FLAMEJANTE OU FLAMÍGERA?


 

Muitos perguntam qual dos termos está mais apropriado para ser usado: Flamejante ou Flamígera? Devido às diversas traduções dos rituais em línguas inglesa e francesa para o português, e que ainda vieram do português de Portugal e migraram para o Brasil, existem dúvidas quanto aos termos Flamejante e Flamígera que são adjetivos da Estrela e da Espada que constam da simbologia da Loja Maçônica.

Consultando o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa encontramos os seguintes significados:

Flamejante (flamejar + ante) adjetivo de dois géneros 1. Que flameja 2. (Figurado) ostentoso, vistoso, flamante.

Flamígera (latim flamminger, -gera, –gerum) adjetivo (Linguagem poética) Que origina ou traz consigo chamas.

O termo original para a estrela em inglês é BLAZING STAR, que segundo o Dicionário Michaelis traduz blazing como em chamas, ardente, resplandecente, fulgurante.

O termo original para a espada em inglês é FLAMING SWORD, que segundo o Dicionário Michaelis traduz flaming como flamejante, ardente, brilhante.

Sem defender uma ou outra tradução ou interpretação, vamos analisar as suas raízes históricas e possíveis traduções de como chegaram até aos nossos dias.

A estrela

Em primeiro lugar consultamos Bernard Jones, eminente membro da Loja Quatour Coronati 2016 da Inglaterra que é categórico em afirmar que a Estrela que consta na simbologia maçónica é a de SEIS pontas ou o Hexagrama, não se devendo confundir com a de cinco pontas. Está é a estrela que vemos colocada no alto dos painéis referentes ao segundo grau do simbolismo ou Companheiro.

Porém Mackey defende a tese de que a Estrela Flamejante é de CINCO pontas onduladas e não retas para nos dar o sentido de flamejante. Isto iremos ver mais adiante.

Tal Estrela aparece pela primeira vez citada num catecismo maçónico no ano de 1700 no Manuscrito Sloane 3329, como BLAZING STAR:

Q. – How many Jewles belong to your Lodge?

A. – There are three the Square pavemt the blazing Star and the Danty tassley.

Pergunta – Quantas joias pertencem à sua Loja?

Resposta – Existem três: o pavimento Esquadrado a Estrela flamejante e a orla Dentada com borlas.

O Manuscrito foi datado em ser de 1700, mas pode ser muito mais antigo, onde além da estrela, é também encontrado pela primeira vez a palavra Freemason escrita junto e não Free Mason como em textos anteriores, além de deixar evidente a existência de três graus e não apenas dois como noutros documentos.

Já Albert G. Mackey na sua Enciclopédia Maçónica fornece-nos mais detalhes da Estrela. Vamos reproduzir trechos desse verbete (os textos entre parêntesis são os nossos comentários):

A Estrela Ardente ou Flamejante, que não deve, no entanto, ser confundida com a Estrela de Cinco Pontas, é um dos símbolos mais importantes da Maçonaria e aparece em vários graus. Hutchinson diz: “É o primeiro e mais exaltado símbolo que exige a nossa atenção na Loja”.

Sem dúvida, deriva essa importância, primeiro, do uso repetido que é feito dela como emblema maçónico; e segundo, da sua grande antiguidade como símbolo derivado de sistemas mais antigos.

Por mais extensa que tenha sido a aplicação desse símbolo nas cerimónias maçónicas, não surpreende que tenha havido uma grande diferença de opinião em relação à sua verdadeira significação.

Mas essa diferença de opinião foi quase inteiramente confinada ao seu uso no Primeiro Grau. (Mackey cita o uso da Estrela Flamejante no primeiro grau e atualmente a encontramos apenas no Segundo Grau). Nos graus superiores, onde houve menos oportunidades de inovação, a uniformidade de significado atribuída à Estrela foi cuidadosamente preservada.

Aparece no quarto, nono e vigésimo oitavo grau do antigo e aceito rito escocês

Quando, no entanto, nos referimos à Maçonaria Antiga, encontraremos uma diversidade considerável na aplicação desse símbolo.

Nos primeiros monitores maçônicos, imediatamente após o renascimento de 1717, a Estrela Flamejante não é mencionada, mas não demorou muito para ser introduzida. Nas instruções de 1735, é detalhado como parte das joias de uma Loja, com a explicação de que o “Pavimento Mosaico é o Piso Térreo da Loja, a Estrela Flamejante, o Centro e a Orla Dentada, a fronteira em torno de tudo isto!”

Em um painel primitivo do Aprendiz Admitido, copiada por Oliver, sem outra data além da que foi publicada no início do século passado “, a Estrela Flamejante ocupa uma posição de destaque no centro do painel simbólico. Oliver diz que representava a BELEZA, e foi chamada de a Glória no Centro.

(Há-se notar que no início da Maçonaria Especulativa existia apenas dois graus e painéis dessa época indicavam simbologia para esses dois graus num único simbolismo. O painel de Companheiro do REAA que aparece nos rituais atuais deriva do original pintado por John Harris em 1823 onde não constava a estrela. Cópias e versões posteriores adicionaram uma letra G, depois a letra G dentro de um triângulo e posteriormente a letra G dentro de uma Hexagrama)

Na palestra de Prestonian, a Estrela Flamejante, com o Pavimento Mosaico e a Orla Dentada, é chamada de Ornamento da Loja, e a Estrela Flamejante é assim explicada:

“A Estrela Flamejante, ou glória no centro, lembra-nos aquele período temível em que o Todo-Poderoso entregou as duas tábuas de pedra, contendo os dez mandamentos, ao Seu fiel servo Moisés no Monte Sinai, quando os raios da Sua glória divina brilhavam. Brilhante a ponto que ninguém poderia contemplá-lo sem medo e temor.

Também nos lembra a omnipresença do Todo-Poderoso, ofuscando-nos com o Seu amor divino e distribuindo as Suas bênçãos entre nós; e por ser colocado no centro, nos lembra ainda mais: que onde quer que estejamos reunidos, Deus está no meio de nós, vendo as nossas ações e observando as intenções e movimentos secretos dos nossos corações “.

(Note-se que a Estrela Flamejante está colocada no centro do Templo Maçônico na maioria dos seus ritos.)

No sistema de Hutchinson, a Estrela Flamejante é considerada um símbolo da Prudência”. É colocada”, diz ele, “no centro, sempre presente aos olhos do Maçom, para que o seu coração esteja atento aos ditames dela e firme nas suas leis; pois a prudência é a regra de todas as virtudes;

A prudência é o caminho que leva a todos os graus de propriedade; a prudência é o canal onde a auto aprovação flui para sempre; ela leva-nos a ações dignas e, como uma Estrela Ardente, ilumina-nos através dos caminhos sombrios e obscuros desta vida. ‘‘(Spirit of Masonry, edição de 1775, Palestra v, página 111).

E, finalmente, nas palestras revisadas pelo doutor Hemming e adoptadas pela Grande Loja da Inglaterra na União em 1813, e agora constituindo as palestras aprovadas dessa jurisdição, encontramos a seguinte definição:

“A Estrela Flamejante, ou glória no centro, remete-nos ao sol, que ilumina a terra com os seus raios refulgentes, distribuindo as suas bênçãos à humanidade em geral e dando luz e vida a todas as coisas aqui abaixo”.

Portanto, descobrimos que em vários momentos a Estrela Ardente foi declarada um símbolo da Divina Providência, da Estrela de Belém, da Prudência, da Beleza e do Sol.

A aplicação da Estrela Flamejante como um emblema do Salvador foi feita pelos escritores que dão uma explicação cristã dos nossos emblemas e, para o Maçom cristão, essa aplicação não será questionável.

Mas aqueles que desejam abster-se de qualquer coisa que possa prejudicar a tolerância do nosso sistema estarão dispostos a adoptar uma explicação mais universal, que pode ser recebida igualmente por todos os discípulos da Ordem, quaisquer que sejam as suas visões religiosas peculiares.

Essas pessoas preferem aceitar a expressão do doutor Oliver, que, embora muito disposto a dar um carácter cristão à nossa instituição, diz no seu Symbol of Glory (página 292): “O Grande Arquiteto do Universo é, portanto, simbolizado na Maçonaria pela Estrela Flamejante, como o Arauto da nossa salvação”. Antes de concluir, algumas palavras podem ser ditas quanto à forma do símbolo maçônico. Não é uma estrela heráldica ou estela, pois isso sempre consiste em seis pontos, enquanto a estrela maçónica é feita com cinco pontos.

Talvez isto tenha sido uma alusão involuntária aos cinco Pontos da Companheirismo (os cinco pontos de perfeição). Mas o erro foi cometido em todos os nossos modernos Tracing Boards (ou painéis simbólicos) de fazer a estrela com pontos retos, que formam, é claro, mas não representam uma estrela em chamas. John Guillim, editor em 1610 do livro A Display of Heraldirie, diz:

“Todas as estrelas devem ser feitas com pontos ondulados, porque os nossos olhos tremem ao vê-los”. No início do traçado já mencionado, a estrela com cinco pontos retos é sobreposta a outro dos cinco pontos ondulados. Mas os últimos agora estão abandonados e temos nas representações dos dias atuais o símbolo incongruente de uma estrela em chamas com cinco pontos retos. No centro da estrela havia sempre a letra G, que, como o hebraico yod, era um símbolo reconhecido de Deus, e assim a referência simbólica da Estrela Flamejante à Divina Providência é grandemente fortalecida.

Portanto não vimos referência alguma ao termo Famígera para a Estrela e assim consideramos que a melhor tradução é a de Estrela Flamejante onde aparecem nos painéis variações de ser com cinco ou seis pontas e com a letra G interna.

A espada

A espada com lâmina ondulada remete-nos à tradição descrita nas escrituras onde Yahveh determina que os seus Querubins ficassem na porta do Eden “para manter o caminho guardado de acesso à Arvore da Via”, com o fenómeno revoluto da espada curvada ou da lâmina flamejante da espada que gira.

Eram dois Querubins cada um do lado da entrada, com as suas espadas flamejantes.

Mackey explica-nos que a Espada do Cobridor do Templo Maçônico sofreu alterações simbólicas ao longo do tempo. Atualmente vemos o Cobridor com uma espada de lâmina reta. Mas isso é incorreto segundo Mackey, pois antigamente a Espada do Cobridor tinha a lâmina ondulada e fazia menção à Espada flamejante de foi colocada no leste do Jardim do Eden, e que girava para manter acesso à Arvore da vida.

Mackey ainda, no seu verbete:

FLAMING SWORD (Espada Flamejante) diz-nos que tal espada é feita de uma espiral ou torção na forma da lâmina e que é chamada na heráldica por Flaming Sword, (espada flamejante) lembrando as curvas ascendentes de uma chama de fogo.

Até recentemente (1858), esta era a forma da espada do Cobridor. Descuidado e ignorância tem levado muitas lojas a substituir a espada do Cobridor por uma comum. Portanto a espada do Cobridor é a Espada Flamejante que faz referência à espada que guardava a entrada do Paraíso como descrito em Génese (III, 24).

Mackey ainda invoca os maçons a restabelecerem os costumes antigos que foram deturpados ao longo do tempo, reforçando que o cobridor use a Espada Flamejante.

Conclusão

Embora com sentidos etimológicos diferentes, mas com sentido simbólicos similares, os termos Flamejante e Flamígera são equivalentes e foram utilizados de acordo com a vontade e simpatia do tradutor. Considerando os dicionários consultados, entendemos que o melhor termo para expressar a resplandecência tanto da Estrela como da Espada é FLAMEJANTE, embora existam aqueles que preferem Flamígera, o que equivalem.

Alberto Feliciano

Fontes

Enciclopédia de Mackey da Maçonaria

Freemasons Guide and Compendium de Bernard Jones.

 

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