CARTA A UM CONVIDADO: INGRESSO NA MAÇONARIA



Imagino tua perplexidade ao convite que te fiz. Afinal, não dispor de nenhuma informação sobre o grupo a que estás convidado a ingressar deve causar um desconforto e muita curiosidade...

Caro Amigo:
Imagino tua perplexidade ao convite que te fiz. Afinal, não dispor de nenhuma informação sobre o grupo a que estás convidado a ingressar deve causar um desconforto e muita curiosidade.

Pensando nisto é que me animo a te escrever algumas linhas. Elas não irão desvendar mistérios que existam ou que imaginas, até porque em aceitando o convite é que irá, pelo teu esforço, trabalho e estudo, pessoalmente desvendá-los.
Para facilitar teu entendimento, abordarei em tópicos o que pretendo, e posso te anunciar.

PERFIL DO GRUPO
Historicamente a sociedade humana tem se organizado por grupos de interesse: religiosos, políticos, econômicos, etc… Ao mesmo tempo em que um ou mais de um determinado interesse caracteriza um grupo, origina também antagonismo entre um grupo e outro.

A História é densa em exemplos de conflitos deste tipo. O próprio caráter religioso protagonizou embates e incoerências cruéis “em nome de Deus”.

Ora, que pensas de poder reunir homens que professam as mais variadas religiões, mas que aceitam “por acordo” denominar o Ente Supremo como sendo o Grande Arquiteto do Universo e que aceitem a partir deste ponto comum praticar a tolerância e nunca tentar impor a outrem sua religião e seus ritos? Já teremos aí dirimido um fator histórico de divisão entre os homens! Concordas?

Outro aspecto que te apresento para análise é a própria composição de um grupo. Normalmente eles são compostos por uma característica de afinidade entre seus componentes. Este de que te falo tem a proposta de multidisciplinaridade.

Sem que haja predominância de um matiz sobre outros se busca médicos, dentistas, engenheiros, professores, advogados, empresários, comerciários, operários. Enfim a tônica é que a possibilidade de troca entre seus componentes sejam propulsoras do aprimoramento individual e coletivo. No entanto, cuidado não imagine que haja uma forma ou receita para este aprimoramento. Já no início desta te alertei de que dependerá de cada um estar atento às situações de aprendizado e crescimento delas maximizar seus resultados.

Este aprendizado deverá chegar aos limites do Livre Arbítrio, portanto de uma maturidade instalada e instrumentalizada para estar permanentemente “à disposição” de atuar em prol de avanços, de progresso, de combate ao obscurantismo, de combate ao autoritarismo, em prol de direitos universais individuais e coletivos, em busca incessante de justiça. Deves estar pensando quão difícil é compor um grupo de homens que busquem estes princípios e que não estejam diferenciados e divididos na forma de buscá-los.

Pois bem, é necessário aí novo acordo! Já ouviste alguma citação do tipo “… sou totalmente contrário ao que pensas, mas defenderei com minha própria vida o direito que tens de pensar assim”? Pois este é o acordo! Independente da concepção política, econômica ou filosófica de um membro do grupo este respeita o direito do outro pensar diferente.

Este respeito é originado pela convicção do outro. Posso imaginar que meu irmão esteja enganado, mas parto sempre do pressuposto de que ele está convicto e ao defender o que pensa o faz honestamente. Portanto só posso pretender uma mudança pelo convencimento e para tanto deverei buscar a forma e os argumentos adequados.

Vês, assim é possível funcionar com harmonia um grupo formado de homens que pertençam: a partidos políticos diferentes, a times de futebol diferentes, a igrejas diferentes, a escolas de samba diferentes, etc…

Outra característica que deves conhecer é a de que estes homens se tratam com fraternidade e buscam apoiarem-se mutuamente para atingirem seus objetivos. Nada mais natural já que a luta de um é a luta de todos e em prol da sociedade.

Cuidado novamente é preciso deixar claro que este auxílio mútuo não se aplica a outros objetivos que não sejam comuns. Está aí uma diferenciação transparente e definitiva de grupos escusos e corporativos.

Através de caracteres próprios estes homens identificam-se em qualquer parte do mundo, reconhecem-se como irmãos e se tratam como tal.

IMAGEM EXTERNA DO GRUPO
Pelo que já conversamos até aqui podes imaginar quanto de superstição, de incorreções, de invencionices e de distorções são propagadas a respeito deste grupo.

Imagina quantos interesses foram desestabilizados pela ação de homens livres. Libertação de nações, lutas libertárias, movimentos abolicionistas, campanhas, etc. ação de homens livres carreou a ira e a reação de monarcas, governantes, igrejas e outros…

Portanto, a partir da ótica dos ameaçados de perder o poder discricionário era preciso combater, difamar e expor ao ridículo com informações que, incorretas, mas assustadoras, pudessem convencer a opinião pública mantendo-a atrelada ao discurso dos difamadores.

Convenhamos aos que dominam por crendice e engodo um grupo de homens livres, corajosos, libertários e coesos representava, realmente, um sério risco.

CARÁTER SECRETO DO GRUPO
Penso que quase seria desnecessário comentar que por tudo o que já conversamos é evidente que este grupo de homens não poderia andar circulando com crachá no peito em meio a tantos obstáculos que hoje ainda perduram e que em outros tempos foram muito mais perigosos.

Portanto, o grupo é fechado e não secreto. Suas ações e a identificação pública de alguns de seus componentes acontecem, quando acontece, vários anos ou décadas após os fatos. Até porque o anonimato é cultuado mais como uma virtude que uma omissão ou fuga.

Assim a entrada de um novo membro é por decisão dos demais que observando alguém e suas ações na sociedade convidam-no. Nunca alguém bate a porta e pede entrada. Isto funciona como um mecanismo de manutenção da qualidade de recrutamento e, portanto manutenção da homogeneidade do grupo.

FATOS ATRIBUÍDOS AO GRUPO E PERSONAGENS PÚBLICOS
Para que analises as parcerias a que estarás submetido e conheças algumas ações que nos são atribuídos posso citar: Revolução Francesa, Inconfidência, Independência do Brasil, República, Movimento Abolicionista no Brasil e no Mundo.
Entre personagens públicos posso citar:

SIMON BOLÍVAR, BENJAMIN FRANKLIN, GARIBALDI, GOETHE, THOMAS JEFFERSON, ABRAHAM LINCOLN, FRANZ LISZT, MOZART, SAN MARTIM, MARK TWAIN, GEORGE WASHINGTON, SALVADOR ALLENDE, NEILL ARMSTRONG, LORD BADEN POWELL, WISTON CHURCHILL, ALEXANDRE FLEMING, FRANKLIN D. ROOSEVELT, JOSÉPHINE BAKER, PROUDHON, JEAN MOULIN, FREDZELLER, MARIA DERAISMES, ESQUIROL, MARAT, MONTESQUIEU, VOLTAIRE, JOSÉ BONIFÁCIO, JOAQUIM GONÇALVES LEDO, TIRADENTES, BENTO GONÇALVES, RUY BARBOSA,…

Estes são apenas alguns, dos quais me recordo sem lançar mão de bibliografia.

AÇÃO PÚBLICA DO GRUPO
Diferentemente do que pensam muitos os grupos não age institucionalmente na sociedade. Com exceção de ações filantrópicas e educativas, sempre anônimas, todas as demais ações são individuais e reflexos da postura consciente e cidadã de cada membro, mesmo que outros membros do grupo estejam a apoiá-lo.

Lê-se que a independência do Brasil foi anunciada entre o grupo antes mesmo de D. Pedro I, dar o grito. Isto não significa, no entanto, que fosse uma ação institucional do grupo. Significa apenas que muitos de seus membros defendiam esta causa, tinham muitos outros a apoiá-los e estavam em posições estratégicas para levar adiante sua consecução.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bem, após toda caracterização, possível, é preciso que tenhas claro uma condição definitiva e importante. Este grupo é uma sociedade de HOMENS, especiais, mas HOMENS. Não é uma sociedade de SEMIDEUSES como muitos se imaginam e outros acreditam.

A condição humana, por mais que haja seleção, carrega contradições, imperfeições e isto se refletem nas ações individuais dentro do grupo. A humildade está em reconhecer estas deficiências e buscar um constante aprimoramento capaz de superá-las e atingir os objetivos a que o grupo se propõe.

Então? Estás mais seguro para tomar tua decisão? Espero que sim, pois até onde me é possível te explicitei minha visão a respeito e minhas convicções.

Deves ter entendido porque te faço o convite e o quanto espero ter-te como parceiro nesta proposta.

Autor desconhecido

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