Tuesday, September 16, 2025

A ORIGEM DOS CONFLITOS ENTRE A MAÇONARIA E A IGREJA CATÓLICA


 

Pode-se dizer que a Maçonaria nasceu na Igreja Católica. Como construtores que eram, os maçons passavam longo tempo a construir catedrais e mosteiros. Estes pedreiros, homens simples, ignorantes e rudes, recebiam principalmente dos dominicanos, com quem viviam em estreito relacionamento, instrução e evangelização. Além de ler e escrever aprendiam dar graças à caridade e aos princípios morais do cristianismo. Podemos crer que, em alguns ritos, a prece na abertura dos trabalhos e o tronco da viúva, seja resultado desta convivência.

Vejamos, então, como começaram os conflitos

A Maçonaria como instituição associativa deu os seus primeiros passos em 1356, quando um grupo de pedreiros se dirigiu ao prefeito de Londres, e solicitou o registo da Associação de Pedreiros Livres. Oficialmente registrada e devidamente autorizada, os seus membros passaram a ter certos direitos e vantagens, tais como: Trânsito Livre, naquela época não se tinha a liberdade de viajar; Liberdade de reunião, naquele tempo era proibida, devido ao receio de conspirações e tramas contra os poderes constituídos; e a Isenção de impostos que obviamente agrada a qualquer um.

Pouco tempo depois, em 1455, Jonhann Gutemberg inventa a impressora com símbolos móveis, e é publicada a primeira Bíblia em latim. Assim, o evangelho passa a chegar mais facilmente a todas as camadas da população.

Quem lê, pensa mais e sabe mais. A história começava a mudar.

Em 1509 subiu ao trono da Inglaterra o rei Henrique VIII que, logo em seguida, se casa com Catarina de Aragão. Porém, mais tarde, apaixonado por Ana Bolena, contraria-se ao não obter do Papa o divórcio para casar-se com a sua amante. Após insistentes tentativas, revolta-se e simplesmente não reconhece a autoridade do Papa, fundando uma nova religião, a Anglicana. Constitui-se como único protetor e chefe supremo da Igreja e do clero de Inglaterra, acaba com o celibato dos padres e confisca os bens da Igreja.

Henrique VIII é excomungado, mas não se preocupa minimamente

Com a morte de Henrique VIII em 1547, o trono foi ocupado por vários reis e rainhas até à chegada, em 1558, de Elizabete I que, como Rainha da Inglaterra, solidifica a Igreja Anglicana, como está, até aos dias de hoje. Durante o seu governo, a Inglaterra torna-se uma potência mundial e, embora não fosse um súbdito católico, por tudo que ela fez contra o catolicismo em geral, o Papa Pio V excomungou-a em 25 de fevereiro de 1570.

Até aqui, a Maçonaria continuava operativa. Não incomodava e nem era incomodada

Em 1600, um facto aparentemente sem importância iria mudar os rumos da Maçonaria. É aceito o primeiro Maçom especulativo, de que se tem notícia Lord Jonh Boswel, um agricultor (plantava batatas). Foi o primeiro a ver vantagens em pertencer à Associação dos Pedreiros Livres. Em 1646 é aceito outro especulativo, Elias Ashmole. A importância deste fato é que Ashmole era um intelectual, alquimista e rosa-cruz. Alguns autores atribuem-lhe a confecção dos Rituais do 1°, 2° e 3°grau, graças aos seus conhecimentos de Rosa-cruz.

As lojas proliferavam. Eram mistas ou só de especulativos

Em 24 de Junho de 1717 é fundada a Grande Loja de Londres e a partir daí a Maçonaria começou a expandir-se e a ser exportada para países vizinhos: Holanda em 1731; França e Florença em 1732; Milão e Genebra em 1736 e Alemanha em 1737.

Esta estranha sociedade secreta, que guarda segredo absoluto de tudo o que faz, constituída de nobres e aristocratas, começou a inquietar os poderes dominantes de cada país. O medo das tramas e subversões para derrubar o poder foi mais forte, e começaram as proibições.

Sem saber o que acontecia nas reuniões, sempre secretas, criou-se um alvoroço, e muitos governantes pediam providências ou soluções ao Papa. As alegações eram de que a sociedade admitia pessoas de todas as religiões; que era exigido aos seus membros segredo absoluto, sob severas penas, e que prestava obediência a um poder central de Londres. O que fazer?

Com o Papa Clemente XII doente, constantemente acamado, totalmente cego há 6 anos, rodeado de pessoas que lhe filtravam as informações e ainda sob a pressão dos governantes que exigiam providências e, também, dos inquisidores que exerciam a sua influência, o Papa assinou em 28 de abril de 1738 a Bula In Eminenti, selando assim o destino dos maçons católicos em especial, e da maçonaria em geral.

Esta Bula excomungava todos os maçons e afirmava que era bom exterminar estas reuniões clandestinas, pois, poderiam atuar contra o governo. Bem, com a divulgação e publicação da Bula nos países católicos, foram-se desencadeando as proibições. Em França, o parlamento não a aprovou e por isso não foi promulgada. Sendo assim, em França, oficialmente, a Bula não entrou em vigor. Nos Estados Pontifícios (Itália desunificada), cuja constituição administrativa era católica, todo o delito eclesiástico era castigado como delito político, e vice-versa. Infringir a religião era infringir a lei.

Deu-se então uma verdadeira caçada à maçonaria e aos seus membros. A inquisição, encarregada de executar as ordens papais torturou, matou e queimou inúmeros maçons e, logicamente, pessoas inocentes que eram confundidas com maçons. Em 1800 foi eleito Pio VII, e durante o seu papado, surge Napoleão Bonaparte.

Entre outros feitos, provocou a fuga da coroa portuguesa para o Brasil em 1808 e conquistou Roma, proclamando o fim do poder temporal do Papa mantendo-o preso no castelo de Fontainebleau. Pio VII só recuperou parte das suas possessões, com a queda de Napoleão em 1815. Nesta época, porém, o mundo já não era mais o mesmo.

Os ideais de libertação afloravam e iniciaram-se diversos movimentos pelo mundo, praticamente todos liderados por maçons, que conseguem a independência dos seus países. Estados Unidos, 1783; França, 1789; Chile, 1812; Colômbia, 1821; Peru, Argentina e Brasil, 1822.

A maçonaria deixou então de ser simplesmente inconveniente e passou a ter mais ação, concreta e objetiva, e com isto recebia condenações mais veementes da Igreja. Neste momento façamos uma pequena paragem. A maçonaria até aqui tinha sido sempre condenada e perseguida por terceiros motivos. Até este momento a Igreja Católica nunca tinha sido atingida diretamente pela influência maçônica.

O facto que realmente condenou a maçonaria pela Igreja Católica aconteceu no processo da reunificação da Itália. O trauma desse episódio não é esquecido até hoje por alguns sectores da Igreja.

A Itália, nesta época, era uma “Manta de Retalhos”, constituída por vários estados entre os quais os Estados Pontifícios, que correspondiam a aproximadamente 13,6% do total da Itália, ou seja, eram 41.000 km², que pertenciam ao clero e localizavam-se na região central. A população dos Estados Pontifícios não tinha acesso a nenhum cargo público, que era explorado pelo clero. Todos os funcionários públicos usavam o hábito. O inconformismo e os movimentos de libertação começam em 1767, sendo os jesuítas expulsos de Nápoles.

Em 1797 é fundada a Carbonária, seita de caráter político independente da maçonaria, que tinha como objetivo principal a Unificação da Itália. Pio VII em 1821, lança a Bula Ecclesiam a Jesus Cristo condenando a atividade dos carbonários. A Carbonária tornou-se perigosa e prejudicial à maçonaria, pois era confundida com esta. Os Carbonários tinham os seus aprendizes, mestres, grão-mestres, oradores, secretários, sinais, toques, palavras, juramentos e é claro, segredos.

Os principais líderes Carbonários: Cavour, Mazzini e Garibaldi eram maçons, por isso, a Carbonária era muito confundida com a maçonaria, porém, diferenciavam-se pela origem, finalidade e atividades. Os carbonários matavam se fosse preciso. Nos Estados Pontifícios explodiram grandes desordens. A insatisfação contra o clero, que não permitiam que os leigos ocupassem cargos administrativos, era grande.

Em 1848 o Papa Pio IX é obrigado a refugiar-se em Nápoles, devido à revolução, e lança após alguns meses a encíclica Quibus Quantisque, responsabilizando a Maçonaria pela usurpação dos Estados Pontifícios. Em 1849 é proclamada por uma Assembleia a República em Roma. Nesse momento, Pio IX lançou cerca de 230 condenações contra a maçonaria. Ele e o seu sucessor, Leão XIII, lançaram cerca de 600 documentos de condenações. Em 14 de Maio de 1861, Vítor Manoel é proclamado Rei da Itália Unificada.

Como se vê, a Maçonaria estava condenada. Motivo? A Unificação da Itália… Ideal Carbonário

Em 27 de Maio de 1917 é promulgado por Bento XV, o primeiro Código de Direito Canônico, também chamado de Pio Beneditino onde se refere a Maçonaria da seguinte forma, no seu Cânon 2335:

“Os que dão o seu próprio nome à seita maçônica ou a outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem Ipso Facto, na excomunhão simplificter reservada à Sé Apostólica”.

E mais, recomendava noutros Cânones o seguinte: Que as católicas não se casassem com maçons; que seriam privados de sepultura eclesiástica; privados da missa de exéquias; não seriam admitidos em associações de fiéis; não poderiam ser padrinhos de casamento; não fariam a confirmação do batismo (crisma); não teriam direito ao patronato, etc.

Os Sacramentos proibidos são: Batismo, Eucaristia, Crisma, Penitência (confissão), Matrimônio, Ordenação Sacerdotal e a Unção dos Enfermos. Para atender os anseios dos irmãos católicos, a Maçonaria criou o Ritual de adoção de Loutons, de apadrinhamento, Ritual de Pompas Fúnebres e o Ritual de confirmação de casamento. Em 11 de Fevereiro de 1929 foi criado o Estado do Vaticano pela assinatura do Tratado de Latrão, onde o poder Papal ficava restrito ao Vaticano com 44.000 m2 (anteriormente tinha 41.000 km2) e Pio XI reconhecia a posse política de Roma e dos Estados Pontifícios e afirmava a sua permanente neutralidade política e diplomática, etc.

Com o Tratado de Latrão assinado, encerra-se o processo da Unificação da Itália. O ideal Carbonário fora conseguido e a Carbonária desaparece logo após a Unificação da Itália. Enfim, ficou o estigma da condenação. Em 27 de Novembro de 1983, já sob a autoridade do Papa João Paulo II, foi publicado um novo Código de Direito Canônico, que entrou imediatamente em vigor, reduzindo para 1752 os 2414 Cânones do antigo código.

O Código mais importante, referente à Franco-Maçonaria, é o 1374: “Aquele que se filia numa Associação que conspira contra a Igreja, deve ser punido com justa penalidade; e aqueles que promovem e dirigem estes tipos de Associações, entretanto, devem ser punidos com interdição”. Com isto, a maçonaria está legalmente e literalmente livre do estigma.

Entretanto, no mesmo dia, foi publicada uma Nota no jornal oficial do Vaticano, a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que dizia: “Permanece imutável o juízo negativo da Igreja perante as Associações Maçônicas, porque os seus princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a Doutrina da Igreja, e por isso, a inscrição continua proibida.

Os fiéis que pertencem às Associações Maçônicas estão em estado de PECADO GRAVE e não podem receber a SANTA COMUNHÃO. “Não compete às autoridades eclesiásticas locais, pronunciarem-se sobre a natureza das Associações Maçônicas com um juízo que implica na revogação do que é estabelecida”. A publicação da Declaração foi mais uma acomodação política aos minoritários insatisfeitos, e pode-se dizer a contragosto do Papa. Afinal, ela afrontava uma decisão já tomada e aprovada, logicamente pela maioria de toda a Congregação reunida com a finalidade específica de renovação do Código.

Enfim, com a publicação no novo Código do Direito Canónico, e da declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, o que mudou na relação entre a Maçonaria e a Igreja Católica? Mudou muito pouco em relação ao que se esperava, mas esse “muito pouco” é alguma coisa para quem não tinha nada. É uma esperança.

Paciência e esperança, estas são as palavras

A pacificação total virá com certeza, mas não se pode ter pressa. Já foi um enorme passo a publicação do novo Código de Direito Canônico. Na medida em que, paulatinamente, as luzes se forem acendendo no entendimento de cada autoridade eclesiástica, certamente novos horizontes surgirão. Vimos, pela própria aprovação do Código do Direito Canônico, que a maioria do clero quer a pacificação, senão ele jamais seria aprovado, e é isto que deve acalentar as esperanças dos católicos, e até lhes dar confiança diante das vicissitudes. Se o progresso é lento para a pacificação total, por outro lado, não há nada que justifique um retrocesso no futuro.

Roberto Rocha Verdini

 

Thursday, September 11, 2025

A MAÇONARIA E A PERFEIÇÃO


 

Quando faço uma retrospectiva desde antes da minha entrada para a Maçonaria, lembro-me muito bem da minha expectativa. Após a formalização do convite a primeira questão que me veio à mente foi a seguinte: O que será que a Maçonaria poderá fazer por mim? Em que ela poderá me ajudar? Hoje, passados alguns poucos anos desde a minha Iniciação, percebi que o maior ensinamento que ela poderia me dar, ela já deu: o de que, na verdade, quanto mais nos esforçamos para aprender e crescer, mais consciência adquirimos de que muito pouco ou quase nada sabemos.

A nossa caminhada pela vida torna-se mais interessante numa relação diretamente proporcional ao nosso desejo de conhecimento e auto crescimento. É interessante quando notamos que, na busca da Grande Verdade, vamos cada vez mais e mais adquirindo novos conhecimentos e, ao mesmo tempo, também nos apercebemos do quão pouco sabemos e o quanto ainda temos para trilhar deste caminho de aprendizagem.

Na verdade, a Maçonaria acabou por me dar a maior lição que talvez eu jamais tenha tido em toda a minha vida: a de que antes de perguntarmos o que ela poderá nos dar, deveríamos perguntar-nos o que é que nós podemos e devemos dar ao Planeta através dela. Digo isto porque hoje não tenho dúvidas de que o fato de ser Maçom é apenas uma graça que me foi concedida, um instrumento e um caminho que me foi aberto graciosamente, através do qual eu possa traduzir em gestos e atitudes concretas a minha contribuição para o engrandecimento do ser humano e da Gloriosa Criação do GADU.

Muitas vezes incorremos no erro de duvidar da nossa capacidade de transformar o mundo, achando que de nada adiantaria o nosso esforço pessoal para provocar transformações que venham beneficiar a humanidade. A cada passo que damos rumo ao auto crescimento já estamos colaborando para melhorar a consciência coletiva da humanidade, da qual fazemos parte, quer queiramos ou não. Hoje não tenho dúvidas de que a Maçonaria espera que todos nós possamos contribuir cada vez mais e mais para atingirmos uma consciência universal de civilização planetária iluminada.

Esta contribuição só será possível a partir do momento que tomarmos plena consciência de que há muito trabalho a ser feito e não há mais tempo a perder.

No mundo profano, com raras exceções, notamos que as pessoas que ocupam cargos de destaque, ou até mesmo posições de chefia de pequena escala, fazem questão de ostentá-la com um orgulho desmedido, até mesmo próximo da presunção. O que nós necessitamos, com a maior brevidade possível, é entender que qualquer posição que venhamos a ocupar em qualquer área, subentende uma maior responsabilidade e maior capacidade de doação da nossa energia para bem desempenhar o nosso papel.

Quanto mais alto o cargo que se venha a ocupar, maior será a nossa responsabilidade no que tange ao desempenho que teremos de ter. Não obstante, por inúmeras vezes, observamos que as pessoas entendem que um cargo ou uma posição elevada e de destaque é meramente um prémio para que possamos lustrar o nosso orgulho.

Dentro da Maçonaria devemos praticar cada vez mais e mais o exercício da Humildade para estarmos sempre atentos e nunca incorrermos na soberba. O verdadeiro Maçom é aquele que tem a noção da responsabilidade dos Graus que possui ou dos Cargos nos quais está investido. Não podemos perder de vista jamais a exata noção de que, quanto mais alta a posição que se possa ter perante os irmãos, imensamente maior se torna a responsabilidade, seriedade, dedicação, amor e humildade que deveremos ter para bem desempenhar as nossas tarefas.

Quando tudo isso começa a nos preencher e apontar a direção que devemos seguir, vez por outra somos assaltados por um questionamento interior que tenta nos cobrar o fato de sermos tão imperfeitos. Nesta hora parece que tudo desmorona e a apatia tenta instalar-se furtivamente nos nossos corações. Sobretudo porque a nossa meta de desenvolvimento pessoal é a busca da Perfeição.

Neste particular devemos estar sempre atentos para não tornarmos a nossa vida num inferno inútil, através de cobranças demasiadas e autoflagelos pessoais. Ao reconhecermos que erramos devemos conceder sem demora o auto perdão, assimilar o fato de que a nossa existência é na verdade o nosso laboratório pessoal de autoconhecimento, autoaprimoramento e evolução.

É muito interessante quando resolvemos prestar mais atenção nos factos e nas ocorrências do nosso dia a dia. Geralmente costumamos atribuir muitos acontecimentos ao simples acaso, a meras coincidências. Porém, em algum momento sempre um pouco mais a frente começamos a nos aperceber e até mesmo a entender fatos passados, enxergando com muito mais clareza que a vida não é feita de casualidades, mas sim de causalidades.

Por tudo isso é que acho necessário que pratiquemos muito a humildade durante todos os trabalhos da nossa vida. Se cometermos o equívoco de viver lustrando o nosso Ego com autossuficiência e zelo desmedido é certo que, quando da tomada de consciência da nossa pequenez diante da Gloriosa Criação, o tombo será demasiado grande, aumentando ainda mais as dificuldades que enfrentaremos para reerguermo-nos.

Necessário se faz, portanto, que inicialmente assumamos esta nossa condição de imperfeição, não como um castigo ou como uma condenação eterna, mas antes como um grande, e porque não dizer também, grandioso caminho a percorrer rumo a esta tão almejada e distante perfeição.

Porém é preciso que não nos deixemos abater por tantos obstáculos que certamente temos encontrado nas nossas vidas e pelos que ainda virão, pois o GADU certamente espera que venhamos a atingir os estados de consciência que Ele traçou para nós para que possamos integrar cada vez mais e com maior poder de engajamento esta maravilhosa Criação Abençoada.

Não devemos, contudo, assumir uma postura de conformação com o nosso atual estado de desenvolvimento. Precisamos aprender a lidar com as nossas limitações de forma tal que possamos expandir cada vez mais e mais os seus limites. Para isso se faz necessário que, antes de mais nada, comecemos a amar e respeitar este nosso laboratório pessoal que é a nossa existência, não deixando que o abatimento, a desesperança e o desalento tenham espaço nas nossas vidas.

Imediatamente após a tomada de consciência que um fato, uma atitude ou uma simples ideia não irá colaborar para o nosso aprimoramento moral e formação de caráter é preciso que adoptemos uma postura de compreensão e perdão, não só com pessoas ou agentes externos que tenham porventura sido os protagonistas da situação, mas também e, sobretudo conosco, pois, certamente, iremos notar que na grande maioria das vezes e porque não dizer sempre, estamos apenas recebendo de volta as frequências de energia que emitimos para o Universo.

Só o fato de reconhecermos esta simples verdade já nos torna mais capazes de trilhar este longo, difícil, intrincado, mas, sobretudo, maravilhoso caminho rumo à Perfeição.

José Luis Crepaldi

 

Thursday, September 4, 2025

MORAL, ÉTICA E CARÁTER


A ética e a moral são fundamentais para manter a harmonia dentro de uma loja, pois, quando qualquer uma delas falta, a discórdia e a desunião rapidamente se instalam, afetando não só as sessões, mas também os momentos que as antecedem e sucedem. De fato, sua ausência enfraquece o progresso dos trabalhos, já que a falta de unidade entre os Irmãos compromete as atividades em andamento.

O filósofo Mário Sergio Cortella explica que a ética pode ser compreendida como um conjunto de valores e princípios que utilizamos para responder a três questões essenciais da vida: Quero? Devo? Posso?

Nem tudo o que desejamos é possível; nem tudo o que é possível é recomendável; e nem tudo o que é recomendável é aquilo que realmente queremos. Assim, encontramos a paz de espírito quando aquilo que queremos coincidir com o que podemos e devemos fazer, o que significa que, acima de tudo, a ética é uma questão de escolha.

Além disso, enquanto a moral está enraizada na obediência aos costumes e hábitos herdados ao longo do tempo, a ética busca fundamentar essas ações por meio da razão, fornecendo uma base racional para a conduta moral. Como resultado, embora estejam intimamente ligadas, ética e moral não são idênticos.

A ética representa o conhecimento acumulado sobre o comportamento humano e procura explicar, de maneira racional, científica e teórica, as regras que compõem a moral, funcionando como uma reflexão sobre ela.

Já a moral, por sua vez, está esculpida nos costumes, normas e comportamentos aceitos como bons por uma comunidade, oferecendo orientação diária para as ações e julgamentos de cada indivíduo sobre o que é certo ou errado, bom ou mau. Dessa forma, essas normas estabelecidas servem como luzes-guia para as pessoas, moldando suas ações e percepções.

Considerando que a Maçonaria é uma fraternidade (termo que implica parentesco entre irmãos), é natural que certos valores devam prevalecer em toda a ordem. O amor ao próximo, a harmonia, a amizade, a união e a convivência fraterna devem estar sempre presentes, pois, a Maçonaria, em sua essência, incorpora a ética tanto no conceito quanto na prática. Por isso, códigos morais rigorosos e sistemas de valores elevados devem nortear a conduta de todos os maçons.

Assim, o Maçom é chamado a manter um padrão elevado de conduta moral, tanto na vida privada quanto na pública, destacando-se pelo respeito, comportamento impecável e compromisso constante com o Bem. É por meio dos valores morais que cumprimos nossos deveres como membros da sociedade em geral e, especialmente, da sociedade maçónica.

Por fim, é da ética que flui o caráter. O caráter é o conjunto de traços e qualidades que definem como uma pessoa ou grupo age e reage. É a fibra moral, a firmeza e a coerência nas atitudes. Um caráter forte não vacila diante de atalhos ou soluções fáceis; mesmo quando o caminho mais simples parece atraente, é o caráter, moldado pela convicção ética, que determina a escolha do indivíduo.

Ilustro tudo isso com uma história de Patrícia Fripp que exemplifica exatamente o que se espera de um bom carácter, de uma pessoa com moral e que siga um código de ética alinhado com a maçonaria:

“Era uma tarde de domingo ensolarada na cidade de Oklahoma. Bobby Lewis aproveitou para levar seus dois filhos para jogar minigolfe.

Acompanhado pelos meninos dirigiu-se à bilheteria e perguntou:

— Quanto custa a entrada?

O bilheteiro respondeu prontamente:

— São três dólares para o senhor e para qualquer criança maior de seis anos.

— A entrada é grátis se eles tiverem seis anos ou menos. Quantos anos eles têm?

Bobby informou que o menor tinha três anos e o maior, sete.

O rapaz da bilheteria falou com ares de esperteza:

— Se tivesse me dito que o mais velho tinha seis anos eu não saberia reconhecer a diferença. Poderia ter economizado três dólares.

O pai, sem perturbar-se, disse:

— Sim, você talvez não notasse a diferença, mas as crianças saberiam que não é essa a verdade.”

Fábio Serrano, M. M. – R. L. Mestre Affonso Domingues nº 5 (GLLP / GLRP)

Fonte:

Blog: A Partir Pedra

Monday, September 1, 2025

ARTE REAL – REFLEXÃO DE UM MESTRE MAÇOM


 

Permitam-me, Meus Queridos Irmãos que regresse novamente a um dos epítetos mais conhecidos atribuído à nossa augusta Ordem Maçônica: aquele que a intitula de Arte Real.

Para que não subsistam dúvidas quanto aos termos usados ou numa tentativa de os aclarar existe a necessidade de nos aproximarmos do seu sentido mais puro. Arte, provém do étimo latino “ars, tis” e o seu sentido etimológico designa uma habilidade adquirida, a qual se opõe às faculdades concedidas pela natureza e, por outro lado, ao conhecimento rigoroso da realidade, da ciência ou scientia. Mas este termo deriva de outro ainda mais específico. Como sabemos, a língua latina absorve muito dos étimos gregos, de onde recolhe a semântica e os transforma para o seu uso, nem sempre com a abrangência que estes possuíam para os helenos.

No mundo grego, a arte ou a atividade artística não era entendida exclusivamente como uma habilidade para criar algo estético, como para os romanos. Na verdade, num sentido mais remoto, para os gregos, a palavra τέχνη [1] estava relacionada ao vínculo mestre-discípulo. O mestre conhecedor de uma determinada habilidade transmitia uma série de ensinamentos a um discípulo para desenvolver tal destreza. Esta ideia apresenta um quadro de referência geral, pois tudo o que sabemos foi previamente ensinado por alguém.

Quanto ao adjetivo posposto “Real” existem duas hipóteses que poderão trazer-nos luz sobre a sua semântica e que apesar de aparentemente opostas, veremos mais à frente como estas se complementam. A primeira hipótese é a de que provém do étimo latino “regalis” que por sua vez é um vocábulo formado a partir de “rex, gis” que tem a mesma raiz indo-europeia *reg (direito, gerir, guiar, comandar em linha reta) de reger, ou seja, governar. A segunda hipótese é que tenha provindo do étimo latino “realis” cujo sentido é o de “verdadeiro, real”.

De fato, estes dois sentidos não se opõem, antes se complementam, pois se é verdade que ao nos propormos o caminho maçônico deveríamos estar comprometidos em seguir por um caminho reto e virtuoso, outra coisa então não é de esperar que a verdade (verdade nos propósitos, verdade nas ações, verdade na responsabilidade, verdade para consigo mesmo e para com os demais, verdade nos ideais, etc.) esteja intrinsecamente presente não só no caminho, como principalmente no caminhante e por extensão na própria caminhada.

A Arte Real era chamada na Idade Média, à ciência conhecida pelos construtores de edifícios de estrutura complexa – as catedrais, ciência esta que ninguém, além deles dominava; por outro lado, também nesse período a Arte Real foi um dos nomes do trabalho dos alquimistas. Tanto os construtores de catedrais medievais quanto os Alquimistas tinham algo em comum: no seu ofício não se limitavam a um mero processo mecânico e material, ao desenho e fabricação de paredes e arcos, ou à tentativa de purificar metais.

Os antigos maçons (construtores e alquimistas, portanto) descobriram, graças ao seu trabalho, uma transcendência que preencheu as suas vidas e que ia muito além da mera manipulação de objetos. Os antigos pedreiros operativos criaram uma sociabilidade: a elevação de uma abóbada cruzada ou a procura da pedra filosofal deram origem a novos modos de ser, de se comportar e de compreender a vida.

Como daqui podemos depreender, as Antigas Guildas [2] dos Construtores Medievais são o berço histórico, simbólico e filosófico da Maçonaria tal como hoje a conhecemos. Assim, derivada dessas corporações medievais, recebeu a sua estrutura e os seus graus iniciáticos, bem como o sublime simbolismo representado pela Arte de Construir que, para a Maçonaria, constitui uma arte sagrada e espiritual representada através do ritual.

Tanto a estrutura, graus e ritual recebidos, foram inevitavelmente aperfeiçoados, adaptados e evoluídos ao longo dos tempos, mantendo sempre a sua essência: a do apelo ao interior da terra, ao que há de mais profundo e sublime em cada Homem, para lá descobrir a sua essência divina, que o torna partícipe do poder de criar e de se recriar.

Para lá descobrir, que não é único, mas que forma parte de um todo metafísico, que está para além das leis do tempo e do espaço.

A Maçonaria Regular atua simbólica e ritualmente na construção do Templo Universal dedicado à glória do Grande Arquiteto do Universo, que considera como um Princípio Espiritual que dirige e orienta os seus trabalhos e cuja influência é transmitida ao neófito através do Ritual de Iniciação [3].

Esta construção é simultaneamente interior e exterior. É interior todas as vezes que o Maçom, qual templo da divindade permite que o espírito divino se manifeste; é exterior porquanto este maçom é uma pedra que conjuntamente com os seus Irmãos de Loja ergue o Templo “de todos os tempos que se estende sobre a face da terra”. A Arte Real da Maçonaria tem início na expressão do simbolismo da pedra bruta no trabalho do aprendiz iniciado, pedra que devemos lapidar continuamente a fim de que despojada de toda a sua aspereza se aproxime gradualmente da forma consoante não só à realidade do que somos, mas também ao destino que nos espera.

Assim, este desbastar a Pedra é uma forma maçônica de dizer que o aprendiz – o Maçom em geral – trabalha sobre si mesmo para se livrar de preconceitos, vaidades, superficialidades e do mundo ilusivo das formas que o homem aprende e imita no “mundo profano”, mundo ao qual deve renunciar e morrer a fim de renascer como um novo homem. Esse trabalho é feito pelo pedreiro com três ferramentas: o maço, o cinzel e a régua.

O simbolismo destes artefatos de construção é essencial para a construção da personalidade maçônica. A Arte Hermética, ou Arte Real, ou Arte Régia é, pois, um dom para o qual muitos são escolhidos, mas poucos são convidados e não me refiro a convites pessoais para a nossa Ordem. Esses, valem o que valem. A Iniciação é uma interpelação que poucos homens vivenciam e que permite que eles se afastem do mundo exterior, se aproximem de si mesmos, com o fim de conviverem com os demais em plenitude de sabedoria e comunhão fraterna.

A Arte Real é, então, um processo de transformação, uma mudança gradual do homem que aos poucos abandona as asperezas, arestas e excrescências da sua personalidade profana e grosseira a fim de se aproximar do seu Templo interior, isto é, da introspeção profunda que o conduz a Luz da Verdade que o habita, que vem da iluminação pela compreensão da verdadeira essência de Deus e do Homem, para além das crenças, dogmatismos e formalismos do culto religioso.

Esta visão interna, que nasce da transformação exterior até à interior – ou como dizemos muitas vezes, do desbastamento da Pedra Bruta – é o que a Maçonaria chama de “polir a pedra”, ou seja, torná-la cúbica, mas como uma evolução da pedra bruta que aos poucos vai abandonando as suas formas para avançar na melhoria contínua da sua personalidade. Por isso, em vão trabalha se esforça o Maçom se as suas obras não forem dignas da Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Sérgio C., M. M. – R. L. Miramar, nº 36 (GLLP / GLRP)
07.11.6023 (A.L.)

Notas

[1] “tékhne” – significa “arte”, “habilidade”, “técnica” ou “ofício”.

[2] Atente-se no valor semântico de Guilda e nunca de agremiação.

[3] Aqui se vê a importância do rigor em ser cumprido e da dignidade em ser executado.

 

Friday, August 29, 2025

A INICIAÇÃO MAÇÔNICA

Os ritos de passagem são frequentemente integrados por referências ou representações à vida anterior dos que se submetem ao rito (de onde vens), por uma ou mais provas que devem ser superadas (o que és) e por referências ou representações daquilo a que se acede (para onde vais), designadamente aos deveres ou obrigações inerentes à nova situação que é atingida.

O rito de passagem que é a Cerimônia de Iniciação maçônica não foge a este estereótipo. Tem, porém, a característica de, após uma fase inicial, destinada à preparação psicológica e interior do candidato, tudo isso ocorrer em simultâneo.

Durante praticamente todo o decurso da Cerimônia de Iniciação, processam-se, em simultâneo, simbólicas referências à vida passada do profano em geral (e, portanto, também do candidato), ocorre a prestação de provas pelo candidato, por cuja submissão e consequente superação, também simbolicamente, se processa a transformação da realidade anterior para a realidade futura e apresentam-se ao candidato os princípios morais que devem por este ser seguidos como elementos verazmente identificadores e conformadores da sua nova condição, a de maçom.

Durante todo este processo, o candidato é o centro da Loja – e, na medida em que esta simboliza também o Mundo, o candidato é o centro do Mundo. Tudo começa e acaba nele. Tudo a ele se refere. Tudo se destina a ser percepcionado, apreendido, sentido, em suma, vivido, por ele.

Porque assim é, tudo é organizado para que o máximo de atenção do candidato esteja concentrado no que se passa. Quando é que a nossa capacidade de atenção está no seu nível máximo? Quando estamos perante o desconhecido. Daí a importância de que o candidato ignore o que se vai passar.

Mas o objetivo principal da Cerimônia de Iniciação é TRANSFORMAR um profano num maçom. Importa, então, que esta efetue essa transformação. Para que tal ocorra, há que causar uma impressão no candidato, que seja o agente dessa transformação.

Isso não ocorre com a mera leitura de um texto ou a simples exposição de normas de conduta, ou sequer com a prestação de provas que, na realidade, são tão acessíveis que não há memória de terem sido falhadas. Isso ocorre com a integração de tudo isto num conjunto e numa ambiência que, vividos em direto, sem avisos prévios, sem se saber o que virá a seguir, efetivamente marquem o candidato. O que se procura é que quem se submeter a uma cerimônia de iniciação maçónica nunca a esqueça, em dias de sua vida!

Para tal, o candidato é o centro de interesse de toda a atuação de toda a Loja durante todo o tempo em que decorre a sua iniciação, em toda a sua integralidade. Procura-se atingir, tocar, todos e cada um dos cinco sentidos do candidato. É importante, assim, tudo o que o candidato vê (e o que não vê…), tudo o que ouve e entende (e tudo o que, ouvindo, não entende, no momento…), tudo o que cheira, tudo o que saboreia, tudo o que sente (e tudo o que se passa sem que ele diretamente sinta…).

A Cerimônia de Iniciação maçônica é uma cerimônia complexa para quem a executa e para quem a ela é submetido. Para quem a executa, porque, para ser feita de forma a que ela atinja os seus objetivos, se impõe concentração, coordenação e cooperação de todos os presentes, pois todos, realmente todos, os membros de uma Loja presentes participam na Cerimônia de Iniciação e contribuem para a criação do clima que permitirá o desabrochar de um maçom no interior de quem a essa cerimônia é submetido. Para este, porque, impreparado, despojado e indefeso, enfrenta uma aluvião de sensações que – sabemo-lo! – lhe será impossível devidamente processar no momento. Mas é por isso mesmo que a Cerimônia de Iniciação é marcante!

Uma Cerimônia de Iniciação bem executada, bem vivida, será fonte de ensinamento e reflexão ao longo de toda a vida. Não será imediatamente compreendida na sua integralidade. Mas isso não importa. O que importa é que marque quem a ela se submeteu. Marcará quando é vivida. Marcará de novo quando, pela primeira vez, o então já maçom assistir à iniciação de outrem. Voltará a marcar sempre que assistir a uma iniciação, sempre que executar uma função numa iniciação, sempre que dirigir uma iniciação.

E, se a sua Iniciação for proveitosa, se o maçom souber dela tirar toda sua lição e a aplicar ao longo do resto de sua vida, desejavelmente quando chegar o momento da sua Suprema Iniciação, do Derradeiro Ritual de Passagem, da sua Passagem ao Oriente Eterno, recordar-se-á do dia em que esteve, impreparado, despojado e indefeso, perante o Desconhecido e passou adiante e… não temerá!

Rui Bandeira

 

 

Saturday, August 23, 2025

A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DA MAÇONARIA


 

Para se falar na Origem Documentada da Maçonaria, foi preciso fazer esse giro pelos arraiais da Maçonaria Mística. E depois demonstrar que até o ano 1000, o que servia de proteção, como Casa e Lar do homem – era a Madeira. E que a profissão que predominava e sobressaia, era a de Carpinteiro e Marceneiro. Tanto era verdade, que as primitivas Organizações – as Guildas – eram compostas de homens que praticavam essas duas Antigas Profissões.

Com o advento das Construções de Pedras e Alvenarias, começa a florescer e destacar-se outra profissão – a dos Canteiros, Entalhadores. Isso começou a acontecer a partir do século XII. Grandes quantidades de guerreiros seguiram na Primeira Cruzada, rumo à Cidade Santa de Jerusalém, que estavam nas mãos dos Sarracenos, dos Infiéis.

Nas Estradas precárias da Europa, grupos de Salteadores e Bandoleiros cresciam em número e em audácia. As Propriedades do começo do 1º século do 2º milênio eram atacadas por hordas de famintos e estrangeiros. Daí a necessidade de se erguerem muralhas, fortalezas para proteger os Burgos e seus proprietários, famílias e servos.

O Cristianismo estava em pleno progresso. Povos e mais povos eram catequizados pelos Soldados de Cristo – isto é, Bispo de grandes capacidades de catequeses. E a Igreja ao receber Reis e a Nobreza, em suas fileiras, passou a contar, também, com uma ajuda financeira muito grande de seus novos Fiéis.

E com dinheiro se faz muitas coisas. Então aqueles feios amontoados de madeira sujeito ao fogo e aos raios e outros fenômenos da natureza, começavam a dar lugar às Grandes Catedrais de Pedras, como mostramos logo no início deste trabalho.

Entre os anos de 1100 e 1300, milhares de Igrejas, Catedrais, Mosteiros, conventos etc. foram erguidos na Europa. E para dar conta de tanto trabalho, uma leva de homens foi se especializando na arte de construir.

Uma Arte Antiga, mas pouco divulgada. E essa leva de Profissionais de Pedra, precisava se organizar. Precisavam de um Estatuto. Precisavam de um espaço só seu. Foi então que Doze Freemasons (Pedreiro especializados em trabalhar na Pedra Franca), liderados por Henry Yevele, é bom guardar bem esse nome – Henry Yevele, nasceu em 1320 e morreu no ano de 1400 – foram até a Prefeitura de Londres, levando um esboço de um Estatuto do Trabalhador da Pedra e, numa audiência com o Alderman (Prefeito) e os Edis, apresentaram seu esboço de Estatuto, onde previa, além da Obediência às autoridades locais, também previa uma fidelidade (quase canina), ao Rei e à Religião Vigente, e, ainda, um pedido para que suas reuniões fossem fechadas, sem a presença de pessoas que não estivessem ligadas a ela.

Esses 12 homens saíram daqui, do local onde está Igreja, Antiga Guilda – desta Guildhall, no dia 2 de fevereiro de 1356. É bom repetir – dois de fevereiro de 1356.

Aqui está o Berço, o Dia, o Mês e o Ano do Nascimento da Maçonaria Documentada. Enquanto não apresentarem outro Documento, confiável, mais antigo. Este Documento que se encontra ainda hoje, na Biblioteca da Prefeitura de Londres, levará a glória e terá o privilégio de ser o Documento Maçônico mais antigo.

Mas para que não surja ou permaneça nenhuma dúvida, segundo o pesquisador da Quatuor Coronati, o Irmão G. H. T. French:

“O Primeiro Código ou Regulamento dos Maçons da Inglaterra, é datado de 2 de fevereiro de 1356, quando, como resultado da disputa entre Carvoeiros e Maçons, Pintores, Doze Mestres de uma Obra, representando aquele ramo da Arte de Construir, foram até ao Prefeito e Edis de Londres, na sede da Prefeitura e eles obtiveram uma Autorização Oficial, para que fizessem um Código e um Regulamento Interno, para a Instalação de uma Sociedade e, acabar, de vez, com a disputa e, também, para que de uma forma geral, ajudasse nos Trabalhos.

O Preâmbulo do Código confirma que aqueles homens, foram lá, realmente juntos; porque o seu Ofício, até então, não havia sido regulamentado, de nenhuma forma pelo Governo do Povo, como já acontecia com outras Profissões.”

Essa Sociedade dos Maçons (The Fellowship os Masons) durou, ou prevaleceu sozinha durante 20 anos – até 1376, quando foi fundada a Companhia dos Maçons de Londres.

Incidentemente, a primeira Regra desse Regulamento, regido naquela ocasião, como objetivo da “Delimitação em Disputa”, quando estabelecida “que, muitos homens da profissão podiam trabalhar em qualquer serviço relacionado com sua profissão, desde que ele fosse perfeitamente hábil e conhecesse muito bem a profissão.”

Daí por diante, eles passaram a trabalhar segundo esse Código. E muitos outros foram surgindo, formando o que chamamos de Old Charges, ou Constituições Góticas.

*Colaboração do Ir.·. Renato Burity extraído de “O Aprendiz Maçom” de Francisco de Assis Carvalho, saudoso Xico Trolha.

Tuesday, August 19, 2025

VELHOS IRMÃOS, FORTES COLUNAS.


Essa crônica é uma homenagem viva aos fundadores da nossa Loja e aos Irmãos mais experientes que, com sabedoria e perseverança, nos legaram o que hoje temos o privilégio de continuar.

A pressa moderna por vezes não combina com quem já viveu mais. E é justamente essa incompatibilidade que alimenta um dos preconceitos mais ignorados da atualidade: o etarismo.

O incômodo com os mais experientes vem, em parte, da nossa dificuldade em aceitar a passagem do tempo. “Eles naturalmente ficaram mais lentos, não andam tão rápido, falam mais devagar — e isso as vezes incomoda a alguns”. Por vezes de forma consciente e desrespeitosa, outras inconscientemente. O que parece apenas falta de paciência esconde uma intolerância real com quem envelheceu e agora é visto como estorvo em uma sociedade que, em 99% das situações, valoriza apenas o desempenho.

O etarismo não é algo perceptível e gritante. Ele acontece quase sempre em pequenos gestos e detalhes: cortando uma fala, suspirando com impaciência, ignorando uma opinião. E tudo isso vai minando o espaço social dos idosos sem que percebamos. Dentro e fora da nossa Ordem. O resultado é um ambiente onde o Irmão idoso precisa se adaptar ou se esconder. Não há espaço para desacelerar, refletir ou simplesmente ocupar o tempo com o próprio ritmo. O Irmão excluído acaba se afastando e deixando de ir às reuniões. É preciso acolhimento.

No mundo profano e na Maçonaria, essa exclusão vem disfarçada de eficiência: “Você anda devagar na rua e o outro já buzinou atrás. Virou um incômodo”. O mundo não está mais preparado para quem caminha fora do ritmo da pressa coletiva. Essa lógica é cruel porque desumaniza. Deixa de ver o idoso como pessoa para tratá-lo como obstáculo. Como se sua presença prejudicasse o andamento da vida dos outros, e da Loja que ajudaram a erguer e manter de pé.

Fingimos que nunca vamos envelhecer. E esse medo se transforma, frequentemente, em desprezo por quem já chegou lá. “Os Irmãos mais jovens acham que não vão envelhecer. Mas vão”.

Esse tipo de pensamento pode criar distância entre gerações e alimentar o ciclo do preconceito. Ignoramos os idosos para não confrontar o próprio futuro e, com isso, normalizamos a exclusão. A rejeição ao idoso é, muitas vezes, uma recusa simbólica ao tempo. E isso compromete a possibilidade de construir uma sociedade mais acolhedora, mais justa e preparada para o envelhecimento populacional.

Na Maçonaria, cada Irmão é um pilar. Alguns são alicerces que sustentam o Templo desde sua fundação. Honrá-los não é apenas justo — é essencial. Afinal, o Compasso e o Esquadro não distinguem a idade da pedra, apenas a sua firmeza e retidão.

Na simbologia do Templo, a Coluna da Sabedoria representa justamente a experiência, o discernimento e o conhecimento acumulado — qualidades encarnadas por nossos Irmãos mais velhos. Ignorar sua presença é fragilizar nossa própria estrutura.

E se a Fraternidade é o cimento da Maçonaria, que sentido teria deixarmos que nossos Irmãos mais experientes se sintam alheios ao convívio da Loja que ajudaram a construir?

“Vamos ter que nos preparar para viver numa sociedade mais velha.” Os dados mostram que nossa população está envelhecendo, mas as atitudes ainda parecem presas ao passado. Incluir os mais velhos exige mudar o olhar. Isso envolve escutar mais, julgar menos e entender que a vivência acumulada é uma riqueza, e não um peso.

Valorizar o idoso é, acima de tudo, valorizar a própria humanidade. Porque envelhecer é um privilégio. E a forma como tratamos os outros agora define como seremos tratados depois. Na vida profana e na caminhada Maçônica.

Como cantava Renato Russo, no clássico "Pais e Filhos":

“Você culpa seus pais por tudo, e isso é absurdo. São crianças como você, o que você vai ser quando você crescer?”

Na Bíblia, nosso livro da sabedoria, salmo 71:9 está escrito: "Não me rejeites na minha velhice; não me abandones quando se esgotar a minha força."

É nosso dever ter carinho e respeito com nossos Irmãos mais experientes, que carregam a sabedoria dos dias vividos e a história de nossa Oficina.

Um dia, se o GADU assim nos permitir, seremos nós os "velhinhos da Loja". E o que plantarmos hoje em acolhimento será o que colheremos amanhã.

Que esta pequena reflexão inspire respeito, inclusão e consciência — dentro e fora do Templo.

Autor: Cristiano de Lima Aguiar

*Cristiano é Mestre Maçom da A.R.L.S. Deus Pátria e Família – Oriente de Corinto/MG – GLMMG.

 

Thursday, August 14, 2025

A IGUALDADE COMO PEDRA FUNDAMENTAL: QUANDO A IGUALDADE DEIXA DE SER SIMBOLISMO

Nossa Ordem aprendeu, desde cedo, que “todos os homens são livres e iguais em dignidade”. Esse mandamento foi lapidado muito antes de qualquer ideologia contemporânea. Ele nasceu da chama da fraternidade entre Irmãos — e se expressa hoje no desejo de uma sociedade mais justa.

No Brasil contemporâneo, têm ganhado força discussões que propõem tornar o sistema tributário menos desigual. Entre as medidas em debate, estão iniciativas que buscam aliviar a carga de impostos sobre quem tem rendimentos mais modestos e reequilibrar a contribuição daqueles que detêm maior riqueza, por meio de alíquotas mínimas sobre lucros e dividendos elevados. Essas propostas procuram corrigir uma distorção histórica: o fato de que, proporcionalmente, os mais pobres sempre pagaram muito mais que os mais ricos.

Importa dizer que não se trata de estimular divisões ou fomentar uma luta de nós contra eles, pobres contra ricos. Essa mentalidade de enfrentamento apenas agrava as feridas coletivas e enfraquece o ideal de unidade. Mas também não podemos fechar os olhos para uma desigualdade que é antiga, profunda e concreta, e que nega a muitos a dignidade que afirmamos ser um direito universal.

“A pior de todas as tiranias é a que oprime o homem por meio da lei.” — Rui Barbosa

Se ontem a lei autorizava a escravidão, hoje ela muitas vezes se omite diante de desigualdades que transformam milhões de trabalhadores em mantenedores involuntários de privilégios. Talvez seja ousado afirmar que existe uma forma de escravidão moderna, mas é inegável que o peso desigual da carga tributária perpetua um cativeiro econômico silencioso. A legalidade vigente pode ser usada para mascarar a opressão, tornando a tirania ainda mais perversa ao se apresentar como legítima.

Na Arte Real, é o Nível que nos recorda, sempre, que todos somos iguais diante do Grande Arquiteto e do tempo. O Esquadro, por sua vez, nos ensina a agir com retidão e a manter o justo equilíbrio em nossos julgamentos. E se a balança, como símbolo universal da Justiça, paira sobre todas as sociedades humanas, entre nós ela se harmoniza com esses instrumentos, lembrando que a igualdade não é concessão — é direito de todos.

Esse movimento por justiça fiscal reflete o princípio maçônico da igualdade: não se trata de combater pessoas, mas de construir um templo social onde ninguém esteja acima dos demais. A Maçonaria foi, por vocação, aliada da causa igualitária — de abolicionistas a defensores do voto universal. Nosso templo metafórico, feito de pedra bruta lapidada pela razão, só faz sentido se seu entorno também se harmonizar.

Portanto, toda proposta que caminhe no sentido de tornar a tributação mais progressiva — qualquer que seja o governo ou a época — é expressão de uma solidariedade civil: reconhecer o fardo injusto que pesa sobre os mais vulneráveis e promover alívio real, em nome da dignidade.

Claro: há críticas legítimas — sustentar serviços públicos, evitar evasão fiscal, controlar a inflação. Mas se nos perguntarmos: qual é o objetivo último da Igualdade? a resposta maçônica é clara: permitir que todos tenham acesso a oportunidades, liberdade e fraternidade — dentro e fora do Templo.

Conclamo, então, cada Irmão e cada cidadão a refletir:

Se afirmamos que somos iguais diante do Compasso e do Esquadro, por que tolerar um sistema que perpetua privilégios e nega justiça? Seria essa a Luz Progressista necessária para iluminar nossos caminhos nas nossas cavernas contemporâneas?

Autor: Cristiano de Lima Aguiar

*Cristiano é Mestre Maçom da A.R.L.S. Deus Pátria e Família – Oriente de Corinto/MG – GLMMG

 

 

Saturday, August 9, 2025

EXAMINE SEU PRIVILÉGIO E O OLHAR COMPASSIVO DO INICIADO


 

 I. Privilégio Invisível: O que não percebemos, mas carregamos

Em nossa caminhada iniciática, somos lembrados de que todos iniciamos pela mesma porta estreita. No entanto, esquecemos que cada um de nós veio de um ponto diferente do caminho profano. Alguns foram preparados pelo destino com famílias estruturadas, educação formal, exemplos éticos; outros, contudo, vieram feridos, sem referências e marcados por realidades adversas.

Devemos ter um alerta: “Corpos frágeis requerem mais cuidados”. Da mesma forma, almas que não foram nutridas com valores superiores exigem mais paciência, atenção e formação. O privilégio aqui não se refere apenas ao material, mas ao simbólico e espiritual.

 II. Formação Espiritual: Nem todos estão prontos ao mesmo tempo

A Maçonaria é uma escola iniciática e espiritual. É nosso dever entender que cada irmão está em um estágio de consciência diferente. Como o jardineiro que não exige que todas as flores desabrochem ao mesmo tempo, devemos reconhecer que a formação da alma exige tempo, cuidado e, principalmente, empatia.

A filosofia mostra no texto, o “cuidado da alma”. E isso é Maçonaria em sua essência: transformar o ser pela paciência, pelo exemplo e pela instrução contínua.

 III. O Dever do Iniciado: Compreender antes de julgar

No silêncio do Templo, muitas vezes ecoa um julgamento silencioso: “Por que ele ainda não aprendeu?” ou “Por que não age corretamente?”

Mas o Iniciado verdadeiro sabe que julgar é um instinto do ego, enquanto compreender é uma virtude da alma desperta. O privilégio de ter sido orientado, instruído, amado ou inspirado deve nos conduzir à humildade, não à arrogância.

Ser tolerante não é ser permissivo; é compreender a raiz do erro antes de aplicar o cinzel da correção. É erguer o irmão com o compasso da empatia e guiá-lo com a régua do exemplo.

IV. Trabalhar com o que se tem

Há Irmãos que chegam à Ordem com luzes já acesas. Outros ainda tateiam no escuro. Mas todos carregam uma centelha. O Iniciado deve ser aquele que, reconhecendo seus privilégios e oportunidades, transforma isso em ferramenta de serviço ao coletivo, e não em trono de julgamento.

CONCLUSÃO: O privilégio é oportunidade de servir

A reflexão que se impõe não é sobre o quanto sou melhor, mas o quanto posso ser mais útil por ter recebido mais.

A verdadeira iniciação se revela quando passamos a ver no erro do outro uma oportunidade de ensinamento, não de condenação.

Se a Maçonaria é escola, somos todos aprendizes — e os mais sábios devem ser os mais pacientes.

Se temos o privilégio da consciência, que ela nos sirva para acender a tocha daqueles que ainda caminham nas sombras.

Assim seja, no Oriente Eterno da Luz.

E lembrem-se, a humildade precede a honra.

A/D

Tuesday, August 5, 2025

A VOZ SILENCIADA DAS COLUNAS


Venerável Mestre, Digníssimos Vigilantes, Respeitáveis Irmãos

Permitam-me, com humildade e fervor, compartilhar convosco não apenas uma reflexão, mas um chamado. Um grito silencioso que ecoa entre as Colunas, clamando por escuta, por verdade, por coragem.

Vivemos um tempo estranho, em que muitos juram pela espada do Compromisso, mas ajoelham-se diante da conveniência. Onde o silêncio do Aprendiz é mais ruidoso que a fala dos Mestres, e o Companheiro, que deveria subir a escada da compreensão, vê-se perdido entre degraus de vaidades e sistemas que não reconhecem sua sede.

É preciso dizer: a Maçonaria não é uma estrutura para servir homens, mas para que homens se elevem por ela.

Onde estão as Lojas que pensam com liberdade? Onde os Irmãos que debatem sem medo? Onde estão os líderes que ouvem mais do que ordenam?

Há Irmãos com mais de 30, 40, 50 anos de vivência maçônica, que trazem à tona o que muitos sentem e poucos verbalizam: as Lojas, que são a alma viva da Ordem, têm sido tratadas como meras engrenagens de um sistema que teme ser questionado.

Mas nós não fomos iniciados para viver de joelhos. Fomos iniciados para erguermo-nos como Colunas vivas, sustentando o Templo da Virtude com retidão.

Se os Irmãos que ardem em vontade, estudo e entrega não são ouvidos...

Se os que buscam reformar com base em nossos princípios são vistos como rebeldes...

Se os que denunciam o apequenamento do Ideal são silenciados...

Então em que nos tornamos?

A Ordem sempre foi contracorrente. Nascemos no seio da razão iluminada, sustentados pela busca do conhecimento e pela prática da Justiça. Não podemos agora aceitar a mornidão de um sistema que teme a voz viva das Lojas e dos Irmãos dedicados.

A fidelidade do Maçom é ao altar onde jurou, não aos tronos que se erguem sobre o medo e o silêncio.

Por isso, irmãos, que esta peça de instrução sirva como brasão de coragem.

Que ela reacenda a Luz no coração dos adormecidos.

Que ela inspire aos sinceros que ainda lutam nos bastidores por uma Maçonaria viva, justa e pensante.

Não há força que vença o Espírito de Verdade quando ele habita o coração dos Iniciados.

E onde houver um único Irmão fiel à Palavra, ali estará a Centelha que pode reacender a Força de toda uma Ordem.

Somos o Templo.

Somos as Colunas.

Somos a Voz.

E a Voz não será silenciada.

Assim seja entre os que se lembram do Juramento.

T.’.F.’.A.’.

A/D

  

Friday, August 1, 2025

O ORGULHO DO MAÇOM-O CÂNCER DA MAÇONARIA


 

Nos Templos Maçônicos, onde a humildade deveria ser a um dos pilares da jornada iniciática, um inimigo sutil e silencioso insiste em aparecer: o orgulho. Essa força, muitas vezes invisível, pode corroer a essência da Fraternidade, transformando um espaço de luz em palco de vaidades e disputas veladas.

Falar sobre orgulho dentro de uma Loja Maçônica pode parecer estranho, mas é necessário. O orgulho é como uma miragem: sedutor, ilusório e perigoso. Ele se alimenta do medo de não ser visto, de não ser reconhecido, de não se sentir especial. Mas a verdadeira iniciação ensina justamente o contrário: o valor do silêncio, da escuta, da transformação interior. O maçom não precisa provar nada a ninguém — ele apenas precisa ser fiel a si mesmo e à sua jornada.

O orgulho, muitas vezes, se disfarça. Pode vir camuflado de falsa modéstia, de excesso de conhecimento, ou até de um certo "espiritualismo performático", onde títulos e rituais viram exibição de ego. Quando isso acontece, a Loja deixa de ser um templo de construção interior e vira um teatro de competição.

Mas há uma saída. A própria tradição maçônica nos ensina o caminho da transmutação. Assim como o alquimista transforma o chumbo em ouro, podemos transformar o orgulho em humildade. Não se trata de eliminar o ego, mas de colocá-lo a serviço da obra. O orgulho pode ser matéria-prima — desde que a alma saiba lapidá-lo.

O orgulho alheio só nos fere porque toca o nosso próprio. Por isso, cada vez que ele nos incomodar, é sinal de que ainda temos trabalho a fazer dentro de nós. E esse é o verdadeiro chamado do maçom: voltar-se para dentro, sem comparações, sem máscaras, sem buscar aplausos. A pedra bruta só se torna cúbica com esforço, dor e verdade.

Neste novo ciclo que se inicia nas Lojas, que cada um de nós possa refletir sobre isso. Que o fio de prumo nos alinhe com o essencial, e que a humildade seja a luz que guie nossos passos. Afinal, como bem disse um autor anônimo:

“Os maçons se dividem entre os vaidosos, os orgulhosos... e os outros. Mas ainda não conheci os outros.”.

Inspirado nas crônicas de Pierre d'Allergida: In: https://450.fm/

 

Postagem em destaque

A ORIGEM DOS CONFLITOS ENTRE A MAÇONARIA E A IGREJA CATÓLICA

  Pode-se dizer que a Maçonaria nasceu na  Igreja Católica . Como construtores que eram, os maçons passavam longo tempo a construir catedrai...