Um fato interessante
teria se passado, lá pelos idos do ano de 1946, num vilarejo de pouco mais de
dez mil habitantes, localizado em uma região interiorana do Brasil.
Segundo afirmam
testemunhas ainda vivas, o que vem sendo passado de ano para ano até os dias de
hoje, não se trata de ficção, mas sim, de uma história que, verdadeiramente,
aconteceu.
Na cidade havia uma
pequena usina hidrelétrica cuja capacidade operacional limitava-se ao volume de
águas que recebia do também pequeno riacho conhecido por “Ponte Funda”.
Devido a isso, seu
funcionamento ficava restrito a apenas uma parte do dia, sempre das dezoito às
vinte e quatro horas. Além do mais, as quedas de energia eram frequentes e
muitas vezes prolongavam-se, sem solução imediata, deixando a cidade às escuras
por vários dias.
Na localidade não
havia assistência técnica e quando esta se fazia necessária a única solução era
sair em busca dos demorados recursos de outras regiões mais desenvolvidas.
Certo dia aconteceu
que, segundo consta no livro de atas da Loja Maçônica do lugar, um clima
festivo muito bom se formava entre os maçons porque eles estavam se preparando
para a realização de mais uma sessão magna de iniciação.
Eram apenas dois
candidatos, mas, ambos, considerados de peso para a maçonaria local. Um era o
Prefeito, o outro, o Secretário da pasta de Energia. Tudo estaria convergindo
conforme o planejado. Pretendia-se fechar com brilhantismo aquela que seria,
sem dúvida, uma das mais importantes sessões já realizadas pelos Obreiros
locais.
Enfim, o momento tão
esperado chegou.
Em loja, as colunas e
o oriente repletos, os irmãos ocupantes de cargos já em seus respectivos
postos, todos aguardavam apenas que os trabalhos fossem iniciados e isto
aconteceu na hora estabelecida sem nenhum contratempo.
Mas eis que, quando os
trabalhos já caminhavam para o seu encerramento, em meio à escuridão e batidas
de malhetes, uma voz ressoou: ...
A LUZ SEJA DADA AOS
NEÓFITOS!
Passaram-se alguns
segundos e... cadê a luz?
Ela não vinha! Uma
grande apreensão tomou conta do recinto.
O Cobridor Interno, a
quem fora incumbida a tarefa de controlar a iluminação do Templo, dirigiu-se
rapidamente ao Mestre de Cerimônias para informar-lhe de que a energia tinha
ido embora.
Acionei o interruptor,
mas as luzes não se acenderam. Acho que a energia foi embora, disse ele.
No mesmo instante, o
Irmão Mestre de Cerimônias foi até ao ouvido do Venerável e lhe passou a
informação recebida do Irmão Cobridor.
Sem muito tempo para
pensar e encontrar uma rápida saída para solução do impasse, o Venerável
anunciou aos presentes que dado a um pequeno imprevisto os trabalhos seriam
interrompidos por alguns instantes até que o mesmo pudesse ser superado.
À medida que o tempo
passava o Venerável foi ficando cada vez mais inquieto.
Consultava os irmãos dos
à sua direita, e os da sua esquerda também.
Do lado direito do seu
altar permanecia o irmão Mestre de Cerimônias, que não podia ser visto por
causa da escuridão. Enfim, o Venerável tomou uma decisão.
Chamou o irmão Mestre
de Cerimônias e disse-lhe em voz baixa: “A luz será dada aos neófitos por meio
de velas. Uma para cada irmão e o imprevisto estará superado, mas tem que ser rápido.”
Procurando agir tal
como o Venerável pedira, o irmão Mestre de Cerimônias foi até ao local onde se
guardavam as velas, mas nada encontrou.
Lembrou-se, então, do
Cobridor Externo. Deslocou-se, rapidamente para fora do Templo e, ao passar
pelo átrio, deu de frente com o citado irmão. Enfiou a mão no bolso, tirou
alguns trocados e solicitou-lhe que, obsequiosamente, se dirigisse sem demora
ao pequeno empório da esquina à procura de velas. Tem que ser rápido vá
correndo, pois o Templo está às escuras, disse o irmão Mestre de Cerimônias.
Enquanto isso, os
neófitos permaneciam inertes, sem poder ver nada e sem entender o porquê do incessante
burburinho que se ouvia naquele instante.
Todos se perguntavam
buscando saber o que teria impedido as luzes de serem acesas no momento
apropriado.
No empório, o Irmão
Cobridor chegou apressado e encontrou somente velas artesanais feitas de cera
de abelhas. Sem opção, fez a compra de 32 peças – todo o estoque – e voltou
correndo para o Templo.
Assim, à luz de velas,
os trabalhos foram concluídos, mas algo continuou instigando inquietação entre
os que haviam presenciado o fato.
Eles queriam saber qual
teria sido o motivo causador da falta de energia elétrica no exato momento em
que ela não poderia ter faltado.
O prefeito e o seu
secretário, poucos minutos após o término da sessão, também se sentiam
surpresos e até desapontados. Pensou-se primeiramente em sabotagem, em ação de
pessoas não simpatizantes do prefeito etc..
Depois, em outras
várias hipóteses. Por fim, resolveram fazer uma investigação. No dia seguinte
foram até a usina hidrelétrica buscar esclarecimentos junto ao operador
responsável.
Lá, durante a inspeção
que realizavam, constataram uma coisa simplesmente curiosa. O sistema de
geração de energia havia sido interrompido por um problema na turbina do
gerador, a qual se encontrava instalada no fundo do reservatório de água, a
oito metros de profundidade.
Era preciso esvaziar aquele reservatório para
então se descobrir o que teria sido sugado pela turbina, fazendo-a parar.
Quando o grande tanque de concreto armado se esvaziou a causa de todo o
problema foi logo esclarecida.
Lá estava uma sucuri,
de uns quatro metros de comprimento, morta, enroscada na ponta do eixo da
turbina.
Ao tentarem remover a
cobra, foram novamente surpreendidos. Ela estava prenhe e no “puxa-puxa” para
desentranhar o animal do lugar onde se encontrava preso, oito cobrinhas, também
já sem vida, foram expelidas de seu ventre.
A notícia se espalhou
rapidamente e em pouco tempo centenas de pessoas estavam lá para ver o bicho e
seus filhotes.
A cena despertou curiosidade, apreensão e medo
em muita gente. Curiosidade por duplo aspecto. Primeiro, porque atraiu muita
gente para ver o acontecido. Segundo, porque naquele lugar nunca se tinha
visto, nem mesmo ouvido falar de uma cobra tão grande como aquela.
Apreensão e
medo, porque a impressão que se tinha de que o “Ponte Funda”, sempre aceito
como um regato muito calmo e sereno, não passava de um engano visto que, ante a
constatação do fato que paralisou o funcionamento da pequena usina, outros
répteis da mesma espécie poderiam estar vivendo nas imediações, inclusive crias
já adultas da enorme serpente encontrada morta.
Por longo tempo as
margens daquele riacho ficaram desertas em razão da síndrome do medo que tomou
conta dos moradores do lugar.
E desde então, não se
ouviu mais falar do riacho “Ponte Funda”, e sim, do ribeirão da “Sucuri” como
ficou conhecido.
Ir.'. Anestor Porfírio
da Silva MI e Membro da ARLS Adelino Ferreira Machado Or.'. de Hidrolândia –
Goiás - Conselheiro do Grande Oriente do Estado de Goiás
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