SABE QUAL É A SUA MISSÃO NA VIDA?


 

“Fora do lar e da casa de Deus, não há nada neste mundo mais bonito que o Espírito da Maçonaria. A sua missão é gentil, graciosa e sábia: transformar a humanidade numa grande irmandade redentora, uma liga de homens nobres e livres envolvidos no radiante empreendimento de desenvolver com o tempo, o amor e a vontade do Eterno”.

Joseph Ford Newton

Na semana passada, participei em algumas noites numa atividade em grupo. Eu não estava muito empolgado quando li sobre ela, pela primeira vez, mas achei que poderia ser interessante.

O objetivo deste projeto de grupo era criar uma Declaração de Missão Pessoal. De acordo com o que li antes da primeira sessão, uma Declaração de Missão Pessoal pode ser uma ferramenta extremamente poderosa. Se criar uma que capte tudo o que tem em mente, poderá ajudar a direcionar quase todas as decisões e aspectos da sua vida.

Isto soou como uma grande promessa para algo que tem apenas algumas frases, mas como estou a começar uma nova aventura na vida e passei um tempo considerável no último ano ponderando sobre alguns desses problemas, decidi que provavelmente valia bem o meu tempo.

Antes destas discussões, recebemos cerca de uma dúzia de perguntas destinadas a esclarecer o que éramos – eram estritamente para nosso próprio uso. Passei algumas horas a responder-lhes. Depois que terminei, voltei e li as páginas que havia escrito. Foi muito fácil ver alguns temas muito comuns. Também era bastante óbvio onde minhas aspirações estavam frequentemente em conflito com a realidade do que eu estava a fazer.

Voltaremos a estas perguntas repetidamente nas próximas noites, destacando áreas diferentes, escolhendo temas recorrentes e identificando as desconexões. No fim de semana, peguei todas as coisas que aprendi nessas duas noites e criei o início de uma missão pessoal muito curta.

Percebi em algum momento, durante o exercício, que já tinha feito algo parecido antes. Eu fiz-me muitas dessas mesmas perguntas num determinado momento da minha vida. A última vez que me vi preso a uma rotina e me perguntei o que seria a seguir.

“O que é importante para si?”

“Onde é que quer ir?”

“Que tipo de legado deseja deixar para trás?”

“Quais os traços de personalidade que precisa adquirir para chegar aonde quer ir?”

“Quais os traços de personalidade que precisa perder?”

“Como é que visualiza a sua melhor vida?”

Da última vez, estas perguntas levaram-me a entrar para uma Loja Maçônica. As minhas respostas foram um pouco diferentes das da última vez, mas estou mais no caminho agora do que estava antes.

A Loja Maçônica tem sido um poderoso motivador na minha vida. Deu-me foco, deu-me bons exemplos a seguir, bem como oportunidades de fazer coisas que nunca tinha feito antes. Levou-me repetidamente para o próximo nível, o que mudou a minha vida e a minha direção.

De fato, levou-me a esta encruzilhada em que me encontro agora!

Demasiados Maçons não entendem de que se trata. Eles permanecem a mesma pessoa que eram quando ingressaram – alguns convencidos de que é um presente para a Maçonaria e não o contrário.

Ouvimos as palavras, mas não aplicamos os princípios. Eles lêem livros sobre a Maçonaria para poderem discutir livros sobre a Maçonaria, mas nunca aplicam a Maçonaria! Esses maçons serão os primeiros a dizer que a Maçonaria é uma jornada, mas eles nunca fizeram as malas para a viagem.

Maçonaria é trabalho – alguns dos trabalhos mais difíceis que você já fez. Envolve reconstruir-se melhor! Fortalecer os aspectos positivos da sua pessoa e eliminar os negativos. É sobre descobrir em que você é bom, em que é apaixonado e colocar essa energia em bom uso.

Mas a parte mais difícil disto tudo é ser honesto conosco próprios. Ser capaz de admitir para nós mesmos que existem algumas áreas que precisamos trabalhar. Ser capaz de olhar no espelho e ver o que as outras pessoas vêem e ter o desejo de mudar o que você está a ver.

Uma Declaração de Missão Pessoal é uma coisa boa de ter. Se não servir para nada mais, esclarece o que é pessoalmente importante para si e dá foco à sua vida. Mas, sem dúvida, nunca houve um momento melhor do que durante esta quarentena para muitos de nós dedicarmos algum tempo para fazer um inventário pessoal.

Temos muito tempo disponível para refletir sobre questões difíceis que às vezes se afogam na agitação da vida quotidiana e encontrar a escada para o próximo nível.

Todd E. Creason

Tradução de António Jorge

Fonte

Midnight Freemasons

 

RESPONSABILIDADE DO MAÇOM


 

É conhecido que as últimas décadas foram palco de consideráveis avanços científicos e tecnológicos, inclusive com o fenômeno da globalização que literalmente derrubou fronteiras maçon.

Tal fenômeno acabou por influenciar a economia e a vida de todo o planeta, principalmente pela celeridade da circulação de informação de toda a espécie.

No entanto, no que pese à propagação do conhecimento, tem-se debatido a respeito da degradação que a sociedade moderna está a sofrer, principalmente no que respeita às instituições que tradicionalmente a sustentaram.

A família deixou de ser o ponto de referência dos indivíduos, pois sucumbiu ao egoísmo exacerbado. As virtudes inerentes ao bom caráter passaram a ter conotação antiquada, quiçá, jocosa. A aparência prepondera sobre a essência.

É justamente neste emaranhado de contradições e superficialidades que seletos homens são chamados para compor as fileiras de uma instituição secular – a Maçonaria –, “para combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros; glorificar o Direito, a Justiça e a Verdade. Para promover o bem da Pátria e da Humanidade, levantando Templos à Virtude e cavando masmorras ao vício” [1].

Assim, o profano ao ser iniciado nasce para vida maçônica cabendo-lhe inúmeras responsabilidades que, para os fins a que se destina, o presente trabalho limitar-se-á a estudá-las sob os três aspectos mais importantes: moral, social e institucional.

Moral

Não é o objetivo ater-se em divagações filosóficas em relação à moral [2] ou à ética, pois não se entendem necessárias à compreensão do tema, uma vez que o senso comum, que possui todo homo medius, é suficiente para que o Maçom entenda a dimensão da responsabilidade que lhe cabe.

Obviamente, o estudo da moral não se pode limitar a um ponto de vista meramente subjetivo, mas, sobretudo, ao seu aspecto pragmático. Neste último é que o Maçom se deve prender, pois de nada adiante estudar as instruções e complementos, que estão repletos de exortações à boa conduta, se não as colocar em prática. Portanto, a conduta do Maçom é a razão de ser da moral maçônica.

Desta forma, o objetivo da Instituição Maçônica é a construção e o aperfeiçoamento ininterrupto da sociedade que, para tal, necessita dos seus pedreiros para que executem este árduo trabalho. Neste sentido dispõe a Constituição da Grande Loja de Santa Catarina, nos seus Postulados:

(…) a Maçonaria é uma instituição nascida para combater, com a persuasão e a força moral do bom exemplo, tudo o que atente contra a Razão e o Espírito de Fraternidade Universal. Nesta força moral, que só se adquire pela Virtude, única proclamada como legítima consagrada pela consciência dos povos nos códigos das nações, como agente supremo do poder soberano, concentra a Maçonaria toda a sua glória e a ela deve os grandes triunfos que, com tanta justiça, a têm colocado como a primeira à frente das grandes instituições nascidas do amor à Humanidade e do interesse pelo bem-estar dos povos.

Ciência do progresso moral, a Maçonaria resume sua ação social nos atributos da inteligência e do coração – Luz e Verdade, Amor e Filantropia [3].

Por sua vez, o artigo escrito pelo Irmão Luiz Gonzaga Rocha aborda com sucinta precisão a razão de se ter verdadeiros Maçons na sociedade:

“Curvo-me à ideia de que a busca da perfeição e da existência de um mundo melhor, dirigido por homens iniciados e/ou iluminados, pode muito bem representar uma utopia, mas sendo este o plano de evolução social, cultural e política da Maçonaria, e sendo esse entendimento no sentido de que os maçons assumam os destinos das sociedades, aos maçons impõe-se, antes e depois de toda e qualquer consideração, serem conhecedores e partícipes desse ideal, e, para tanto, requer-se que sejam incorruptíveis, instruídos, livres pensadores e excelentes formadores de opiniões, verdadeiros construtores sociais e instrumento adequado para efetivar as transformações sociais requeridas; e, ainda, sejam capazes de se aperfeiçoar, de se instruir e disciplinar constantemente na Arte Real, sem prejuízo da conveniência de conviverem harmoniosamente com centenas de milhares de seres díspares, e que possam, a despeito de todas as dificuldades, ser destacados por palavras, obras e exemplos de vida, e sobremodo, que ostentem, sem vergonha, o lema mais sagrado da Ordem Maçônica: Liberdade, Igualdade e Fraternidade” [4].

Desta forma, o Maçom não foi escolhido apenas para aumentar o número de uma determinada loja ou da Instituição no seu sentido universal; não pode limitar-se ao simples recitar dos manuais, como se a obra que lhe cabe pudesse ser realizada por qualquer tipo de força transcendental que, através da simples repetição de palavras durante os rituais, alguma força cósmica cumpra o papel que lhe cabe junto à sociedade.

Apesar da Maçonaria Operativa ter dado azo à Maçonaria Especulativa, a obra do pedreiro ainda continua a ser manual. Obviamente que o aperfeiçoamento intelectual é necessário e, mais que isso, é exigido, mas não é um fim em si mesmo, pois tem por objetivo a sua utilização para o bem da humanidade, que de maneira nenhuma poderá ser limitado ao mundo das ideias, mas externalizado através de atitudes. Ora, “(…) não é para que fujamos da ciência do Bem, mas para que possamos pô-la em prática no meio social. Assim devem os maçons lutar para poder vencer” [5].

Não é à toa que o Maçom utiliza um avental durante as sessões, “porque ele lembra-nos que o homem nasceu para o trabalho e que todo o Maçom deve trabalhar incessantemente para a descoberta da Verdade e para o aperfeiçoamento da Humanidade” [6]. Nem, tampouco, os instrumentos utilizados pelos antigos maçons operativos foram incorporados sem razão aparente, mas,

Por serem instrumentos imprescindíveis às construções sólidas e duráveis, eles recordam-nos o papel de construtor social que compete a todos os Maçons e, ao mesmo tempo, traçam-nos as normas pelas quais devemos pautar a nossa conduta: o Esquadro, para a retidão; o Compasso, para a justa medida; o Nível e o Prumo, para a Igualdade e a Justiça que devemos aos nossos semelhantes [7].

No telhamento para elevação de Aprendiz a Companheiro pergunta-se de que maneira os maçons são reconhecidos e, a seguir, responde-se que por sinais, toques e palavras. Ora, tais respostas limitam-se ao conhecimento mínimo que um Aprendiz deve ter para visitar uma Loja Maçônica, pois, na realidade, um verdadeiro Maçom deveria ser reconhecido primeiramente pelo seu caráter, equilíbrio, comportamento, probidade, caridade, humildade, em suma, pela sua conduta. Obviamente, que se considera que tais exigências não são inatas ao ser humano, devendo, portanto, o aprendiz utilizar o Maço e o Cinzel a fim de desbastar a sua Pedra Bruta.

Talvez, o grande segredo para a realização da missão maçônica não esteja no aumento das suas fileiras, mas na utilização simbólica dos instrumentos de trabalho dos antigos maçons operativos, afim de que todo o conhecimento adquirido com o passar dos séculos não se limite à elaboração de teorias e elucubrações, mas extrapole as lojas e contagie o mundo.

Social

Assim como no tópico anterior, a Maçonaria está repleta de ensinamentos que visam aguçar a sensibilidade dos seus membros às necessidades da sociedade. Da mesma forma, são várias as alegorias que simbolizam virtudes que implicam na responsabilidade social que deve ser cultivada e praticada no quotidiano.

No painel do Aprendiz, vê-se na Escada de Jacob a taça que tem, entre outros significados, o da caridade. Nota-se, também, na Abóbada Celeste da loja, a Estrela Flamejante que: (…) representa a principal Luz da Loja. Simboliza o Sol, Glória do CRIADOR, e dá-nos o exemplo da maior e da melhor virtude que deve encher o coração do Maçom: a CARIDADE.

Espalhando luz e calor (ensino e conforto) por toda a parte onde atingem os seus raios vivificantes, o Sol ensina-nos a praticar o Bem, não num círculo restrito de amigos ou pessoas próximas, mas a todos aqueles que necessitam e até onde nossa caridade possa alcançar [8].

Neste sentido, a caridade é somente uma das facetas de intervenção social que o Maçom deve cultivar no seu meio, mas poder-se-iam enumerar várias outras possibilidades que não se adequariam ao fito deste texto. No entanto, é oportuno ressaltar-se o ideal de fraternidade, que juntamente com a liberdade e a igualdade, formam uma das mais importantes tríades maçônicas; e, ainda, quanto aos elementos decorativos da Loja, o pavimento mosaico e a própria orla dentada, que lembram a necessidade de harmonia entre as diferenças e que o amor e a união devem começar no meio maçônico e se propagarem para toda a humanidade.

A bandeira da fraternidade foi abraçada pela Maçonaria e, através de seus membros, espalhou-se por toda cultura ocidental, influenciando não só revoluções, mas até mesmo boa parte dos estados modernos ocidentais, que a receberam no seu ordenamento jurídico constitucional como o princípio da solidariedade.

Assim, é imputado ao Maçom não só o dever da boa conduta, mas também que trabalhe, transforme, intervenha na sociedade na medida das suas possibilidades, a fim de cumprir o seu papel de construtor social.

Institucional

Realmente, o fardo que Maçonaria atribui aos seus membros é deveras pesado, uma vez que, para além de exigir uma conduta baseada na retidão de caráter e um papel ativo junto dos seus semelhantes, lhes incube a instrução dos neófitos e a responsabilidade pela manutenção de si mesma.

Felizmente, apesar das críticas de certas religiões, que se limitam ao plano espiritual, a Maçonaria goza de elevadíssima reputação. Tal fato deve-se aos inúmeros trabalhos de caridade que faz aos grandes irmãos que no passado fizeram história e, principalmente, pela relevante contribuição para os ideais democráticos. Desta forma, a responsabilidade do Maçom é imensa, pois lhe cabe manter imaculada a imagem da Maçonaria, justamente numa época contraditória e desvirtuada, sucumbida pela indiferença e pela amoralidade.

Por outro lado, ao irmão recém-iniciado deve ser dispensado todo o cuidado e apreço, afim de que desde cedo possa compreender a importância do seu juramento, e as responsabilidades que tal ato acarreta. Por isto, entende-se de fundamental importância a realização esmerada dos trabalhos em loja, para que aquele possa lhe atribuir a seriedade que é devida ao ritual praticado e, também, compreender mais profundamente o seu significado. Além disto, considera-se de vital importância à infância maçônica o apoio, o exemplo e a sensibilidade dos irmãos mais antigos.

O primeiro pode-se representar pelo incentivo ao estudo e à aprendizagem, o segundo, pela referência de homem Maçom em quem o neófito se pode sempre espelhar e, a última, pela percepção em detectar as dificuldades que certamente surgirão e, evitar, na medida do possível, expor as leviandades e rixas existentes na Instituição, por força da falta de controle das paixões humanas.

Conclusão

Conclui-se, portanto, que o exercício da vida maçônica não pode se limitar à loja e ao crescimento intelectual, pois, além de tantas outras responsabilidades, o Maçom deve primar pela boa conduta afim de que seja um referencial para uma sociedade desmoralizada; ter atitudes efetivas que reflitam o papel de construtor que lhe cabe; e zelar pela integridade da Instituição e pela sua prosperidade.

No entanto, não cabe à Maçonaria medir a responsabilidade dos seus membros, pois, apesar da referida construção requerer necessariamente uma intervenção direta, recai na seara subjetiva da capacidade de que cada um é provido. Assim, a lição extraída da Bíblia indica exatamente a extensão da responsabilidade de cada Maçom:

“(…) Mas àquele há quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele há quem muito se confia, muito mais lhe pedirão” [9]

Samuel Borges

Notas

[1] GLSC. Ritual do Aprendiz Maçon. REAA, Florianópolis, 1998, p. 48.

[2] Filos. Conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. (Aurélio)

[3] GLSC. Constituição. Florianópolis: 2000, p. 8

[4] Rocha, Luiz Gonzaga. Maçom e Maçonaria. Revista O Prumo n. 161. Florianópolis: 2005, p. 7.

[5] GLSC. Instrução Preliminar Aprendiz. Florianópolis: 2003, p. 21.

[6] GLSC. 2ª Instrução Aprendiz. Florianópolis: 2003, p. 11.

[7] Apud, p. 14.

[8] GLSC. 1ª Instrução Aprendiz. Florianópolis: 2003, p. 12.

[9] BÍBLIA Anotada – Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. ed. rev. e atual. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.

 

O QUE ESTÃO FAZENDO COM A NOSSA QUERIDA ORDEM?


Meus Irmãos.

Em novembro desse ano completo 33 anos de ordem. Confesso que durante todo esse período, tenho observado coisas que muito me desagradam.  

A Maçonaria é linda, porém, dentro dela tenho encontrado com pessoas, que a meu ver, são pessoas indignas de pertencer a ela.

São articuladores, mentirosos e falsos, que não medem esforços para prejudicar outros irmãos.

Muitas vezes são simpáticos e agradáveis pela frente, mas sempre que podem, buscam denegrir e prejudicar outros irmãos.

Traçam um projeto de poder e tentam atropelar todos aqueles que podem atrapalhar suas intenções.

São capazes de tudo para conquistar seus objetivos obscuros.

Na vida profana fazem de tudo para se dar bem. Envolvem-se em falcatruas, trapaças entre outras coisas condenáveis.

Já tivemos ex-presidente, governadores, políticos em geral, que sujaram e continuam a sujar o nome de nossa Ordem.

Felizmente essa turma é composta por uma pequena minoria. A grande e maior parte dos nossos quadros é composta por homens íntegros. Porém, vírus e bactérias são minúsculos e provocam um estrago dentro do corpo humano, e dá muito trabalho no combate para exterminá-los.

Portanto meus Irmãos, muito cuidado com esse tipo de doença dentro de nossos templos.

Não podemos ser coniventes com essas pessoas de má índole, o que não presta deve ser imediatamente afastado do nosso meio. Para o nosso bem, e, sobretudo, para a Maçonaria.

Para que novas infestações desse mal não proliferem, devemos ter muito cuidado nas indicações de novos membros, mais ainda nas sindicâncias que não devem ser feitas de qualquer maneira.

Ninguém vem com o letreiro ”Sou mau caráter!”

Se protejam e olho vivo!   

Paulo Edgar Melo

Membro da ARLS Cedros do Líbano, 1688

Miguel Pereira-RJ – GOB-RJ

 

   

   

DE ONDE VIEMOS - ONDE ESTAMOS - PARA ONDE VAMOS?


 

Sem dúvida, inúmeras pessoas de todo o mundo já fizeram essas perguntas, em algum momento da vida. E não é para menos, pois elas implicam decisivamente em nossas atitudes, escolhas e, por consequência, em nosso destino. 

 Para a Religião de Deus, Cristo e do Espírito Santo, nós somos Espíritos Eternos, portanto a origem do Ser Humano é espiritual. Afinal, “estamos corpo, mas somos Espírito”,  Desta forma, precisamos compreender que, fomos criados por Deus espiritualmente, à Sua Divina “imagem e semelhança” (Gênesis Mosaica, 1:26).

Segundo o Dr. Jorge Adoum, no seu Libro El Aprendiz y sus Mistérios que, traduzi para o português, disse: No entanto, para ter a verdadeira compreensão de este mistério, devemos planificar construir e colocar: por obra, nossa casa, nosso Templo, nosso corpo segundo as Leis divinas e naturais.

Esta casa-corpo e um Templo exterior para a Gloria do Eu INTERIOR.

A iniciação ou ingresso no mundo interno. Simbolizado pela Iniciação Maçônica, tem como único objetivo purificar, limpar o interior e o exterior deste Corpo-Templo de Deus Vivo, isto é, construir um Templo digno do Eu sou. Por esse motivo a Instituição tomou o nome da “Maçonaria” - Arte de Construir - e seus adeptos são chamados “Construtores”, o que quere dizer, segundo temos explicado, construtores de Templos para o Espírito.

Então, o selo de sua origem e a construção geral: filosófica, cientifica e moral. A maçonaria quis sempre imitar a atividade da Madre Natureza no Universo e por esse motivo, seus adeptos se dedicaram a elevação de numerosos monumentos, templos e igrejas da Antiguidade.

Esta obra de construção pode observar-se no próprio corpo humano, chamado casa, templo, microcosmo etc. porque sua constituição encerra todas as leis divinas e naturais. E o pequeno Universo, sua miniatura, erigido a Gloria do Eu sou, o Grande Arquiteto do Universo.

Todos os homens são donos desta obra magna, na qual todos participam inconscientemente, em sua própria vida e atividade, enquanto o iniciado maçom, que entrou em seu mundo interno, tem o dever de colaborar conscientemente e converter-se em sábio construtor da obra do Grande Arquiteto do Universo.

Ser maçom ou construtor e possuir a ciência e a arte da vida e ser Iniciado, Super-homem em ciência e religião.

Para realizar uma obra Magna é necessário que as sociedades ou corporações juntem seus esforços. De aí a diversidade de religiões, instituições, fraternidades e escolas. Toda a ciência deve dividir-se em graus para evoluir paulatinamente e metodicamente de todo discípulo.

A ciência da Maçonaria se dividiu em três graus principais: Aprendiz, Companheiro e Mestre.

Em nosso Corpo-Templo temos, Eu superior como Mestre Arquiteto e a outros dois que dirigem os pólos positivo e negativo, ambos estão representados pelos dois vigilantes. Os três governam e dirigem os duzentos quintilhões de células que estão construindo nosso Templo-Corpo.

A Loja é nosso corpo, edificado por células construtoras; todo maçom deve cumprir seu dever no corpo da humanidade como cumpre cada célula, o seu no corpo humano. Como a célula, o maçom deve possuir conscientemente a arte de construir sim equívocos nem errar; o maçom, como a célula deve ser disciplinado e obediente as leis naturais e divinas.

A Maçonaria, como unidade, arca em seu seno os poderes da religião e da ciência.

A maçonaria não tem uma religião definida para si: é religião para todos, e tradição iniciática.

A maçonaria, não tem ciência, ela é a ciência das idades e sua linguaje simbólica, encerra os Mistérios secretos e alegóricos, que procedem de eras remotas, e representam antiguidades tradicionais revestidas de nomes simbólicos mais recentes.

Todos os mistérios e secretos residem nesse Templo chamado:

Corpo vivente do homem. Nesse corpo está escrita a história do Universo e seus arquivos são os átomos... páginas 13 a 15

 Você veio de Deus, ele é o Criador de todas as coisas

Estamos aqui para amadurecer diante de Deus

Vamos a vida eterna, desde que você se aproxime de quem é a própria vida

Eu, diria que: Para á Maçonaria Viemos da Vida Profana, para nós aperfeiçoar e vamos para contagiar com bons princípios aos que não são maçons.

E uma maneira de incentivar e continuar o dito na Bíblia por Jesus.

Somos homens livres de pensamentos, e ainda poderíamos abrir mão de nossas ideias, sempre e quando outra nos convença de sua propriedade, com humildade podemos reconhecer que a verdade não compete a ninguém somente assim teremos a dignidade de crescer interiormente já que na maçonaria não é somente: rituais, ritualística, simbolismo e outros, nada é concreto!

Então, devemos respeitar a opinião alheia a preparação e a percepção de nossos Irmãos, e semelhantes que não foram iniciados.

Interessa mesmo no momento o que estamos fazendo, principalmente na maçonaria, e ver os resultados.

 E muito difícil ter respostas, nem sequer os pensadores filosóficos chegaram a conclusões, muitas perguntas não têm respostas.

Será que a verdade está na Bíblia?

Mas qual Bíblia? Lembremos que este livro é o mais traduzido no mundo. Segundo a revista Super Interessante tem mais de 6912 Idiomas, com certeza todos querem ter sua bíblia, cada uma devera interpretar à sua maneira, condições o interesse!

 Acredito que: temos dois caminhos, o nosso para pensar e decidir de acordo a capacidade individual, e o escolhido pelos outros, para dirigir-nos!

Não podemos perder o rumo por terceiros!

Não devemos procurar ninguém, devemos-nos, encontrar mesmo!

Era o que constava caro presidente, confrades e convidados.

Por: David Lorenzo SOTOLEPE – Ex. VM, Grau 33º Cav. Templário Rito de York, Membro Grande Comissão de Liturgia do Rito Schroder, Academia de Letras Acadesul-Sul-Rio-Grandense - ARLS. Unidade Justiça e Liberdade, 274. -MRGLMERGS.

Pesquisa: https://www.religiaodedeus.org/pt/religiao-no-dia-dia/de-onde-viemos-e-para-onde-vamos-compreenda-o-que-somos.

Libro El Aprendiz y sus Mistérios pag. 13 a 15 - autor: Dr. Jorge Adoum. Ed. KIER S.A. Buenos Aires, com minha tradução.

 É meu ponto de vista. 

 

COMBATE À IGNORÂNCIA… DEVER DOS MAÇONS


 

“Só é necessário fazer guerra com cinco coisas: com as doenças do corpo, as ignorâncias da mente, as paixões do corpo, as seditações da cidade e as discórdias das famílias” Pitágoras

A ciência não é uma filosofia ou um caminho espiritual; é uma maneira de se comportar no mundo. É uma maneira de pensar que incentiva a lógica, a razão, a informação e a comunicação de forma a explorar o mundo em maravilhas e descobertas.

É lamentável que a polarização e o nacionalismo, tribalismo, se quiser, tenham transformado “notícias falsas” e “fatos alternativos” em parte de nossa vida quotidiana de agora. É uma realidade com a qual devemos aprender a navegar.

Não é apenas aprender a investigar fatos e números, pesquisas e excessos das redes sociais, mas é aprender que, às vezes, devemos desaprender. Começar com a ideia de que “devemos saber” é uma falácia. O que devemos fazer é começar a nadar na nossa própria ignorância e conhecer o que não sabemos.

Para ser franca, se queremos combater a ignorância, devemos começar pela nossa.

Todos os dias ouvimos pessoas que, em virtude do seu “conhecimento” auto-designado, sem a ciência ou a experiência necessária para suportá-lo, descartam o trabalho rigoroso que os cientistas fizeram para estabelecer ou desmascarar o nosso conhecimento da natureza.

Químicos, astrofísicos, climatologistas, oceanógrafos, biólogos, geneticistas e nutricionistas foram deixados de lado quando as suas mensagens não se encaixavam na narrativa de interesses corporativos ou nos excessos das redes sociais.

Aqueles que parecem ter mais dinheiro, mais participação de mercado ou mais “marca” têm a última palavra. Separamos os instruídos como elitistas e os interesses corporativos como “o homem comum”. Quem terá os nossos melhores interesses no coração?

Para ser muito clara, perícia não é a mesma coisa que elitismo. Um verdadeiro especialista e cientista sabe onde estão os seus limites de conhecimento.

Eles sabem que sabem menos do que pesquisaram e estão numa missão para explorar. Eles estão a desenvolver teorias e a testá-las, perguntando o que falhou e o que funcionou. Eles sabem que os frutos do seu trabalho podem levar anos, décadas para sustentar a verdade e, provavelmente, levar a mais perguntas.

O elitismo, por outro lado, é “… a crença ou atitude de que indivíduos que formam uma elite – um grupo seleto de pessoas com qualidades intrínsecas, alto intelecto, riqueza, habilidades especiais ou experiência – têm maior probabilidade de serem construtivos para a sociedade como um todo e, portanto, merecem influência ou autoridade maior que a dos outros”.

 Eles são os líderes nomeados ou gurus que têm as respostas. Um cientista pode ser um elitista, mas isso não é uma reflexão sobre a ciência, mas sobre o caráter do indivíduo. Ou falta dela.

Depois de acabar de ver o documentário “Behind the Curve”, na Netflix, achei extremamente interessante ouvir os dois lados do debate sobre a “teoria da terra plana”. Na comunidade da Terra Plana, existem aqueles que realmente acreditam no que a ciência os decepcionou, de que eles têm a verdade e a ciência para apoiá-la.

O que foi extremamente interessante foi ouvir as observações dos cientistas sobre este grupo de pensadores dissonantes. Não houve condescendência ou elitismo de nenhum dos cientistas entrevistados.

Não houve piedade ou condenação. Era um verdadeiro desejo, o não ignorar ou marginalizar a discussão, mas envolver-se nela; tratava-se de reunir as pessoas em vez de considerar a situação, um “nós” e “eles”. Não se tratava de crenças e fatos; era sobre educação. Conhecimento. Combate à ignorância.

A Maçonaria tem uma visão interessante das ideias da natureza e da ciência, pois elas são combinadas com a filosofia e a busca pela Verdade. É um dos poucos lugares que parece que ambas se podem unir, para discutir e debater com uma narrativa muito aberta.

A ciência é tão valorizada quanto à experiência; a física e a metafísica coexistem na conversa e no pensamento. Nada está fora dos limites. Estas conversas sejam numa reunião da Loja ou em reuniões sociais, em grupos de estudo ou centros de estudos filosóficos, são as formas de combater a ignorância, se estivermos dispostos a ouvir.

Recentemente, participei num grupo de estudo em que o assunto estava em perceber se a humanidade tinha ou não influência sobre as mudanças climáticas. Eu tinha a certeza de que os humanos influenciaram os ciclos da natureza; como não podiam? Existem sete bilhões de pessoas no mundo, ocupando espaço, consumindo recursos e poluindo o mundo ao seu redor. Era uma crença e eu sabia disso. No entanto, desafiei-me a ter uma mente aberta e não fazer um julgamento antes de entrar na sala. Por formação, não sou climatologista, meteorologista, geóloga ou qualquer outro tipo de especialista.

Conheço geologia do ensino secundário e ciência da faculdade para calouros. Vamos ser sinceros, não sei nada. O que fiz foi trazer minha própria atitude e leituras da comunicação social e revistas de pseudo-ciência, com o objetivo de produzir uma mensagem oscilando para um lado ou para outro. Estando fora da escola por muitos anos, também senti o orgulho da idade – conhecia algo do mundo, que droga. Eu realmente senti que “conhecer-se a si mesmo” fazia parte do meu vernáculo.

Admito que a conversa trouxesse a minha opinião para uma visão mais moderada do que para um “lado” específico do debate. O apresentador discutiu descobertas científicas que eu não tinha considerado e fatos geológicos dos quais eu não tinha absolutamente nenhum conhecimento.

Aprendi sobre eras glaciais, descobertas sobre o derreter dos glaciares atuais, amostras de núcleos de gelo, escalas de tempo geológicas e fatos históricos de importância global. Não direi que a minha mente mudou; Eu direi que saí com uma ideia mais ampla de questionar o que me disseram e aprender a verdade por mim mesma. Aprendi que o que eu tinha era uma crença, não uma evidência. Para mudar a minha ignorância, precisava fazer o trabalho… Eu próprio.

É aqui que, para mim, a colisão entre ciência e Maçonaria está no seu melhor. A Maçonaria é uma escola de mistério – um rito iniciático que traz a idéia de que o ser humano é a natureza e a melhor maneira de entender a natureza e os mistérios da vida e da morte é estudar a natureza.

Como estudar a natureza? As escolas de mistério da Grécia antiga, segundo Blavatsky, “não são um sistema único, mas baseadas na estrutura espiritual do universo“, da qual é importante entender a natureza. Eles estão inextricavelmente ligados, o Espírito e a Natureza, talvez até sejam o mesmo.

A Maçonaria, como descendente moderno dessas escolas de mistérios, procura tomar o importante da natureza e do espírito e impulsionar o ser humano a aprender que ambos residem na humanidade, e é trabalho do Maçom não apenas continuar a procurar a verdade, mas também procurar a Verdade É fazer perguntas sempre, desde conhecer-se a si mesmo até conhecer o mundo, e duvidar de tudo. É ter respeito tanto pelo processo científico quanto pelo nosso próprio processo. Somos sete bilhões de experiências e todas são igualmente válidos. Senão, porque é que as estamos tendo?

Para os filósofos antigos, a ignorância era o oposto do bem. Para Aristóteles e Platão, ninguém faz mal por vontade própria, mas apenas por ignorância. Sócrates tinha os seus próprios métodos para combater a ignorância, e muitos destes princípios podem ser encontrados nos rituais e na educação Maçónica.

Desde a aprendizagem contínua e avançando diariamente na educação, para educar, em vez de criticar, o Maçom torna-se um cientista do mundo.

Os maçons recorrem à ideia de Sócrates de que nos devemos “conhecer a nós próprios”, na medida em que nos falta conhecimento e que não fazemos ideia do que é melhor para os outros. O ponto central é a chave para o equilíbrio em todas as coisas, mas especialmente no combate à ignorância. Uma abordagem medida, curiosa, porém consciente. Por fim, acho que Sócrates estava mais certo quando disse que a ignorância é inevitável.

Quando Sócrates disse: “Não sei nada, exceto o fato de minha ignorância“, o que ele estava a dizer era que ele não ignorava todas as coisas, mas que estava ciente de que ignorava todas as coisas. Ele sabia que seria para sempre ignorante e era apenas através da perseverança que ele poderia tornar-se “bom”.

Kristine Wilson-Slack

Tradução de António Jorge

Fonte

Blog Universal Freemasonry

 


UMA ABORDAGEM AO PERCURSO INICIAL DA MAÇONARIA ESPECULATIVA


 

PREÂMBULO

As notas que vos apresento tiveram a sua gênese nas dúvidas que nos foram surgindo no que respeita quer à eventual “passagem de testemunho” da maçonaria operativa para a especulativa, quer aos reais motivos que terão estado por trás da constituição da Grande Loja de Londres (G L L) em 1717, considerada como o marco fundacional da moderna maçonaria especulativa.

À medida que ia consultando diferente documentação, uma leitura mais atenta de alguns estudos e livros referidos na Bibliografia, foi importante para obter uma nova perspectiva de um dos capítulos mais interessantes da historiografia maçônica, alvo de diversas interpretações históricas de consistência variável, consoante os círculos maçônicos e os objetivos e tendências que perseguem.

Ficou mais claro para nós que a moderna maçonaria tem inequívocas raízes escocesas, que a partir do Norte influenciaram a Inglaterra e a Irlanda, sendo que os ingleses, através da criação da Grande Loja de Londres (G L L), vieram a recolher os louros da sua gênese.

No entanto a constituição da G L L traduziu também a intensa luta entre os blocos católico / stuartista e protestante / hanoveriano, que no fundo apoiavam duas concepções distintas da Maçonaria. As Lojas maçônicas foram utilizadas durante essa época, para veículo dessa disputa, que se estendeu às terras francesas, iniciando a difusão da Maçonaria especulativa pelo continente europeu, com o exílio dos Stuarts.

INTRODUÇÃO

O fato de se questionar a eventual ausência de ligação direta entre a Maçonaria operativa e a especulativa, sendo uma “heresia” face às fontes tradicionais, não deixa de ser simultaneamente desafiador e estimulante.

No entanto e independentemente da teoria seguida, restam poucas dúvidas de que a Maçonaria Especulativa se constituiu na Grã-Bretanha, no decurso do século XVII, em condições ainda incertas e historicamente muito pouco documentadas (4). No entanto quando procuramos evidências relativamente ao seu desenvolvimento, verificamos que são abundantes na Escócia e quase totalmente ausentes em Inglaterra.

Uma das primeiras abordagens diferenciadas das correntes tradicionalistas de grande parte dos historiadores ingleses do final do século XIX (Gould, Hughan e outros), é dada pelo trabalho de dois grandes historiadores ingleses da Maçonaria, Douglas Knoop (professor de Economia na Universidade de Sheffield e Maçonaria) G. P. Jones (professor de história Econômica também em Sheffield, mas não Maçonaria) nos finais dos anos trinta do século passado.

Contudo somente a partir de meados dos anos setenta começou a ser dada a devida atenção aos seus estudos e pesquisas. No prólogo da primeira edição da sua obra principal “The Genesis of Freemasonry” (5), (1) e (4), salientam que:” embora tenha sido até agora habitual pensar a história da Maçonaria como uma questão totalmente à parte da história, justificando um tratamento especial, pensamos que se trata dum ramo da história social, do estudo duma instituição social particular e das ideias que estruturam esta instituição, que se deve abordar e escrever exatamente da mesma forma que a história das outras instituições sociais”.

Esta abordagem tem vindo a ser seguida por alguns dos atuais historiadores e estudiosos maçônicos, como por exemplo, R. Dachez (4) e David Steveson (entre outros) que salienta que esta escolha incontornável está longe de ser unanimemente partilhada por numerosos autores que se “adaptam” às ocasiões da história maçônica, da mesma forma que a história de certas religiões e igrejas, tratada com objetividade, implica a contestação de alguns fiéis, que se recusam a olhar a sua história. Do mesmo modo, o que designa por “história laica da maçonaria” não alcança o espírito de todos os maçons, sendo um escolho que todo o historiador maçônico deverá estar consciente.

Esta corrente preconiza o caminho da roximação “científica” (ou “autêntica”) segundo a qual uma teoria deve ser fundada a partir de fatos verídicos ou de documentos que a sustentem, por contraponto à aproximação “não autêntica” que se esforça por colocar a Maçonaria na tradição do Mistério, procurando por um lado ligações entre os ensinamentos, as alegorias e o simbolismo e por outro as diversas tradições esotéricas (vide John Hamill – bibliotecário da Grande Loja Unida de Inglaterra, durante vários anos, na sua obra “The Craft. A history of English Freemasonry”).

Relativamente à gênese da maçonaria especulativa, a tese mais vulgarizada e partilhada quer pela esmagadora maioria da documentação maçônica, quer entre os Maçons, é a chamada teoria da “transição“, que preconiza a passagem gradual das Lojas operativas a especulativas, devido às transformações econômicas que levaram ao declínio das grandes construções, a partir dos finais do Renascimento.

Deste modo, indivíduos estranhos ao ofício, provenientes da nobreza ou com importantes cargos civis ou intelectuais de prestígio, movidos por interesses especulativos de base neo-platónica, alquimista ou Rosa-Cruz, teriam efetuado uma entrada progressiva nas lojas operativas em estado pré-moribundo, aproveitando as estruturas criadas e os rituais praticados, para desenvolverem os seus objetivos e tomarem o respectivo controlo.

Quanto à constituição da Grande Loja de Londres (G L L), aprovada numa assembleia constituinte, por 4 lojas existentes na cidade, em 24 de Junho (dia de S. João) de 1717, não terá sido provavelmente um ato criativo “espontâneo”, mas justificado por perspectivas políticas e sociais específicas, já que sempre nos pareceu de difícil sustentação histórica e social, a teoria da espontaneidade, de per si.

DAS LOJAS “ANTIGAS” DA ESCÓCIA

Na sua obra principal D. Steveson (1), conclui que a contribuição medieval e renascentista para a organização e história da Ordem, propiciou alguns dos ingredientes essenciais à formação da Maçonaria, mas o processo de combinação desses com outros ingredientes só ocorreu por volta de 1600 e teve lugar na Escócia.

É geralmente aceite pelos historiadores, que terão sido os “Estatutos de Shaw”, no reino da Escócia, o primeiro documento conhecido onde são lançadas as bases organizativas do sistema de Lojas da Maçonaria operativa, que veio posteriormente a servir de modelo à estrutura das Lojas especulativas.

Este documento resultou da reunião realizada em Edimburgo, em 28. Dez. de 1598, convocada e dirigida por William Shaw, Supervisor Geral dos Maçons e intendente das edificações do rei da Escócia, durante o reinado de James VI ( I de Inglaterra). Foi completado em 1599 por uma segunda série de regulamentos para dar solução à reivindicação da presença da Loja de Kilwinning. Estes estatutos consagravam a organização territorial das lojas por cidades e por regiões, impondo a eleição anual dos Oficiais.

São essencialmente regras práticas estabelecidas pelos mestres da corporação, (sediados em Edimburgo), tornadas mandatórias para todos os membros. Os dois primeiros artigos instruem e regulam a obediência, antecipando a iniciação maçônica, relativamente à qual não são dados detalhes, mencionando unicamente o juramento (“taking of the oath”) e a transmissão da “palavra de maçom” (“mason word”). O manuscrito conhecido como “Edinburgh Register House”, datado de 1695 explicita que o juramento é efetuado sobre a Bíblia e o candidato “jura por Deus”, S. João, o esquadro e o compasso.

Segundo P. Naudon (4) os estatutos de 1599, definem também a jurisdição da Loja e estabelecem as taxas mandatórias. O Mestre (aqui entendido como grau, sobretudo honorífico) ou guardião (“Warden”) tem o poder de verificar as qualidades e aptidões dos companheiros, bem como a capacidade de expulsar os incumpridores, podendo também nomear um secretário. Estes estatutos utilizam os termos, aprendiz (“journey man” / mais tarde “entered apprentice”) e Companheiro (“Fellow-Craft”), o que prova a existência de pelo menos dois graus na Maçonaria operativa escocesa da época (século XVII).

A Maçonaria emergiu, pois na Escócia no século XVII baseada em Lojas, organizações secretas ou semi-secretas / discretas de iniciados, combinando sociabilidade e fraternidade com segredos elaborados e esforçando-se genericamente em trabalhar para regular a entrada de artífices da pedra (“stonemasons“) e regulamentar as respectivas práticas de trabalho. Excetuavam rituais de iniciação e identificação descritos nos catecismos.

No decurso desse século (XVII), alguns homens de níveis sociais distintos, começaram a ficar intrigados e simultaneamente curiosos com os segredos dos “stonemasons” e a sua assunção de que a sua Ordem tinha um estatuto intelectual único, tendo alguns desses “outsiders” sido iniciados em lojas. Existem evidências de que certas personalidades, próximas das correntes iluministas e Rosa-Cruzes da altura, entre os quais Robert Moray, passou e/ou debruçaram-se sobre estas organizações. A organização discreta / secreta, a existência de certos ritos despertaram-lhes interesse, mesmo que a sua passagem por elas, durante todo o século, tenha sido extremamente rara, esporádica ou efêmera.

Entre os fatos que evidenciam fortemente que tenha sido a Escócia preponderante no aparecimento da moderna Maçonaria, desde o final do século XVI e, sobretudo no século XVII, apontam-se a existência dos registros mais antigos de:

utilização do termo “Loja” no sentido moderno do termo e evidência de que estas instituições existiam permanentemente;

Organização de lojas a nível nacional;

Registros oficiais e atas de reuniões efetivas;

Exemplos de “não-operativos” (“no working stonemasons”) que se juntaram às lojas;

referências à “palavra de Maçom” / “mason word“;

Catecismos maçônicos expondo a “palavra de Maçom” e descrevendo iniciações maçônicas;

Evidências ligando a maçonaria da loja com ideais éticos específicos, expostos pela utilização de símbolos;

Utilização de dois graus ou níveis na maçonaria;

Utilização dos termos “entered apprentice” e “fellow-craft” nesses graus;

Evidencia da emergência dum terceiro grau (loja de Edimburgo), pela utilização de “masted’ como estatuto no mínimo diferente de “fellow-craft”

Começo da percepção, por alguns, da maçonaria como “sinistra” ou “conspirativa”.

Ainda segundo Steveson (1), as lojas reuniam em média uma a duas vezes por ano, tendo a de Edimburgo, entre 1601 e 1710, reunidos em média duas a três vezes por ano, o que representa um excelente registro, visto tratar-se duma importante loja urbana.

Percorrendo os registros do século XVII, imediatamente anteriores ao da criação da G L L, Steveson (1) e Naudon- (3), comprovaram que a maçonaria escocesa possuía já um grau de organização e expansão nacional, muito mais consistente do que acontecia em Inglaterra, na mesma época.

Existe evidência de que em 1710 estavam ativas 25 lojas na Escócia, tendo mais algumas sido referenciadas ao longo do século, mas estando inativas ou extintas nessa data. Destas 25, 20 continuaram ativas e destas últimas, atualmente 80% ainda existe, o que constitui um registro assinalável.

Há, contudo dois aspectos fundamentais, face à moderna maçonaria, que não existiam na Escócia, no século XVII:

Não existia nenhuma autoridade central de supervisão, como uma Grande Loja (apesar de Schaw e alguns dos sucessores o tentarem numa forma mais estatutária que efetiva), embora existisse uma rede de lojas

INEXISTÊNCIA DE LOJAS COMPOSTAS UNICAMENTE POR NÃO-OPERATIVOS

Em 20 de Maio de 1641, alguns membros da loja de Edimburgo, que estavam na altura em Newcastle com o exército “conjurado” escocês (guerra com Inglaterra), admitiram como “maçom aceito” o honorável Robert Moray (juntamente com Alexander Hamilton, também general revoltoso), quartel-mestre geral do exército escocês, figura notável à época, considerado um dos “pais” da maçonaria especulativa e um dos grandes impulsionadores da Royal Society. Esta prática manteve-se interessantemente ao longo do tempo, propiciando a formação de lojas nos regimentos escoceses e irlandeses. Mais tarde referiremos o seu importante papel no estabelecimento da moderna maçonaria no Continente europeu, em especial em França.

A liberdade e independência das Lojas propiciaram a formação de algumas constituídas somente por membros não operativos. Segundo Naudon (2), por volta de 1670, mais de três quartos dos membros da Loja de Aberdeen não eram maçons profissionais. Os estatutos de Shaw especificavam que estes membros estavam isentos da caixa de coleta, da marca, do banquete e do “pinto” (“pint”) de vinho.

A dificuldade de generalizar o comportamento das Lojas, já que diferem consideravelmente em tamanho e composição, aplica-se também aos seus membros.

Os “não operativos” ou “gentleman-masons” tinham como atrativo nas Lojas, um ideal de amizade, uma mistura social informal (embora dentro duma instituição formal) e o banquete anual podendo adicionalmente percepcionar traços do antigo, do secreto, do misterioso e do ritualístico.

Parece ter sido esta a causa, mas podemos questionar o real motivo do aparecimento destas lojas pré- especulativas, sendo que está comprovado que a Escócia foi dos países em que a maçonaria operativa mais persistiu de forma organizada, o que comprovadamente não aconteceu na Inglaterra.

É curiosa a análise do percurso de duas das figuras mais notáveis da época, relativamente às quais existem provas da sua iniciação, sem que, no entanto existam dados continuados da sua presença em lojas. Quando Robert Moray, como referimos atrás, foi admitido na Loja Mary’s Chapel de Edinburgh, consta nos arquivos da Loja a seguinte minuta: “Em Newcastle, a 20 de Maio 1641. Neste dia, certo número de mestres e outros estando regularmente reunidos, admitem o muito distinto Robert Moray, Mestre General de Quartel do exército da Escócia, o que foi aprovado por todos os mestres maçons da loja de Edimburgo que colocaram as suas assinaturas ou as suas marcas”.

Quanto a Elias Ashmole (antigo capitão da artilharia real e fervoroso stuartista), terá sido iniciado cinco anos depois em Warrington (também a norte de Inglaterra), numa loja com mais características de se tratar de uma loja escocesa deslocalizada, do que uma loja inglesa. Verifica-se, pois que duas das principais figuras precursoras da nova maçonaria eram ambos fervorosos partidários dos Stuarts. Poderá isto ter algum significado? Provavelmente terá.

Steveson (1) mostrou inequivocamente que esta organização, profundamente inovadora era estritamente específica da Escócia, sem que anteriormente, nenhum sistema idêntico tenha existido. Como refere Dachez (4) contrariamente às versões clássicas, o aspecto mais importante deste trabalho foi evidenciar que a característica da “aceitação”, expressão tipicamente inglesa, utilizada para justificar a penetração dos especulativos nos operativos, jamais foi utilizada na Escócia durante o século XVII.

A partir deste trabalho, por consulta dos registros disponíveis das lojas, é possível identificar e estudar os 139 membros não operativos recebidos nas Lojas escocesas entre 1637 e 1717. É no mínimo curioso observar que o pastor Anderson, escocês, filho do secretário da Loja escocesa de Aberdeen, ignora por completo estes escoceses não-operativos. Será que o motivo principal terá sido o de constituírem, na sua maioria, fervorosos stuartistas,????

Durante o reinado de Carlos I, a dúzia de membros “gentleman” admitidos na Loja de Mary’s Chapel de Edimburgo pertenciam à corte do Rei. Destes só Robert Moray voltou à loja em 1647. O panorama das lojas escocesas majoritariamente operativas irá mudar consideravelmente a partir da morte de Carlos II. O quantitativo de personalidades não operativas recebidas nessas lojas, desde a ascensão ao trono de James II em 1685, eleva-se a mais de uma centena até 1717, aproximadamente o quíntuplo dos recebidos na totalidade do reinado de Carlos II, num período de tempo sensivelmente equivalente.

Na loja de Dunblane em 1696, por exemplo, dos 13 membros nomeados em ata de reunião somente 4 são operativos, sendo a maioria constituída por nobres, quase todos ligados à causa stuartista. Steveson (1) precisa que os membros dessa loja muito seletiva, eram relativamente assíduos, mas não se preocupavam muito com o “ofício”, até finais de 1710, altura em que o predomínio passou para os operativos. Teria a ver com o final das “esperanças” dos stuartistas em reconquistarem o trono, como avança Louis Trébuchet (8)???

A prática comprovada, mas excepcional, das Lojas receberem a titulo honorário pessoas exteriores à profissão, que raramente lá voltavam, terá produzido, segundo Dachez (4), um conjunto de “maçons livres” com a possibilidade de transmitir uma Maçonaria que foram transformando em função dos seus próprios objetivos e preocupações intelectuais. Tinham descoberto algo que lhes interessou vivamente, um ritual e uma tradição.

Assim a “fronteira do Norte” terá sido permeável à expansão até ao Sul de Inglaterra destes maçons “não- operativos”, que a Maçonaria operativa nunca integrou internamente, justificando plenamente que a maçonaria inglesa do século XVII tenha sido, desde a origem, puramente especulativa.

Parece não existir outra explicação plausível para a admissão de elementos não operativos nas Lojas Escocesas, já que por volta de 1717 ainda possuíam um importante papel na área da construção e contrariamente ao que se passava em Inglaterra, não reuniam em tabernas ou em locais esporádicos, mas em edifícios ou locais que lhes pertenciam.

AS LOJAS “ANTIGAS” DE INGLATERRA

Em Inglaterra a iniciação de cavalheiros (“gentlemen”) em Lojas é registrada desde 1640, mas aqui o processo é muito mais obscuro.

Sendo fato praticamente inequívoco que a maçonaria especulativa, tal como a entendemos, surgiu na Inglaterra, não existem contudo documentos suficientemente esclarecedores de que elementos estranhos ao oficio fossem admitidos em lojas operativas inglesas. E mesmo relativamente a estas últimas e ao seu funcionamento como estrutura permanente em todo o território, não existem quaisquer dados.

Para os que defendem a primazia da Inglaterra no aparecimento da moderna Maçonaria, sobretudo no século XVII, apontam-se os seguintes fatos:

Cópias mais antigas das “Old Charges” (não são conhecidas cópias escocesas anteriores a meados do século XVII);

Utilização generalizada do termo “freemason” e utilização do termo “maçom aceite” (“accepted mason”);

Lojas compostas unicamente por “não operativos” (que se pode interpretar como indicando que a “maçonaria” inglesa era, muito mais que a escocesa, uma criação sem, ou com reduzida, sustentação profissional);

CRIAÇÃO DA PRIMEIRA GRANDE LOJA

A única certeza que existe, é da que as poucas lojas operativas que tardiamente surgem, permanecem operativas até a sua extinção, como a loja de Chester. A famosa loja de Acception, de Londres (século XVII), abusivamente citada como exemplo da transição especulativa é indevidamente classificada como Loja (1), uma vez que este termo não aparece nunca nas respectivas atas, não se sabendo quem a fundou e por que motivo, deixando historicamente apenas dois leves traços documentais, em 1610 e em 1686, relacionados com Elias Ashmole.

Nas primeiras lojas inglesas, contrariamente à Escócia, não se detectam ligações aos operativos, o que sugere que a maçonaria foi aqui uma criação “artificial”, no sentido de ter sido originada por pessoas sem contacto direto com a profissão, muitas vezes influenciados provavelmente pelo que “acontecia” ou terá sido “importado” a partir da Escócia. Não existe atualmente nenhuma loja em Inglaterra a que se possa ser feita referência continuada antes de 1716-17, quando a Grande Loja foi criada. As lojas inglesas só tinham inicialmente um grau (1) o que implicava substanciais diferenças nos rituais, comparativamente à Escócia, em que existiam dois graus.

A teoria clássica da “transição”, foi posta em causa também por outros historiadores (finais da década de setenta), nomeadamente Eric Ward (4), que defendem que em Inglaterra, contrariamente à Escócia, não terá havido transição da maçonaria operativa para a especulativa e que as lojas dos primeiros se foram progressivamente extinguindo, sem deixar rasto, face às características socioeconômicas da altura. A crítica de Ward fundamenta-se sobretudo na interpretação do significado clássico atribuído a certas palavras-chave (origens de “freemason” e de “Free-Mason” ou “Free-Masons”) utilizadas indistintamente pela teoria da “transição”).

Também para Knoop e Jones (1), (4) e (5), os únicos fatos mais ou menos incontestados, comprovam que desde a sua origem, as lojas maçônicas inglesas são puramente especulativas, contando-se como exceção, como vimos, a loja de Chester. Neste espaço de tempo existiu também a Companhia dos Maçons de Londres, restrita à área da capital, e a única guilda conhecida em Inglaterra para a profissão de maçom, não se conhecendo mais nenhuma estrutura comparável. Esta Corporação procurou o suporte de vários patronos de famílias nobres e comerciantes, com a figura de membros honorários, para ajudarem a assegurar o fundo econômico de apoio aos associados.

Recorde-se que a Escócia era, no início do século XVII um país estrangeiro e inimigo, existindo poucas relações entre ambos, pelo que a existência de Lojas operativas organizadas por toda a Escócia não poderá, por si só, impulsionar ou servir de catalisador do surgimento duma Maçonaria especulativa, na mesma época, no sul de Inglaterra.

A tese Colin Dyer (a teoria do “empréstimo” / “emprunt” em francês), seguida por outros autores ingleses contemporâneos, aponta para que o movimento que dá origem à maçonaria especulativa tenha tido origem e motivações claramente religiosas (4). O estudo comparado das “Old Charges” (“Antigos Deveres”) estabelece claramente que este movimento, aparentemente secreto, o que à luz da história da época se torna compreensível, não teve qualquer ligação com a maçonaria operativa. Teria sido estabelecido por altura de 1560 ou 1580, época em que os conflitos religiosos atingiram grande intensidade (atestam por exemplo que o Manuscrito da “Grande Loja, n°1” não teve nada a ver com o de “Cooke”, sendo um documento totalmente novo, já que a ortografia utilizada segue a das Bíblias publicadas em Inglaterra após a Reforma, ou seja a partir de 1540, ou seja quase cerca de 180 anos após este).

Os trabalhos de D. Steveson (1) trouxeram contudo uma nova interpretação da controversa questão das fontes da maçonaria especulativa. O fenômeno da “aceitação” utilizava uma expressão puramente inglesa, nunca utilizada na Escócia, o que comprovou pela análise cuidadosa das listas dos membros das diversas Lojas, e da sua história durante vários decênios.

Detectou contudo um novo ponto muito importante, a curiosidade e o interesse com que, desde a origem, algumas personalidades entre as quais o famoso Sir Robert Moray, se debruçaram sobre estas Lojas escocesas. A prática excepcional mas comprovada, de receber a título de membros honorários, pessoas estranhas ao ofício, terá permitido constituir uma população de “maçons livres”, que embora numericamente fraca é real e ativa, possibilitando-lhes transmitir uma Maçonaria que lhes foi possível transformar em ordem às suas preocupações intelectuais e filosóficas.

Poderão as lutas religiosas de 1640 a 1660 / 80 e depois entre stuartistas e hanoverianos, estar na origem da falta de documentação relativa às Lojas Inglesas ???

Em Inglaterra o papel de loja mãe foi durante muito tempo assegurado pela velha loja de York. Este motivo terá sido a origem de que a “Old Lodge of York” recusasse reconhecer a autoridade da Grande Loja de Inglaterra, quando esta foi instituída em 1717. Segundo P. Naudon (3), somente após a reunião da Assembleia Maçônica de York, em 27 de Dezembro de 1663, numa altura em que a Maçonaria já se tinha tornado especulativa, o título de grão-mestre foi aprovado, embora não conferisse autoridade administrativa a quem fosse designado. De fato, o escolhido poderia ser somente um “protetor”, garantindo o patrocínio à corporação. Os poderes do grão-mestre só foram criados a partir de 1717, com a Grande Loja de Londres.

Segundo os historiadores mais credenciados, a hipótese duma rede desconhecida de lojas (iniciáticas e secretas) cuja existência e ensinamentos tenham escapado à análise do historiador, é insustentável, pelo menos se pretendermos permanecer no campo da história, tal como o entendemos, segundo Knoop e Jones.

Há contudo uma data a que devemos prestar atenção e que não é muitas vezes referida, que é 1707. Neste ano realizou-se o “Ato de União” transformando a Escócia e a Inglaterra num único reino. As duas nações que tinham estado até aqui de costas voltadas e muitas vezes em guerra, iniciaram finalmente uma lenta mas real aproximação, sem que contudo a desconfiança dum país face ao outro se tivesse automaticamente atenuado.

DA ROYAL SOCIETY À GRANDE LOJA DE LONDRES

Considerando as diferenças e eventuais intersecções entre maçonaria operativa e especulativa, sobretudo na Escócia do século XVII e início do XVIII, nada permite fundamentar, face à sequência temporal e histórica, que a maçonaria especulativa tenha nascido em 1717. De fato esta data é quase irrelevante no longo processo de desenvolvimento do movimento. Segundo Knoop e Jones (1) e (5) “naquela altura, a formação da Grande Loja foi uma ocorrência de menor importância no desenvolvimento da Maçonaria, e não faz sentido constituir um marco na historia maçônica”. No entanto a nova forma de organização instituída pela G L L constitui uma inovação, face à organização predominante até ao momento, de raiz escocesa, centrada sobretudo nas Lojas.

P. Naudon salienta que não se conhecem as razões oficiais da criação da G L L , francamente modesta na concepção, sendo o ênfase dado possivelmente à necessidade dum poder regulador sobre as lojas, o que fará sentido, como veremos.

Somos pois levados a concordar com a afirmação de J. Marty (6) que “o fato das mais influentes lojas maçônicas na Inglaterra, na Escócia e na Irlanda terem uma fortíssima influência stuartista, a outra família real que disputava o trono, impôs aos novos ocupantes do trono inglês o desenvolvimento de esforços imediatos para contrariar essa influência no mesmo terreno, como uma das formas de manterem o poder adquirido”.

Não é pois sustentável diluir historicamente a criação da G L de Londres (que no século seguinte evoluiria para a G L U I), como não deixando de corresponder a um plano político organizado pela nova família real inglesa, a dinastia Orange ou hanoveriana, para combater a influência stuartista.

Recuando de novo à questão do nascimento da Maçonaria Especulativa, é necessário correlacioná-la e ter também presente a criação da Royal Society, em 28 de Nov. 1660, no Gresham College, em Londres e em que tiveram destacado papel alguns maçons ou Rosa-cruzes da altura, nomeadamente Robert Moray, Elias Ashmole, Christopher Wren, e outros.

Robert Moray foi elemento preponderante na liderança que constituiu a Royal Society, e foi virtualmente o seu presidente, durante 1661 e a primeira metade de 1662, apesar do titulo não ter sido formalmente utilizado por ninguém, até a carta patente receber o selo real, de que foi obreiro decisivo. O aparecimento desta instituição mostrou claramente o crescente interesse na investigação científica e na experimentação e o prestigio crescente destas aditividades.

Antes da constituição da Royal Society, a ciência estava completamente dominada pela religião e amarrada a argumentos teológicos. Qualquer investigador que desafiasse a visão dos inquisidores era considerado herege e punido enquanto tal, pagando muitas vezes o preço da própria vida.

Mais do que um conjunto de ideias estabelecidas, os princípios de estudo da natureza propostos pela Royal Society representavam uma atitude e uma maneira de pensar a realidade inovadoras, resultantes do desejo de reexaminar e pôr em questão as ideias e os valores recebidos, mas com enfoques bem diferentes.

A esta grande viragem no desenvolvimento científico, levando uma comunidade a rejeitar uma teoria pseudo-científica anteriormente seguida, em favor de outra com ela incompatível, traduz uma mudança de paradigma, no sentido “kuhniano” do termo. A esta mudança não foram alheios os ideais da verdade, da tolerância, do respeito pelo trabalho realizado, da retidão e da fraternidade dos Maçons que estiveram associados à fundação e direção inicial da Royal Society, de que Isaac Newton veio a ser um dos mais notáveis presidentes (já no início do século XVIII).

Em resposta à interpretação de Eric Ward, Frederic Seal-Coon respondeu no ano seguinte (1979) com uma teoria mais política, que estabelecia a correspondência cronológica entre o nascimento da maçonaria especulativa e as relações tumultuosas da dinastia escocesa dos Stuarts com o trono de Inglaterra, ocupando grande parte do século XVII e a primeira metade do século XVIII, em que tentou recuperar o trono, após o exílio em França.

Na Grã-Bretanha quer os stuartistas quer os hanoverianos foram atraídos para alianças maçônicas rivais. O sistema das lojas, combinado com o secretismo, ideais de lealdade e modos secretos de reconhecimento, originou uma estrutura ideal de organização, na qual os membros puderam colocar os seus próprios valores, podendo adaptá-los para utilização própria.

Da análise dos sermões do rev. Anderson de 1712 e 1715, Steveson (1) concluiu que era evidente uma tonalidade “whigh” (protestantes, partidários da casa de Hannover) radical e determinante, já que descreve o país como “benzido com um bom protestante como soberano e uma feliz Constituição, depois de libertado das garras e da escravatura papista, pela revolução…”

Aliando estas interrogações ao fato das Constituições elaboradas pretensamente pelo rev. Anderson (que era pastor presbiteriano escocês), elaboradas em 1723, seis anos depois da constituição da G L L terem efetuado uma “limpeza criativa e radical” (continuada pelo duque de Montagu) de toda a documentação conhecida, anteriormente existente, contribuiu para reforçar um conjunto de interrogações, cujo esclarecimento tentamos aprofundar.

Somos pois levados a concordar de novo com J. Marty – (6) em que “a história oficial que foi criada e difundida constituiu parte de um programa de cultura imperial global muito ativo no último quadrante do século XVIII e no século XIX, por parte da potência dominadora a nível mundial nesse período, a Grã- Bretanha”.

Também não se encontra antes de 1723 nenhum texto proibindo as lojas escocesas e mais tarde as lojas temporárias inglesas, de serem criadas sem terem a autorização superior de alguém com poderes para tal, mas a partir daquele ano, só puderam ser criadas novas lojas em Inglaterra com a obtenção prévia da carta patente, firmada pelo Grão-Mestre da G L L .

O primeiro Grão-Mestre de origem nobre da G L L , foi em 1721 o Duque de Montagu, “whigh” convicto, condecorado em 1718 por Jorge I com a distinta Ordem da Jarreteira, responsável pela criação em 1745, dum regimento de cavalaria para combater o príncipe Carlos Eduardo Stuart, quando da última tentativa deste para recuperar o trono. Os dados parecem pois apontar para que tenha existido uma tomada de poder dentro da fraternidade maçônica pela facção “whigh”, então minoritária, numa época em que a ascensão ao trono de Jorge I de Hanover, três anos atrás, estava longe de ser unânime, quer na Inglaterra, mas sobretudo na Escócia.

A reação stuartista / jacobita não se fez esperar e o duque de Wharton, de regresso da Europa depois de convertido à causa stuartista, conquistou o grão-mestrado num golpe interno. Foi destituído no ano seguinte, mas a luta de influencias, perdida no território inglês, continuará agora em França.

AS LOJAS “ESCOCESAS” NA FRANÇA

Desde que se deu a confrontação entre os Stuarts e o Parlamento e mais tarde entre os Stuarts e a casa de Hannover, cada uma duas partes procurou trazer a Ordem para o seu lado. A ligação desta aos Stuarts era manifesta desde a Escócia, em virtude das origens escocesas comuns, pelo que não lhes foi difícil utilizá-la como aliada e veículo dos seus objetivos restauracionistas.

O papel desempenhado pela Maçonaria Escocesa em França é confirmado pelo Cavaleiro Ramsay, no seu famoso discurso de 1737, sendo a presença de lojas escocesas mais evidente a partir do exilio forçado dos Stuarts.

A Maçonaria stuartista chegou a França em 1688 através das primeiras lojas militares que se formaram nos regimentos que acompanharam James II, no exílio em Saint Germain de Laye. Existem provas de que a fuga para França intensificou a criação de Lojas maçônicas nos regimentos stuartistas. Por volta de 1689, os regimentos escoceses e irlandeses sediados em França possuíam “staffs” maçônicos, constituindo muitas vezes, a autoridade administrativa, sendo os militares a executiva.

É possível que a primeira loja em França tenha sido a que mais tarde se designou por “La Parfaite Égalité” (inicialmente “Irish Guard Lodge”), loja militar real irlandesa do coronel Walsh, do regimento de guarda pessoal de James II. Quatro anos depois da sua fundação o Grande Oriente de França reconhece em 1777 que essa loja foi constituída em 25 de Março de 1688.

A primeira loja francesa, indiscutivelmente conhecida, foi fundada em 1725 por Charles Radcliffe de Derwenwater e outros fervorosos stuartistas. Sensivelmente por volta de 1728, as lojas escocesas em França, reconheceram como Grão-Mestre o duque de Wharton, anterior Grão-Mestre da G L L e apoiante dos Stuarts. Após a sua morte, em 1731, Lord Derwentwater assumiu o grão-mestrado, seguido por Hector MacLean (baronete escocês) de 1733 a 1735 e de novo Lord Derwentwater, a partir de 1736.

A concorrência “whigh” /hanoveriana, não se fez esperar muito, deslocando-se também a partir de 1734 para o solo francês, com a criação em Paris duma loja rival à de Derwentwater, em que a Grande Loja de Londres se faz representar pelo duque de Richmond e Jean T. Desaguiliers. O conflito provocado pela existência de duas categorias de lojas rivais – escocesas e inglesas, transpôs-se e desenvolveu-se também em França, até à criação da Grande Loja de França e da nomeação do duque de Antin, par de França, como Grão-Mestre (ad vitam), em 24 de Junho de 1738.

Foi o duque de Montagu, que sucedeu desde 1721 ao pastor J. T. Desaguiliers, que se comprometeu a introduzir em França a Maçonaria especulativa (tendência “inglesa”). Do desenvolvimento dos ritos da época, a par das teorias filosóficas que sustentaram o aparecimento da Real Society, acabaria por surgir o Rito Francês. Mais tarde e embora apresente maior parentesco com a matriz escocesa, acabaria por surgir o Rito Escocês Antigo e Aceito, assim designado apesar do berço francês.

NOTAS FINAIS

Julgamos poder concluir, no essencial, que a moderna maçonaria teve origem escocesa, em vez de inglesa. A evidência escocesa pode ser fielmente comprovada durante o século XVII, através dos documentos oficiais de várias lojas, que foram conservados, graças aos estatutos de Schaw. Contrariamente, na Inglaterra somente parcos registros em papel, que possam ter pertencido a Lojas, sobrevivem.

O termo “aceito” continuou a ser aplicado em Inglaterra aos Maçons iniciados, e a G L L , fundada cerca de 40 anos depois, passou a chamar-lhes “maçons livres e aceitos“. Nos anos do rápido desenvolvimento da maçonaria inglesa depois de 1700, os rituais que surgiram eram baseados na “Mason Word” e as práticas descritas no catecismos mais antigos têm, sem dúvida, origem na Escócia (1).

A primeira referência a uma loja inglesa caracterizada por um corpo permanente e não por uma reunião ocasional, é a de Chester também no norte do país. A primeira loja em Inglaterra cujas atas sobreviveram, a loja de Alnwick, fica a 20 milhas da fronteira com a Escócia. A loja mais antiga descrita na Inglaterra refere-se a Warrington, no Lancashire, também no Norte.

Tudo isto sugere claramente que as lojas maçônicas na sua moderna configuração foram uma deriva da instituição escocesa que se espalhou pela Inglaterra no decurso do século XVII. A maçonaria na qual os primeiros “gentlemen” não operativos foram iniciados foi também muito influenciada pelas práticas escocesas.

No entanto, e esta é uma diferença essencial, desde o início os ingleses preferiram encontrar-se informal e irregularmente, apelidando por vezes estes encontros ocasionais de “reuniões de loja”. No entanto a institucionalização da estrutura, originada por Schaw, foi reconhecida e as lojas ocasionais foram dando progressivamente origem a instituições permanentes.

Doze dos Grão-Mestres de Inglaterra no século XVIII eram escoceses e quando os maçons franceses inventaram inúmeros altos graus e rituais, sentiram que a melhor maneira de lhes dar legitimidade era designá-los por “Rito Escocês”. Também estes fatos parecem admitir tacitamente que a maçonaria escocesa tem um papel especial na história da Ordem….

O objetivo subjacente à elaboração das Constituições de Anderson, o papel desempenhado por Desaguiliers, a G L L e os conflitos que se arrastaram por quase 100 anos entre “Antigos” e “Modernos”, podem dar lugar a diversas interpretações, mas certo é que por trás destes conflitos estavam dois conceitos distintos da Maçonaria, que foram utilizados na disputa do trono real britânico, pelos blocos stuartista e hanoveriano.

Parece não existirem dúvidas, face aos historiadores e obras que temos referido, que as Lojas maçônicas escocesas, irlandesas e inglesas foram palco da intensa luta entre estes dois blocos, que no fundo apoiavam duas concepções religiosas distintas, a católica e protestante. Também pode não ter sido ocasional, que o Papado só tenha apresentado a sua primeira Bula (“In Eminenti Apostolatus Specula”) contra a Maçonaria, quando já era evidente que a luta entre os dois Blocos pendia para os protestantes (hanoverianos) e a derrota definitiva dos Stuarts se resumia a uma questão de tempo. Todavia este assunto é por demais vasto, exigindo elevada preparação e estudo, para que possa ser tratado nestas breves e humildes notas.

Pelas análises dos historiadores que citamos, nomeadamente Steveson e Eric Ward, a teoria da “transição”, parece não ter suporte documental fidedigno, pelo menos analisando historicamente os dois países onde mais se enraizava, a Inglaterra e a Escócia.

Parece também não existirem dúvidas de que as Constituições de Anderson da G L L, traduziam uma versão mais universalista e agregadora da Maçonaria, rompendo com as versões mais tradicionalistas, que eram a base da Maçonaria católica stuartista.

Em reação a esta visão mais progressista (à época) organizaram-se mais tarde os “Antigos”. Esta polêmica entre “Antigos” e “Modernos” durou cerca de 100 anos, mas o enfraquecimento progressivo da G L L e a pressão do establishment real acabaria, também por pressão adicional da revolução francesa e dos receios por ela provocados na monarquia britânica, de proporcionar a fusão das duas, originando a G L U I – Grande Loja Unida de Inglaterra, com predominância inequívoca dos valores dos “antigos”.

O estudo das origens, é fundamental para uma melhor compreensão da Ordem. No entanto a sua análise, contribuindo para a nossa progressão individual a caminho do conhecimento e da Luz, só alcançará o seu sentido último, se alavancar o nosso trabalho no mundo profano.

Termino citando Jean Mourges (14):

“Independente da interpretação das origens, a Augusta Ordem deverá conservar dois princípios, sem os quais não será Maçonaria:

Os Maçons são construtores. Crêem na possibilidade de estabelecer uma Ordem Social ou em todo o caso de contribuir para estabelecê-la “e:

“Escolher os construtores que, entre eles, saibam elevar-se acima das querelas das Escolas, já que a perfeição da ordem Coletiva repousa na qualidade dos homens chamados a construí-la”.

Salvador Allende – R L∴ Ocidente

Bibliografia

“The-Origins-of-Freemasonry-Scotland-s-Century-1590-1710” – David Stevenson – Cambridge University Press, 1988

“A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna -O Colégio Invisível” – Lomas, R. – Madras Editora Lda, 2007

“The-Secret-History-of-Freemasonry-Its-Origins-and-Connection-to-the-Knights-Templar” – Paul Naudon – 2005

“Les Origines de la Maçonnerie Spéculative” – Roger Dachez, revista “Renaissance”

“The Genesis of Freemasonry” – Douglas Knoop e G.P. Jones” – Manchester University Press – 1947

“Maçonaria Especulativa e Sir Robert Moray” – José Marti

Blog + Sites da Loja Ocidente – http://a2ocidente.blogspot.pt

“El Nacimiento del Escocismo” – Louis Trébuchet (www.masoniclib.com)

“Isaac Newton and the Scientific Revolution, Christianson, G. Oxford University Press.

“Sir-Robert-Moray-Freemason” – Robert Lomas

“El Rito Francês Moderno” – Guillermo Fuchslocher,

Los Oficios y Los Oficiales de La Logia” – Daniel Berésniak

“La Masoneria” – Armando Hurtado

“La Pensée Maçonnique -Une Sagesse pour Occident” – Jean Mourges – Éditions P.U.F. – 1998

 

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