“O
verdadeiro mestre não é aquele que ensina, é aquele que de repente descobre que
aprende”. (João Guimarães Rosa)
A comunidade Maçônica sabe não
ser possível afirmar que apenas o domínio da ritualística contemplada em nossos
Rituais proporciona o acesso ao conhecimento encerrado nos mistérios e
simbologia da Ordem. Para compreendê-los e vivenciar a essência desse
aprendizado são necessários esforço e dedicação adicionais.
Por outro lado, não se sustenta
o argumento de que o quarto de hora de estudos das sessões de trabalho tem a
finalidade de propiciar o tempo suficiente, se e quando utilizados, para as
reflexões e apresentação de trabalhos que esgotem as temáticas envolvidas e
nivelem informações e conhecimentos filosóficos.
Para
suprir essas necessidades complementares de aprendizagem e estudos funcionam,
nas dependências da GLMMG, dois excelentes fóruns representados pela Escola
Maçônica “Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida”, criada pelo Decreto nº
1.537, de 25.08.03, e pela Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda, na forma do
Decreto do Grão Mestrado nº 1.713, de 08.11.07.
A Escola
Maçônica tem o objetivo de “promover e instituir a
revitalização de instruções e aprendizagem aos moldes da padronização
ritualística”. Por sua vez, a Loja de Pesquisas se dedica a estudos,
pesquisas e apresentação de trabalhos maçônicos.
Esses dois centros de estudos
são dirigidos por irmãos voluntários, competentes e dedicados, que não medem
esforços para proporcionar as melhores oportunidades para estimular a
investigação, o debate e o intercâmbio de experiências e informações sobre a
essência da Maçonaria.
Ocorre que, em que pese à carga
de trabalho e tempo dedicados à preparação dos eventos imprescindíveis ao
cumprimento dos objetivos propostos, a receptividade por parte da população
maçônica que frequenta semanalmente as Lojas ativas no Palácio Maçônico, em
torno de 60, envolvendo mais de 1.000 obreiros, não tem sido satisfatória. Não
é raro registrar-se a presença bastante reduzida de interessados em várias
sessões, tanto na Escola Maçônica quando na Loja de Pesquisas. E tal situação
enseja algumas reflexões.
No que se refere à Escola
Maçônica, é divulgada uma programação mensal contemplando a apresentação das
instruções dos Graus 1, 2 e 3 do REAA, onde são discutidos e analisados os
rituais, a liturgia e o simbolismo maçônico. No decorrer das apresentações são
frequentes as oportunidades em que as discussões se aprofundam mesmo com
reduzido número de participantes, ensejando sinergias enriquecedoras para
gáudio dos presentes.
Nessas oportunidades, são
recorrentes as observações dos presentes quanto à falta de interesse dos demais
obreiros em participar de eventos da espécie, em face de eventuais conflitos
entre a ritualística e a prática nas sessões de trabalho. Mesmo entre aqueles
que estão iniciando na senda maçônica ou vem de galgar os degraus da elevação
ou exaltação, não se verifica uma constância no cumprimento da programação. Não
resta dúvida de que os ciclos de aprendizagem demandam tempo, disciplina e
dedicação.
Sabemos todos das
responsabilidades dos padrinhos no processo de formação dos seus afilhados na
Ordem, no sentido de que se tornem pessoas melhores e mais preparadas, entretanto,
a situação se assemelha aos pais que delegam às escolas a educação dos
filhos e se mostram negligentes no acompanhamento no processo de
desenvolvimento e aperfeiçoamento pessoal, moral e espiritual de seus
afiançados e futuros dirigentes da Ordem. Têm-se notícias de que são raros
os convites para que um afilhado acompanhe um padrinho nas sessões ou mesmo a
ocorrência de uma sutil sugestão de comparecimento.
Não
poderíamos deixar de registrar um comentário frequente que se ouve nas
instruções do Grau 3, objeto da constatação do reduzido número de Mestres
presentes às sessões. Algumas reflexões se resumem no questionamento: “será que os Mestres estão suficientemente repletos de sabedoria
que não há nada a aprender?”
Outra
observação destacada e também atribuída aos trabalhos em Loja aborda o
entusiasmo inicial com a plenitude alcançada, onde em pouco tempo muitos passam
a ter “bode do trabalho” maçônico, adotando ritmo mais lento,
quando não desinteressado ou com foco em outros proveitos.
No mesmo diapasão transcorrem as
sessões da Loja de Pesquisas.
É rara a oportunidade de Templo
com plateia numerosa. Por vezes, trabalhos do mais alto gabarito são
apresentados para um grupo pequeno. As Lojas que funcionam nas datas dos
eventos perdem excelentes oportunidades de incorporar-se aos trabalhos e tirar
vantagens dos ensinamentos oferecidos.
Mas tal fato não inibe que se
ouça ou que se leia em currículos ou pranchas os vínculos à fundação da Loja ou
outra de destaque em cargos de direção. Apenas citar que é membro de uma Loja,
seja ela qual for e, efetivamente não participar, não se mostrar, é apenas se
beneficiar com o trabalho daqueles que permanecem na senda, é colher o que os abnegados
estão cultivando. Fazer parte sem estar presente, onde está o mérito?
Não se
pode deixar de dar destaque aos obreiros que honram a Ordem e fazem-na
respeitada e valorizada e que são maioria. A presente reflexão visa a estimular
aqueles reputados como sábios e referencial para os demais que se doem àqueles
que buscam o conhecimento e o debate saudável e enriquecedor.
É
corriqueiro ouvirmos que determinados irmãos são profundos conhecedores da
Ordem, têm muito tempo de lida e são portadores de inúmeros títulos, porém se
mostram silenciosos. Mas, como diz o Livro da Lei, “ninguém
acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama.
Ele a coloca no candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz”.
Observados o protocolo e as exigências da cada Grau, o saber não pode ser
egoísta.
É motivo
de comentários por vezes irônicos que muitos Mestres quando desafiados a
comentar a respeito de determinado assunto devolvem a pergunta ou afirmam que o
questionador não está preparado para aquele conhecimento demandado.
Muitos
interpretam tal comportamento como insegurança, talvez por falta de conteúdo ou
por deficiências nos estudos ou medo de demonstrar ignorância. Por isso faz-se
mister matutar sobre a dica de Cora Coralina: “feliz aquele que transfere o
que sabe e aprende o que ensina”.
Nesse sentido, a missão do
Mestre no exercício da sua plenitude é transmitir aquilo que aprendeu,
compartilhando informações e experiências, estimulando, questionando,
provocando e, por vezes, confundindo o Aprendiz, mostrando-lhe vertentes ou
caminhos que possam ser exploradas.
O verdadeiro Mestre deve dar o
seu testemunho e honrar o compromisso de ser um facilitador para os novos
Aprendizes e Companheiros, para que os mesmos sejam sempre melhores do que
aqueles que os treinaram.
Como
reflexão derradeira, porém sem esgotar a temática, merece destaque o comentário
do catedrático Philip Kotler, referência no ensino e no planejamento de
marketing, autor dos livros e das teorias mais citadas no setor que afirma: “Demora dias para se aprender marketing. Infelizmente leva-se uma
vida inteira para ser um mestre”. Sopesadas as diferenças, podemos
tirar algum proveito do pensamento.
“A
messe é grande, mas poucos são os operários!” (Divino
Mestre)
Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre
Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo
Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, da
Academia Mineira Maçônica de Letras.
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