RITOS MORTUÁRIOS - AS POMPAS FÚNEBRES NA MAÇONARIA


Do Ritual Mortuário
 
Segundo Jean-Pirre Bayard, o rito funerário trata da relação teatralizada e derradeira com o morto no sentido de fazer-lhe menção honrosa e também de dar aos seus o consolo de que a vida não se extinguiu de todo, pois asseguram-lhes haver uma vida algures. Soma-se a este sentido, o fato de que os ritos mortuários possuem eficácia simbólica ao fornecerem uma harmonização psico-social do cosmo, que fora perturbado com o fatídico acontecimento, tal como mostra o fragmento ritualístico maçônico utilizado quando do final do Ritual de Pompas Fúnebres pelo 1º Vigilante, 2º Vigilante e Venerável Mestre respectivamente:

“Estamos confortados, certos do seu glorioso triunfo, pois, enquanto vivia, pelas suas ações e palavras em torno de nós era um modelo de virtude!”

“Estamos confortados certos de seu glorioso triunfo, porque a Vida é uma só, e a mera supressão da aparência terrena, não corta o fio da existência. A saudade que dele sentimos, é agora um incentivo para o aprimoramento de nosso labor: não é um sentimento debilitante ou enfraquecedor!” 

“Já não voltamos a cabeça para a noite. Preferimos olhar o Sol que ilumina as cristas dos montes e enfeita de luz as estradas do mundo. Estamos sim mais confortados do que na abertura dos trabalhos.!”       
                  
O Ritual Maçônico, tal como a instituição, é pleno de representações simbólicas. 

Estes atos simbólicos remetem-se justamente a analise teórica proposta na obra “Sentido Oculto dos Ritos Mortuários”, que trata da simbólica da morte como sendo um ato, no qual “o visível se remete a um significado ausente, a uma entidade abstrata e não apresentável” servindo, desta forma, para evocar o extra-sensível em todos os seus aspectos.

Dentre os símbolos maçônicos significativos no comportamento ritual, tem-se, por exemplo, o transcrito a seguir, desde a ornamentação do Templo Maçônico - lócus onde se passa o Ritual – até a consumação dos atos da ritualística mortuária que se iniciam no 7°, 30° ou 33° dia após a morte “do elo ausente da corrente maçônica”:
“A Loja será composta conforme as generalidades litúrgicas do Grau de Aprendiz [1º grau da Ordem Maçônica], com as disposições particulares que aqui se descrevem, mantidos os materiais e ornamentos daquele Grau.

Entretanto, mesmo enquanto sendo a sessão celebrada no Grau de Aprendiz deve-se notar que, salvo determinações expressas do Grão-Mestre, as honras fúnebres são devidas somente aos Mestres Maçom.

A loja será forrada de preto, com galões brancos ou prateados e objetos alusivos ao ato, da mesma, se admitindo o uso de outros ornamentos. Caso se empregue vaso com flores nos altares, todas deverão ser brancas ou amarelas. Executam-se as de uso ritualístico que serão vermelhas, despetaladas, como se verá. A iluminação será efetuada por três luzes (velas de pura cera), além da instalação elétrica convencional, sendo uma em cada um dos altares do Venerável Mestre [posto Mor] e dos 1º e 2º Vigilantes [cargos consecutivos ao maior posto],instaladas em Castiçais de Três Luzes.

Além dessas luzes, sobre o altar do Venerável Mestre estará á esquerda um castiçal com uma única vela, que se acenderá/apagará no decorrer do cerimonial.

O túmulo ou catafalco levantar-se-á no Ocidente, ao Centro do Pavilhão do Mosaico [parte por vezes central, por vezes geral do piso da Loja ,quadriculado em preto e branco, contendo as designações cardeais], adornado de preto e prata, segundo o uso destas solenidades, com a extremidade correspondente aos pés voltada para o Oriente. Nos ângulos do esquife estarão quatro brandões (grandes velas de cera ou  círios). Sobre ele colocam-se, a partir do lado do Oriente (relativo á cabeça), uma Espada desembainhada, o Avental do defunto, o Esquadro, o Compasso, e o Ramo de Acácia. Ainda sobre o Pavilhão do  Mosaico, na frente do catafalco, do lado do oriente, colocar-se-á uma coluneta, coberta de crepe e sobre ela a Pira Funerária, um vaso prateado com álcool perfumado. Os brandões e a Pira serão acesos no momento ritualístico adequado. 

Á direita e á esquerda da Pira Funerária, em dois suportes, um pouco mais baixos, estarão duas cestas, uma cheia de ramos verdes de Acácia e outra contendo pétalas de rosas vermelhas. Finalmente existirão três vasilhas (tripeças) contendo álcool perfumado, uma na altura da cabeça, ao lado esquerdo, outra no meio do túmulo, ao lado direito, e outra aos pés, do lado esquerdo. Elas designam os três graus simbólicos e tem relação com as três idades da vida humana. Serão acesas antes de se percorrer o Caminho da Saudade [voltas ritualizadas no entorno do caixão], e assim se conservam durante toda a cerimônia, apagando-se, porém, após se recitar a oração fúnebre de encerramento.

Uma cadeira, simbolizando o lugar que o Irmão falecido ocupava na Loja, deve estar colocada na coluna do Sul [refere-se ao lado Sul da Loja], e coberta com pano preto salpicado com lágrimas prateadas.

Serão designados quatro Irmãos com Espadas (pontas apoiadas no solo) para Guardiões do túmulo, que ficarão sempre sentados também voltados para o Ocidente (de costas, portanto, para o Oriente).”( TRECHO DO RITUAL MAÇÔNICO DO RITO ADONHIRAMITA).

Face aos esclarecimentos acima descritos, pode-se inferir comentários a respeito de sua simbólica, com base nas concepções teóricas de Bayard e das conclusões tiradas a partir das entrevistas (a níveis menos formais), com os membros desta Fraternidade:

Da Hierarquização do Ritual:
 
Sabe-se que a Maçonaria tem sua organização dividida em Graus, que são, Aprendiz (equivalente ao 1°Grau da Instituição); Companheiro( 2°Grau) e Mestre ( o 3° e último dos graus simbólicos, tendo por consecutivo os graus Filosóficos) .

O Ritual Maçônico Magno de Pompas Fúnebres é concedido somente aos Mestres Maçons, pois eles acreditam que neste grau o Maçom alcançou sua plenitude em relação à simbologia da Pedra, outrora bruta, mas que quando de sua elevação ao grau de Companheiro, ganhou aspecto cúbico, polido.

Pode-se, a partir desta concepção “hierarquizada” do cerimonial maçônico, fazer menção a obra de Bayard que diz que o ritual funerário pode variar conforme a posição social do individuo falecido. 

 Dos Ornamentos:

O Ritual se passa dentro do templo maçônico, que normalmente é azul. Contudo, por ocasião do luto, as paredes, os móveis e os adornos que circundam o  esquife, são todos revestidos de panos pretos salpicados de lágrimas cor de prata, simbolizando, desta feita, o sofrimento ali presente em razão da partida do Irmão.

 Dos Símbolos:
 
A Maçonaria faz uso dos símbolos para espargir suas intenções e conhecimentos. Em seu Ritual Fúnebre acontece o mesmo. Suas pretensões em relação à morte são postas de forma a serem compreendidas através dos símbolos ali presentes. Dentre esses símbolos tem-se:

 A Rosa, como símbolo da comunhão fraterna existente entre os membros desta instituição e também assinalando a simbologia de que “O AMOR É MAIS BELO QUE A MORTE!”, tal como informa o Ritual. Na ritualística, a Rosa é  despetalada e lançada no esquife pelo 1º e 2º Vigilante ás ordens do Venerável Mestre que assim também o faz, enquanto circundam o esquife.

Os ramos de Acácia, como emblema da imortalidade, não necessariamente metafísica - posto que esta pode se configurar no imaginário coletivo, como se pode notar no fragmento ritual a seguir: “Os virtuosos como vós, terminada a vida material, revivem nos exemplos que deixaram, triunfando sobre a morte”. A Acácia, por fim, representa que “O AMOR É MAIS FORTE QUE A MORTE!”. Da mesma forma que ocorre com a Rosa, a Acácia é lançada enquanto se circundam três vezes o esquife.  

O Incenso, como signo da união entre o transitório e o Eterno. Neste Ritual ele representa o contato, por meio da oração, entre o mundano e o divinal, e lembra também que “O AMOR É MAIS SABIO QUE A MORTE!”. O esquife é incensado três vezes enquanto se executa as três voltas rituais.   

O Esquife vazio simboliza a morte do irmão. Este é colocado no centro do Templo sobre o Pavimento do Mosaico.

As grandes velas ou círios simbolizam pela sua Luz, conforme nos diz Louis-Vincent Thomas, “o calor, a leveza, a pureza e o amor”, além de testemunharem “a imortalidade da alma e a sua entrada na mansão celeste”. Acresce-se a isso o fato de que a claridade dos círios denota expressão de vida e conhecimento, sendo este último a culminância dos ideais maçônicos.

O Avental, símbolo do trabalho maçônico, é posto no interior do esquife para ratificar sua vida maçônica no post mortem.

Há também Fogo, além dos círios, representado na Pira Funerária, que é um vaso prateado contendo álcool perfumado, a qual é colocada sobre uma coluneta coberta de crepe. Junto á Pira Funerária e os Círios existem três vasilhas contendo também álcool perfumado, simbolizando as três idades da vida humana ( “nascer, viver e morrer) e o três graus simbólicos da Ordem Maçônica. O fogo é, senão, a representação da purificação por meio da destruição da vida terrena. Remonta também, a dualidade vida x morte, aquele que destrói para fazer renascer, tal como a Fênix que a cada cem anos incinera-se a si própria, para das próprias cinzas renascer.

Entre os símbolos, há também a cadeira que o falecido ocupava quando dos trabalhos in Loja. Esta estará posta no lado Sul da Loja, lado mais iluminado do Templo Maçônico, revestida com um pano preto salpicado de lagrimas prateadas. Como já foi esclarecido anteriormente, as lagrimas e o preto simbolizam o pesar e o luto maçônico pela fatídica perda, mas também a esperança de que o “Irmão” que partiu, encontra-se Na Luz

Por fim, há a designação de quatro maçons, para sentarem-se disposto dois - a - dois, voltados para o Ocidente - lado mais escuro do Templo Maçônico -, portando espadas, que ficarão voltas para o solo. Estes recebem a alcunha de Guardiões do Túmulo. Ora, pode-se concluir a partir disso, que esses “Guardiões”, possuem a função de salvaguardar a “passagem iluminada” do morto ao plano etéreo das influências obscuras vindas da “noite escura”.

Evidentemente que a interpretação dos símbolos acima descritos, bem como sua utilização, foram descritas conforme sugere o Ritual “Público” de Pompas Fúnebres, que é uma cerimônia aberta aos “profanos”, sendo a simbólica “secreta” restringida aos pertencentes da instituição em voga.  

Cícero Pedrosa Neto, Ernesto Feio Boulhosa,
João Paulo de Oliveira
& Raphael Gomes:

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