ESPIRITUALIDADE


Por que a vida é repleta de desafios?

A vida é obra do acaso ou existe sentido no viver?

Existem razões para que o sofrimento esteja presente em nossa vida?

Quem e o que somos?

Deus existe?

A espiritualidade nos ensina, segundo Deepak Chopra, que a vida não é aleatória. Há um padrão e um objetivo em cada existência. O motivo pelo qual enfrentamos desafios é simples: aumentar a consciência do nosso objetivo interior.

Quando expandimos nossa consciência é possível começar a responder a estas e outras perguntas. Na visão do filósofo Mário Sérgio Cortella, a espiritualidade é a capacidade de perceber que as coisas não são um fim em si mesmo.

Existem razões mais importantes que o imediato, e aquilo que você faz têm um sentido, um significado. A pessoa espiritualizada às vezes é confundida com um caráter místico, sendo em sua opinião uma percepção negativa, pois deriva para o campo do fanatismo.

Para ele, o desejo por espiritualidade é um sinal de descontentamento muito grande com o rumo que muitas situações vão tomando e, por isso, é uma grande queixa. A espiritualidade é precedida por uma angústia, quando você precisa refletir sobre si mesmo.

A angústia é uma sensação de vazio interior. Para Martin Heidegger, filósofo alemão, a angústia é a sensação do nada. Isto é positivo no ponto em que onde está o nada está também à possibilidade plena.

Quando não sentimos nada, todas as possibilidades e horizontes se abrem. A espiritualidade é a possibilidade de encontrar, a partir deste vazio, a resposta de que a vida tem um sentido e que ela não se esgota neste momento, ou nesta ação cotidiana.

Em síntese, há uma convergência destes pensadores no sentido de que a espiritualidade é uma busca interior pelo significado da vida.

Não é objetivo de este trabalho tecer comentários sobre experiências místicas, mediúnicas ou sobrenaturais, embora concorde com diversos autores quando afirmam que não somos seres físicos que eventualmente possuem experiências espirituais, mas seres espirituais vivendo uma experiência física.

A discussão terá como foco o papel da espiritualidade neste momento e nesta vida e não às possibilidades de outras vidas em outros mundos.

Tratarei da espiritualidade como busca de um sentido maior da vida e das formas de relacionamento com outros espíritos que estão aqui conosco cotidianamente, quais sejam nossos familiares, colegas, amigos, entre outros.

Num primeiro momento, devemos apenas didaticamente distinguir o espírito da matéria, embora esta dissociação somente encontre sua efetiva relevância no momento da morte do corpo físico. É exatamente quando se vê um corpo sem vida que se estabelece com grande clareza a diferença que o espírito ou a energia vital representa.

Um corpo sem espírito não reage, não interage, é inerte. Tudo o que morre é matéria. O corpo é matéria e por óbvio todos os pertences que lhes eram necessários para a vida também são.

O espírito é tudo o que pode sobreviver após a morte do corpo e que também serve de energia a este enquanto vivo. Neste momento, somos matéria e espírito e devemos ter como objetivo um equilíbrio harmônico nesta dualidade.

A excessiva veneração pelos bens materiais pode impedir que a vida encontre a sua plenitude, assim como a busca demasiada pelo mundo espiritual também pode ser um obstáculo para viver o tempo presente, neste corpo e nesta vida.

Como maçons, somos incentivados a sobrepor o espírito à matéria. Isto não significa a negação da matéria em favor do espírito, mas sim a busca da espiritualidade nesta vida física. Em outras palavras devemos enxergar o mundo em que vivemos com os olhos da alma.

Quando você vive automaticamente, sem questionar o significado dos acontecimentos da sua vida, você está atuando em nível rudimentar de sua consciência e de certa forma abrindo mão da sua liberdade. Você reage aos estímulos mais do que é sujeito de suas ações.

Na medida em que expande a sua consciência, você acessa o seu Templo interior, passa a se perceber como parte efetiva do Universo, tem aflorada a sua religiosidade (no sentido de religar-se à energia que o Criou) e se sente harmonizado com o Cosmos.


A expansão da consciência pode se dar intencionalmente pela reflexão e meditação. Muito comum também ocorrer por estímulos externos, como a perda de um amigo ou familiar, uma grande crise pessoal, uma depressão ou outra doença, fatos que permitem observar a vida sob um novo ponto de vista.

Nos próprios Rituais Maçônicos, percebemos uma espiritualidade fortemente presente nos Cerimoniais Fúnebres. Na Pompa Fúnebre, ouvimos que somos uma chama, cheia de vida, porém basta um sopro para que se extinga, e já não se ouça nossa suave e sonora voz.

A nossa Cadeia de União perde um de seus elos, mas chama por ele até que este responda que estará sempre presente. “Apesar da tristeza que nos abate, lembremo-nos que... a morte nada mais é do que a Iniciação à vida eterna.” Mas não nascemos apenas para morrer, embora a morte do corpo seja uma grande certeza.

Morreremos e pareceremos insignificantes aos olhos de muitas pessoas que possam passar diante de nossa sepultura. Algumas coisas, porém, sobreviverão. Será nossa contribuição pessoal. Não será o nosso nome em sentido literal, mas o sentimento que nosso nome despertará nos ouvidos daqueles que nos conheceram.

Não será o nosso túmulo, mas o nosso legado. “A boa vida tem somente certo número de dias; mas o bom nome permanecerá para sempre.” (Eclesiástico 41 – 5/15/16) Esta reputação, tão evidenciada pela morte do corpo, é construída pela maneira como desenvolvemos nossa vida.

A expressão de corpo e alma representa muito claramente como podemos viver para nos eternizar. Isto vale para a vida como um todo, mas serve, por óbvio, igualmente para as atividades maçônicas.

Pode haver uma grande diferença entre ter Irmãos e sentir-se Irmão, entre ter sido Iniciado e ser um Maçom. Frequentar a Loja não significa necessariamente participar dela, assim como estar vivo não significa viver.

Nas próprias reuniões maçônicas, existem os verdadeiros elos da Cadeia de União e outros que não entendem por qual motivo se devem dar as mãos. Há quem aproveite as circulações para conversar, enquanto outros buscam a elevação do espírito.

Talvez poucos estejam devidamente atentos para colocar os bons fluídos na Bolsa mais do que pranchas, óbolos ou certificados.

Para o verdadeiro Iniciado, colocar o espírito sobre a matéria deixa de ser uma virtude.

Fábio Scuro



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