UMA NOVA ANTIMAÇONARIA NO BRASIL


 

Tenho alertado que o cenário atual, de um crescimento do fundamentalismo religioso e de extremismos ideológicos, é desfavorável para a Maçonaria, pois torna-se um terreno fértil para ideias e propagandas antimaçônicas. Foi o que ocorreu, por exemplo, nos EUA, na década de 20 do século XIX; e na Europa continental e no Brasil, na década de 30 do século XX. Agora, a história começa a querer se repetir, tanto lá como aqui.

Um exemplo é o de Danúzio Neto, que mantém um canal onde propõe compartilhar informação “sem narrativa”. Contudo, faz exatamente o contrário, oferecendo uma doutrinação reacionária por meio de seus vídeos. Um deles tem um título um tanto quanto sugestivo: “Como a maçonaria destruiu o Brasil?”.

Nesse vídeo, ele já começa sugerindo a Maçonaria como um “antro de perversidade e de depravação moral”. Depois, diz que a Maçonaria teria ingressado nos EUA “tal como um vírus ou um parasita no seio da sociedade americana”.

Sua doutrinação chega a tanto, que chama o movimento iluminista de “maníaco” e se posta durante o vídeo também contrário à Revolução Francesa e a Independência dos EUA. Sobre esta última, Neto escancara seu antimaçônismo ao dizer que Washington “chegou ao cúmulo de receber ritos maçônicos em seu funeral”. Como se isso fosse um grande absurdo.

Então, sua narrativa chega ao Brasil, onde ele diz que a Maçonaria veio para “contaminar elites”, a qualificando como “pútrida”, e declara que ela atuou “infestando a máquina pública”. Sua análise histórica conspiratória e tendenciosa chega ao nível de afirmar que, na chamada Questão Religiosa (anos 1870), Dom Pedro II “em um mergulho dantesco e criminoso em ideias falidas, começou a perseguir membros honrosos da Igreja Católica”.

Neto omite as principais informações e fatos históricos a respeito. A Questão Religiosa deveu-se pela Maçonaria ter defendido e militado a favor do movimento abolicionista, patrocinando jornais sobre o tema, financiando a alforria de escravos e fazendo lobby a favor de leis como a Lei do Ventre Livre, de 1871, do maçom Visconde de Rio Branco. Isso a colocou em rota de colisão com algumas lideranças regionais da Igreja Católica que, naquela época, era a favor da escravidão. Cientes do trabalho maçônico pró-abolição, dois bispos começaram, eles sim, a perseguir a Maçonaria e os maçons, promovendo sermões antimaçônicos e intervindo em paróquias em que maçons eram participativos, proibindo-os de as frequentarem.

Contudo, o Brasil, por Bula Papal, era um Padroado Régio, em que o Rei administrava a Igreja Católica em seu território. Nesse sistema, o Estado recebia os dízimos, enquanto construía e mantinha as Igrejas, nomeava os padres e bispos e pagava seus salários. Então, houve uma decisão legal contrária a esses interditos, que os dois bispos optaram por desobedecer e, por isso, foram presos.

Dom Pedro II, que enfrentou o Papa nessa chamada Questão Religiosa e aplicou a lei da Constituição do Império do Brasil, respaldado pelo Padroado Régio, não era maçom. Não foi a Maçonaria contra a Igreja, mas o Estado brasileiro contra dois Bispos que eram servidores públicos. Mas úisso não impediu Danúzio Neto de declarar que houve “perseguição contra os católicos brasileiros”. Dom Pedro II era católico, assim como Visconde do Rio Branco e 99% dos brasileiros naquela época, incluindo os maçons!

E quem mudou esse cenário de hegemonia católica no Brasil foi a Maçonaria. Mas isso, Danúzio Neto também não menciona. Ele não fala que, devido à Questão Religiosa, a Maçonaria abraçou mais fortemente bandeiras como da liberdade religiosa e do Estado Laico, inexistentes no Brasil, colaborando e apoiando a vinda de missionários de diferentes igrejas para o país. Se hoje há forte presença de igrejas protestantes no Brasil, além de igrejas evangélicas descendentes do movimento protestante, foi graças à Maçonaria. Isso é ser anticlerical? Somente se você acredita que o Estado deve ser religioso, tendo uma única religião oficial e que seja a sua.

E é nesse sentido que Danúzio Neto segue, ao afirmar que “cartunistas maçons empreenderam uma dura campanha anticlerical”. Em seguida, qualifica esses “cartunistas maçons” de “turbas de lunáticos”. Então, começa a dissertar sobre o fortalecimento das ideias republicanas, taxando seus defensores de “tecnocratas baratos”. Ato contínuo, chama Deodoro da Fonseca de “um dos maiores traidores da história brasileira” e chefe de um governo “pútrido” que acabava de nascer.

Então, ele continua seus ataques a importantes personalidades brasileiras que eram maçons, como Rui Barbosa e Lauro Sodré. E, sendo Washington Luís o último Mestre Maçom ativo a se eleger Presidente da República, tendo deixado o cargo em 1930, Danúzio Neto simplesmente não explica o que a Maçonaria supostamente teria feito para “destruir o Brasil” nos últimos quase 100 anos.

Um breve olhar ao referido vídeo antimaçônico e ao título de outros vídeos em seu canal comprova que a promessa de um conteúdo neutro, imparcial, livre de falsas narrativas, não corresponde com a verdade. Trata-se de pura doutrinação. No vídeo, Danúzio Neto apresentou tendências anti-abolicionistas, antirrepublicana, antiprotestantíssimo, antilaicismos e antimaçônicas. Se você se identifica com esses ideais radicais, junte-se a ele. Caso contrário, sugiro evitá-lo.

O que ele realmente oferece é o velho discurso de “uma vida melhor, com mais dinheiro, mais segurança e liberdade” e que “só 1% das pessoas vão conseguir tudo o que você pode conseguir”, como ele mesmo escreveu em seu próprio site.

Cai só quem quer.

A/D

 

 

AS ORIGENS DAS SOCIEDADES SECRETAS: MAÇONARIA E INFLUÊNCIAS ANTIGAS

O documento “As Origens das Ordens Secretas” explora o surgimento e a evolução das sociedades secretas, com foco especial na Maçonaria e na Ordem Rosa-Cruz. Essas sociedades surgiram com base em crenças esotéricas e místicas de antigas civilizações, como o Egito, Grécia e Roma, influenciadas pela tradição ocultista.

Durante a Idade Média, a perseguição às crenças alternativas levou esses grupos a se ocultarem, preservando suas práticas e ensinamentos. A Maçonaria, em particular, é descrita como uma herdeira de tradições pagãs, incluindo o simbolismo dos Mistérios Antigos, mantido pelas guildas de pedreiros.

O documento também discute o impacto das sociedades secretas na política e religião, a controvérsia com o cristianismo e a lenda de Hiram Abiff, figura central nos rituais maçônicos.

Para que possamos compreender as origens das sociedades secretas, convém examinarmos as suas raízes antigas, que podem ser localizadas no antigo Egito e nas civilizações clássicas de Roma e Grécia, devido à possibilidade deixada por alguns iniciados em documentos.

Durante a Idade Média, surgiram diversas sociedades secretas baseadas nas doutrinas ocultistas que afirmavam possuir antecedentes remontando quase ao início da história. As ideias místicas que elas possuíam tinham a sua origem nas crenças religiosas mais antigas conhecidas pela humanidade.

Essas crenças pagãs sobrevivem à formação das grandes religiões mundiais, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, adotando a sua forma externa ou operando no seu interior como uma tradição herética, secreta e esotérica.

Com a perseguição às crenças espirituais alternativas na Europa cristã medieval, os guardiões dessa sabedoria antiga tiveram de se esconder, formando sociedades secretas para preservarem os seus ideais pagãos.

As duas grandes sociedades secretas formadas nesse período, que só se revelariam publicamente nos séculos XVI e XVII, foram a Maçonaria e a Ordem Rosa-Cruz. Enquanto a Ordem Rosa-Cruz continua a ser uma sociedade secreta, objeto de pouquíssima publicidade nos tempos modernos, uma considerável atenção pública tem se voltado para a franco-maçonaria recentemente.

Essa sociedade tem sido apontada como uma influência potencialmente corrompedora, pois seus membros abrangem homens de negócios, juízes estaduais e federais, e delegados, cujos juramentos e atividades maçônicas são encarados como a camuflagem ideal para o nepotismo.

Aos olhos do mundo externo, a Maçonaria aparece como um clube de profissionais superiores, que querem progredir em suas carreiras pela adesão a um grupo social de elite. Supõe-se que os maçons se favoreçam mutuamente nos negócios e na concessão de empregos, enquanto a proeminência das autoridades judiciárias nas lojas maçônicas levanta suspeitas de que o curso da justiça pode ser pervertido por homens ricos reunidos em suas sombrias salas.

Os maçons têm respondido a essas acusações negando que os membros de suas lojas gozem de qualquer vantagem especial nos mundos profissionais e dos negócios. Eles vêm tentando apresentar, para o mundo externo, uma imagem respeitável, argumentando que a sua confraria não é uma sociedade secreta, mas uma sociedade com segredos. Contudo, não obstante esse exercício de relações públicas, a imagem popular da franco-maçonaria é de um grupo de homens de negócios de meia-idade que se reúnem uma vez ao mês, vestem trajes extravagantes e realizam rituais escolares misteriosos.

Em muitos casos, as atividades da loja maçônica moderna talvez sejam exatamente essa pantomima excêntrica; porém, se a maçonaria é tão ridícula, por que, no correr dos séculos, tem ela atraído algumas das mentes mais brilhantes: destacados cientistas, proeminentes políticos, escritores, intelectuais, artistas, financistas e até a realeza?

A resposta deve estar nos ensinamentos secretos da franco-maçonaria, raramente discutidos em público. Em um recente sínodo da Igreja Anglicana, um relato sobre a franco-maçonaria foi apresentado para debate aos clérigos e leigos reunidos. Diversos oradores denunciaram a maçonaria como contrária aos ensinamentos do cristianismo, condenando os cristãos, especialmente os clérigos, que porventura fossem membros.

Um orador chegou ao ponto de atacar a maçonaria como “blasfema”, pois, segundo ele, o principal ritual de iniciação, que envolve uma representação simbólica da morte e do renascimento, seria uma paródia da crença cristã na crucificação e ressurreição de Jesus de Nazaré.

Desde os seus primórdios, a franco-maçonaria tem sido alvo da ira cristã, embora seja revelado que a Igreja Católica está infiltrada por agentes das sociedades secretas.

Por que deveriam os cristãos ser tão críticos da Maçonaria, além da razão óbvia de que a Igreja se opõe a qualquer sistema de crença alternativo capaz de ameaçar o seu monopólio espiritual? Novamente, a resposta a essa pergunta está nos “segredos” da Maçonaria. Se esses segredos estivessem prontamente disponíveis ao público em geral, é pouco provável que o seu significado fosse compreendido por aqueles não versados nas doutrinas do ocultismo e da antiga religião. Na verdade, é pouco provável que muitos dos membros comuns das lojas compreendam o que os seus segredos representam.

No círculo interno da Maçonaria, entre quem alcançou graus de iniciação superiores, existem maçons que compreendem ser os herdeiros de uma tradição antiga e pré-cristã transmitida desde os tempos pagãos. Os maçons medievais herdaram essa tradição secreta na forma de ensinamentos simbólicos que expressam verdades espirituais. Esses ensinamentos tiveram origem nos Mistérios Pagãos, amplamente seguidos no mundo antigo.

Para compreendermos esses ensinamentos secretos e, ao fazê-lo, situarmos em um contexto espiritual o envolvimento das sociedades secretas medievais na política internacional, temos de examinar as presumíveis origens da Maçonaria no período pré-cristão.

As informações sobre essas origens estão preservadas nos escritos de historiadores maçons, nas teorias formuladas por ocultistas que têm investigado o simbolismo da Maçonaria e nos relatos acadêmicos das religiões pagãs influenciadoras da tradição ocultista medieval.

Historicamente, sabe-se que a Maçonaria especulativa se originou das antigas guildas medievais de pedreiros construtores das catedrais góticas europeias. Eles se organizavam em guildas, que funcionavam como grupos de ajuda recíproca semelhantes aos sindicatos modernos.

Essas guildas usavam símbolos secretos, as chamadas marcas dos pedreiros, encontradas nas velhas igrejas, bem como senhas e um aperto de mão especial, para que seus membros pudessem se reconhecer mutuamente. Acredita-se, nos círculos ocultistas, que esses pedreiros medievais herdaram o conhecimento esotérico de seus antecedentes pagãos, conhecimento esse incorporado à arquitetura sagrada das catedrais.

Ao serem fundadas as lojas da Maçonaria especulativa, que se opõe à operante, nos séculos XVII e XVIII, esse conhecimento foi transformado no simbolismo que constitui, atualmente, a base do ritual maçônico.

As associações medievais de pedreiros podiam envolver até 700 membros, que firmavam contratos com a Igreja para construir catedrais e mosteiros. Acredita-se que uma associação maçônica de pedreiros específica tenha se originado em Colônia, no século XII, a qual valia-se de cerimônias de iniciação ao admitir novos membros, denominados “pedreiros livres”.

Eventualmente, essas lojas maçônicas operantes aceitavam forasteiros, contanto que provassem ser homens de erudição, ou pessoas que ocupassem uma elevada posição social. No final do século XVI, as lojas de maçons operários havia, em grande parte, desaparecido, sendo substituídas pela Maçonaria especulativa, com a sua ênfase no simbolismo esotérico do Ofício como metáfora do progresso espiritual e da iluminação.

Ainda que os maçons medievais pudessem ser vistos como artesãos práticos, também possuíam um arcabouço mítico para explicar as origens de sua atividade. Os maçons operantes também dividiam todos os conhecimentos existentes em sete artes liberais e ciências. Elas eram classificadas em gramática, ou a arte de falar e escrever corretamente; retórica, a aplicação da gramática; dialética, a distinção entre falso e verdadeiro; aritmética, ou cálculo exato; geometria, o estudo das dimensões da Terra, música e astronomia. De todas essas artes e ciências, os maçons consideravam a geometria a mais importante.

De acordo com suas crenças, a geometria fora ensinada por um patriarca antediluviano chamado Lamec, que tinha três filhos. Um inventou a geometria, o outro foi o primeiro pedreiro, e o terceiro, um ferreiro, e o primeiro ser humano a trabalhar com metais preciosos.

Assim como Noé, Lamec foi advertido por Jeová do dilúvio, causado pela perversidade da humanidade e pela interferência dos Anjos Caídos nos assuntos mundanos. Lamec e seus filhos decidiram guardar o seu conhecimento em dois pilares de pedra, de modo que as gerações futuras pudessem descobri-lo.

Um desses pilares foi descoberto por Hermes Trismegisto, ou Três Vezes Maior, conhecido pelos gregos como o deus Hermes e pelos antigos egípcios como o escriba dos deuses, Toth, com cabeça de íbis. Diz-se que a assim chamada Tábua de Esmeralda de Hermes contém a essência da sabedoria perdida de antes dos dias do Dilúvio bíblico.

De acordo com fontes ocultistas, essa tábua foi descoberta em uma caverna pelo mítico Mestre Apolônio de Tiana, considerado pela Igreja primitiva um rival de Jesus. A primeira versão publicada da Tábua de Esmeralda data de uma fonte árabe do século VIII a.C., só tendo sido traduzida para o latim na Europa no século XIII.

Contudo, o mito da sabedoria hermética exerceu um profundo efeito sobre os gnósticos, que eram cristãos hereges em conflito direto com a Igreja Cristã primitiva, por tentarem fundir o paganismo com a nova fé.

Eles também afirmavam possuir os ensinamentos secretos de Jesus, que este divulgou apenas para o seu círculo interno de discípulos. Esses ensinamentos haviam sido excluídos da versão oficial do Novo Testamento, aprovada pelos concílios da Igreja reunidos para decidir a estrutura e o dogma do cristianismo primitivo.

A filosofia gnóstica emergiu sob uma forma diferente na Europa medieval, com o surgimento do movimento cristão herético dos cátaros e da Ordem dos Cavaleiros Templários. A tradição hermética serviu de inspiração espiritual para muitas sociedades secretas na Idade Média, e a sua influência faz-se notar tanto na Maçonaria especulativa como na sociedade Rosa-Cruz.

Segundo a tradição maçônica, os pedreiros [maçons] se organizaram pela primeira vez numa corporação durante a construção da Torre de Babel. De acordo com Gênesis 11:4-6, essa torre fora concebida para se atingir o céu e contactar Deus. O desmoronamento da Torre de Babel destruiu a língua comum falada pela humanidade e encerrou a Idade de Ouro que se seguiu ao Dilúvio.

O arquiteto da torre foi o rei Nimrod, da Babilônia, que era pedreiro. Ele pôs à disposição de seu primo, o rei de Nínive, sessenta pedreiros para ajudar na construção de suas cidades. Ao partirem, os pedreiros foram instruídos a se manter sempre leais entre si, a evitar dissensões a qualquer custo, a viver em harmonia e a servir o seu senhor como o seu mestre na Terra.

Segundo a crença popular, os hebreus receberam os seus conhecimentos de alvenaria dos babilônios, introduzindo-os no Egito ao serem escravizados. No Egito, esse conhecimento foi influenciado pelos Mistérios e pelas tradições ocultistas dos construtores de pirâmides, versados nas técnicas da geometria sagrada.

A chave para as origens pagãs da franco-maçonaria está na história simbólica narrada aos candidatos à iniciação nos três graus da maçonaria: Aprendiz Principiante, Companheiro Artesão e Mestre Pedreiro. Segundo o saber maçônico, a base dessa lenda é a história semimítica da construção do templo do rei Salomão, em Jerusalém. A edificação foi vista como repositório da sabedoria e do simbolismo ocultista antigo, tanto pelos maçons como pelos Cavaleiros Templários.

O rei Davi iniciou a construção do templo em Jerusalém e, depois de sua morte, seu filho Salomão completou a obra. Para construir o edifício, Salomão recrutou pedreiros, artistas e artesãos de países vizinhos.

Especialmente, enviou uma mensagem ao rei de Tiro, perguntando se podia contratar os serviços de seu mestre construtor, Hiram Abiff, que era versado em geometria. Hiram era filho de uma viúva, tendo aprendido o ofício de artesão trabalhando com bronze. Devido ao seu talento artístico, Salomão nomeou Hiram arquiteto-chefe e mestre-pedreiro do templo a ser construído em Jerusalém.

Hiram concluiu o templo num período de sete anos (esse número tem uma significação especial na tradição ocultista e na maçonaria), mas essa realização foi empanada por sua morte misteriosa e violenta. Certa vez, ao meio-dia, durante o descanso dos pedreiros, Hiram fez uma visita ao templo para verificar o andamento do trabalho, que se aproximava do fim.

Ao entrar no pórtico do templo, atravessando a entrada flanqueada pelos dois pilares do portão, um de seus colegas pedreiros aproximou-se de Hiram, solicitando o segredo da senha do Mestre Pedreiro. Hiram negou-se a fornecer essa informação secreta, dizendo ao trabalhador que ele receberia no momento propício, depois de avançar mais em sua carreira.

O pedreiro, insatisfeito com a resposta, golpeou Hiram, que seguiu aos tropeções, aturdido e sangrando, até o segundo portão do templo. Ali, foi abordado por um segundo pedreiro, que fez a mesma pergunta e, ao ser-lhe negada a resposta, golpeou Hiram, que cambaleou até a terceira entrada (ocidental) do templo, onde outro pedreiro o aguardava. O processo se repetiu e, dessa vez, o arquiteto-chefe morreu do terceiro golpe.

Os três traidores pedreiros carregaram o corpo de Hiram do templo até o topo de um monte vizinho, onde cavaram uma cova rasa e o enterraram. Marcaram o local do túmulo com um ramo de acácia e, à tarde, como de hábito, retornaram ao trabalho. Quando a falta de Hiram foi notada, uma equipe de busca foi organizada, mas esta levou quinze dias para descobrir o seu corpo.

Salomão foi informado e ordenou que o corpo de Hiram fosse exumado e enterrado novamente, com uma cerimônia religiosa completa e as honras devidas a um artesão de sua importância. Os três assassinos acabaram sendo descobertos, julgados e condenados à morte pelo seu crime.

Fonte:Brasil Maçom

Referências

As Origens das Sociedades Secretas Antigas. Documento PDF fornecido, Parte 1 revisada.

Bíblia Sagrada, Gênesis 11:4-6, referência à Torre de Babel.

Textos sobre Hermes Trismegisto, associados ao mito da Tábua de Esmeralda.

Referências acadêmicas sobre os Cátaros e a Ordem dos Cavaleiros Templários, vinculadas ao movimento cristão herético.

Histórias sobre Hiram Abiff, personagem da tradição maçônica.

 

 

MAÇONARIA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO: O MAÇOM DENTRO DO CONTEXTO HISTÓRICO

Introdução

A Maçonaria Operativa teve vários períodos que a precederam que se poderia intitulá-los de fase pré-operativa. Esta fase aconteceu no transcorrer de muitos séculos e talvez milénios. Os primeiros homens pré-históricos habitavam cavernas, mas com o passar do tempo migraram para fora delas, tornaram-se nómades, gregários e assim para terem abrigo, para se protegerem das intempéries, e também para se abrigarem da luz solar e se protegerem das noites frias, começaram a construir as suas choupanas, casas, surgindo assim ainda que de maneira ainda rudimentar os primeiros construtores, havendo entre eles os mais habilitados que se firmaram como os primeiros profissionais da construção, ainda que a humanidade estivesse engatinhando, e as casas ou abrigos eram toscos, simples.

Desta forma serão citadas várias etapas das construções que antecederam a fase da Maçonaria Operativa em si.

Fala-se que no Império Romano o segundo rei de Roma, Numa Pompílio (714 a 671 a.C.) sempre citado na literatura maçônica por ter mandado construir templos de deuses pagãos, criou para esta finalidade os collegia fabrorum dos quais se originaram os collegia construtorum que segundo referem alguns autores seriam as sementes da futura Maçonaria Operativa, porque ele teria regulamentado a profissão de construtores e também a organização dos cultos já que estes coleggias eram dotados de intensa religiosidade, mesmo naquela época em que se adoravam deuses pagãos. Cita-se também que no seu reinado ele teria mandado urbanizar Roma e as construções de tiveram um desenvolvimento.

As legiões romanas nas suas conquistas destruíam tudo, mas levavam os colegiatti de construtores para reconstruir o que destruíam dentro dos seus interesses na região conquistada. Existem autores que contestam esta versão da história por falta de provas primárias.

Os Mestres Comacinos que apareceram em Como na Lombardia que eram arquitectos, hábeis escultores, reconhecidos pelos reis longobardos pelo édito de Rotari em 634 d.C. e Liutprando em 713.d.C. Eles foram introdutores da arte romântica, que antecipou a arte gótica.

Antes de aparecer a Maçonaria Operativa ou Maçonaria de Ofício surgiram as Associações Monásticas fundadas por São Bento 529 d.C. e Cisterciense fundada pelos monges de Cister fundada pelo abade De Molesme em 1098 da nossa era, começaram a aparecer construções em que a arte gótica foi pouco a pouco predominando. As Associações Monásticas dos Beneditinos eram constituídas por religiosos, monges católicos, experientes projetistas e geômetras, verdadeiros artistas na arte de construir.

Todavia guardavam a arte de construir em forma de segredo dentro dos seus conventos. Varoli considera os beneditinos e os cistercienses como ancestrais da Maçonaria Operativa. O tratamento entre eles era de “Venerável Irmão”, e “Venerável Mestre”.

Mas foram obrigados a contratar profissionais leigos, pois a procura dos seus serviços aumentava cada vez e necessitavam de homens para o trabalho mais simples e dessa convivência com os mestres, consequentemente aprenderam a arte de construir, ou lhes foi ensinada pelos próprios clérigos.

Estas ordens citadas são em linha geral para se ter uma ideia de como foram surgindo as construções especialmente as que precederam as corporações de ofício. Estes profissionais foram aprendendo com os clérigos e em face de da decadência da fase monástica apareceram as confrarias leigas.

A importância destas ordens de clérigos foi muito necessária, pois além de espalharem a arte de construir, deixaram os princípios religiosos nas escolas e oficinas de arquitetura. Toda a agremiação tinha o seu santo protetor.

Estas fases precursoras da Maçonaria de Ofício são consideradas por Theobaldo Varoli Filho, como embriões da instituição que viria a ser Maçonaria Operativa.

Assim no século XII surgiu a franco-maçonaria ou maçonaria de ofício na qual os pedreiros eram livres ou francos maçons que deixaram a sua influência muito significativa na Maçonaria atual. O termo franco ou livre significava que estes profissionais eram livres totalmente de qualquer servidão ou serem taxados de escravos. O seu único compromisso era construir.

Remanescentes das fases anteriores já citadas os operários se constituíram nas chamadas corporações de ofício, organizadas, prestavam auxílio mutuo, a divisão de trabalho era disciplinada, havia o mestre de obras, que deveria ser entendido na geometria e na arte de construir, que não era grau e sim função e os aprendizes (hoje serventes-pedreiros) que deveriam durante certo número de anos, cerca de sete anos aprender a profissão. Estas corporações eram apenas de profissionais da construção.

A Igreja dominava totalmente os seus membros. Toda corporação tinha o seu santo protetor.

Paralelamente surgiram nesta mesma época as guildas especialmente no Norte da Europa, na Inglaterra, Alemanha e Dinamarca que eram confrarias no início religiosas, militares, e finalmente investiram na arte de construir. Havia entre eles assistência mútua e proteção, proteção aos familiares, ampliaram pouco a pouco a abrangência das suas ações e se tornaram verdadeiros corpos profissionais de construtores. Assumiram o caráter corporativo.

Cada associado pagava uma joia. O novo membro era recebido ritualisticamente. Assim constituíram guildas de comerciantes, militares, dos marceneiros e carpinteiros de canteiros que construíram muitas casas de madeira além das construções majestosas de pedras. Foi nas guildas que surgiram a palavras loja, joia e banquetes termos estes que emprestamos para a nossa Maçonaria Moderna.

As guildas ainda pretendiam reformas sociais.

A Maçonaria Operativa nasceu destas duas tendências, corporações de ofício e das guildas. Há quem refere que sejam sinónimos. Não há como querer afirmar outra origem da Maçonaria Operativa, mas existem muitas tendências e controvérsias a respeito, quando se fala em origem da Ordem. A título de esclarecimento em 1909 o escritor maçônico Charles Bernardim do Grande Oriente da França consultou 206 obras sobre maçonaria e selecionou 39 opiniões diferentes a respeito das suas origens.

Eles, além de castelos, fortificações e outras construções construíram muitas catedrais que ainda estão firmes, maltratadas pelo tempo. porém ostentando toda a sua bela arte gótica em vários países da Europa. Cada catedral tem uma história linda, onde se vislumbra o génio de muitos construtores arquitetos, homens além do seu tempo.

Catedral de São Petrónio em Bologna Itália – iniciada em 1132.

Catedral de Chartres – França – iniciada em 1194 – reconstruída em 1214

Catedral de Colónia – Alemanha – iniciada em 1248

Catedral de Córdoba – Espanha – erguida pelos mouros

Catedral de Santa Maria de Fiore – Itália – primeira catedral de Florença. A cúpula foi construída em 1418

Catedral de Génova – Itália iniciada em meados do século XIII

Catedral de Milão – Itália – construção iniciada em 1288, só teve as suas estruturas erguidas em 1389.

Catedral de Nápoles – Itália – iniciada em 1285

Catedral de Sevilha – Espanha – em 1401 os cónegos de propuseram a construir a maior catedral da Europa

Catedral de Notre Dame – França – construção iniciada em 1163

A França em três séculos ergueu 80 majestosas catedrais, 500 grandes igrejas e milhares de casas paroquiais. A média da Europa Cristã na época era uma igreja para cada 200 habitantes, tal era o domínio da Igreja Católica sobre o povo.

Na Alemanha surgiu a corporação dos steinmetzer onde os profissionais eram conhecidos por serem escultores, entalhadores de pedras ou canteiros, se dedicavam somente à arte gótica. Teve um grande impulso dado pelo arquiteto Erwin nascido em Steinbach. Ele, em 1275 convocou uma convenção em Estrasburgo para terminar uma importante catedral de arenito rosa. Nesta convenção compareceram os principais arquitetos ingleses, alemães, italianos e de outros países.

Nesta ocasião teriam sido adoptados, sinais, toques e palavras para a identificação secreta dos membros da confraria. É considerada como a primeira vez que adoptaram estes meios de identificação, porque isto está registrado, mas é bem provável que já usavam sinais há muito tempo e que outras corporações usassem as suas próprias senhas. É sabido que o Maçom operativo deixava um símbolo o seu marcado nas pedras das construções onde trabalhava.

Interessante, citar os avanços da humanidade. Em 1453 Copérnico publica o seu livro afirmando que a Terra gira em torno do Sol e em 1454 Johanes Gutenberg cria a impressão de tipos moveis fundidos em metal. Até então, todos os documentos eram feitos em manuscritos, ou seja, à mão. Nesta época cerca de 20 copistas produziam 20 livros cada dois anos. A partir daí passaram a serem publicados 1000 livros / ano. Pode-se considerar como a Internet da época.

Isto tudo viria modificar a maneira de pensar, abriria as mentes, pois poderiam ser lidos livros com mais facilidade e assim o homem buscar conhecimentos até então fora do seu alcance.

A situação da Maçonaria Operativa mudou. Por cerca vários séculos predominou a arte gótica que nasceu na França. A Renascença viria, e as suas consequências fizeram-se sentir tanto na arte gótica como no monopólio das corporações de ofício que dominavam este sector. Este facto determinou a decadência da Maçonaria Operativa. Já não havia mais tantas catedrais a serem construídas, e além do mais o povo estava preferindo o estilo clássico romano que era mais alegre, mais leve que o estilo gótico.

Com esta decadência, o nome da organização ainda era muito respeitado, mas começaram mudar os comportamentos dentro da Ordem. Começaram a aceitar como membros na Maçonaria, pessoas que não eram construtores.

O registro do primeiro Maçom aceito é datado de 08.06.1600 na Loja Saint Mary’s Chapel em Edinburgh do abastado fazendeiro John Boswell. Este tipo de aceitação foi sendo cada vez maior. Já não era aquela antiga corporação de construtores. Algo tinha mudado. Era outra organização. Esta Loja tem registros de atas desde 1599.

Entretanto a Maçonaria Operativa era composta de Lojas com o lema “Maçom livre em loja livre”. Tinham já constituídos os graus de aprendiz e companheiro. Mas os aceitos que geralmente eram pessoas de maior cultura foram mudando as concepções, trazendo novos conceitos dentro da Maçonaria ainda chamada de Operativa. Estes aceitos eram militares, comerciantes, pensadores, escritores sábios, filósofos, nobres, além de esotéricos, ocultistas, alquímicos, cabalistas antiquários, etc.

A Maçonaria Operativa até 1600 era eminentemente católica. Ela nunca fez alusões ou referência a templos, aos hermetistas, aos templários, Rosa-Cruzes, alquimistas, magos, cabalistas, esotéricos ou ocultistas. Não se falava em Landmarks. Não havia a Bíblia durante sessões. Não havia a lenda de Hiram. Havia a lenda Noaquita focalizando a morte de Noé, que foi aproveitada e enxertada na lenda de Hiram posteriormente. Não existia o valor simbólico das ferramentas.

Não existia a antimaçonaria e nem potências maçônicas. Segundo alguns autores os aceitos Rosa-Cruzes contribuíram muito para filosofia da Ordem, porque grande parte destes aceitos eram Rosa-Cruzes. Um novo membro era recebido de uma forma mais simples e não através de uma ritualística sofisticada como atualmente estamos acostumados a realizar.

E assim desde o primeiro Maçom aceito em 1600 (prova primária) até 1717 passaram 117 anos, mais de um século. O que restou da Maçonaria Operativa se transformou neste período noutro tipo de maçonaria. Também o mundo se modificou bastante.

Neste século XVII Descartes publica em 1637 o discurso sobre o Marco da Filosofia Moderna. Em 1661 Robert Boyle lança as bases da Química Moderna em 1687 Newton publica o seu livro sobre a Lei da Gravidade e em 1698 Savery inventa o motor a vapor.

Em 1670 foi criado o grau de Companheiro (manuscrito Edinburgh Register-1696) já se falava sobre ele desde 1598, mas não há comprovação.

A partir de 1703 a Maçonaria começou a receber aceitos indistintamente de todas as classes sociais e de todos os credos. Na Inglaterra predominava os anglicanos. A Maçonaria Operativa não era mais tão somente católica.

A Inglaterra foi o berço da Maçonaria chamada Especulativa, mas é mais racional o nome de Maçonaria Moderna. Especulativa não espelha realmente o que aconteceu com a Ordem e o conceito de especulativa não se encaixa muito nos acontecimentos históricos. Ela estava se transformando em Maçonaria Moderna. Muito embora tenha sido consagrado o nome de Especulativa.

Em 24.06.1717, data esta que espelha o que já estava ocorrendo há mais de 100 anos, o Maçom aceito o pastor protestante Desagulliers, Anderson, George Payne com mais outros eruditos maçons conseguem reunir quatro lojas, sendo que uma delas era só de maçons aceitos e funda a Grande Loja de Londres. Inicialmente esta Grande Loja não foi bem aceita na Inglaterra. Os maçons ingleses se dividiram em antigos e modernos. Mas o sistema obediencial foi sendo aos poucos sendo adoptado em toda a Europa.

Nascia assim o conceito de obediência ou potência e a figura do Grão-Mestre. Surgiu uma nova era para a Ordem, ou melhor, a oficialização do que estava sendo realizado na prática. Criaram os Landmarks por motivos óbvios, pois se agora existia um poder central, não havia mais loja livre, é claro que seriam necessárias novas regras para manter as lojas num mesmo plano e sob governo de um Grão-Mestre.

Regras estas que evocaram a pré-maçonaria com o nome de maçonaria antediluviana, diluviana e pós-diluviana, a e ao mesmo tempo introduziram conceitos baseados nos Antigos Deveres (Old Charges) que chamaram de imutáveis, mas de que imutáveis, não tinham nada. Foi uma estratégia para angariar e segurar nas suas fileiras os adeptos. Anderson escreveu o seu primeiro livro das Constituições em 1723, eivado de fantasias, inverdades, de lendas citando fatos muitas vezes confusos, baseado nos Old Charges especialmente no Poema Régio.

Ambrósio Peters afirma “Os Old Charges são regulamentos ou Antigos Deveres da Maçonaria Operativa e nada têm a ver com a Maçonaria Especulativa a não ser que a antecederam historicamente”.

O grau de Mestre foi criado em 1725 e incorporado no ritual em 1738, ano em que Anderson reescreveu as suas Constituições, já mencionando o grau de Mestre. A lenda de Hiram levou muito tempo para ter a redacção que tem hoje.

Já estava o mundo vivendo em pleno século XVIII, um século maravilhoso, o Século das Luzes. Tudo foi possível e permitido neste século. Erros e acertos. Experiências preciosas do comportamento humano. Solidificação da Ordem, ainda que dividida, avanço social e científico da atual civilização.

Algumas situações importantes aconteceram neste século não serão citadas as invenções tecnológicas. Serão citados alguns dos livros que ajudaram a mudar o pensamento humano e porque não dizer, a Maçonaria que é composta de homens.

1751 Diderot publica o primeiro volume da Enciclopédia.

1757 A Escola Fisiocrata inicia na França a Teoria da Economia Moderna

1762 Rousseau lança o – Contrato Social, livro clássico do Iluminismo

1777 Kant publica o livro Crítica da Razão Pura

1791 Tomas Payne publica o livro Os Direitos do Homem

A Maçonaria na Inglaterra ficou restrita aos três graus simbólicos, mas na França a partir de 1740, foram criadas novas potências e criados inúmeros graus superiores, criados outros ritos além dos tradicionais, alguns ritos exóticos e mágicos, que ainda têm repercussão no século 21.

A Alemanha acompanhou inicialmente a França nesta criação desenfreada de ritos e graus superiores, mas em 16.07.1782 no Congresso de Wilhelmsbaden expurgaram os abusos do Rito da Estrita Observância e daí fundaram o Rito Escocês Retificado, mas o efeito deste Congresso rendeu condições para ser fundado em 1801 um rito simples, enxuto sem conter excessos, voltado para a humanidade, chamado Rito de Schröder.

Xico Trolha (Assis Carvalho) enumerou 235 ritos nominados que foram criados no mundo, a maioria fruto da criatividade dos maçons, mas acredita que seja na casa dos 300 ritos. No século XIX foram criados mais ritos, porém disseminaram as potências maçônicas, e criou-se mais um fator complicador: as famosas cisões que normalmente ocorrem até hoje no seio da Maçonaria mundial, fazendo com que a Maçonaria se fragmentasse desde então.

O século XIX, rico em invenções tecnológicas a partir das quais propiciaram a continuação do avanço que temos hoje em dia. Apenas no pensamento humano, Freud e Carl Jung se destacaram em relação à mente humana. Freud publica em 1895 o livro Estudo sobre a Histeria, demonstrando que o homem não domina a mente. Mas houve grandes pensadores noutras áreas, neste século.

A Maçonaria entrou no Brasil que entrou oficialmente comprovado, em 1800 através da Loja irregular de nome “União”. Sendo que no ano seguinte os remanescentes desta loja se filiaram a uma Loja “Reunião” regular, reconhecida pelo Grande Oriente Isle de France – Rito Adonhiramita.

Neste século em 14.03.1893 foi iniciada na Maçonaria numa loja regular de nome “Livre Pensador” pertencente à Grande Loja Simbólica Escocesa da França, dissidente do GOF a feminista Maria Desraimes por um Maçom de nome George Martin Venerável Mestre e em 04.04.1893 ela fundou logo em seguida a Maçonaria Mista na França e que levou o nome Loja Escocesa dos Direitos Humanos.

A Maçonaria Brasileira, no século XX ao lado de inúmeras cisões de menor importância, passou por duas grandes cisões que marcaram o século a de 1927 e a de 1973 resultando desta divisão as Grandes Lojas Brasileiras e os Grandes Orientes Independentes (COMAB).

A Maçonaria mundial neste século se organizou melhor em relação ao século anterior, mas seguindo tendências locais nos vários países. Na Inglaterra é o clube que impera. Os maçons comparecem nas suas respectivas lojas para se encontrar. Na hora do intervalo (chamada para o recreio) eles vão tomar uísque ou chá.

A situação do próprio país é muito estável e não há necessidade de grandes campanhas filantrópicas na educação e na saúde pública. A Maçonaria lá tem influência na política, notadamente no Parlamento Inglês. Não admite a admissão de mulheres.

Na França a Maçonaria é patriótica, ela ajuda o Governo a governar o país. Lá as potências tradicionais, mistas e femininas se unem para ajudar a França. Há inclusive tratados entres estes tipos de Maçonaria e a Tradicional.

Nos Estados Unidos, a Maçonaria é eminentemente filantrópica. Certas Lojas ao acontecer a transmissão de cargo de venerável, a nova gestão se compromete em conseguir para a gestão que se inicia doações superiores à anterior. Lá a Maçonaria banca hospitais, fundações, pesquisas científicas e serviços humanitários.

No Brasil, não se tem um enfoque principal. Não há uma causa geral que seja de todas as maçonarias do país. Entretanto em algumas cidades elas realizam alguns empreendimentos filantrópicos notáveis, mas não fazendo parte de um plano nacional e prestigiado por todos os maçons brasileiros.

Em relação ao presente, isto é já no século XXI, no Brasil a Maçonaria continua aumentando os seus quadros em cerca de 10% ao ano. Talvez em razão dos mais jovens se sentirem desiludidos com as religiões e estão procurando outras respostas mais condizentes com a sua realidade espiritual. Mas seriam necessários mecanismos para reter estas novas aquisições no seio da Ordem, o que parece não existir.

Estima-se que haja cerca de cento e setenta mil maçons no Brasil. As três principais potências que se dizem regulares são as Grandes Lojas Brasileiras, Grande Oriente do Brasil e os Grandes Orientes Independentes. Todavia existem segundo estatística recente cerca quarenta e quatro potências entre a maçonaria de homens, a mista e a feminina não alinhadas e paralelas às três citadas.

Vejamos como é o sistema de administração e comando da Maçonaria brasileira As Grandes Lojas são em número de 27 e os Grande Orientes Independentes em número de 21. Cada uma destas Grande Loja ou Grande Oriente Independente é uma potência. As Grandes Lojas têm um órgão normativo chamado CMSB que se reúne todo o ano e os Grande Orientes Independentes (COMAB) também realizam reuniões anuais. O sistema é o de confederação.

Já o Grande Oriente do Brasil é regido pelo sistema de federação. Existe um Grão-Mestre estadual para cada um dos 27 grandes orientes estaduais e o Grão-Mestre geral.

Portanto são 76 Grão-Mestres ao todo nestas três potências. E as outras 44? Tem muito Grão-Mestres na Maçonaria brasileira. Isto mostra quanto está dividida a Ordem no país.

Uma particularidade interessante da Maçonaria é a forma como as potências se reconhecem ou não.

A GLUI considera-se a Loja-Mãe do Mundo. Ela reconhece ou não uma potência dentro ou fora da Inglaterra. Questiona-se quem lhe deu o direito de decidir se uma potência é regular ou não. Existe outra fonte de referência atualmente para o tal de reconhecimento: As 51 Grandes Lojas Americanas.

No Brasil o GOB e quatro Grandes Lojas Brasileiras (SP, MS, ES, RJ) são reconhecidos pela GLUI. Estas quatro Grandes Lojas são reconhecidas pelas Grandes Lojas Americanas também.

A maioria das Grandes Lojas Brasileiras é reconhecida pelas 51 Grandes Lojas Americanas.

A COMAB tem quatro dos seus Grandes Orientes (GOP, GOSC, GORGS e Grande Oriente Paulista) reconhecidos pela CMI (Confederação Maçônica Interamericana), com sede em Bogotá que congrega 75 potências na América do Sul, inclusive o GOB e as Grandes Lojas assinaram este tratado.

O Grande Oriente da França não liga para os tais critérios de reconhecimento e segue a sua caminhada na história da Maçonaria.

A Maçonaria Tradicional Brasileira não reconhece a Maçonaria Mista e a Feminina e inclusive as chamadas potências não alinhadas que completam a lista com 44 potências ao todo. Mas já deve ter sido acrescentada mais alguma “potência” que não temos conhecimento.

Para termos uma ideia como funcionam estas 44 “potências”. Daremos três exemplos:

Grande Loja Unida Sul-Americana com sede em Campo Grande – Mato Grosso do Sul. Uma ala dissidente desta Grande Loja está fundando uma nova potência alegando igualdade de direitos dos cidadãos perante a Constituição Brasileira e afirmam que admitirão gays, lésbicas e simpatizantes, padres e evangélicos bissexuais, baseada na fraternidade francesa Arc em Ciel (Arco Iris) criada em 2003.

Grande Loja Mista do Rito de Memphis e Misraim. Um rito com 100 graus e o adepto que chega neste grau poderá entrar numa extensão do grau chamada de Centúria Dourada, que é uma extensão do Rito, onde se pratica a Alta Magia. (Existe no Brasil em SP, PR, DF, RJ, PA, RS. SC).

Grande Oriente Feminino do Estado Mato Grosso do Sul, cujo primeiro templo próprio foi inaugurado em 2008 em Campo Grande – MS, tendo o suporte para funcionar dado por três Lojas: “Divina Luz do Oriente” n° 01, “Filhas da Luz” n° 02 e “Obreiras da Arte Real” n° 03

Mas dentro destas potências não alinhadas, acreditamos que exista alguma onde os seus adeptos possam estar bem-intencionados, onde eles dentro da sua maneira de ser possam estar praticando uma Maçonaria aceitável, mas muitas delas desenvolvem atividades duvidosas. Uma delas é extorquir dinheiro de pessoas incautas com propaganda enganosa pela imprensa e Internet.

A trajetória da Maçonaria no mundo não foi linear. Ela teve momentos de glória e de situações extremamente difíceis. Foi muito perseguida. Mas está aí, de pé. A antimaçonaria foi muito severa e cruel contra a Ordem. Desde as encíclicas papais excomungando-nos, aos déspotas como Mussolini, Hitler e Franco que mandaram matar centenas de maçons, às religiões que pululam pelo Brasil dentro taxando-nos de fazermos parte da demonologia, aos maçons traidores que escreveram contra a Ordem impingindo-nos ritos macabros, o livro o Protocolos dos Sábios do Sion, que tanto mal nos causou e a atual posição das igrejas evangélicas americanas que têm feito com que milhares de maçons americanos deixem a Maçonaria.

Estima-se que atualmente existam cerca de 3.600.000 maçons no mundo, sendo 1.500.000 nos Estados Unidos, 250.000 na Inglaterra, 170.000 no Brasil e 1.600.000 no restante do mundo (pesquisa do Irmão João Leça-GOP).

Não se pode avaliar o futuro da Maçonaria no mundo e no Brasil. Se analisarmos as potências brasileiras ditas regulares que congregam perto de 7000 lojas, veremos que a maior parte dos maçons quer assistir às sessões, e no final ingerir os alimentos e beber algum tipo de bebida nos fundões dos templos perto de onde está a cozinha, geralmente no salão de festas após ir para casa, feliz porque encontraram muitos Amigos e Irmãos e estão felizes.

A Maçonaria brasileira vem mantendo uma tradição a qual é necessária, mas em muitos aspectos está ultrapassada neste século, pelas invenções, achismos, adendos e enxertos. Para uma grande parte de Irmãos tudo isso está bem como está. Eles não leem e está tudo bem, e sentem-se em paz com o GADU.

Mas uma minoria inquieta, ávida de saber, conhecer, raciocinar e vislumbrar outros destinos mais elevados para Ordem está aumentando em número dia a dia. Querem respostas. Mas querem respostas coerentes, transparentes e elucidativas. Querem mais ação. Questionam a vaidade de muitos pavões da Ordem, questionam a síndrome do poder que contamina muitos Irmãos, estão reclamando das invencionices, dos famosos achismos e de enxertos ritualísticos não justificados. Este grupo funciona como guardiões da Ordem e está realmente preocupado com a sobrevivência dela.

Dentro destas informações e do avanço tecnológico levando em conta que o mundo está mudando a sua visão mecanicista para uma visão mais holística, será traçado uma perspectiva deste futuro, mas sem compromisso com futuras verdades ou inverdades, porque ele ainda não aconteceu. Serão meras conjecturas. Sonhos, especulações.

Especula-se. Será que daqui a 500 a 1000 anos existirão templos? Existirão Igrejas? Haverá necessidade de templos? Qual será a concepção do GADU nesta época? Existirão potências maçônicas? O ser humano vencerá a luta contra a fera bestial que existe dentro de si e terminarão as guerras? E as doenças desaparecerão? A comunicação entre os seres será mais telepática e menos na linguagem? Haverá uma ética, uma moral no uso da Internet? Como será a Internet? Haverá sessões maçônicas virtuais?

Enfim uma série de perguntas, todas elas baseadas em fatos que temos a nossa disposição no presente, e em cima dos quais podemos especular sobre o futuro, mesmo que a nossa imaginação esteja errada. Mas podemos fazer uma projeção de ideias. Por que não? A nossa imaginação está além da nossa realidade atual. Mas o que se imagina na mente torna-se realidade.

Lojas virtuais? Parece um grupo de maçons da GLUI já tentando antecipar o futuro fundou em 29.01.1998 a “Internet Lodge n° 9659”. Continuam em atividade, mas parece que a Loja é hibrida, pois tem que ser uma parte dentro do templo, portanto, real. No Brasil fundaram duas Lojas virtuais uma em Brasília fundada pelo pranteado Irmão Castellani e a outra a Loja “Futura” fundada no Grande Oriente Independente de Pernambuco. Não deram certo. A Loja “Futura” existe agora como uma loja normal dentro da sua potência.

Atualmente estão sendo planeados e construídos aparelhos capazes de projetar hologramas em qualquer tipo de superfície. Imaginemos hologramas de Irmãos projetados para um espaço virtual que chamaremos de loja, onde esta loja funcionaria normalmente como atualmente, porém de forma virtual. Então o sonho dos irmãos que fundaram lojas virtuais no momento, sem ainda a necessária tecnologia, poderá um dia ser uma realidade.

O advento da Informática, Internet, Realidade Virtual, Mecatrônica, Robótica, Nanociência, Neurociências, está mudando completamente a maneira de pensar de todos, mesmo os que não admitem tal avanço. Toda a humanidade já sentindo os seus efeitos. Talvez não haja mais templos no futuro e sim centros cibernéticos de iniciação maçônica.

Imaginemos o candidato introduzido num recinto cibernético especial e através de um programa de iniciação já pronto, ele poderá vivenciar uma realidade mais intensa e mais verdadeira daquela que conhecemos. Este programa terá todas as fases da iniciação, porém contando com novos valores que por certo aparecerão na sociedade além dos avanços da tecnologia que ajudará este momento. Possivelmente o homem treinará e saberá usar as suas faculdades para normais de maneira mais eficiente. A capacidade mental aumentará de 0,8 a 10% para 20% ou será maior? Como se eliminará o lado mau do ser humano, já ele é dualista?

Como imaginaríamos uma iniciação no futuro? O candidato ingeriria uma pílula de um psicofármaco, que não produziria efeito secundário algum e a duração da sua ação seria tão somente de segundos a minutos tempo esse em que ele vivenciaria a sua iniciação. Esta psico­droga causaria a expansão da mente e o candidato entraria em ondas alfa ou teta e desta forma e através do programa instalado e sentiria a natureza como se fora ele próprio. Ele se sentiria água, fogo, ar e terra. Ele se sentiria como se fosse uma parte consciente do GADU. Viajaria por todo o Universo, visitará galáxias distantes, se sentiria no interior de uma folha aprenderia com os sábios e encontraria o seu autoconhecimento.

Como será a Moral e a Ética maçônicas no futuro? A Moral varia na cronicidade das épocas e o que é bom hoje para Maçonaria poderá não ser bom daqui há mil anos. Simplificando segundo autores, Moral é estudo e aplicação dos costumes da época e Ética seria a ciência que estuda as regras pertinentes. Qual será o conceito de fraternidade entre os maçons no futuro? Qual será a função do Maçom no futuro? Social? Política? Cidadão do Universo? E o conceito do GADU como será?

Conclusão

Será que a Maçonaria tenderá tão somente ser uma Escola de Vida e de aperfeiçoamento do “eu” interior como muitos Irmãos no momento a concebem? Daqui há mil anos, o Estado tomará conta da saúde, da educação do bem-estar do cidadão, da moradia, da segurança. Pouca coisa restará às Instituições como a Maçonaria realizarem.

Ou será que o GADU nos reservará um porvir fantástico, maravilhoso que não podemos conceber neste momento?

Hercule Spoladore – O Autor é escritor maçônico, membro da Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil e da Academia Brasileira Maçônica de Letras. Ex-Venerável Mestre da Loja Simbólica Regeneração 3ª e da Loja de Pesquisas Brasil, do Grande Oriente do Paraná. É médico.

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