RITUAL DE ALERTA


 

Enquanto as pessoas choram
notícias calam o mundo

braços invisíveis abraçam
irmãos de um ritual profundo

faça o que a alma faça
cidades oscilam entre fumaça

não há como avistar quem passa
profanos, filhos e uma vida escassa

já não se contempla a natureza pálida
jardins colorindo a liberdade inválida

no grande templo atemporal
siga atento, contemple o ritual.

A sabedoria que a pedra desperta
antes da vida, da alma e da poesia
é a rara beleza que o ritual alerta.

Oscilam-se os passos pela verdade secreta
união de irmãos e entrelaçados compassos
braços invisíveis te conduzem. O velho ritual acerta.

Revela-se, irmão, as asas do teu destino
siga a passos lentos, o que vê e ouve teu coração
relembra-te menino, compreenda o ritual e o teu ensino.

Ultrapassastes o arrepio do sentimento
o infinito calafrio da noite e da luz do dia
falta compreender o ritual da morte e do renascimento
onde estas? O silêncio te revela: maçonaria.

 

Autor: IrWildon Lopes da Silva
ARLS Mount Moriah, 3327
GOSP – Independente – SP

SOBRE O GRAU ROSA-CRUZ


 

Um pouco de história

No ano de 1582, o Calendário foi mudado ou introduzido (ou criado um) o qual levou o nome do papa que o autorizou ficando conhecido como Calendário Gregoriano. Nesta época, em plena Idade Média, havia também o temor do fim do mundo, previsto para o ano de 1584.

E foi neste caldeirão, época que a Igreja Católica se estava deteriorando, em clima de perseguições, que apareceu um livro em forma de romance.

Este livro pôs a descoberto, para alguns, conhecimentos herméticos atribuídos a um lendário Christian Rosencreutz, ou Cristiano Rosa-Cruz. Christian foi um personagem misterioso. Para algumas sociedades iniciáticas, como a AMORC, é apenas uma referência ao nascimento de uma nova Ordem ou revelação de conhecimentos. Para outros, ele existiu, de fato.

Em 17 de Agosto de 1581, nascia em Wuertenberg, Alemanha, JOHAN VALENTIN ANDREA, neto de um enérgico teólogo de nome Jacó Andréa. Johan Andréa estudou em Tübingen, Alemanha e viajou pelos lugares mais importantes da época: Estrasburgo, Génova, Paris, Zurique, Basileia e outros locais. Mais tarde viajou também para Viena, Veneza e Roma. Foi também pregador da Corte e a sua importância adveio das suas pregações onde defendia uma renovação e uma nova ordem espiritual na vida.

Serge Hutin, em História da Alquimia, apresenta a hipótese de que Andréa e outros alquimistas, teriam sido escolhidos, à época – 1604 – para exteriorizar os ensinamentos Rosas-cruzes. Esta foi a data da descoberta simbólica do túmulo de Christian Rosencreutz tido como o lendário fundador da Fraternidade.

Muitos historiadores consideram o luterano Jean Valentin Andréa como sendo o criador da Fraternidade Rosa-Cruz.

Andréa escreveu um romance – classificado por alguns como um romance satírico – com o nome de “O Casamento Alquímico de Cristiano Rosa-Cruz” um personagem que se punha a campo contra os malefícios dos alquimistas e as suas atividades secretas. O livro foi publicado em Estrasburgo no século XVII.

O casamento Alquímico é um dos três grandes documentos da Fraternidade Rosa-Cruz. Para os Rosas-cruzes – independente da corrente – ele representa uma viagem iniciática em busca da Iluminação. É uma viagem de sete dias e que se desenvolve num castelo misterioso onde deveriam ser celebradas as bodas de um rei e uma rainha.

Nesta caminhada o iniciado é conduzido a uma união entre a sua Alma e Deus (Esposa e Marido).

Os estudiosos citam, como obras básicas da Fraternidade Rosa-Cruz:

Fama Fraternitatis,

O casamento Alquímico de Christian Rosencreutz,

Confessio Fraternitatis, Echos de la Fraternité du Très Louvable Ordre de la R-C (12 páginas) editado em Strasburg.

Fama Fraternitatis é um documento dirigido às autoridades políticas, religiosas, intelectuais e cientistas. Este documento revelava ao mundo a existência da Fraternidade e fazia um balanço da situação, do caos em que se encontrava o mundo Ocidental. Ao mesmo tempo revelava alegoricamente a figura de Christian Rosencreutz (1378-1484).

O documento Confessio Fraternitatis complementava o anterior e apresentava a Ordem como um caminho de regeneração, de Reforma Universal (O fato é que entre 1614 e 1520 catalogaram mais de 400 títulos sobre o assunto).

O romance “O Casamento Alquímico…” ao contar a história da viagem do lendário Christian Rosencreutz, relata as provas a que foi submetido, dos trabalhos que teve que realizar na sua caminhada com o fim de conquistar o Tosão de Ouro, a Pedra Filosofal, da busca da perfeição e a sua integração com o Cosmos.

Um estudo aprofundado do livro – segundo Serge Hutin – revela a espiritualidade e o ritualismo rosacruciano. Revela também que o adepto deve abandonar o egocentrismo e deixar de agir com interesse pessoal sob pena de fracassar no seu empreendimento.

O lendário Christian Rosenkreuz teria nascido em 1378 e falecido em 1484 e o seu túmulo descoberto em 1604. Era um monge que teria adotado o cristianismo antipapa.

O Herói do romance tinha viajado pelo Oriente, no século XIV e ali aprendido a Sublime Ciência. Em 1384, teria tomado conhecimento, de artes secretas na Arábia e, entre elas, a de prolongamento da vida. Tinha retornado a Alemanha e, na provecta idade de 105 anos, enfastiado da vida, voluntariamente se extinguiu.

Uma característica marcante do rosacrucianismo é uma aliança na BUSCA DE ILUMINAÇÃO interior e a adoção de um ritualismo complexo. Trata-se, desde esta época, de uma sociedade acessível aos dois sexos.

Assim, pode-se definir a Fraternidade como sendo uma Sociedade Secreta, ocultista, cabalística, teosófica e que se considera herdeira da sabedoria esotérica ligada ao mundo antigo.

A Fraternidade tem como símbolo uma Cruz e uma Rosa no entroncamento das duas hastes. É uma sociedade herdeira de conhecimentos secretos Orientais.

Em 1614 a palavra Rosa-Cruz alcançou força, ganhou espaço e apareceu um escrito anônimo de nome Transfiguração Geral do Mundo que podia incluir nela Fama Fraternitatis R-C ou seja, Rosae Crucis ou Rosa-Cruz sem necessidade de escrever por extenso porque já era bastante conhecida.

A obra, Confessio colocava em destaque os fins a que se propunha a Ordem. Segundo este documento, a Ordem seria uma ordem de alquimia de alto quilate na qual, em lugar de pesquisas sem perspectiva da Pedra Filosofal, entraria um fim superior: “Um abrir de olhos pelo qual o indivíduo ficasse aparelhado a ver o mundo e os seus segredos com mais profundidade. A claridade interior e a absorção em si levariam então ao verdadeiro reconhecimento”.

Andréa ficou surpreso com a repercussão que teve o seu romance. Em consequência, viajou a muitos lugares e ocorreram muitas entrevistas com nobres para fundar Lojas Rosas-cruzes que, no início, só aceitavam protestantes. Foram fundadas várias Lojas nos principais países europeus. O movimento cresceu tanto que, em contrapartida, o papa fundou a Ordem da Cruz Azul para fazer frente a outra predominantemente de protestantes.

Na Áustria as sociedades secretas foram fechadas por ordem do imperador com exceção, apenas, das Lojas Maçônicas e, foi por essa razão, que muitos membros da Fraternidade se refugiaram nas Lojas Maçônicas e que deste então, tornaram-se inseparáveis.

Entre alguns nomes vinculados à Fraternidade Rosa-Cruz, citamos Robert Flud que também é mencionado como sendo o primeiro Rosa-Cruz na Inglaterra (1574 / 1637). Robert Flud foi médico e amigo de Maier além de ser um dos alquimistas e astrólogo do seu tempo.

Michel Maier (1568 – 1622), foi médico do imperador Rodolfo II em Praga. Maier, num dos seus textos afirma: “E que ninguém creia que todas as coisas ocultas possam ser reveladas, e que um progresso possa ser feito pelas ciências e artes a tal ponto que se não possa descobrir mais nada porque a abundância da natureza é tal, que os círculos da natureza se acham conexos entre eles e se ligam com o os anéis de uma cadeia a qual não terminará nunca, enquanto o mundo existir”.

Citam-se, ainda, outros membros da Fraternidade: Michel Poiter, francês, Francis Bacon (há quem afirme ser ele o autor de O Casamento Alquímico), Willian Shakespeare (é uma hipótese a partir das suas obras), Henry e Thomas Vaughan; Paracelso, Jacob Boheme, Elias Ashmole e outros tantos nomes famosos.

Cavaleiros Medievais

A primeira referência feita aos cavaleiros ocorreu no século XI, com relação a RAUL DE BEAUMONT (1087-1110). A Sagração do Cavaleiro seguia uma cerimônia própria que implicava em entrar em estado de vigília, orações e, em geral, a sagração era feita com o patrocínio da igreja cristã. Depois de Sagrado, o cavaleiro podia:

Participar de torneios.

Usar cores simbólicas.

Buscar a permanência dos seus feitos na memória do povo.

Lutar pelos seus monarcas (protetores).

Lutar pelos mais fracos e indefesos.

Lutar pela mulher dos seus sonhos e assim por diante.

Havia várias ordens de cavalaria que começaram a surgir no século XI e a primeira ordem de cavaleiros que se teve notícias foi a Ordem Hospital de São João de Jerusalém (Hoje a Cruz de Malta), criada em 1099. A segunda é a dos Cavaleiros Templários, surgida em 1118. A terceira, a dos Cavaleiros Teutónicos, criada em 1190.

Ainda sobre a Fraternidade Rosa-Cruz, citam-se os traços mais tradicionais, entre eles:

Sujeitar-se à autoridade de um chefe Rosa-cruz.

Viver na clandestinidade.

Não serem destacados pelo uniforme.

Adaptar-se aos costumes do país.

Serem enterrados em sepulturas secretas.

Indicar o seu sucessor.

Os membros da Fraternidade Rosa-Cruz reuniam-se num local denominado “Morada do Espírito Santo”. E, tinham como principais objetivos:

Não aspirar a subversão da ordem.

Professar a religião Luterana.

Respeitar as leis do país.

Considerar como inimigos os fazedores de ouro e os heréticos.

Entendemos que o Grau Rosa-Cruz nos Altos Graus da Maçonaria tenha surgido de uma matriz formada pelos traços gerais das Ordens de Cavalaria e da Fraternidade Rosa-Cruz. O primeiro, no nível terreno. O segundo, estimulando a busca da integração dom o Eu superior ou o Cosmos.

Fraternidade Rosa-Cruz e a Maçonaria – Fontes Comuns

Há uma lenda, citada no Manual Rosa-Cruz da AMORC, que diz que o simbolismo da Cruz teria tido origem nos primórdios da civilização, oriundos talvez da Atlântida, quando o homem em pé, de braços abertos, olhando para o SOL. Depois, volta-se para o ocidente, para saudar onde será o fim do dia e vê a sua sobra, em forma de uma cruz, a sua sombra de braços abertos.

Alguns autores afirmam que a Cruz teve origem na Cruz Ansata, da tradição do Antigo Egito e que a rosa, representa os ciclos da vida: fragrância, ciclo de florescimento à vida, amadurecimento, até uma completa exuberância para depois desfolhar-se e transformar-se em terra e nela encontrar a oportunidade de renascer. (Manual Rosa-Cruz AMORC). Sob ponto de vista hermético, a Rosa representa Segredo e Evolução. A Cruz representa o fardo, o carma das nossas vidas. (Manual Rosa-Cruz).

Segundo, Serge Hutin, Robert Flud lembra o nome da liga por meio de uma alusão ao Sangue de Cristo na Cruz, no Gólgota. A cor da rosa lembra o sangue de Cristo e os espinhos, a coroa. Há outras hipóteses.

Para Sege Hutin, os símbolos da cruz e a rosa são anteriores ao cristianismo. Assim, o símbolo cristão da cruz e a rosa na interseção são bem mais antigos que o cristianismo. O sentido principal deste símbolo refere-se à obtenção da perfeição humana com a passagem do adepto acima das limitações naturais de tempo e espaço.

Como se sabe, nesta época, a Maçonaria deixava de ser operativa para ser especulativa. Haviam Lojas isoladas pelos principais países e cidades europeias. Somente mais tarde, em 1717, mais precisamente em 24 de junho, no dia do solstício de Verão na Europa, foram reunidas quatro Lojas em Londres, que funcionavam em tabernas para formar a primeira obediência passando, assim, a ter procedimentos comuns dentro do mesmo território de poder.

A seguir, foram colecionados os Landmarks (marcos de divisa de terra) e, como é de conhecimento geral do mundo maçônico, foi escrita uma constituição conhecida como a Constituição de Anderson, ou do pastor Anderson, que foi o coordenador do que se chamaria hoje do Grupo de Trabalho.

Mais tarde foram sendo elaborados os ritos e, no Rito Escocês Antigo e Aceito, o grau 18, nos Altos Graus, ou Graus Filosóficos para diferenciar dos três graus iniciais que são os graus simbólicos, foi associado ao Grau Rosa-Cruz pelas suas características. O grau de CAVALEIRO Rosa-Cruz, tem os seguintes pontos básicos que devem ser observados:

O Cavaleiro Rosa-Cruz tem por dever o exercício da CARIDADE.

Levar conforto e amizade ao seu companheiro.

Evitar a maledicência, a inveja, calúnia e a lisonja.

Ser patriota.

Participar da cerimônia, com os seus pares, na Quinta feira Santa.

Ao entrar numa sessão já começada, depois das saudações de praxe, sentar-se-á no último banco a espera de ser chamado.

O Irmão que ocupar o cargo de outro que veio a falecer, deverá usar a joia envolta em “crepre”, durante um ano como sinal de luto.

Os postos de guarda deverão ser preenchidos com os Cavaleiros mais novos.

Todos os anos celebrarão, por uma refeição, a Fraternidade dos Irmãos do Quadro.

E os propósitos do Cavaleiro Rosa-Cruz, na Maçonaria, foram definidos pelos ritualistas como sendo:

Observância no cumprimento dos seus deveres.

Ser conservadores de seus pensamentos e das suas tradições seculares.

Ter muita confiança entre si.

Ter como dever ESTUDAR a história e os ensinamentos da Maçonaria, e, em particular, do grau e no cumprimento da sua missão.

Honrar esposa e filhas de maçons.

Manter o compromisso de só ouvir a Consciência e de só aceitar a verdade.

A Maçonaria enlaçou a lembrança de Jesus à antiga associação dos Irmãos Rosas-cruzes. Estes Irmãos foram intrépidos naturalistas que sob as aparências mais ou menos sinceras da Alquimia, promoveram pesquisas científicas por meio da observação.

Sob pretexto da medicina, percorreram durante dois séculos todo o Ocidente da Europa, recolhendo elementos que outros deveriam fazer frutificar, par refundir o método científico. Inúmeros livros foram escritos pró e contra eles. É uma história que deveremos estudar pois a sua história se funde com a história da Maçonaria. E nós os reconhecemos como nossos antepassados.

Assim como os Rosas-cruzes foram ardorosos livres pensadores do século XV e XVI e os audaciosos defensores das ciências naturais puras, assim JESUS foi o livre pensador da moral. Ninguém, como ele, pregou resolutamente a moral Ideal, fundada sobre os sentimentos, a única possível naquele tempo. Ninguém feriu com mais vigor e sucesso a hipocrisia e a tirania sacerdotal da época.

A doutrina de Jesus Cristo repousa na intuição de Deus, como providência, e da Alma Humana como sendo imortal. A antiga maçonaria sempre proclamou os mesmos princípios, mas com um corretivo: LIBERDADE DE ESPIRITO E OBRIGAÇÃO DO TRABALHO, isto é, com indagação da VERDADE.

Identificando-se com a obra dos Rosas-cruzes, a Maçonaria proclamou o estudo da Natureza, como base de todo o progresso, porém, com este aditivo: A NATUREZA NÃO ESTÁ SOMENTE NA MATÉRIA, MAS, TAMBÉM, NAS LEIS MORAIS, cuja sede é a Consciência e cuja realidade está demonstrada pela formação da sociedade humana.

De uma forma geral, entendemos que a Fraternidade Rosa-Cruz tem uma forte ligação com os conhecimentos do Oriente e com os Templários que buscaram no Oriente parte dos seus ensinamentos. Não podemos confundir Maçonaria com Rosacrucianismo e nem com a tradição dos Templários, mas, indiretamente, incorporamos parte dos seus ensinamentos o que nos torna parciais herdeiros dessas duas grandes correntes místico-filosóficas fortemente ligados aos ensinamentos orientais.

Cronologia de Fatos ligados ao Grau Rosa Cruz

1087 – Registro Histórico do primeiro Cavaleiro sagrado pela Igreja.

1090 – Nascimento da Ordem dos Cavaleiros Teutónicos.

1099 – Nasce a Ordem de São João de Jerusalém.

1118 – Nascimento da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo – Templários.

(266 anos mais tarde…)

1534 – Suposto nascimento do lendário Christian Rosencreutz (Cristiano Rosacruz);

1581 – Nasce Johan Valentim Andréa, na cidade de Wuertenberg, Alemanha, neto de um teólogo enérgico de nome Jacó Andréa; Valentim Andréa viajou por muitos lugares. Era um iniciado. SUPOSTO autor do romance Casamento Alquímico. Muitos autores o consideram como o pai do Movimento Rosa+Cruz. O romance conta a história do suposto iniciado Cristiano Rosacruz. Uma característica geral da Fraternidade é a BUSCA DA ILUMINAÇÃO. Outras obras que vieram após:

CONFESSIO (Que coloca os fins da Ordem).

Mudança do Calendário (Calendário Gregoriano).

Previsão do Fim do Mundo era o clima que o mundo estava vivendo à época.

1604 – A Fraternidade Rosa-cruz vem ao Mundo.

1614 – O mundo toma conhecimento dos primeiros sinais da Fraternidade Rosa-cruz.

Autor desconhecido

Referências Bibliográficas

História e Mistérios das Sociedades Secretas, de Hermann Schreiber e Georg Schreiber. IBRSA, SP.

Nicola Aslan em “Grande Dicionário de Maçonaria e Simbologia”, Editora A Trolha.

Manual Rosa-Cruz, AMORC

História da Alquimia, Serge Hutin, Edições MM,

Ritual do Grau 18 do REAA, Supremo Conselho de SC para o REAA.

A Bíblia dos Rosa-Cruzes, de Bernard Gorceix, Editora O Pensamento.

 

O TERCEIRO GRAU


 

No Terceiro Grau da Maçonaria, descobrimos insinuações muito diferentes das encontradas nos graus precedentes. O Mestre Maçom entra no campo de uma nova influência: chega a um mundo novo e rasga um dos véus que o separara da verdadeira compreensão da vida … e da morte.

Esta atmosfera tão real e tão difícil de descobrir é, talvez, o traço mais característico deste grau, no qual experimentamos a sensação do mistério, de algo que sentimos e sabemos que existe ali, porém, que está fora do nosso alcance.

Dirigimo-nos diretamente a ele e quando estamos a ponto para apanhá-lo, nos escapa, e ficamos desanimados, sentindo-nos ao mesmo tempo felizes e cheios do êxtase, porque, ainda que não tenhamos chegado ao inalcançável, estivemos perto de consegui-lo, e esta proximidade faz-nos estremecer de satisfação.

Não descobrimos os segredos; porém isto não importa, porque na realidade, jamais esperávamos consegui-lo. Entretanto, temos algo que o substitui, e que nos servirá até que chegue o dia em que alcancemos o impossível e possamos contemplar de frente a realidade.

Até o fato de que segredos substitutos existem, nos dá a certeza de que os verdadeiros são reais e de que existem em alguma parte, ou seja, no Centro.

Supremo esforço nos é dirigido para chegarmos ao Centro, porém, como depois nos é impossível permanecer nesse vertiginoso ponto de equilíbrio – nessa posição sem magnitude, como disse tão acertadamente Euclides – saímos dali antes que tenhamos tempo de ver a sublime e pavorosa realidade que enche o vazio do nada.

Não podemos, porém, esquecer o fato de ter estado no Centro durante um fugaz instante, levando conosco uma recordação vaga e turva de um instantâneo vislumbre do inefável; e, desta maneira, guardamos o tesouro dos nossos segredos substitutivos como coisas inapreciáveis, porque uma prova, uma recordação e um símbolo final e último que, quando se resolver, tornará claro todas as coisas e nos mostrará a resplandecente visão do Templo Perfeito e acabado.

O terceiro grau é algo desconcertante, porque está cheio de “pares de opostos”. Não achamos conveniente referir-nos a eles nesse livro; porém, podem os leitores imaginá-los e perceber a luta entre os poderes da luz e das trevas; do bem e do mal que se verifica no transcurso de toda a cerimónia. A vida e a morte, o amor e o ódio os impelem mutuamente, e a morte é substituída pela imortalidade.

A justa posição de todos estes elementos opostos, junto ao dramatismo da tragédia, há de exercer, por força, poderosa influência, em todo aquele que tome parte na cerimónia, rebulindo intensamente esses lugares secretos do coração, nos quais moram a consciência e a beleza dos mistérios da vida.

Poucos são os que, depois de assistirem a cerimônia de elevação, possam ficar indiferentes ao significado da vida e da morte, ao processo da evolução, ao estudo da sua própria origem e do seu destino.

Este é o objetivo primário do terceiro grau Maçom. Não basta ter adquirido a virtude que se inculca no primeiro grau, nem ter dominado a sabedoria concebível com a morte, como exige o segundo grau, pois que ao Mestre Maçom se lhe pede algo mais profundo, amplo e compreensível.

É preciso que se olhe além da vida, para que possa compreender todo o seu significado; a experiência da morte é a única que pode fazer a vida inteligível e revelar-nos o seu significado.

Ninguém sabe o que é a vida, o que é a morte, supremo segredo, até a cujos umbrais chegue o Mestre Maçom. Pode ele ir ao Oeste, retornar ao Leste e encontrar a paz no Centro, a calma desse ponto de onde não pode separar-se como Mestre Maçom?

Sim, é possível, porque se não o fosse, a Maçonaria e os antigos Mistérios, aos quais aquela é tão idêntica, não teriam significado algum e viriam a ser como portas que não dariam entrada a nenhuma parte. Os sinais verdadeiros existem, e embora não possam ser explicados, copiados ou comunicados, cada qual pode encontrá-los com a ajuda dos sinais substitutos.

Ainda que estando vivo, é possível transladar-se ao vale sombrio da morte e chegar à outra margem. Hoje em dia é possível que um homem perca a sua vida ao mesmo tempo que a encontre; e pode ocorrer que ao chegar à porta dos Mistérios, este se abra para ele, de par em par.

Aquele que for verdadeiro Mestre Maçom, pode descobrir entre o tumulto do mundo, entre as dores e agonias do corpo, entre o torvelinho das dissensões humanas e o caminhar devastador dos acontecimentos, pode descobrir, repetimos, o Centro, chegar a ele e morar nele em paz e serenidade, pode descobrir o seu Eu imutável ante às cambiantes fantasmagorias do Universo, sempre variável; o seu Eu desapaixonado, separado, forte e imutável, firme e resoluto, vendo as coisas todas, amando tudo, fazendo tudo, apesar de que sempre se ache inativo e afastado.

Para chegar a esta meta, há tantos caminhos assim como classes de homens. Um pode chegar, valendo-se da suprema filosofia; outro pela devoção e um terceiro, por uma ação sensata. Tanto o filósofo quanto o santo e como o homem de ação, podem encontrar, à sua maneira, o Centro, onde residem os verdadeiros segredos, do Mestre Maçom e podem voltar dali, para dizê-los aos seus camaradas trazendo consigo esses segredos substitutivos que só são explicáveis, ao se valer da linguagem dos que não chegaram ainda ao Centro.

Generalizando, podemos dizer que o primeiro grau, exorta a viver a vida reta; que o segundo recomenda o pensar reto e que o terceiro nos encaminha para a contemplação do fim inevitável.

Pois bem, qual é na realidade, o ensinamento da Maçonaria a respeito deste fim inevitável? A esta pergunta pode-se responder em três etapas correspondentes aos três Graus.

O ensinamento Maçônico, no seu sentido exotérico e externo, é muito simples e claro, pois ensina que esta morte que tanto aterroriza os homens vulgares que ignoram o seu verdadeiro significado, não é o pior que pode acontecer, pois muito piores são: a perda da honra, a indiferença à verdade, o não cumprimento de uma obrigação solene e sagrada.

Em consequência, se o Mestre Maçom se vê no dilema de ter de eleger entre a desonra e a morte, não pode vacilar nem um só instante, pois jurou que será fiel, porém não jurou viver. Daí que, aconteça o que acontecer, deverá ser fiel à sagrada confiança que nele foi depositada.

Não lhe deve importar a morte, mas que a sua honra seja imaculada e que procura não diminuir a confiança nele depositada pelos seus Irmãos. Sendo ele falso, todo o edifício da Maçonaria cairá por terra, e então, não poderia existir a confiança mútua, nem nenhum maçom poderia confiar a sua honra a outros.

O Templo seria destruído, sem ficar pedra sobre pedra e seria necessário recomeçar o edifício, desde os alicerces. Não, os princípios da integridade, da honra e da lealdade implicam confiança imutável. Estes princípios são supremos e tudo o mais, inclusive a morte, é folha solta ao vento, quando se compara com estes grandes princípios em que se fundamentam a nossa Ordem.

Este é, em si, o primeiro e o mais óbvio dos ensinamentos do terceiro grau. Quando a Ordem nos ensina, não faz mais que repetir tudo quanto já sabiam, desde os tempos imemoriais, os homens mais bons e sábios. Poderia ser dito que o lema do Mestre Maçom consiste em “ser fiel até a morte”. Se este lema constituísse a tônica da sua vida, a Maçonaria teria prestado um grande serviço a todos os homens, e o seu nome deveria ser glorificado, de geração em geração.

Se cada Mestre Maçom pudesse cumprir o seu Juramento, “sem evasivas, equívocos nem reserva mental de nenhum género”, e preferisse morrer antes que caluniar o bom nome do irmão ou deixar de manter “em todo o momento” honra fraterna como se fosse a sua própria, existiria então a fraternidade capaz de terminar o Templo, quase no horizonte da nossa visão terrena. Este ideal de fidelidade entre os Irmãos Mestres Maçons levaria a Humanidade a tão alto nível de benevolência que não só deixariam de se prejudicar reciprocamente, senão que, além disso, “o permanecer inativo ante uma obra de misericórdia considerar-se-ia pecado mortal”.

Isto é o que significam na realidade os cinco pontos de companheirismo do Mestre Maçom. Não é tarefa fácil passar o primeiro Portal e converter-se em Maçom; porém, é muito mais séria a façanha de prestar o Juramento de Mestre Maçom e prometer fidelidade até a morte. Que cada Mestre Maçom pondere bem isto e volte a confirmar a sua determinação ante todos os casos de provas e de dificuldades, para seguir o nobre exemplo da grande figura simbólica que morreu, para não ser infiel ao seu Juramento.

Enquanto esta é a significação moral do terceiro grau, isto é, o ensinamento que se pode dar ao Aprendiz, há de se ter em conta que também é um ensinamento apropriado para o Companheiro, ensinamento que fascina a mente e apresenta diante dela o conhecimento dos mundos que se encontram mais além da morte.

A Maçonaria, fazendo causa comum com todas as religiões e com quase todas as filosofias, não só afirma, com suprema confiança na imortalidade da alma humana e a sua sobrevivência à morte do corpo, mas também sustenta a possibilidade de que, os que buscam diligentemente, cheguem a estudar a natureza da vida ulterior, ainda antes morrer.

Ainda que este último ensinamento tenha desaparecido quase que por completo nas formas mais modernas da Maçonaria, o estudante pode encontrar vestígios da sua vida eterna nos rituais dos graus superiores e chegar à conclusão de que constitui uma parte intrínseca e importante da instrução Maçônica, como ocorria nos antigos Mistérios de onde descende a Maçonaria.

Há muitos indícios de que a era de ignorância deste absorvente tópico caminha rapidamente para o seu fim, para dar lugar ao amanhecer de uma época em que o conhecimento da vida post mortem seja de patrimônio universal, e em que os homens cheguem a familiarizar-se com os mundos nos quais habitam os mortos, e que esses deixarão de ser enigmas insolúveis, para se converterem em problemas de fácil solução, como tantos outros grandes mistérios da Natureza que o intelecto humano vai descobrindo, lentamente, e incluindo dentro dos limites do compreensível.

São tão numerosos e profundos os maravilhosos descobrimentos da ciência física, que corremos o risco de não podermos chegar a compreender a sua grandeza, nem o imenso panorama que se nos apresentou. O homem pode superar a gama dos seus cinco sentidos, quando mede e conta essas miríades de partículas chamadas átomos e elétrons, os quais se movem com vertiginosa velocidade e contém forças de inconcebível poder.

Valendo-se de instrumentos de metal e de cristal, os homens podem precisar qual é a composição das longínquas estrelas que giram nas insondáveis profundidades do espaço; se é capaz de penetrar com cifras e símbolos em mundos em que nem sequer os mais poderosos intelectos podem entrar, e se pode revelar os misteriosos processos de que serve a Natureza para realizar os seus milagres.

Se o homem pode alcançar, por si só e sem ajuda alguma, todas estas coisas e muitas outras, não poderá, ao acaso, achar também o seu próprio Eu? descobrir a sua verdadeira origem e destino, e saber que o seu corpo nada mais é do que um mecanismo ou formosa vestidura, apesar de sua pasmosa complexidade e da sua beleza, e que uma alma viva e imortal que deriva a sua existência do GADU, de quem ele é filho e a cujos pés há de voltar a seu devido tempo?

Sim, pode, porque o sonho da imortalidade que o homem tem alimentado durante séculos, não é unicamente um sonho, mas também, quem sabe, vaga e parcial visão da realidade e da verdade. Apesar da filosofia negativa sustentada pelos materialistas, o homem sempre acreditou que é imortal e esta crença, nunca foi desterrada por completo; ensinaram-na a religião e os grandes santos que seguiram o caminho religioso, e a Ciência está a dois dedos para demonstrar esta grande verdade, e muitas outras mais, de tal maneira que a inteligência humana possa compreendê-la, confirmando o que sempre adivinhou o instinto, e crê eternamente o coração.

Já vimos que a verdadeira natureza do homem se esboça no primeiro grau, como corpo, alma e espírito; isto é, como Eu, não-Eu e a relação entre ambos e que esta relação é a Consciência, na acepção mais ampla da palavra. Depois vimos que no segundo grau, a atenção que se enfoca principalmente nesta Relação ou Consciência, e que a Psicologia – palavra que literalmente significa estudo da alma – é a ciência que o Companheiro deve estudar preferencialmente.

Se o Maçom prosseguir o seu estudo com energia, abrirá passagem até o coração da sua natureza, aproximando-se do Centro e preparando-se, inevitavelmente, para o Grau de Mestre Maçom, no qual encontrará o Centro e se conhecerá, a si próprio, como consciência pura, a qual é capaz de existir em plena abundância até quando esteja separada do corpo.

Assim pois, é lógico e inevitável que, escalando degrau por degrau na escada da Maçonaria, o Maçom aprenda primeiramente, ajustar a sua conduta às leis da moral e da ética, e que logo seja induzido a estudar os segredos ocultos da Natureza e da Ciência, aprendendo por meio destes estudos a conhecer-se a si mesmo, a transmutar a sua crença em certeza da imortalidade, prosseguindo nos seus estudos até abarcar o conhecimento das condições em que se encontram os homens que vivem do outro lado ao véu, conhecido com o nome de morte.

Se a Maçonaria há de viver e continuar o seu incalculável trabalho em prol da superação do mundo, deve dedicar-se novamente ao estudo mais interessante de todos os empreendidos pelo homem, ou seja, compreender o significado interno da vida e do autoconhecimento.

Estas coisas, conhecidas pelo homem do passado, não o são hoje em dia mais que por uns poucos, porém, não tardarão a sê-lo por todos, e a “imortalidade da alma” sairá da região das crenças piedosas, para recuperar o lugar que lhe corresponde entre os supremos triunfos do intelecto.

Desta maneira, o Senhor da Vida nos capacitará para pisotearmos o Rei dos Terrores e levantemos os nossos olhos para contemplar a Estrela da Manhã – de interminável vida e infinito gozo – “cuja aparição traz emparelhada a paz e a salvação para os homens fiéis e obedientes”. Porque o medo da morte, assim como todos os demais terrores, desvanece-se ante o conhecimento da imortalidade, e a alma vive eternamente em paz consigo mesma, já que sabe que não pode ser destruída nem aniquilada.

Partindo destas verdades externas, que apesar de serem externas, têm grande importância e valor, dirigimo-nos para o mesmíssimo coração do verdadeiro mistério, com o objetivo de descobrir mais coisas ainda.

A Maçonaria, assim como os antigos Mistérios, não pode deter o seu avanço ante a imortalidade da alma, nem ante o conhecimento detalhado do que existe além da morte do corpo. Há, não obstante, um mistério interno por descobrir, o qual está tão longe dos mistérios externos, como aqueles da ignorância dos que não passaram ainda às portas do Templo.

Assim como existe uma morte, uma ressurreição e uma ascensão externas, assim também há uma morte mística, pela qual o espírito volta a superar-se e ascende à sua própria glória, glória essa que não se pode revelar, nem ser conhecida por quem não passou por esta experiência.

Os místicos e visionários de países e épocas, deram testemunho desta morte e a tem descrito por meio de inúmeras alegorias, valendo-se de símbolos e metáforas. Quando estas descrições “substitutas” foram aceitas literalmente, confundindo-as com os verdadeiros segredos – segredos inefáveis – a religião se materializou e se degradou e a superstição substituiu a verdadeira fé na realidade do incognoscível. Tanto os santos cristãos como os místicos maometanos, yoguis indianos, lamas budistas, gnósticos gregos e sacerdotes egípcios tem dado testemunho, cada qual à sua maneira, da transcendental visão em que morrem o eu e a personalidade, em que desaparecem todas as barreiras e em que se realiza a união.

Além disso, são unânimes em dizer que antes de realizar a consumação final, passaram por um período de intenso sofrimento e de agonia da mente e da alma que, muitas vezes, se estende também ao corpo. É necessário passar por um período de solidão e desolação amargamente intensas, antes da qual a alma libertada das últimas cadeias que a prendem aos mundos inferiores, e que fazem com a sua força e a sua estabilidade dependam das coisas externas, possa elevar-se a Rei, por direito próprio e sem ajuda alheia, sem que, por isso, se sinta separada do gênero humano; porque agora sabe que, apesar da multidão das formas, só existe uma Vida e que esta anima todos os seres vivos.

Nisto reside a verdadeira Fraternidade, da qual as fraternidades conhecidas no mundo exterior são meros reflexos e sombras: identidade de vida ainda que com diferença de formas; uma família e, no entanto, muitos membros; uma árvore, porém com inumeráveis ramos.

Que mais se pode dizer desta visão resplandecente, que transcende a toda experiência normal, que faz com que as realidades prévias pareçam sombras e ilusão, e que dá realidade ao que antes não existia, senão nos mundos da imaginação e da fé?

Estude o Mestre Maçom o que escreveram os que experimentaram esta consciência “cósmica”; estude o êxtase do santo, o samadhi do yogui, e recolha todos os vislumbres que possa, vislumbres vagamente proféticos do que se há de saber algum dia, como outros o conheceram também.

Ainda no nosso estado atual de evolução espiritual, quase todos os homens podem gozar antecipadamente, da visão plena porque, quando sonhamos e rendemos culto no altar de tudo quanto é verdadeiro e belo na Natureza, na Ciência e na Arte, podemos nos aproximar quase ao centro da realidade e sentir palpitar a Vida única, que é alma de tudo; Vida de Poder omnipotente e Sabedoria infinita, cuja beleza resplandece em todo o Universo.

Esta visão pode aparecer no cume de uma montanha silenciosa ou no estrondo de uma catarata; no fulgor de um sol nascente ou no esplendor do pôr do sol; nas profundezas do oceano ou nas asas do furacão; na árvore do bosque ou na sarapintada mariposa; na cintilante estrela ou na trêmula gota de orvalho; no ofuscante campo nevado ou na fragrância do aguaceiro tropical; nas sublimidades da matemática transcendental ou na filosofia, ou ainda na visão de um Sócrates ou na poesia de um Shakespeare; na música de um Scriabin ou em qualquer outro; das mais nobres conquistas do homem ou dos milagres da Natureza.

Todas estas coisas podem proporcionar-nos fugazes e fragmentários vislumbres de uma visão celeste; porém, não existe mais de que um só meio, para que possamos elevar-nos às grandes alturas: os cinco pontos de companheirismo já que, unicamente, por meio do amor ou da “fraternidade” é como pode o Mestre Maçom entrar “numa vida superior e conhecer, mais profundamente os ensinamentos dos nossos mistérios”.

Por isso, a Maçonaria é, antes de tudo, uma Fraternidade, um laço de amizade. Este é o único alicerce possível do Templo e o único arremate do seu pináculo.

Arthur Edward Powell

 

A PARTIR DA PEDRA BRUTA A OBRA PRIMA


 

“Após a conclusão de seus trabalhos, ao mérito do aumento de salário, o aprendiz conhece boa parte do programa, após o tempo de estudo e racionalidade, está pronto para entrar na sua roupa interior. Para obedecer ao imperativo, “CONHECE-TE”.

Livre interpretação da obra do pintor Di Prinzio, por Pedro Neves.

O Sol, corpo celeste mais rico em simbolismo; representa o espírito, princípio da vida e de todas as coisas, símbolo da divindade por excelência. Emblema da geração, conservação e sustentação da vida, força positiva, agressiva e dominadora.
 

É o princípio vital. Representado por um círculo (símbolo do espaço e do tempo infinitos) com um ponto no meio (símbolo do espírito). O seu anjo é Zaraquiel.

A Lua, a “Deusa da noite”, mãe universal, princípio feminino, representa a alma e a matéria. Força de caráter magnético. Símbolo da imaginação. Representada por um crescente em forma de copa, simbolizando o lado receptivo da natureza humana. O seu anjo é anjo Tsafiel.

Vênus para os gregos e romanos representa a figura da sua Deusa do amor e beleza, Afrodite. Amor espiritual e atração sexual. Natureza feminina. A sua cruz na parte inferior do círculo, significa o espírito tentando se libertar da matéria. O seu anjo é Hamaliel.

Júpiter o maior dos planetas, simboliza o pai, o patriarca, o rei, grandeza de espírito, sabedoria e generosidade. Representado por uma meia-lua crescente (consciência da alma) unida a uma cruz (matéria), natureza masculina, positiva. Seu anjo é Gabriel.

Mercúrio “O mensageiro dos deuses”, representado por um círculo com a meia lua em cima e a cruz embaixo, são a força ativa do eu, a consciência da humanidade, o intelecto, natureza andrógina. O seu anjo é Rafael.

Saturno simboliza o tempo, o terrível apetite para a vida, devora todas as suas criações, poderoso e malévolo, devido à natureza sutil e imperceptível com que mina a vitalidade do organismo físico. 

Natureza lenta, paciente, furtiva e velada. Representado pela cruz surgindo da meia-lua crescente, significa a manifestação da consciência. Positivo e masculino. Seu anjo é Micael.

Marte símbolo da força viril, da atividade e capacidade criadora, “Deus da guerra”, destrói rápido como um raio. Representado por um círculo com uma flecha na parte superior direita, significando a força criadora do espírito. Seu anjo é Ouriel.

O Diamante representa o “centro Místico irradiante”, conectado ao sol, é a luz, atributo das divindades, simbolizando o poder divino. O diamante é a obra prima que se obtém da pedra bruta, sobre ele simbolizando o adepto que alcançou o conhecimento está o homem, acima dele a representação do infinito. Em torno do diamante a corda simbolizando que tudo é possível através da união de todos.

A pedra cúbica tem em suas faces os instrumentos que foram usados no desbastamento da pedra bruta. O esquadro, representa a perfeição. O compasso, a medida justa. O malho é a força criadora. O cinzel o juízo que direciona a força. A trolha símbolo do trabalho.

Tudo está justo e perfeito entre as colunas, que simbolizam a vida e morte, o positivo e o negativo, o masculino e o feminino.

Na penumbra, diversos vultos, parecem admirar a obra prima, eles ainda não atingiram a luz. Estão até mesmo fora do pavimento de mosaicos, símbolo da dualidade, amor e ódio, belo e feio, o bem e o mal, a vida e morte.

O trilhar do adepto sobre o pavimento de mosaicos é difícil, ele deve caminhar sempre entre o preto e o branco, é uma linha muito fina para se atingir a perfeição.
PEDRO NEVES .’. M .’. I .’. 33

www.pedroneves.recantodasletras.com.br

 

MINHA CAMINHADA MAÇÔNICA


 

Meus Irmãos.

No dia 25/11/2023 completei 35 anos de Iniciado na nossa Sublime Ordem.

Nessa longa estrada maçônica tive grandes alegrias, também grandes decepções.

A finalidade do que estou escrevendo, é para demonstrar como foi, e está sendo essa minha caminhada.

Citarei os fatos, não onde ocorreram. Quem me conhece sabe de onde estou me referindo.

Como já citei em trabalhos passados, venho de uma família paterna de maçons.

Em junho de 1987 recebi meu convite para ingressar na Ordem. Foi um processo demorado, somente no ano seguinte, depois dos tramites formais, fui informado da minha iniciação.

Ela estava tudo programado para abril de 1988. Faltando um mês para que ela ocorresse, fui procurado pelo venerável da loja que ela tinha sido adiada.

Questionado a razão do ocorrido, fui informando que no processo de iniciação tinha sido constatado antecedentes maçônicos, e que a minha iniciação ocorreria antes do final do ano.

Citei que esses antecedentes foram por mim informados, pois vinha de uma família de maçons.

Achei uma desculpa deslavada. Depois disso, nova documentação teve que ser encaminhada e outras sindicâncias foram realizadas.

Em novembro o fato se consumou!

Com o tempo descobri a razão desse adiamento, trocaram meus documentos com outro Paulo, que acabou sendo iniciado no meu lugar.

Seguindo a caminhada: Aprendiz, Companheiro, e enfim Mestre.

Ocorreu a eleição para administração da loja, como ainda não tinha tempo de mestre, não pude votar. Em maio aconteceu um fato triste, o Orador eleito faleceu.

No enterro, fui chamado em um espaço reservado no cemitério, onde fui informado que seria o novo orador da loja.

Nova eleição para o cargo foi realizada, nesta eu já estava apto a votar, e naturalmente fui eleito.

Após a eleição, o orador de ofício, viajou para Portugal, e na volta teve um derrame.

Já me colocaram no lugar dele até a posse!

Confesso que era totalmente inexperiente para a função, alguns irmãos, sabendo disso, começaram a fazer questionamentos do tipo: “gostaria de saber do irmão orador sobre esse assunto”.

No início fiquei meio perdido, mas depois de consultar nossos regulamentos aprendi que o orador não está obrigado a responder, de imediato, sobre qualquer assunto. Qualquer questionamento pode ser esclarecido na sessão seguinte.

A partir daí mergulhei nas leis e regulamentos da ordem.

Nessa função fiquei 4 anos, após o término do mandato, passei a primeiro vigilante.

Pela lógica, seria o próximo venerável, porém, próximo da eleição, me chamaram, e me disseram a seguinte frase: “Deixa o portuguesinho entrar que você será o próximo”.  

Ele era muito mais novo na Ordem do que eu.

Enquanto isso, me deram o cargo de Artezata no Capítulo da loja.

E lá fiquei por 4 anos!

E mais uma vez colocaram um com menos tempo para presidir a loja!

Voltei ao cargo de Primeiro Vigilante e tudo caminhava para ser o próximo venerável.

Organizei a distribuição dos cargos, busquei colocar pessoas com perfis determinantes para exercê-los, e sobretudo aqueles que nunca tinham exercidos nenhum cargo.

Sabem por que razão? Pois a loja por ser de comerciantes, não gostavam de quem tinha o curso superior. Nós éramos chamados de “doutorezinhos da loja”.

Tudo corria normalmente, faltando duas semanas antes da apresentação das chapas, recebo uma ligação de um irmão que morava em Angra informando que havia sido realizada uma reunião, dos Mi.’.s da loja visando derrubar a minha candidatura.

Fui para a briga e ganhamos a eleição, mesmo com atitudes pouco louváveis dos concorrentes, que trouxeram, alguns irmãos afastados por doenças para votar. O pior para eles que muitos votaram na nossa chapa.

Sempre ficava intrigado, por que não me queriam como venerável?

Logo depois fui chamado pelo Grão Mestre Estadual para uma conversa. Em primeiro lugar que ele estava torcendo para mim, e se caso eu tivesse perdido, entraria com uma intervenção na loja.

A partir daí começou a relatar fatos que haviam chegado ao seu conhecimento, que eu não tinha acesso.

A loja estava devendo ao GOB, e na época ao GOERJ. Me pediu que priorizasse o GOB, e que, de imediato, não me cobraria as parcelas do estadual.

Assumi a responsabilidade de quitar tudo até o final do ano.

Com minha posse a caixa preta da loja pode ser aberta:  O tesoureiro estava a 4 anos no cargo sem pagar nada; um irmão fez uma doação para loja de um aparelho de ar-condicionado, com defeito, e cobrou, na época, 580 reais pelo conserto, cujo mesmo continuou parado, entre outras irregularidades.

Foi feita uma limpeza na loja, foram afastados os inadimplentes, com ajuda de algumas poucas cunhadas conseguimos quitar todos os nossos débitos antes do final do ano.

A loja voltou a crescer, e ao término do meu mandato estávamos com 42 irmãos no quadro.

Busquei fazer uma administração democrática, e cheguei a ser chamado por um irmão de revolucionário do bem.

Em 2003, por mudança de Oriente, encerrei as minhas atividades nessa loja.

Passei a frequentar algumas lojas do município, tendo, de imediato, me identificado com uma.

Era uma loja com um número reduzido de quadro. Para se ter uma ideia, após minha filiação, passou a ter 11 irmãos, sendo 2 companheiros.

Passei a visitar todas as lojas da região, convidando para nos ajudar na visitação. A resposta foi quase nula!

Cansei de dar número mínimo nas lojas visitadas. Fiz todos os cargos que vocês podem imaginar. Até presidi uma Elevação, pois o venerável não se sentia seguro para fazê-la. Só a sagração foi feita por ele.

Enquanto isso, muitas vezes, a caminho de minha loja, via irmãos em restaurantes, e não tínhamos número suficiente para abrir nossos trabalhos.

Porém, a nossa loja foi crescendo, começamos a nos reunir, também, fora do templo com nossa família.

Numa dessas reuniões, realizadas em minha casa, surgiu a ideia de construirmos o nosso próprio templo.

Uma sobrinha recebeu uma herança e se prontificou a doar um terreno para nós. Corremos a procura do mesmo e ele foi comprado.

Agora era outra tarefa: Como conseguir o dinheiro para a construção?

Doações surgiram, rifas, participação em barraquinhas de festas juninas, ajuda do Grande Oriente Estadual, e o dinheiro foi sendo conseguido, e partimos para construção.

Foi uma tarefa árdua, mas conseguimos!

O templo ficou lindo! As nossas cunhadas fizeram toda ornamentação em mosaicos.

Conseguimos a Sagração e passamos a funcionar regularmente no local.

Com o tempo, perdemos alguns irmãos. Alguns por abandono e outros por falecimentos. Mas estava dando para continuar.

Em 2006 assumi o cargo de Coordenador de Circunscrição, que anteriormente era chamado de Delegado Regional. Esse cargo, posteriormente, passou a de Assessor.

Embora com dificuldades tudo ia correndo bem. Era uma loja cheia de atividades. Porém, com o decorrer do tempo, um grupo familiar resolveu se perpetuar no poder.

A partir daí, tudo começou a dar para trás! Foi tanta intriga e artimanhas, que ao serem derrotados em suas intenções, acabaram saído da loja e se filiando numa de outra potência. Onde, posteriormente, acabaram sendo expulsos de lá.

Parece até que as forças negativas, criadas por eles, ficaram encravadas na nossa loja.

Aí veio a pandemia, os trabalhos foram suspensos.

Posteriormente, recebi uma mensagem via WhatsApp que haveria uma eleição fora de época.

Fiz de imediato um questionamento. Como poderia haver uma eleição pois, além do templo estar fechado, havia um venerável eleito regularmente.

A pergunta seguinte foi quais seriam os candidatos? A resposta não deixou dúvidas sobre a tentativa de golpe. Entre os “candidatos” tinha um que estava em estado vegetativo em um hospital e três inadimplentes a mais de um ano.

Imediatamente comuniquei ao Grão Mestrado essa atitude. A ordem foi clara: Mande cancelar essa eleição!

Como não conseguiram o seu intento, foi feita uma reunião em que as dívidas foram perdoadas, e no prazo legal seria feita a eleição.

Nesse momento senti que era hora de me retirar, mesmo sabendo que teria de abdicar do meu cargo, pois nessa loja não voltaria mais.

Sai e me filiei em outra loja da cidade, onde estou muito bem.

Alguns que vão ler esses trabalhos vão até questionar: Como ele, depois de tantos aborrecimentos, continua firme na Ordem?

Meus irmãos, Maçonaria para mim é missão! E pretendo continuar nela até o fim dos meus dias.

Sei que um dia terei que deixá-la, só que estarei dentro de um caixão! Sinceramente espero que demore muito esse dia.

Que o que escrevi sirva de incentivo para nunca desistir. Nossa Ordem é linda! É perfeita! Porém sempre vamos encontrar com falsos irmãos, aqueles que nunca deveriam estar na Ordem. Vamos fazer sindicâncias mais severas para impedir que essas pessoas possam ser chamadas de irmãos.

Como disse um tio maçom ao saber que seria iniciado:

” Pessoas que não prestam existem em todos os lugares. Não se iluda, você vai encontrá-los, também, dentro da Maçonaria.”

Sigam em frente e nunca desistam!

Paulo Edgar Melo

Membro da ARLS Resplandecer da Acácia, 3157-GOB-RJ

 

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