EM BUSCA DE NOVA IDENTIDADE MAÇÔNICA



O termo “identidade” tem uma diversidade de conceitos e, segundo várias fontes, é entendido como um conjunto de caracteres próprios e exclusivos que permitem diferenciar pessoas, animais, plantas, objetos, produtos, a cultura de um povo, entidades, uma empresa etc.. No seu sentido mais popular representa um documento legal que acompanha um indivíduo e atesta que é o próprio. 

É muito comum termos acesso ao documento de identidade de uma pessoa e constatarmos que a foto é antiga e marcas do tempo distanciam as duas imagens, donde se conclui que nada é estático, que a mudança é uma consequência natural da vida.

Na Maçonaria, um conjunto de princípios, chamados os “Landmarks” da Ordem, por se tratarem das mais antigas leis que a regem, lhe conferem uma identidade imutável, sendo considerado os seus limites e que não poderiam sofrer modificações. Muitos dizem que sem eles a Maçonaria já não existiria ou teria tomados outros rumos. 

Porém, resguardando a sua essência, que a fez prosperar até os nossos dias, não se pode refutar que a Maçonaria recebe influências de época e passa por esse processo sutil de transformação.

Aqui não se pretende atacar a prática da tradição constante nos Rituais e no Simbolismo que se constituem na seiva que mantém a Ordem fortalecida desde o século XVIII e nem por isso sofre de obsolescência, face aos valores morais defendidos. É fato que novos ritos derivaram do original, mantidos os princípios, para atender a projetos de poder inevitáveis quando outros motivos se tornam imperiosos.

Desde sua estruturação em 1717, na forma como hoje a conhecemos, a Maçonaria sempre se posicionou politicamente identificando-se com causas nobres, lutas sociais e movimentos cívicos, revolucionários e libertários, que a fez prosperar até nossos dias, sempre combatendo a intolerância, os preconceitos, os privilégios e defendendo novas ideias. Por isso angariou também a antipatia de poderosos. 

No contexto atual, apesar do conceito positivo junto àqueles que a conhecem, ainda é desconhecida por grande parte da população brasileira. No cenário político nacional não tem nenhuma representatividade e não exerce qualquer influência a exemplo da norte-americana ou da européia, não obstante todo o capital intelectual e consciência de sua importância para as transformações necessárias à promoção da justiça social.

A prática de reverenciar as glórias do passado é por muitos vista como desgastada, sob o argumento de que o seu potencial hoje não é utilizado na sua plenitude, passando ao largo de temas palpitantes e gravosos da atualidade, apenas manifestando-se a sua inconformidade através de posicionamentos perante o povo e reafirmando compromissos históricos de recolocar a Ordem na linha de combate contra as mazelas que pipocam aqui e acolá, sem, contudo, comprometer-se efetivamente na busca de soluções.

Comprometimento e envolvimento têm dimensões diferenciadas. Somente caprichar na retórica e bradar que alguém tem que tomar uma providência, de que do jeito que está não pode ficar, de que não dá mais para aguentar et cetera e tal, é muito confortável. O comodismo e o obsequioso silencio político da Maçonaria do Brasil precisam ser quebrados.   

Esse cenário nos remete a um acontecimento histórico ocorrido em 13 de maio de 1968, em Paris, onde cerca de um milhão e meio de pessoas participaram de uma marcha contra o governo de Charles De Gaulle.

O movimento começou com uma revolta estudantil e foi ampliado com a incorporação de trabalhadores, sindicalistas professores e comerciários e, entre os meses de maio e junho, mais de nove milhões de pessoas declararam greve. Entretanto, De Gaulle venceu as eleições realizadas em junho daquele ano e o movimento se viu derrotado pela então denominada “maioria silenciosa”.

Mas o movimento ganhou um simbolismo e transformou-se em um marco das mobilizações políticas e influenciou inúmeras revoltas mundo afora, provocando rupturas e revisão de valores da sociedade. 

Neste particular, seria injusto e deselegante deixar de destacar o papel da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, em face de sua permanente contribuição através de parcerias com os Governos do Estado e Municípios, que muita diferença tem feito em favor da Sociedade Mineira. Mas, recorrendo à abrasileirada metáfora de Aristóteles (384-322 a.C.), “uma andorinha não faz verão”. Como fica o Brasil? 

É recorrente o argumento de que a Maçonaria brasileira não age como instituição, mas através dos Maçons, o que não comprova a sua história de verdadeiro partido político no passado.

Essa realidade e as várias Potências em que se dividiu a Ordem, com destaque para as cisões de 1927 e 1973, com reconhecida perda de sinergias, nos relembra a necessidade de reflexão sobre o conceito de família unida representada pelo “Feixe de Esopo”, do fabulista grego de mesmo nome (séc. VI a.C), que relembra o combalido conceito de que a união faz a força. 

Embora haja impedimentos regulamentares para discussão política partidária nas Lojas, dentre outros temas, nada obsta à promoção de debates públicos, fóruns de discussão, seminários, oferecimento de projetos e estudos, investimento em obreiros com potencial eleitoral e orientação do voto maçônico, que promovam o retorno da Maçonaria ao cenário político nacional, em especial na trincheira de combate às mazelas que desvirtuam os valores mais caros do nosso povo. 

Para esse fim, torna-se inadiável para a Ordem no Brasil reaprender a traduzir em linguagem política os descontentamentos e anseios latentes em nossa sociedade, mostrando alternativas, ocupando espaços que permitam aos obreiros a reivindicarem, de forma organizada, as mudanças que todos exigem “como nunca antes na história deste país”, pois a perda de contato com a realidade paralisa a consciência crítica.

O dramaturgo e poeta Bertolt Brecht (1898-1956) certa vez escreveu em uma poesia: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala. Nem participa dos acontecimentos políticos...”. Aquele pensador ainda reforçou: “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”.  

Essa reflexão invariavelmente resvala na dúvida a respeito da identidade da Maçonaria. Teria ela se perdido nestes tempos de mudanças-minuto, ideias curtas e respostas rápidas? Atualmente, bastaria apenas parecer bonito e importante na foto? Restaria à Maçonaria no Brasil apenas um grande passado pela frente e permanecer contemplando-se no retrovisor da história? 

E assim retomamos os questionamentos primitivos onde precisemos saber primeiro o que somos, para onde iremos o que nos motiva, que questões nos unem e nos moldam. Sem isso a imagem no documento de identidade ficará cada vez mais irreconhecível em confronto com a realidade de quem a exibe.

Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos, mas também pelo que deixamos de fazer.” (Molière, dramaturgo francês) 



Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre Maçom da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, da Academia Mineira Maçônica de Letras.


DESCANSO PARA O PEDREIRO




“Na dúvida aprendemos; na certeza nem sempre”

Em todo mundo a Maçonaria vive de Duas reuniões mensais, ou uma bimensal, e até uma trimestral, como é na Inglaterra. Apesar de parecer pouco para nós brasileiros, eles são atuantes e fazem sua parte em matéria de trabalho social, filantrópico, e de estudos.

Na França, Portugal, Espanha, Nova Zelândia e Estados Unidos são duas sessões.  Propor isso aqui causaria uma discussão interminável, ou talvez nem discussão houvesse (deixa como está), pois nos acostumamos com quatro e até cinco sessões mensais.

Depois de quase quatro décadas na Ordem, senti um esgotamento por esse regime de trabalho sem descanso, apesar de gostar da convivência em Loja com meus irmãos. Mas, e da família, não gostamos também? Ficar mais tempo em casa é revigorante, além do que, pregamos que a família está em primeiro lugar.

Buscando ajudar os mais velhos, foi criada na Nova Zelândia, a Loja Daylight, que se reúne à luz do dia, evitando o que aconteceu com o Senior Warden (primeiro vigilante) que caiu no sono e roncou, em sessão noturna, como me relatou o irmão Timothy Collier, da Loja Montrose 722 - SC, de Gisborne- New Zealand. Mais perto de nós, tem a Loja Centenário em Porto Alegre, que trabalha à tarde, para atender os irmãos em “idade respeitável”. Seguindo essa tendência, em Londrina, agora tem a Loja François Voltaire que trabalha aos sábados de manhã.

Como é possível adotar o sistema praticado no mundo, e manter a agenda de trabalho em ordem?

Bem, aí, depende dos Veneráveis e das diretorias terem vontade para implementar essa mudança. Nas Lojas com grande número de membros, o saco de proposições recolhe um elevado número de pranchas, que para serem decifradas leva-se um tempão, consumindo boa parte das duas horas de trabalho.

Peço mudanças, e apresento uma sugestão: O remédio é a informatização parcial das atividades maçônicas, apesar do perigo que poderia advir com isso, pelo vazamento aos olhos e ouvidos profanos.  

Vejamos: os pedidos de informação de outras Lojas, sobre profanos à iniciação, podem ser via e-mail, como já faz o Grande Oriente do Paraná e outras Potências. 

Pranchas pedindo a cessão do salão social, de ajuda de instituições, devem ser analisadas pela diretoria, bem como os certificados de presença a outras Lojas podem ser agrupados e anunciados em bloco, com um ganho de tempo.

As pranchas das Corporações Filosóficas, com pedido de informação para a elevação de graus, não precisam ser lidas “ipsis literis”, uma a uma, em sessão, e podem ser respondidas administrativamente. Isso não vai afetar a excelente relação de cordialidade e amizade que sempre existiu entre as Lojas Bases, e os Altos Corpos.  

O secretário executivo da Loja pode organizar tudo, e enviar via correio eletrônico, as informações a quem de direito.

Não vamos imaginar que a “A Palavra à bem da Ordem” deva ser encurtada. Porém é preciso que seja objetiva, concisa, e sem delongas, sendo “À Bem da Ordem” mesmo, e nada mais.

Se no mundo inteiro é assim, com DUAS sessões mensais, porque não pode ser da mesma forma entre nós? 

A obrigatoriedade da frequência maçônica, não é apenas na Loja Base/Mãe, é também na Loja de Perfeição, no Capítulo, no Kadosch, no Consistório e nos Graus Administrativos.

Tem ainda as organizações paramaçônicas juvenis que os pais precisam levar os filhos/as como, a Ordem De Molay, as Filhas de Jó e a Arco Iris.

Num passar d´olhos no calendário, vi que seriam 21 sessões ao ano, contra quase 45 no sistema atual. Um único templo poderá acolher muitas Lojas, dez por mês.

Mais Lojas no mesmo templo poderia baratear o aluguel para as Oficinas locadoras, que em alguns casos tem dificuldade para pagar. Acredito mesmo, que o índice de frequência aumentaria, e certas sessões hoje “vazias”, se tornariam mais vibrantes e proveitosas, bem diferente de algumas situações, onde apenas meia dúzia de “bodes pingados” se faz presente. Trabalhar do meio dia à meia noite, é apenas uma simbologia.

Osni Adres Lopes - Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil
Laurindo R. Gutierrez  - Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil  e
Loja de Pesq. Maç.´. Francisco Xavier Ferreira - membro correspondente 


COMODISMO NA MAÇONARIA



O caminho para a evolução do homem maçom está no uso da sua consciência, e não no desprendimento da mesma. É muito mais cômodo para nós, seguirmos a lógica dos outros, pensar como a maioria, ou concordar com aquilo que foi criado pela mente humana.

Dá trabalho analisar, testar, pesquisar, questionar e ainda por cima discordar da maioria e fazer parte de uma minoria. Comodismo mental é a principal causa da estagnação consciêncial e da involução humana, principalmente dentro da Ordem Maçônica.

Mentes abarrotadas de crendices, de achismos, de falsa humildade, sem ao menos questionar as inverdades que abarrotam os nossos Templos, em deletérias explanações de alguns “pombos de Aventais”.

Uma consciência apurada não dispensa à lógica e ao mesmo tempo lida sabiamente com a emoção sem reprimi-las e sem as mascarar. Não gosto do comodismo... Mas às vezes, tenho medo de ousar, diz um irmão com pouco tempo de Maçonaria.

Uma pena Amado ir, pois O comodismo nos faz covardes quando a mesmice é a indolência. A comodidade é uma situação adversa ao progresso de nossa caminhada na senda das virtudes e na verdadeira felicidade, ela representa estagnação e covardia. O comodismo torna o ser medíocre, um alguém sem graça...

A Ordem nos quer com raça, com a força e a coragem, quer que sejamos heróis do nosso destino.

 Quer o extravasar da nossa vitalidade, aproveitando cada oportunidade, em que possamos nos lapidar e construir nosso destino, priorizando o que deve ou não, se cultuado em Nossos Templos.

Quer a transformação de nossos sonhos e planos em realidade, retomar o fôlego e continuar a caminhada percebendo cada detalhe, apreciando cada qual com o valor necessário.

Quer que invistamos e centramos nossos esforços no que somos e podemos fazer de melhor e mostrar ao mundo.

Não temos tempo a perder! Estar vivo vai muito além do ato de respirar, estar vivo é estar atento a tudo que encontra no caminho e saber tirar o melhor proveito de tudo.

É saber dar o valor merecido a cada coisa, a cada pessoa, a cada momento e principalmente é saber valorizar-se. O homem maçom é capaz de tanta coisa, mas o comodismo e a preguiça o deixam ancorado, sem a evolução, que deve nortear sua caminhada em nossa Ordem.

Compreender a nossa missão nesta vida é fácil, o difícil é ter disposição para cumpri-la. O Comodismo nos torna procrastinador por natureza. Ontem ouvi de um Amado Ir.'.: “Ultimamente eu tenho me afastado de algumas pessoas e de alguns irmãos, por simples comodismo.

Cansei de me importar tanto, ligar tanto, procurar tanto. Se há uma coisa que eu aprendi na vida é que quando a gente se importa demais, liga demais, procura demais, não tarda e a gente acaba sobrando. A partir de hoje, eu vou fazer a linha “não tô nem aí”.

Quando perceberem que eu não sou mais o mesmo e que eu saí de cena, talvez me procurem, talvez se importem, talvez me liguem.” Essa triste realidade , está se tornando a tônica de nossas Oficinas:”

 O Tô nem Aí, para o meu irmão” já pensaram sobre isso?

O Egocentrismo dilacera as relações humanas e também a nossa fraternal Instituição, urge uma mudança de paradigmas. Se não seremos um CLUBE DE SERVIÇOS, de jantares e de conversinhas pôs sessão sobre trivialidades e não um Ágape benfazejo de integração, de construção do amor fraternal.

Concluindo meu amado irmão: Se você procura evoluir, melhorar, mudar de vida, tem de sair da sua zona de conforto, tem de abandonar a preguiça, tem de estar em constante movimento, constante mudança, a fim de evoluir e alcançar o que você almeja.

Porque se você se deixar acomodar, passará a viver em função do nada, não terá mais expectativas de uma vida melhor, de uma vida de sucesso financeiro e pessoal, se tornará alguém com uma vida sem graça, um escravo da rotina, e sua passagem por esse mundo provavelmente não será lembrada.

Não desperdice seu tempo de vida por preguiça, por comodismo. Diga NÃO ao comodismo e mexa-se! A Maçonaria Precisa de Você !!! E a Humanidade Também!!!

TFA Dario Angelo Baggieri

PROFANOS DE AVENTAL - VAIDADES E ARROGÂNCIA DENTRO DA MAÇONARIA



Nenhum ditador provocou ou vêm provocando tanto dano à Maçonaria quanto o maçom vaidoso, este sapador inveterado, este Cavalo de Troia que a destrói por dentro, sem o emprego de armas, grilhões, ferros, calabouços e leis de exceção.

Ele é indiscutivelmente o maior inimigo da Maçonaria, o mais nefasto dos impostores, o principal destruidor de lojas.

Ele é pior do que todos os falsos maçons reunidos porque se iguala a eles em tudo o que não presta e raramente em alguma virtude.

O maçom arrogante mal conhece o significado de nossas belas e simples alegorias.

Se as conhece, as despreza!

Sua mente acha-se preocupada unicamente com o sucesso de suas empreitadas, em encontrar maneiras de estar permanentemente ao lado das pessoas cujos postos ambiciona fama e poder.

MAÇONARIA – SEM DOGMAS



O primeiro olhar que o franco-maçom deve alterar é aquele que ele tem a seu próprio respeito. A abordagem iniciática pode ser resumida pela fórmula de Sócrates, “Conhece-te a ti mesmo”. Mas a frase completa é “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses”.

Para reunir pessoas de religiões e culturas diferentes, os franco-maçons tomaram emprestada de Voltaire a ideia de um Grande Relojoeiro, mas permanecendo fiel à tradição de construtor – a expressão franc-maçom quer dizer “pedreiro livre”, em francês. Daí a concepção do Grande Arquiteto do Universo, traduzida pelo princípio que não se opõe nem aos deuses das religiões nem ao materialismo científico.

Na maçonaria não há doutrina nem dogma, o que permite a todos, crentes, ateus ou agnósticos, compartilhar uma concepção de mundo. O Grande Arquiteto do Universo é representado pelo triângulo no centro do qual se localiza um olho, o olho da consciência, o Princípio Criador. É o olho que tudo vê, que protege ou julga, dependendo do caso. 

Esse símbolo já podia ser visto antes do surgimento da maçonaria, como representação divina nas pinturas pré-renascentistas e na antiga arte egípcia – no caso, aludindo a Hórus, filho de Ísis e Osíris.

O mais conhecido dos símbolos maçônicos, o esquadro e o compasso associados, apareceu em 1725. O esquadro remete a terra, ao número quatro e ao quadrado. O compasso alude ao céu, à unidade e ao círculo. Combinados, encontra-se a matéria (esquadro) e o espírito (compasso) indissociavelmente ligados.


Frequentemente se critica certo caráter “secreto” da maçonaria, a esconder talvez boa dose de perigo. Percepção errada. Desde a criação da primeira grande loja maçônica, em 1717, em Londres, começaram a circular textos detalhando seus ritos. 

O conhecimento verdadeiro, porém, está inscrito na vivência de cada maçom e é dificilmente transmissível.

Iniciado em 1750, Casanova exprimia com perfeição a ideia: “O segredo da franco-maçonaria é inviolável por sua própria natureza, já que o maçom que o conhece só o conhece por tê-lo adivinhado. Ele não o aprendeu de ninguém ele o descobriu à força de ir à loja, de observar, raciocinar e deduzir”

Philippe Benhamou


VENERÁVEL OU VENERADO?



O cargo de Presidente na diretoria de uma loja é ocupado por um irmão que preencha os requisitos formais de ser Mestre Maçom há pelo menos três anos; pertencer ao quadro de obreiros da loja a que pretende liderar no mínimo há três anos; ter no mínimo cinquenta por cento de frequência às sessões regulares da loja no período anual que antecede à candidatura, neste último caso se não for remido; já ter ocupado o cargo de primeiro ou segundo vigilante; estar em dia com suas obrigações financeiras junto à tesouraria da loja e, finalmente, não estar sendo processado pela justiça maçônica em razão da prática de qualquer infração.

Uma vez eleito e instalado, o irmão, agora líder maior da loja, passa a ser intitulado Venerável Mestre. Segundo o dicionário português, venerável é aquele que é digno de veneração, muito respeitável. Teoricamente, e na filosofia maçônica, para que um irmão seja instalado neste ápice, nesta condição de ser “cultuado”, venerado, admirado e receber de todos a mais alta expressão de respeito, ele terá que trazer intrínseco no seu modo de agir maçônico inúmeras outras qualidades, não de ordem formalística, mas natural e expoente. 

Para a Maçonaria, Autoridade e Respeito não são adquiridos por herança ou insígnias trazidas das trevas do mundo profano. São atributos inspirados e transmitidos na medida em que se celebra, com muita naturalidade, no altar da Liberdade, tendo por cálice a Igualdade e por conteúdo sagrado a Fraternidade. 

O Mestre Maçom para ser venerado não pode trazer consigo o brilho do reflexo de suas façanhas alicerçadas nas graduações ou qualificações do mundo profano e muito menos ter como instrumentos os resquícios de sua altivez e bravura, herdados no reconhecimento do trono que ocupa ou que outrora ocupara no império do mundo extra-maçônico.

O Venerável precisa ser alguém que já conseguiu a imunização de todas as práticas nefastas que a sua profissão, o seu cargo ou o seu agir social negativo possam ter lhe contaminado no mundo profano.

O mestre a ser venerado por todos não pode ser embriagado com as honrarias e com as distinções que o cargo ou que eventualmente alguns membros ainda não iluminados possam ofertar-lhe por intenção de outros interesses.

Sua missão exige, com maior expressividade, a tolerância sem abrir mão do combate constante à conivência com tudo que não for propósito da maçonaria. Ele deve ser como a flor que constantemente atrai os pássaros e as abelhas, mas também os insetos, sem perder a cor e o seu objetivo no contexto natural.

Venerável não deve ser insígnia, não pode ser galardão, não pode provocar jactância. A Faina do Venerável deve ser sempre a união dos irmãos, pois este é o Fanal que manterá a existência da loja e, por conseguinte a perpetração da Maçonaria Universal.  

Não pode ser “muito respeitado” (venerado) aquele que vive da maçonaria e não para a maçonaria; não pode ser digno do respeito dos demais irmãos aquele que usa com indisfarçável e extenuante vaidade o cargo onde precisa ser venerado.

É indigno de assumir o cargo de Venerável aquele irmão que pretende assumi-lo, ou por destaque e representação no mundo profano, ou porque usando das insígnias que o mundo profano lhe ofereceu veio desembarcar no seio da família maçônica e agora quer “consertá-la” com seus métodos e vícios nefastos. 

Assim como, para ser maçom, não basta só ter iniciado, pois, não se extraem de imediato pedras angulares e prontas para o acabamento das construções numa pedreira, também não se obtém pessoas pré-fabricadas para o cargo de venerável no mundo profano, independente de sua formação cultural, social, financeira, religiosa e ou filosófica.

Para ser Venerável não bastam 33 graus filosóficos, 33 anos de maçonaria, 33 vezes ocupando todos os cargos da loja; o maçom capaz de ser venerado adquire naturalmente essa posição quando consegue reverter à escuridão que inibe o senso de discernimento entre o que ele pode e dever mudar e aquilo que, mesmo contra sua convicção pessoal, precisa aceitar. O Venerável Mestre deve ser quem motiva o estudo, a prática e a vivência do bem, porque o homem livre, quando estuda, evolui.

O Venerável precisa ter percepção clara da linha tênue que divide a tolerância com as imperfeições naturais dos irmãos e a conivência com atitudes contrárias aos princípios da Maçonaria.

As reuniões regulares ou econômicas se realizam dentro de um Templo porque reservam momentos de compenetração, de estudo, de troca de egrégoras e de fluídos positivos, não podendo ser transformadas em desfechos mercadológicos, em assembleias para resoluções de problemas financeiros, ainda que da própria loja e muito menos para tratar de assuntos mundanos, tais como políticas partidárias, muitas vezes atendendo pedido de irmãos aproveitadores ou de cunhadas impositivas que vêem na maçonaria um local de resolução de todos os problemas do mundo externo e ou reformatório de seus maridos.  

Nem sempre o cargo de Venerável Mestre de uma Oficina está sendo ocupado por alguém que, maçonicamente, deveria ser venerado e isto se deve por um gravíssimo erro que cometemos nas oficinas, até por uma herança ou por costumes nefastos: sempre que um determinado grupo, muitas vezes formado até por quem já ocupado o cargo de venerável, apresenta um irmão como sendo candidato a venerável ouvimos sempre a máxima de que não é bom haver competição em loja, porque isto poderia gerar “divisão” entre os irmãos e aí todos vão ter que “engolir” alguém que será venerável, mas não será venerado.

O mais correto seria, quando da apresentação de um irmão que não oferecesse condições mínimas para ocupar este cargo, que outro ou outros grupos apresentassem quantos outros candidatos necessário fossem, pois é melhor uma “divisão” durante o pleito eleitoral de uma loja, do que a sua divisão ou seu aniquilamento por um mandato inteiro.

Assim como um Cristão não é aquele que carrega na parte externa do peito um Crucifixo e sim aquele que carrega no coração um Cristo fixo, também o verdadeiro Venerável não é aquele que auto se intitula, mas sim aquele que, se não por todos, mas pela maioria consegue ser venerado. 

Autor: Fernando Alves Viali 
Loja Ciência e Trabalho n.º 30, Ituiutaba-MG


COMO DISTINGUIR UM MAÇOM



É realmente de impressionar, aos olhos profanos, que duas pessoas nunca antes se tendo visto, não se conhecendo de fato, rapidamente se reconheçam como irmãos.

É pacífico que esse reconhecimento se dá através de sinais, toques e palavras. Isso é indiscutível, inquestionável, mas vai além, existem outras formas de reconhecimento que ultrapassam as que até aqui foi dito, e é nelas que me deterei.

Para Começar podemos citar os princípios da Ordem, quais sejam: o Amor Fraternal, a Caridade e a Verdade. Pelo Amor Fraternal, consideremos toda a humanidade, como uma grande família, todos criados por um Ser Supremo e enviado ao mundo para ajudar, apoiar e proteger uns aos outros.

A Caridade por sua vez, surge para nos ensinar a aliviar a necessidade dos desafortunados. Através dela, somos chamados a confortar os infelizes, nos solidarizar com seus infortúnios, ter compaixão por suas misérias e restaurar a paz em suas mentes perturbadas.

A Verdade, por fim é um atributo divino e o fundamento de todas as virtudes maçônicas. Esse princípio nos leva a nos afastar de toda a hipocrisia e falsidade para aproximarmos da sinceridade da lealdade, sendo essas as nossas características marcantes.

Portanto concluímos, até agora, que não somente através de sinais, toques e palavras, distinguimos um maçom, mas pelo seu caráter produzido no Amor Fraternal, na Caridade e na Verdade. O verdadeiro maçom traz consigo quatro virtudes principais: a Temperança, a Energia, a Prudência e a Justiça.

A Temperança é por definição a contenção das paixões. É o resultado do comando cerebral que mantém o corpo submisso e governável. A prática dessa virtude é indispensável ao maçom, pois o afasta dos excessos, dos hábitos ilícitos e dos vícios, mantendo o equilíbrio.

A Energia é equidistante da precipitação e da covardia. Ela nos habilita a superar qualquer dor, finalizar qualquer trabalho, suplantar qualquer perigo, transpor qualquer dificuldade.

A Prudência nos ensina a regular nossas vidas e ações de acordo com os ditames da razão. Essa virtude deve ser característica marcante de todo o maçom, não só pelos frutos que dela naturalmente advém, mas como um piedoso exemplo para o mundo profano.

E por fim, a Justiça. Aquela condição ou estado de direito pela qual somos ensinados a dar a cada homem um tratamento justo, sem distinções.

Sendo essa virtude um padrão aglutinador da sociedade civil, sem o exercício dela seria a confusão universal. Daí a importância de todo o maçom ter essa virtude bem fundamentada em sua mente e coração.

Por todo o exposto, concluímos que o Amor Fraternal, a Caridade e a Verdade, em conjunto com a Temperança, a Justiça são os grandes estandartes que de fato diferenciam e ajudam a diferenciar os maçons livres e aceitos.

E que assim o seja para todo e sempre.

Ir.’. Lima Júnior – Loja Terceiro Milênio 516 Oriente de São Paulo
Revista A Verdade ano LX 501


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