos moldes na fornalha onde o Caráter seja elemento da argamassa que nos une juntamente com a Paz, a Harmonia e a Concórdia, que são Basilares na Essência doutrinária de nossa Sublime Ordem.

Dario Baggieri

AS ARTES LIBERAIS


 

INTRODUÇÃO

Irmãos, escrever sobre as Artes Liberais e a Maçonaria, tornou este trabalho desafiador, não pela necessidade de estudos e leituras, mas porque, como Companheiro, devo me ater aos ensinamentos do meu grau.

Sair do material, tátil e visual, para o espiritual e abstrato, sem cair na espiral das frases que não significam nada ou dizem o que significam de uma forma não clara, não é fácil, mas graças ao GADU, me foram colocados nesta caminhada, Irmãos que me orientaram nesse desbaste.

DESENVOLVIMENTO

As sete artes liberais são um conjunto de disciplinas que, na Antiguidade e na Idade Média, eram consideradas essenciais para a formação de um indivíduo culto e preparado para a vida pública.

Temos Platão, que trabalhava as artes livres, onde o aluno tinha o direito de pensar. Aristóteles e Isócrates (Pai da Oratória), tinham como meta a gramática, a retórica, a dialética, a geometria, a aritmética, a astronomia, a música e a arquitetura.

A maçonaria, por sua vez, valoriza o conhecimento, a moralidade e a busca pela verdade e utiliza essas artes no ensino aos seus membros.

Dentro desse contexto maçônico, as sete artes liberais são frequentemente referenciadas, como um símbolo do conhecimento e da educação que os maçons buscam cultivar, promovendo a ideia de que o desenvolvimento intelectual e moral, é fundamental para a formação de um bom cidadão e para a construção de uma sociedade justa.

Assim, as sete artes liberais e a maçonaria compartilham uma conexão profunda, pois ambas enfatizam a importância do aprendizado e do aprimoramento pessoal. Somos incentivados a estudar como essas disciplinas, não apenas servem para enriquecer nosso conhecimento, mas principalmente para aplicar esses conhecimentos em nossas vidas e nas interações com outros Irmãos. Essa busca pelo saber, é vista como um caminho para a iluminação e a evolução espiritual, valores centrais na filosofia maçônica. 

As Sete Artes Liberais estão divididas em duas categorias: o Trivium e o Quadrivium.

  1. Trivium:
    • Gramática: O estudo da língua e da estrutura das palavras.
    • Lógica: O raciocínio e a argumentação.
    • Retórica: A arte de falar e escrever de forma persuasiva.
  2. Quadrivium:
    • Aritmética: O estudo dos números e suas propriedades.
    • Geometria: os limites para o conteúdo relacionado às formas e aos espaços.
    • Música: O estudo das proporções e harmonias sonoras.
    • Astronomia: O estudo dos astros e dos movimentos celestes. 

A Gramática envolve a aprendizagem de verbos, adjetivos, substantivos e as demais características ortográficas, incluindo o significado das palavras, suas nuances, e como elas podem ser usadas de maneira correta.

A Retórica, é uma tarefa cotidiana em nossa sublime ordem. Aprender a falar em público com fluência e oratória, é uma das bases da instrução desde o grau de AM. Falar em público é aterrorizante para alguns, mas para os maçons é tarefa cotidiana, pois aprendem tanto de falar como ouvir o discurso dos outros.

A Lógica é a terceira etapa do Trivium, ela consiste em uma sequência regular de argumentos, ela treina nossa mente a pensar com clareza, usando as nossas faculdades de conceber, julgar e raciocinar, evitando que tiremos ou façamos conclusões baseadas em achismos.

A Aritmética que deve lembrar-nos de agir sobre o material, porém, com a beleza da aritmética e da matemática, é que descobrimos a simetria e a proporção. Ela nos mostra que retas e curvas podem ter seus significados expandidos a níveis esotéricos superiores, nos levando à conceitos e ideias abstratas.

A Maçonaria coloca especial ênfase na geometria como sinônimo de autoconhecimento, como compreensão da substância básica do nosso ser.

A Música é parte de nós, ela faz com que nossa audição seja melhorada pela música, em seus tons e amplitudes. As vibrações dos sons de determinada frequência, nos ensina que é preciso disciplina para alcançar a harmonia e escutar os sons do universo.

A Astronomia, nos faz pequenos, contemplar as estrelas nos faz perceber a glória do GADU, nos ensina a admirar e estudar o universo.

Os globos terrestre e celeste sobre os capitéis das colunas das Lojas nos ensinam a compreender a rotação da Terra em torno do Sol. Temos a visão interior da eterna renovação do universo, onde os recomeços, são uma jornada sem fim, como nos mostram os diversos ciclos que a astronomia nos ensina e faz com que sejamos cada vez melhores observadores.

Essas artes, são fundamentais para a formação do ser humano, promovendo o autoconhecimento e a busca pela verdade. O domínio do conhecimento e das habilidades ensinadas pelas artes liberais contribui para a construção de um caráter sólido e ético, elementos essenciais para a prática da maçonaria, além disso, muitos símbolos e rituais maçônicos fazem referência a essas artes, reforçando sua importância no caminho do aprendizado e da iluminação pessoal.

Considerações finais:

As ferramentas do Aprendiz e do Companheiro, nos remetem ao trabalho comportamental, descobre áreas não trabalhadas dentro do nosso ser, nos direcionando à retidão de caráter e veracidade com que tratamos os assuntos maçônicos.

Nos estudos do C, a essência das artes liberais repousa na sequência e ordenamento delas. Somos constantemente confrontados com o começo e o fim do saber conceitual e o significado simbólico, onde a presença das artes liberais, tão adaptada pela maçonaria especulativa, tem em seu cerne dois níveis, que são o material e o espiritual.

Vemos essa condição, no Livro da Lei, em Provérbios 9:1, que diz: “A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas”.

Considerando apenas a sua importância na maçonaria, veremos uma sequência onde os graus especulativos seguem com a sua sequência descritiva, dentro do Trivium e do Quadrivium, que nos levam a um crescimento, onde o entendimento espiritual e abstrato é a base para se tornar um MM.

Transcrevo abaixo pequeno trecho de Paulo Edgar Melo, para nossa reflexão:

“Se compreendermos melhor o uso da música e da arte nas nossas vidas, se usarmos a matemática e a geometria, se observarmos a perfeição do Universo, se expandirmos a nossa redação e vocabulário, tudo isso ao longo da nossa vida, vamos nos tornar melhores seres humanos e merecedores das graças e da bondade do Altíssimo.”

Que o GADU nos mantenha com o propósito de sermos uma escola de virtudes e sabedoria, onde o sistema moral baseado em alegorias e ilustrada por símbolos, seja nosso objetivo espiritual na maçonaria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Artigo: A Origem das Artes liberais na Idade média, 2017. Revista de História Antiga e Medieval, MYTOS

Artigo: As artes liberais na Idade Média, 1975. Revista de História Ano XXVI, Editora Sociedade Filosófica.

MARTINS, Orlando, NOGUEIRA-SIMÕES, Pedro, O papel da maçonaria na contemporaneidade: Princípios e valores universais na criação de uma sociedade inclusiva, solidária e ética social, 2022. EUROPEAN Review of Artistic Studies.

CAMINO, Rizardo da. Simbolismo do segundo grau, 2021. Editora Madras.

JOSEPH, Irmã Miriam. O Trivium: As Artes Liberais da Lógica, da Gramática e da Retórica, 2002. Ed Realizações.

MARTINEAU, John, Quadrivium: As quatro artes liberais clássicas da Aritmética, da Geometria, da Música e da Cosmologia. 2010, Ed Realizações.

C.'. M.'.  JOSE LUIZ GARCIA VILLAR

ARGBLS Philantropia e Ordem II Nº 1664 - GOB-RJ

 

 

AS CORES DA MAÇONARIA


 

Na Maçonaria há uma forte influência do simbolismo das cores. Existe uma Maçonaria azul, uma Maçonaria branca e uma Maçonaria vermelha, cada uma destas cores denotando uma fase da aprendizagem iniciática da Arte Real.

Não há uma razão histórica para a adoção deste simbolismo de cores, a não ser que se possa invocar motivos relativos à Revolução Francesa, relacionados com as cores da bandeira daquele país. Mas aí seriámos obrigados a diminuir consideravelmente o alcance da Arte Real, que na nossa opinião, foi muito mais razão que consequência daquele formidável momento histórico.

A alusão à cor azul, muito provavelmente provém da influência da tradição alquímica, pois de acordo com os adeptos da Arte de Hermes, a pedra filosofal, no decurso do seu processo de elaboração, assume, seguidamente, três cores: um negro azulado, conhecido como asa de corvo, um branco leitoso e um vermelho ígneo. O negro simboliza o reino de Saturno, a partir do qual são obtidas a pedra branca, que é o símbolo da lua, e a vermelha, símbolo do sol.

Portanto, são estas as cores da grande obra alquímica. Primeiro, um negro azulado profundo, evocando as trevas, a morte, o subterrâneo; depois o branco, que é o renascimento, a cor da regeneração; e por fim o vermelho, o fogo celeste, o raio de luz, o sol, como corolário desse processo.

Por analogia adotou-se este simbolismo às diferentes etapas do simbolismo iniciático maçônico. A chamada Maçonaria negra foi acrescentada depois, para simbolizar a posse de segredos duvidosos. Mas em princípio eram essas as cores, e na essência, repetia o caleidoscópio hermético.

Os alquimistas justificavam este simbolismo dizendo que toda semente seria inútil se permanecesse intacta na terra, sem apodrecer e ficar negra.

Era preciso primeiro a corrupção e a morte para, em seguida, ocorrer a regeneração. Era no azul-negro que se encontravam, dissimuladas, todas as demais cores, como dizia Nicolas Flamel no seu Rosário dos Filósofos.

Este negro era, na verdade, um azul profundo, perfeito, que integrava em si a “rosa branca” e a “rosa vermelha”, imagem da regeneração e da ascensão espiritual, respectivamente. Estas duas cores do azul representavam os dois graus de perfeição da pedra filosofal, “o pequeno e o grande magistério, “o emblema da sabedoria, a coroa do filósofo, o selo da ciência e da fé, unidas à dupla potência, espiritual e temporal” no dizer de Fulcanelli. Na vida do operador alquímico eram representativas das duas mudanças no seu estado da consciência (etapas lunar e solar), que se operavam pela prática do magistério hermético.

Na terminologia alquímica, “branquear latona”(deabbat ergo latonen) significava branquear o latão, isto é, liberar o metal das suas impurezas para que pudesse mudar de estado. Na mitologia grega, Latona era a mãe de Diana (a Lua), e Apollo (o Sol), deuses representativos da natureza e da luz, respectivamente.

Na prática alquímica, é quando a “pedra” assume essa cor púrpura (fogo dos fogos), assemelhando-se a uma romã madura, que ela adquire a capacidade de transformar metais ordinários em ouro. Em contato com ela, os metais impuros “morrem” e “renascem” num outro estado, da mesma forma que o iniciado Maçom ao toque da espada Flamígera.    

Na simbologia maçônica podemos encontrar um paralelo nas diversas fases graduais que o iniciado tem passar para atingir o ápice da Escada de Jacó. No Rito Escocês essas fases são representadas pela Maçonaria azul, correspondentes às Lojas Simbólicas, à Maçonaria branca, correspondente às Lojas de Perfeição e Capitulares, e à Maçonaria vermelha, que corresponde aos graus filosóficos. Este último comporta ainda uma divisão em Maçonaria negra, que integra os três últimos graus da escalada de trinta e três graus previstos.

“A cor negra”, escreve Fulcanelli, “foi atribuída a Saturno, que se tornou em Espagiria, o hieróglifo do chumbo; em Astrologia, um planeta maléfico, em Hermetismo o dragão negro ou chumbo dos filósofos; em Magia, a galinha negra etc. Nos templos do Egito, quando o recipiendário estava pronto para as provas iniciáticas, um sacerdote aproximava-se dele e segredava-lhe no ouvido esta frase misteriosa: “Lembra-te que Osíris é um deus negro!”

Osíris, como se sabe, era o deus da ressurreição, aquele que guiava a alma do defunto pelas trevas da Tuat até o seu encontro com a luz. “Tal como o dia, no Gênesis, sucede, à noite,” continua Fulcanelli,” a luz sucede à escuridão. Tem por símbolo a cor branca.

Atingindo este grau, os sábios asseguram que a sua matéria está livre de toda impureza, perfeitamente lavada e purificada. (….) A cor branca é a dos Iniciados porque o homem que abandona as trevas para seguir a luz passa do estado profano ao de Iniciado, de puro. É espiritualmente renovado.”

Não se pode deixar de comparar a simbologia do magistério alquímico com as diferentes fases da iniciação maçônica. O que busca o irmão quando se inicia na Maçonaria, senão uma mágica transformação no seu ser? A passagem do estado de profano para o de iniciado equivale, na iniciação maçónica, a essa renovação espiritual, essa transformação de substância, que no magistério alquímico é obtida pela manipulação da matéria.

Só que, diferentemente da Arte de Hermes, a matéria prima do Maçom é o seu próprio psiquismo. Sobre ele o iniciado trabalha, utilizando-se dos influxos da Loja e dos ensinamentos que recebe, para transformá-lo, de metal impuro em ouro. Troca o vício pela virtude, a preguiça pelo trabalho, a indiferença pela participação, o desconsolo pela esperança. Dessa transmutação emerge como espírito renovado, purificado, pronto para exercer um novo papel na sociedade.

Este é o significado do simbolismo contido na iniciação maçônica, na qual o recipiendário passa sucessivamente, pelas três fases da transmutação alquímica: a negra, simbolizada pela sua descida às sombras da morte, o branco da regeneração, simbolizado pela sua iniciação e o vermelho da exaltação, que simboliza o predomínio do espírito sobre a matéria, condição que ele, como iniciado, finalmente adquiriu.

Evidentemente, na Maçonaria moderna todo este simbolismo, que resume uma verdade iniciática, assumiu contornos de filosofia moral. O Maçom é um homem do mundo e para ele vive. As verdades do espírito devem ser transformadas em atitudes práticas para a melhoria da sociedade na qual ele atua.

A luta do Maçom é contra ele mesmo, para submeter as suas paixões e aprimorar o seu espírito contra os males que infelicitam a espécie humana. Afinal, como diz o ritual, o mal é o oposto da virtude. O Maçom deve trabalhar para eliminar este mal, aperfeiçoando as suas qualidades morais, e em consequência, as da humanidade como um todo. Por outras palavras, o que ele busca é a realização de um estado de perfeito equilíbrio dentro de si mesmo primeiro para, em seguida, transmiti-lo à comunidade na qual vive, pois ninguém pode dar senão o que tem.

Esta é a ciência maçônica, a verdadeira ciência da vida. Através do trabalho prático, (do Maçom operativo) e teórico, (especulativo, que é busca do conhecimento, da Gnose), o Obreiro da Arte Real pode realizar a Alquimia maçônica., unindo-se, afinal, pelo trabalho de construção do universo moral que deve existir em todo irmão, com o Sublime Arquiteto do Universo, fonte fecunda de luz da qual todos saímos no início como matéria cósmica e à qual um dia voltaremos como espíritos radiantes de energia luminosa.

Por isso é que aqueles temerários que batem profanamente à porta do templo, a fim de se iniciarem nos Augustos Mistérios dos Obreiros da Arte Real, ali estão em busca de luz. É que na desordem que reina no mundo dos homens, esses corações sensíveis sentem a necessidade de buscar o exato equilíbrio entre as suas necessidades no mundo profano e as exigências do mundo sagrado, que são de cunho espiritual.

Sem ordem e harmonia nas suas próprias vidas, não as pode transmitir à comunidade em que vive, pois ele mesmo não as possui. Então precisa ser devidamente iniciado, para que possa adquirir tais qualidades. Mas para isso precisa ser puro e de bons costumes.

Ontem como hoje, as esperanças da humanidade são as mesmas: ela quer viver num estado de harmonia, equilíbrio social e ordem. Se as formas de se buscar esse estado ideal mudam, se as visões assumem diferentes configurações, o conteúdo significante dessas visões, no entanto, são os mesmos.

Em todos os tempos os homens repetem as mesmas fórmulas e sentem os mesmos anseios. Assim, o neófito que busca a realização maçônica carrega na sua alma o mesmo anseio do adepto que se iniciava na Arte de Hermes. E tanto nos laboratórios dos artistas, como nos templos maçónicos de hoje, quando um irmão é iniciado ouve-se dizer que

A luz foi feita,
A luz seja dada ao neófito.

Por fim, é relevante lembrar que na referida prancha do Mutus Líber, um homem e uma mulher, representando os dois princípios, feminino e masculino, que se unem para a criação, torcem um pano branco para fins de extrair dele o chamado “orvalho dos filósofos”. Este “orvalho” é exatamente a energia proveniente da natureza, a “flos coeli” capaz de animar a matéria inerte e provocar nela a transmutação. No templo maçônico, essa função é representada pelo equilíbrio de forças entre as duas colunas, sobre as quais Aprendizes e Companheiros realizam as suas fases de aprendizagem, recebendo cada um, conforme o ritual, o seu salário.

É desta maneira que os Obreiros da Arte Real, congregados no templo, formam uma Egrégora que capta, a exemplo da ação energética da síntese química, a “energia dos princípios”, que para o alquimista é o mercúrio filosófico, e para o Maçom é a tríplice argamassa com que se ligam as obras maçônicas.

João Anatalino Rodrigues

Do livro “Conhecendo a Arte Real” – Ed. Madras, 2007

 

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