Tuesday, September 16, 2025

A ORIGEM DOS CONFLITOS ENTRE A MAÇONARIA E A IGREJA CATÓLICA


 

Pode-se dizer que a Maçonaria nasceu na Igreja Católica. Como construtores que eram, os maçons passavam longo tempo a construir catedrais e mosteiros. Estes pedreiros, homens simples, ignorantes e rudes, recebiam principalmente dos dominicanos, com quem viviam em estreito relacionamento, instrução e evangelização. Além de ler e escrever aprendiam dar graças à caridade e aos princípios morais do cristianismo. Podemos crer que, em alguns ritos, a prece na abertura dos trabalhos e o tronco da viúva, seja resultado desta convivência.

Vejamos, então, como começaram os conflitos

A Maçonaria como instituição associativa deu os seus primeiros passos em 1356, quando um grupo de pedreiros se dirigiu ao prefeito de Londres, e solicitou o registo da Associação de Pedreiros Livres. Oficialmente registrada e devidamente autorizada, os seus membros passaram a ter certos direitos e vantagens, tais como: Trânsito Livre, naquela época não se tinha a liberdade de viajar; Liberdade de reunião, naquele tempo era proibida, devido ao receio de conspirações e tramas contra os poderes constituídos; e a Isenção de impostos que obviamente agrada a qualquer um.

Pouco tempo depois, em 1455, Jonhann Gutemberg inventa a impressora com símbolos móveis, e é publicada a primeira Bíblia em latim. Assim, o evangelho passa a chegar mais facilmente a todas as camadas da população.

Quem lê, pensa mais e sabe mais. A história começava a mudar.

Em 1509 subiu ao trono da Inglaterra o rei Henrique VIII que, logo em seguida, se casa com Catarina de Aragão. Porém, mais tarde, apaixonado por Ana Bolena, contraria-se ao não obter do Papa o divórcio para casar-se com a sua amante. Após insistentes tentativas, revolta-se e simplesmente não reconhece a autoridade do Papa, fundando uma nova religião, a Anglicana. Constitui-se como único protetor e chefe supremo da Igreja e do clero de Inglaterra, acaba com o celibato dos padres e confisca os bens da Igreja.

Henrique VIII é excomungado, mas não se preocupa minimamente

Com a morte de Henrique VIII em 1547, o trono foi ocupado por vários reis e rainhas até à chegada, em 1558, de Elizabete I que, como Rainha da Inglaterra, solidifica a Igreja Anglicana, como está, até aos dias de hoje. Durante o seu governo, a Inglaterra torna-se uma potência mundial e, embora não fosse um súbdito católico, por tudo que ela fez contra o catolicismo em geral, o Papa Pio V excomungou-a em 25 de fevereiro de 1570.

Até aqui, a Maçonaria continuava operativa. Não incomodava e nem era incomodada

Em 1600, um facto aparentemente sem importância iria mudar os rumos da Maçonaria. É aceito o primeiro Maçom especulativo, de que se tem notícia Lord Jonh Boswel, um agricultor (plantava batatas). Foi o primeiro a ver vantagens em pertencer à Associação dos Pedreiros Livres. Em 1646 é aceito outro especulativo, Elias Ashmole. A importância deste fato é que Ashmole era um intelectual, alquimista e rosa-cruz. Alguns autores atribuem-lhe a confecção dos Rituais do 1°, 2° e 3°grau, graças aos seus conhecimentos de Rosa-cruz.

As lojas proliferavam. Eram mistas ou só de especulativos

Em 24 de Junho de 1717 é fundada a Grande Loja de Londres e a partir daí a Maçonaria começou a expandir-se e a ser exportada para países vizinhos: Holanda em 1731; França e Florença em 1732; Milão e Genebra em 1736 e Alemanha em 1737.

Esta estranha sociedade secreta, que guarda segredo absoluto de tudo o que faz, constituída de nobres e aristocratas, começou a inquietar os poderes dominantes de cada país. O medo das tramas e subversões para derrubar o poder foi mais forte, e começaram as proibições.

Sem saber o que acontecia nas reuniões, sempre secretas, criou-se um alvoroço, e muitos governantes pediam providências ou soluções ao Papa. As alegações eram de que a sociedade admitia pessoas de todas as religiões; que era exigido aos seus membros segredo absoluto, sob severas penas, e que prestava obediência a um poder central de Londres. O que fazer?

Com o Papa Clemente XII doente, constantemente acamado, totalmente cego há 6 anos, rodeado de pessoas que lhe filtravam as informações e ainda sob a pressão dos governantes que exigiam providências e, também, dos inquisidores que exerciam a sua influência, o Papa assinou em 28 de abril de 1738 a Bula In Eminenti, selando assim o destino dos maçons católicos em especial, e da maçonaria em geral.

Esta Bula excomungava todos os maçons e afirmava que era bom exterminar estas reuniões clandestinas, pois, poderiam atuar contra o governo. Bem, com a divulgação e publicação da Bula nos países católicos, foram-se desencadeando as proibições. Em França, o parlamento não a aprovou e por isso não foi promulgada. Sendo assim, em França, oficialmente, a Bula não entrou em vigor. Nos Estados Pontifícios (Itália desunificada), cuja constituição administrativa era católica, todo o delito eclesiástico era castigado como delito político, e vice-versa. Infringir a religião era infringir a lei.

Deu-se então uma verdadeira caçada à maçonaria e aos seus membros. A inquisição, encarregada de executar as ordens papais torturou, matou e queimou inúmeros maçons e, logicamente, pessoas inocentes que eram confundidas com maçons. Em 1800 foi eleito Pio VII, e durante o seu papado, surge Napoleão Bonaparte.

Entre outros feitos, provocou a fuga da coroa portuguesa para o Brasil em 1808 e conquistou Roma, proclamando o fim do poder temporal do Papa mantendo-o preso no castelo de Fontainebleau. Pio VII só recuperou parte das suas possessões, com a queda de Napoleão em 1815. Nesta época, porém, o mundo já não era mais o mesmo.

Os ideais de libertação afloravam e iniciaram-se diversos movimentos pelo mundo, praticamente todos liderados por maçons, que conseguem a independência dos seus países. Estados Unidos, 1783; França, 1789; Chile, 1812; Colômbia, 1821; Peru, Argentina e Brasil, 1822.

A maçonaria deixou então de ser simplesmente inconveniente e passou a ter mais ação, concreta e objetiva, e com isto recebia condenações mais veementes da Igreja. Neste momento façamos uma pequena paragem. A maçonaria até aqui tinha sido sempre condenada e perseguida por terceiros motivos. Até este momento a Igreja Católica nunca tinha sido atingida diretamente pela influência maçônica.

O facto que realmente condenou a maçonaria pela Igreja Católica aconteceu no processo da reunificação da Itália. O trauma desse episódio não é esquecido até hoje por alguns sectores da Igreja.

A Itália, nesta época, era uma “Manta de Retalhos”, constituída por vários estados entre os quais os Estados Pontifícios, que correspondiam a aproximadamente 13,6% do total da Itália, ou seja, eram 41.000 km², que pertenciam ao clero e localizavam-se na região central. A população dos Estados Pontifícios não tinha acesso a nenhum cargo público, que era explorado pelo clero. Todos os funcionários públicos usavam o hábito. O inconformismo e os movimentos de libertação começam em 1767, sendo os jesuítas expulsos de Nápoles.

Em 1797 é fundada a Carbonária, seita de caráter político independente da maçonaria, que tinha como objetivo principal a Unificação da Itália. Pio VII em 1821, lança a Bula Ecclesiam a Jesus Cristo condenando a atividade dos carbonários. A Carbonária tornou-se perigosa e prejudicial à maçonaria, pois era confundida com esta. Os Carbonários tinham os seus aprendizes, mestres, grão-mestres, oradores, secretários, sinais, toques, palavras, juramentos e é claro, segredos.

Os principais líderes Carbonários: Cavour, Mazzini e Garibaldi eram maçons, por isso, a Carbonária era muito confundida com a maçonaria, porém, diferenciavam-se pela origem, finalidade e atividades. Os carbonários matavam se fosse preciso. Nos Estados Pontifícios explodiram grandes desordens. A insatisfação contra o clero, que não permitiam que os leigos ocupassem cargos administrativos, era grande.

Em 1848 o Papa Pio IX é obrigado a refugiar-se em Nápoles, devido à revolução, e lança após alguns meses a encíclica Quibus Quantisque, responsabilizando a Maçonaria pela usurpação dos Estados Pontifícios. Em 1849 é proclamada por uma Assembleia a República em Roma. Nesse momento, Pio IX lançou cerca de 230 condenações contra a maçonaria. Ele e o seu sucessor, Leão XIII, lançaram cerca de 600 documentos de condenações. Em 14 de Maio de 1861, Vítor Manoel é proclamado Rei da Itália Unificada.

Como se vê, a Maçonaria estava condenada. Motivo? A Unificação da Itália… Ideal Carbonário

Em 27 de Maio de 1917 é promulgado por Bento XV, o primeiro Código de Direito Canônico, também chamado de Pio Beneditino onde se refere a Maçonaria da seguinte forma, no seu Cânon 2335:

“Os que dão o seu próprio nome à seita maçônica ou a outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem Ipso Facto, na excomunhão simplificter reservada à Sé Apostólica”.

E mais, recomendava noutros Cânones o seguinte: Que as católicas não se casassem com maçons; que seriam privados de sepultura eclesiástica; privados da missa de exéquias; não seriam admitidos em associações de fiéis; não poderiam ser padrinhos de casamento; não fariam a confirmação do batismo (crisma); não teriam direito ao patronato, etc.

Os Sacramentos proibidos são: Batismo, Eucaristia, Crisma, Penitência (confissão), Matrimônio, Ordenação Sacerdotal e a Unção dos Enfermos. Para atender os anseios dos irmãos católicos, a Maçonaria criou o Ritual de adoção de Loutons, de apadrinhamento, Ritual de Pompas Fúnebres e o Ritual de confirmação de casamento. Em 11 de Fevereiro de 1929 foi criado o Estado do Vaticano pela assinatura do Tratado de Latrão, onde o poder Papal ficava restrito ao Vaticano com 44.000 m2 (anteriormente tinha 41.000 km2) e Pio XI reconhecia a posse política de Roma e dos Estados Pontifícios e afirmava a sua permanente neutralidade política e diplomática, etc.

Com o Tratado de Latrão assinado, encerra-se o processo da Unificação da Itália. O ideal Carbonário fora conseguido e a Carbonária desaparece logo após a Unificação da Itália. Enfim, ficou o estigma da condenação. Em 27 de Novembro de 1983, já sob a autoridade do Papa João Paulo II, foi publicado um novo Código de Direito Canônico, que entrou imediatamente em vigor, reduzindo para 1752 os 2414 Cânones do antigo código.

O Código mais importante, referente à Franco-Maçonaria, é o 1374: “Aquele que se filia numa Associação que conspira contra a Igreja, deve ser punido com justa penalidade; e aqueles que promovem e dirigem estes tipos de Associações, entretanto, devem ser punidos com interdição”. Com isto, a maçonaria está legalmente e literalmente livre do estigma.

Entretanto, no mesmo dia, foi publicada uma Nota no jornal oficial do Vaticano, a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que dizia: “Permanece imutável o juízo negativo da Igreja perante as Associações Maçônicas, porque os seus princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a Doutrina da Igreja, e por isso, a inscrição continua proibida.

Os fiéis que pertencem às Associações Maçônicas estão em estado de PECADO GRAVE e não podem receber a SANTA COMUNHÃO. “Não compete às autoridades eclesiásticas locais, pronunciarem-se sobre a natureza das Associações Maçônicas com um juízo que implica na revogação do que é estabelecida”. A publicação da Declaração foi mais uma acomodação política aos minoritários insatisfeitos, e pode-se dizer a contragosto do Papa. Afinal, ela afrontava uma decisão já tomada e aprovada, logicamente pela maioria de toda a Congregação reunida com a finalidade específica de renovação do Código.

Enfim, com a publicação no novo Código do Direito Canónico, e da declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, o que mudou na relação entre a Maçonaria e a Igreja Católica? Mudou muito pouco em relação ao que se esperava, mas esse “muito pouco” é alguma coisa para quem não tinha nada. É uma esperança.

Paciência e esperança, estas são as palavras

A pacificação total virá com certeza, mas não se pode ter pressa. Já foi um enorme passo a publicação do novo Código de Direito Canônico. Na medida em que, paulatinamente, as luzes se forem acendendo no entendimento de cada autoridade eclesiástica, certamente novos horizontes surgirão. Vimos, pela própria aprovação do Código do Direito Canônico, que a maioria do clero quer a pacificação, senão ele jamais seria aprovado, e é isto que deve acalentar as esperanças dos católicos, e até lhes dar confiança diante das vicissitudes. Se o progresso é lento para a pacificação total, por outro lado, não há nada que justifique um retrocesso no futuro.

Roberto Rocha Verdini

 

Thursday, September 11, 2025

A MAÇONARIA E A PERFEIÇÃO


 

Quando faço uma retrospectiva desde antes da minha entrada para a Maçonaria, lembro-me muito bem da minha expectativa. Após a formalização do convite a primeira questão que me veio à mente foi a seguinte: O que será que a Maçonaria poderá fazer por mim? Em que ela poderá me ajudar? Hoje, passados alguns poucos anos desde a minha Iniciação, percebi que o maior ensinamento que ela poderia me dar, ela já deu: o de que, na verdade, quanto mais nos esforçamos para aprender e crescer, mais consciência adquirimos de que muito pouco ou quase nada sabemos.

A nossa caminhada pela vida torna-se mais interessante numa relação diretamente proporcional ao nosso desejo de conhecimento e auto crescimento. É interessante quando notamos que, na busca da Grande Verdade, vamos cada vez mais e mais adquirindo novos conhecimentos e, ao mesmo tempo, também nos apercebemos do quão pouco sabemos e o quanto ainda temos para trilhar deste caminho de aprendizagem.

Na verdade, a Maçonaria acabou por me dar a maior lição que talvez eu jamais tenha tido em toda a minha vida: a de que antes de perguntarmos o que ela poderá nos dar, deveríamos perguntar-nos o que é que nós podemos e devemos dar ao Planeta através dela. Digo isto porque hoje não tenho dúvidas de que o fato de ser Maçom é apenas uma graça que me foi concedida, um instrumento e um caminho que me foi aberto graciosamente, através do qual eu possa traduzir em gestos e atitudes concretas a minha contribuição para o engrandecimento do ser humano e da Gloriosa Criação do GADU.

Muitas vezes incorremos no erro de duvidar da nossa capacidade de transformar o mundo, achando que de nada adiantaria o nosso esforço pessoal para provocar transformações que venham beneficiar a humanidade. A cada passo que damos rumo ao auto crescimento já estamos colaborando para melhorar a consciência coletiva da humanidade, da qual fazemos parte, quer queiramos ou não. Hoje não tenho dúvidas de que a Maçonaria espera que todos nós possamos contribuir cada vez mais e mais para atingirmos uma consciência universal de civilização planetária iluminada.

Esta contribuição só será possível a partir do momento que tomarmos plena consciência de que há muito trabalho a ser feito e não há mais tempo a perder.

No mundo profano, com raras exceções, notamos que as pessoas que ocupam cargos de destaque, ou até mesmo posições de chefia de pequena escala, fazem questão de ostentá-la com um orgulho desmedido, até mesmo próximo da presunção. O que nós necessitamos, com a maior brevidade possível, é entender que qualquer posição que venhamos a ocupar em qualquer área, subentende uma maior responsabilidade e maior capacidade de doação da nossa energia para bem desempenhar o nosso papel.

Quanto mais alto o cargo que se venha a ocupar, maior será a nossa responsabilidade no que tange ao desempenho que teremos de ter. Não obstante, por inúmeras vezes, observamos que as pessoas entendem que um cargo ou uma posição elevada e de destaque é meramente um prémio para que possamos lustrar o nosso orgulho.

Dentro da Maçonaria devemos praticar cada vez mais e mais o exercício da Humildade para estarmos sempre atentos e nunca incorrermos na soberba. O verdadeiro Maçom é aquele que tem a noção da responsabilidade dos Graus que possui ou dos Cargos nos quais está investido. Não podemos perder de vista jamais a exata noção de que, quanto mais alta a posição que se possa ter perante os irmãos, imensamente maior se torna a responsabilidade, seriedade, dedicação, amor e humildade que deveremos ter para bem desempenhar as nossas tarefas.

Quando tudo isso começa a nos preencher e apontar a direção que devemos seguir, vez por outra somos assaltados por um questionamento interior que tenta nos cobrar o fato de sermos tão imperfeitos. Nesta hora parece que tudo desmorona e a apatia tenta instalar-se furtivamente nos nossos corações. Sobretudo porque a nossa meta de desenvolvimento pessoal é a busca da Perfeição.

Neste particular devemos estar sempre atentos para não tornarmos a nossa vida num inferno inútil, através de cobranças demasiadas e autoflagelos pessoais. Ao reconhecermos que erramos devemos conceder sem demora o auto perdão, assimilar o fato de que a nossa existência é na verdade o nosso laboratório pessoal de autoconhecimento, autoaprimoramento e evolução.

É muito interessante quando resolvemos prestar mais atenção nos factos e nas ocorrências do nosso dia a dia. Geralmente costumamos atribuir muitos acontecimentos ao simples acaso, a meras coincidências. Porém, em algum momento sempre um pouco mais a frente começamos a nos aperceber e até mesmo a entender fatos passados, enxergando com muito mais clareza que a vida não é feita de casualidades, mas sim de causalidades.

Por tudo isso é que acho necessário que pratiquemos muito a humildade durante todos os trabalhos da nossa vida. Se cometermos o equívoco de viver lustrando o nosso Ego com autossuficiência e zelo desmedido é certo que, quando da tomada de consciência da nossa pequenez diante da Gloriosa Criação, o tombo será demasiado grande, aumentando ainda mais as dificuldades que enfrentaremos para reerguermo-nos.

Necessário se faz, portanto, que inicialmente assumamos esta nossa condição de imperfeição, não como um castigo ou como uma condenação eterna, mas antes como um grande, e porque não dizer também, grandioso caminho a percorrer rumo a esta tão almejada e distante perfeição.

Porém é preciso que não nos deixemos abater por tantos obstáculos que certamente temos encontrado nas nossas vidas e pelos que ainda virão, pois o GADU certamente espera que venhamos a atingir os estados de consciência que Ele traçou para nós para que possamos integrar cada vez mais e com maior poder de engajamento esta maravilhosa Criação Abençoada.

Não devemos, contudo, assumir uma postura de conformação com o nosso atual estado de desenvolvimento. Precisamos aprender a lidar com as nossas limitações de forma tal que possamos expandir cada vez mais e mais os seus limites. Para isso se faz necessário que, antes de mais nada, comecemos a amar e respeitar este nosso laboratório pessoal que é a nossa existência, não deixando que o abatimento, a desesperança e o desalento tenham espaço nas nossas vidas.

Imediatamente após a tomada de consciência que um fato, uma atitude ou uma simples ideia não irá colaborar para o nosso aprimoramento moral e formação de caráter é preciso que adoptemos uma postura de compreensão e perdão, não só com pessoas ou agentes externos que tenham porventura sido os protagonistas da situação, mas também e, sobretudo conosco, pois, certamente, iremos notar que na grande maioria das vezes e porque não dizer sempre, estamos apenas recebendo de volta as frequências de energia que emitimos para o Universo.

Só o fato de reconhecermos esta simples verdade já nos torna mais capazes de trilhar este longo, difícil, intrincado, mas, sobretudo, maravilhoso caminho rumo à Perfeição.

José Luis Crepaldi

 

Thursday, September 4, 2025

MORAL, ÉTICA E CARÁTER


A ética e a moral são fundamentais para manter a harmonia dentro de uma loja, pois, quando qualquer uma delas falta, a discórdia e a desunião rapidamente se instalam, afetando não só as sessões, mas também os momentos que as antecedem e sucedem. De fato, sua ausência enfraquece o progresso dos trabalhos, já que a falta de unidade entre os Irmãos compromete as atividades em andamento.

O filósofo Mário Sergio Cortella explica que a ética pode ser compreendida como um conjunto de valores e princípios que utilizamos para responder a três questões essenciais da vida: Quero? Devo? Posso?

Nem tudo o que desejamos é possível; nem tudo o que é possível é recomendável; e nem tudo o que é recomendável é aquilo que realmente queremos. Assim, encontramos a paz de espírito quando aquilo que queremos coincidir com o que podemos e devemos fazer, o que significa que, acima de tudo, a ética é uma questão de escolha.

Além disso, enquanto a moral está enraizada na obediência aos costumes e hábitos herdados ao longo do tempo, a ética busca fundamentar essas ações por meio da razão, fornecendo uma base racional para a conduta moral. Como resultado, embora estejam intimamente ligadas, ética e moral não são idênticos.

A ética representa o conhecimento acumulado sobre o comportamento humano e procura explicar, de maneira racional, científica e teórica, as regras que compõem a moral, funcionando como uma reflexão sobre ela.

Já a moral, por sua vez, está esculpida nos costumes, normas e comportamentos aceitos como bons por uma comunidade, oferecendo orientação diária para as ações e julgamentos de cada indivíduo sobre o que é certo ou errado, bom ou mau. Dessa forma, essas normas estabelecidas servem como luzes-guia para as pessoas, moldando suas ações e percepções.

Considerando que a Maçonaria é uma fraternidade (termo que implica parentesco entre irmãos), é natural que certos valores devam prevalecer em toda a ordem. O amor ao próximo, a harmonia, a amizade, a união e a convivência fraterna devem estar sempre presentes, pois, a Maçonaria, em sua essência, incorpora a ética tanto no conceito quanto na prática. Por isso, códigos morais rigorosos e sistemas de valores elevados devem nortear a conduta de todos os maçons.

Assim, o Maçom é chamado a manter um padrão elevado de conduta moral, tanto na vida privada quanto na pública, destacando-se pelo respeito, comportamento impecável e compromisso constante com o Bem. É por meio dos valores morais que cumprimos nossos deveres como membros da sociedade em geral e, especialmente, da sociedade maçónica.

Por fim, é da ética que flui o caráter. O caráter é o conjunto de traços e qualidades que definem como uma pessoa ou grupo age e reage. É a fibra moral, a firmeza e a coerência nas atitudes. Um caráter forte não vacila diante de atalhos ou soluções fáceis; mesmo quando o caminho mais simples parece atraente, é o caráter, moldado pela convicção ética, que determina a escolha do indivíduo.

Ilustro tudo isso com uma história de Patrícia Fripp que exemplifica exatamente o que se espera de um bom carácter, de uma pessoa com moral e que siga um código de ética alinhado com a maçonaria:

“Era uma tarde de domingo ensolarada na cidade de Oklahoma. Bobby Lewis aproveitou para levar seus dois filhos para jogar minigolfe.

Acompanhado pelos meninos dirigiu-se à bilheteria e perguntou:

— Quanto custa a entrada?

O bilheteiro respondeu prontamente:

— São três dólares para o senhor e para qualquer criança maior de seis anos.

— A entrada é grátis se eles tiverem seis anos ou menos. Quantos anos eles têm?

Bobby informou que o menor tinha três anos e o maior, sete.

O rapaz da bilheteria falou com ares de esperteza:

— Se tivesse me dito que o mais velho tinha seis anos eu não saberia reconhecer a diferença. Poderia ter economizado três dólares.

O pai, sem perturbar-se, disse:

— Sim, você talvez não notasse a diferença, mas as crianças saberiam que não é essa a verdade.”

Fábio Serrano, M. M. – R. L. Mestre Affonso Domingues nº 5 (GLLP / GLRP)

Fonte:

Blog: A Partir Pedra

Monday, September 1, 2025

ARTE REAL – REFLEXÃO DE UM MESTRE MAÇOM


 

Permitam-me, Meus Queridos Irmãos que regresse novamente a um dos epítetos mais conhecidos atribuído à nossa augusta Ordem Maçônica: aquele que a intitula de Arte Real.

Para que não subsistam dúvidas quanto aos termos usados ou numa tentativa de os aclarar existe a necessidade de nos aproximarmos do seu sentido mais puro. Arte, provém do étimo latino “ars, tis” e o seu sentido etimológico designa uma habilidade adquirida, a qual se opõe às faculdades concedidas pela natureza e, por outro lado, ao conhecimento rigoroso da realidade, da ciência ou scientia. Mas este termo deriva de outro ainda mais específico. Como sabemos, a língua latina absorve muito dos étimos gregos, de onde recolhe a semântica e os transforma para o seu uso, nem sempre com a abrangência que estes possuíam para os helenos.

No mundo grego, a arte ou a atividade artística não era entendida exclusivamente como uma habilidade para criar algo estético, como para os romanos. Na verdade, num sentido mais remoto, para os gregos, a palavra τέχνη [1] estava relacionada ao vínculo mestre-discípulo. O mestre conhecedor de uma determinada habilidade transmitia uma série de ensinamentos a um discípulo para desenvolver tal destreza. Esta ideia apresenta um quadro de referência geral, pois tudo o que sabemos foi previamente ensinado por alguém.

Quanto ao adjetivo posposto “Real” existem duas hipóteses que poderão trazer-nos luz sobre a sua semântica e que apesar de aparentemente opostas, veremos mais à frente como estas se complementam. A primeira hipótese é a de que provém do étimo latino “regalis” que por sua vez é um vocábulo formado a partir de “rex, gis” que tem a mesma raiz indo-europeia *reg (direito, gerir, guiar, comandar em linha reta) de reger, ou seja, governar. A segunda hipótese é que tenha provindo do étimo latino “realis” cujo sentido é o de “verdadeiro, real”.

De fato, estes dois sentidos não se opõem, antes se complementam, pois se é verdade que ao nos propormos o caminho maçônico deveríamos estar comprometidos em seguir por um caminho reto e virtuoso, outra coisa então não é de esperar que a verdade (verdade nos propósitos, verdade nas ações, verdade na responsabilidade, verdade para consigo mesmo e para com os demais, verdade nos ideais, etc.) esteja intrinsecamente presente não só no caminho, como principalmente no caminhante e por extensão na própria caminhada.

A Arte Real era chamada na Idade Média, à ciência conhecida pelos construtores de edifícios de estrutura complexa – as catedrais, ciência esta que ninguém, além deles dominava; por outro lado, também nesse período a Arte Real foi um dos nomes do trabalho dos alquimistas. Tanto os construtores de catedrais medievais quanto os Alquimistas tinham algo em comum: no seu ofício não se limitavam a um mero processo mecânico e material, ao desenho e fabricação de paredes e arcos, ou à tentativa de purificar metais.

Os antigos maçons (construtores e alquimistas, portanto) descobriram, graças ao seu trabalho, uma transcendência que preencheu as suas vidas e que ia muito além da mera manipulação de objetos. Os antigos pedreiros operativos criaram uma sociabilidade: a elevação de uma abóbada cruzada ou a procura da pedra filosofal deram origem a novos modos de ser, de se comportar e de compreender a vida.

Como daqui podemos depreender, as Antigas Guildas [2] dos Construtores Medievais são o berço histórico, simbólico e filosófico da Maçonaria tal como hoje a conhecemos. Assim, derivada dessas corporações medievais, recebeu a sua estrutura e os seus graus iniciáticos, bem como o sublime simbolismo representado pela Arte de Construir que, para a Maçonaria, constitui uma arte sagrada e espiritual representada através do ritual.

Tanto a estrutura, graus e ritual recebidos, foram inevitavelmente aperfeiçoados, adaptados e evoluídos ao longo dos tempos, mantendo sempre a sua essência: a do apelo ao interior da terra, ao que há de mais profundo e sublime em cada Homem, para lá descobrir a sua essência divina, que o torna partícipe do poder de criar e de se recriar.

Para lá descobrir, que não é único, mas que forma parte de um todo metafísico, que está para além das leis do tempo e do espaço.

A Maçonaria Regular atua simbólica e ritualmente na construção do Templo Universal dedicado à glória do Grande Arquiteto do Universo, que considera como um Princípio Espiritual que dirige e orienta os seus trabalhos e cuja influência é transmitida ao neófito através do Ritual de Iniciação [3].

Esta construção é simultaneamente interior e exterior. É interior todas as vezes que o Maçom, qual templo da divindade permite que o espírito divino se manifeste; é exterior porquanto este maçom é uma pedra que conjuntamente com os seus Irmãos de Loja ergue o Templo “de todos os tempos que se estende sobre a face da terra”. A Arte Real da Maçonaria tem início na expressão do simbolismo da pedra bruta no trabalho do aprendiz iniciado, pedra que devemos lapidar continuamente a fim de que despojada de toda a sua aspereza se aproxime gradualmente da forma consoante não só à realidade do que somos, mas também ao destino que nos espera.

Assim, este desbastar a Pedra é uma forma maçônica de dizer que o aprendiz – o Maçom em geral – trabalha sobre si mesmo para se livrar de preconceitos, vaidades, superficialidades e do mundo ilusivo das formas que o homem aprende e imita no “mundo profano”, mundo ao qual deve renunciar e morrer a fim de renascer como um novo homem. Esse trabalho é feito pelo pedreiro com três ferramentas: o maço, o cinzel e a régua.

O simbolismo destes artefatos de construção é essencial para a construção da personalidade maçônica. A Arte Hermética, ou Arte Real, ou Arte Régia é, pois, um dom para o qual muitos são escolhidos, mas poucos são convidados e não me refiro a convites pessoais para a nossa Ordem. Esses, valem o que valem. A Iniciação é uma interpelação que poucos homens vivenciam e que permite que eles se afastem do mundo exterior, se aproximem de si mesmos, com o fim de conviverem com os demais em plenitude de sabedoria e comunhão fraterna.

A Arte Real é, então, um processo de transformação, uma mudança gradual do homem que aos poucos abandona as asperezas, arestas e excrescências da sua personalidade profana e grosseira a fim de se aproximar do seu Templo interior, isto é, da introspeção profunda que o conduz a Luz da Verdade que o habita, que vem da iluminação pela compreensão da verdadeira essência de Deus e do Homem, para além das crenças, dogmatismos e formalismos do culto religioso.

Esta visão interna, que nasce da transformação exterior até à interior – ou como dizemos muitas vezes, do desbastamento da Pedra Bruta – é o que a Maçonaria chama de “polir a pedra”, ou seja, torná-la cúbica, mas como uma evolução da pedra bruta que aos poucos vai abandonando as suas formas para avançar na melhoria contínua da sua personalidade. Por isso, em vão trabalha se esforça o Maçom se as suas obras não forem dignas da Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Sérgio C., M. M. – R. L. Miramar, nº 36 (GLLP / GLRP)
07.11.6023 (A.L.)

Notas

[1] “tékhne” – significa “arte”, “habilidade”, “técnica” ou “ofício”.

[2] Atente-se no valor semântico de Guilda e nunca de agremiação.

[3] Aqui se vê a importância do rigor em ser cumprido e da dignidade em ser executado.

 

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