O Rito Escocês Antigo
e Aceito resolveu definitivamente o problema que tinha por objetivo conservar
na Maçonaria os ensinamentos filosóficos que, há séculos, se agruparam em torno
do pensamento primitivo e simples, em que a Maçonaria está estabelecida.
Cada iniciação evoca a
lembrança de uma religião, de uma escola, ou de alguma instituição da
Antigüidade. Estão em primeiro lugar as doutrinas judaicas.
Vêem em seguida os ensinamentos baseados no
cristianismo e representados, sobretudo pelos Rosacruzes, esses audazes
naturalistas que foram os pais do método de observação e procura da verdade, de
onde saiu a ciência moderna. Portanto, as iniciações do Escocismo reportam-se
aos Templários, esses cavaleiros hospitalares e filósofos nos quais os maçons
dos Altos Graus glorificam a liberdade do pensamento corajosamente praticada
numa época de terrorismo sacerdotal.
SURGIMENTO E HISTÓRIA
DO RITO
Ao contrário do que
vulgarmente se acredita, o RITO ESCOCÊS nada tem a ver com o Estado da ESCÓCIA,
pois na época do aparecimento deste rito, as Lojas de lá trabalhavam no Rito de
YORK, como em toda a Grã-Bretanha.
Firmam certos
historiadores tradicionais, mas sem jamais terem podido comprová-lo ou
documentá-lo, que a criação de graus "inefáveis" deste rito se teria
procedida logo depois da terminação da primeira Cruzada (1099 D. C.), na
Escócia, na França e na Prússia, simultaneamente. Mas tudo isto é pura
fantasia, bastando dizer que a Prússia então, como Estado, ainda nem existia.
Houve isto sim, a criação de inúmeros "títulos" honoríficos de
"Ordens de Cavalaria", mas estas nada tinham a ver com a Maçonaria.
É muita vontade de
criar uma falsa antiguidade, hoje em dia muito usual na Arte Real, e muito
similar, á idéia de ANDERSON, ao publicar, depois de sua famosa CONSTITUIÇÃO DE
1723, uma nebulosa "HISTÓRIA PATRIARCAL DA MAÇONARIA" (começando em
3785 A. C. E terminando na Inglaterra em 1714 DC). É a conhecida
"Maçonaria Romanceada", que sistematicamente nos é apresentada pelos
nossos editores "especialistas", em traduções de literatura
estrangeira barata, por não estarem os historiadores patrícios dispostos a
pesquisarem a história da maçonaria AUTÊNTICA, e com isenção de animo nem a
nossa história querem analisar.
Mas o que a maioria
destes escritores fez, foi escrever a história da maçonaria "NA"
Escócia, começando pelo famoso EDITAL da Cidade de Edinbourgh, de
1415, permitindo a
constituição de uma "Corporação de Franco-Burgueses", e a Arte Real,
que se foi desenvolvendo depois disto.
Fato é que o RITO
ESCOCÊS surgiu na FRANÇA, e isto depois de lá ter sido introduzida a Maçonaria
Inglesa, naturalmente do Rito de YORK.
A primeira Loja foi
instalada em 1 de junho de 1726, na adega "AU LOUIS D'ARGENT", á rua
dos Açougueiros (rue de Bucherie), de propriedade do inglês "HURE",
loja esta que teria sido fundada por Lord DERWENTWATER e Lord. HARNOUESTER.
Em 17 de maio de 1729
foi instalada uma segunda Loja, fundada pelo filantropo francês André-François
Lebreton, numa outra adega da mesma rua. Só em 1732 surge a LOGE DE BUSSY, sob
jurisdição inglesa, que recebeu o N° 90 e o nome de "KING'S HEAD AT
PARIS" e foi provavelmente sucessora da "Louis D'Argent". E até
1735 mais três lojas foram ai fundadas sob a jurisdição da Gr. Loj. Inglesa.
Consta, que por volta
de 1728 teria sido fundada a Grande Loja de França, pelo menos é isto que ela
mesma afirma em sua nova Constituição de 1967 (Ref. F-1967,936), mas o que se
sabe é apenas, que entre 1728/30 um "Ordre des Francs-Maçons dans le
Royaume de France" organizou o seu "Regulamento Geral", dentro
dos moldes da Organização Inglesa, elegendo para seu primeiro Gr.: M.: o
Príncipe Philippe de WHARTON, ex-Gr.: M.: da Grande Loja de Londres, que em
1728 se tinha refugiado em Paris.
Foi ele sucedido por
James-Hector Mac Leane, Cavaleiro "Baronnet D'ECOSSE", em 27 de
dezembro de 1735. E foi este que fixou todos estes fatos para a posteridade,
num manuscrito recentemente encontrado na Biblioteca Nacional de Paris, e já
falando ele de GRANDE LOJA, de modo que é mais do que provável, ter este titulo
sido adotado um pouco antes pelo seu antecessor, digamos entre 1730/35. Em
seguida o supremo malhete passou para as mãos de Charles Radclyffe, "4°
Conde de Derwentwater", em 27 de dezembro de 1736, e depois para o Duque
D'AUSTIN, neto de Madame de MONTESPAN, em 1738.
E tanto isto é
verdade, que ANDERSON em seu "New Book of Constitution", impresso em
Londres em 1738, á página 195 diz textualmente o seguinte: " Todas ESTAS
Lojas Estrangeiras (... Acabara de relacionar as Lojas inglesas no
estrangeiro...) estão sob a proteção de nosso Grão Mestre da Inglaterra;
entretanto, a Loja antiga da cidade de Nova York, e as Lojas da ESCÓCIA, da
Irlanda, da França e da Itália, tendo declarado a sua Independência, tem
"os seus próprios Grão Mestres: Muito embora tenham as MESMAS
CONSTITUIÇÕES, Obrigações Regulamentos, etc., de seus Irmãos da Inglaterra,
estando igualmente zelando pelo estilo Augustiano e os segredos da antiga e
honorável fraternidade..."
Logicamente outras
Lojas e talvez mesmo outras potências administrativas foram surgindo logo, e a
índole latina foi imediatamente modificando e alterando a ritualística da
maçonaria tradicional inglesa, para o seu gosto por demais rígida e sem dar o
destaque ás castas governantes e militares, que sentiram a necessidade de se
projetarem sobre os maçons burgueses.
Se na Inglaterra,
aonde a Arte Real já vinha de longe, depois de 3 séculos de lutas religiosas e
políticas, o povo já tinha encontrado o seu MODUS VIVENDI dentro da tolerância,
a que prudentemente se tinha adaptado o clero aristocrático, os presbiterianos
e os anglicanos, isto já não acontecia na França, onde a maçonaria era cousa
nova.
Assim por volta de
1730/35 surgiu na França o Rito Francês e o Rito ESCOCÊS nos graus simbólicos,
Pouco tempo depois foram inventados os graus "inefáveis", que
paulatinamente foram sendo acrescentados ao "MAITRE ECOSSAIS".
Já em 1742, afirmam os
historiadores contemporâneos, estava formada a "Maçonaria ESCOCESA",
organizada pelo "Conseil des Empereurs d'Orient et d'Occident, Grande e
Souveraine Loge Ecossaise Saint Jean de Jerusalem", uma subsidiaria
surgida no seio da Grande Loja de França, que organizou o Rito Escocês, também
adotando o sufixo ANTIGO E ACEITO, usado pela primeira vez por ANDERSON, em sua
Nova Constituição de 1738.
E quando finalmente
foi eleito para Gr.: M.: o Conde de CLERMONT, Louis de Bourbon, em 1743, havia
na França uma verdadeira inflação de Lojas, mais de DUZENTAS, como nos contam
historiadores da época, mas sendo muitas delas "Ordens de Cavalaria" o ano de 1758
fundou-se em Paris um novo Corpo Maçônico, que recebeu o nome de CAPÍTULO, ou
"Conselho de Imperadores do Oriente e do Ocidente", e NOVE
Comissários deste Corpo elaboraram, o que se tornaria conhecido como a
CONSTITUIÇÃO DE BORDEAUX, de 21 de setembro de 1762 (6° Dia da 3a Semana 7a Lua
Ano 57621, que introduzia um sistema de RITO ESCOCÊS de 25 GRAUS. Mas a
pacificação, que se tinha pretendida, não foi duradoura, e já em 1767 a Grande
Loja de França adormecia.
Somente em 22 de outubro
de 1773 a maçonaria francesa voltou a reunir-se em "Grande Loja
Nacional", acabando por fundar o Grande Oriente de França, tendo como Gr.:
M.: o Duque de CHARTRES.
A maioria dos
Diretórios ESCOCESES se incorporou ao Gr.: Or.: de França, enquanto alguns
fundaram a Grande Loja de CLERMONT, de vida efêmera.
Deve ser mencionado
aqui, que muitos escritores do passado, e ainda alguns "copistas" dos
nossos dias, costumam citar o nome do Barão ANDREAS MICHAEL RAMSAY (nascido em
1686, iniciado na HORN LODGE, de Londres, em Março de 1730 (Ref. F-1973, 937),
e falecido em seis de maio de 1743), como "inventor" do Rito Escocês
dos "altos graus". Entretanto, basta a leitura de seus discursos como
Gr.: Orador que era da Gr.: Loja de França, e especificamente o pronunciado em
21 de março de 1737, para termos a prova da incongruência de tal afirmação,
pois disse textualmente o seguinte:-... A atividade da Maçonaria, resumida nos
TRÊS graus (Evidentemente os simbólicos), e só estes reconhecemos, podem ser
considerados perfeitamente suficientes."
Pronunciamento este,
que bem prova a sua ojeriza aos graus inefáveis, que já então existiam.
Provavelmente o simples fato de ter sido ele membro da "Ordem de São
Lazaro de Jerusalém", da qual era Gr.: Mestre o Regente FELIPE DE ORLEANS,
da educação de cujos filhos esteve RAMSAY encarregado entre 1715/24, Ordem de
que ele recebeu o titulo de "Cavaleiro Baronnet D'ECOSSE", e ainda o
fato de ter sido ele um grande estudioso e filósofo, por certo bastou aos
historiadores profanos para lhe atribuírem essa "paternidade. Para melhor
se compreender a confusão que existe, basta citar que se conhece
"quatro" versões dos Discursos de RAMSAY: de 1738 (Haya), 1741
(Paris), 1742 (Frankfurt s. M. E de 1743 (Londres).
Vá lá que RAMSAY tenha
colaborado na elaboração das bases para o rito ESCOCÊS nos TRÊS graus
simbólicos, mas nem isto pôde ainda ser comprovado. E de passagem se diga aqui,
que a primeira Loja de Perfeição, de que se tem noticia, foi criada em
Bordeaux, em 1744, portanto um ano depois do passamento de Ramsay.
Lastimavelmente a
Revolução Francesa, ao contrário do que habitualmente·se afirma, dispersou os
Franco-Maçons, que só a partir de 1799 foram paulatinamente se reagrupando no
Grande Oriente de França, que neste ano foi REERGUIDO.
Em 12 de outubro de
1804 os grandes oficiais do Rito ESCOCÊS se reuniram, e em nova reunião de 22
de outubro de 1804, de Grande Consistório, formaram uma GRANDE LOJA ESCOCESA DE
FRANÇA DO RITO ANTIGO E ACEITO, elegendo o príncipe Luiz Napoleão para Gr.: M.:
e para seu Representante-Presidente o Conde Alexandre-François-August de
GRASSE-TILLY, mas já em Dezembro do mesmo ano este estabeleceu um acordo com o
Grande Oriente de França, delegando-lhe poderes para administrar, além dos 3
graus simbólicos, também os graus "inefáveis" de 4 até 18
(Rosa-Cruz).
Mas quando em Julho de
1805 o Grande Oriente de França resolveu também administrar os restantes graus
filosóficos, de 19 em diante, houve um rompimento entre as duas jurisdições,
que só pôde ser sanado em 1821, quando o Rito Escocês Antigo e Aceito se
reorganizou totalmente na França.
A atual Grande Loja de
França só em 7 de novembro de 1894 foi RECONSTITUÍDA, quando 60 (sessenta)
Lojas do Supremo Conselho decidiram separar o SIMBOLISMO do Sistema FILOSÓFICO
dos Altos Graus. Portanto, na verdade era "Potência NOVA"
.
Autoria e Pesquisa: Ir.´. Daniel Martina
Biografia:
Loja Maçônica Luz no Horizonte 2038 Goiânia/GO
CAMINO, Rizzardo da , Rito Escocês Antigo e Aceito,
Madras Editora Ltda, 2.ª Edição, 1999
Supremo Conselho do Brasil do Grau 33 para o Rito Escocês
Antigo e Aceito