VAIDADE MAÇÔNICA


“Deus nunca deu as costas ao homem e nunca o enviou para novos caminhos salvo quando ascende a divinas especulações ou trabalha numa confusa ou desordenada maneira e quando se junta à lábios profanos ou pés imundos. Pois para os relaxados, o progresso é imperfeito, os impulsos vãos e os caminhos negros.” (Zoroastro)

 Eu solenemente avisara ao mundo que, enquanto a coragem é a primeira das virtudes do Iniciado, presunção e imprudência não possuem conexão com ela, mais do que uma caricatura do ex-Kaiser com Julius Cesar ou daquele que se acha acima de todos em sua arrogância e vaidade.

Tais arrogâncias são compostas em parte pelo falso orgulho vindo do amor próprio e da insegurança, parte pelo impulso desmedido que o medo extremo provoca.

Existem soldados que ganharam a cruz em batalha por não por “valor”, mas pela pura falta de autocontrole numa crise de covardia. Disciplina automática faz com que a deserção seja impossível; a única saída é avançar e fazer aquilo que o instinto manda. Eu conheço dois oficiais que não se lembram do ato que os fizeram ganhar a cruz de honra.

Pensamento similar frequentemente faz com que jovens Iniciados esqueçam que o OUSAR ESOTÉRICO deve ser precedido pela vontade e conhecimento, todos os três regidos pelo SILÊNCIO. Este último significa várias coisas, porém a maioria delas guarda relação com controlar-se fazendo com que cada ato seja silencioso, toda perturbação significando desajeitamento ou ânsia.

O soldado pode ou não conseguir carregar o seu companheiro ferido em meio a um bombardeio, porém não existe sorte em Maçonaria e em seu princípio místico/esotérico de suas oficinas. Nós trabalhamos num mundo fluido onde cada ação é compensada imediatamente. Luz, som e eletricidade podem ser usados e assim os efeitos sobre pensamento, fala e ação redirecionar ou retardar qualquer movimento, mas em esoterismo, como a força da gravidade, não conhece obstáculos.

É verdade que se pode impedir a queda de uma flor mantendo-a em cima de uma mesa; mas as forças ainda estão agindo e a ação foi compensada pela redistribuição do stress em cada objeto por todo o universo pelo deslocamento do centro de gravidade do cosmos, do mesmo modo que meus músculos vão de um estado de equilíbrio para outro, a flor manifesta suas energias no mogno em vez de fazê-lo no carpete.

Assim, a presunção em qualquer ação esotérica, sem dúvida, é punida, pronta e merecidamente. O erro é um dos piores, pois atrai todas essas forças que, por serem destrutivas, tornam-se negativas pela dor e encontram seu principal consolo em tirá-las de dentro dos desavisados.

Pior ainda, a expansão histérica do Ego leva a um profundo afastamento da verdade, embora muitas vezes não seja percebido pelo desavisado profano de avental que acredita sinceramente estar vencendo os degraus da senda, ao se pavonear para si e para os outros.

O orgulho, a vaidade, a hipocrisia, tão comuns, também encontram ecos na Sublime Ordem e favorecem obsessões “demoníacas”. Eles inflam o orgulho do tolo; eles lisonjeiam cada fraqueza levando-o a atos dos mais ridículos, induzindo-o a falar as mais delirantes bobagens e fazendo se achar o maior dos homens – homem não, um deus.

Ele toma cada fiasco como sucesso, cada insignificância como um sinal de sua sacrossanta soberania ou da malícia do inferno cujas ações o martirizam. Todo o sucesso que alcança é visto como uma força mágica de seu poder pessoal e todo fracasso é culpa dos outros, ciumentos de suas vitórias.

Sua megalomania oscila da exaltação maníaca a melancolia como ilusões sobre perseguições. Já vi vários casos assim ocorrerem por erros triviais como falta de cuidado em consagrar em afinar-se corretamente com uma Egrégora positiva (desviando o pensamento em banalidades; má-postura; quebra do juramento de silêncio; brincadeiras e conversas e joguinhos ou falas em celular – o que é uma aberração, pois o isolamento no Templo é um princípio místico ESSENCIAL etc.), ou ainda assumir um Grau na Ordem sem ter a certeza do merecimento e sucesso nas provações do caminho; instruir um Iniciando sem ter passado antes a ser verdadeiramente um Neófito; descumprir abertamente os Landmarks e ridicularizar IIr.'. que apontam respeitosamente essas falhas; omitir pontos importantes de rituais achando serem formalidades incômodas e banais; e até fazer apologia a erros pelos quais um homem se convence de que suas falhas são punições causadas pelo excesso de méritos próprios.

Eu me lembro de um homem que atribuiu suas falhas em realizar a corretamente a sua excepcional energia física. Seu corpo, dizia ele, possuía tamanha força interna que ele tinha que se mexer – mesmo sendo algo característico do ser humano comum tentar ficar desse modo, para ele era algo que não tinha nada haver com a sua natureza.

Cinco anos mais tarde ele me disse que se tornou o homem mais forte do planeta e pediu para que eu descarregasse meu revolver no seu peito e não me importasse em ter minhas janelas destruídas pelo ricochetear das balas.

Eu resolvi poupar minhas janelas e, além disso, odiaria ter que limpar a minha arma. Ele então se ofereceu para vê-lo carregar um motor de carro nos ombros e acompanhá-lo na estrada. Disse que não queria e não o insultaria pedindo provas do que afirmava. Ele então foi embora, cheio de si e resmungando. Um mês depois soube que ele sofreu uma paralisia devido a insanidade.

O homem que se gabava do esplendor de sua força agora não podia mover um músculo. O homem que se ostentava agora nem falava; ele apenas urrava.

Casos assim que me mantiveram numa constante vigília contra o “muito orgulhoso em lutar” – ou varrer o chão, caso necessário fosse. A Humildade e a Coerência são as principais forças mágicas do verdadeiro Maçom. Nenhum grau é superior ao outro se não devidamente introjetado e vivenciado, lutando contra a cativante Mosca Azul da Vaidade como atividade real no dia a dia.

 Nenhuma consecução pessoal pode ocorrer sem passos sinceros em cada estágio de crescimento. Existem incontáveis iniciados, especialmente na Ásia, que alcançaram o sucesso espiritual. E esses se mantem desconhecidos e humildes: são os chamados Mestres Secretos que caminham despercebidos entre nós. Porém, mesmo os melhores resultados devem satisfação a nossas aspirações, e estas podem ensandecer o Aspirante, caso não possua “senso de humor e também bom senso” pra conseguir vencer tanto as derrotas quanto, principalmente, as aparentes vitórias.

Assim, pra encerrar, cito ainda, textualmente, o poeta, alpinista e mestre Alesteir Crowley, no qual este texto é baseado (enquanto interpretação livre):
“Eu nunca me deixei esquecer das rochas que me atrapalharam [ao escalar]: o Coolin Crack em Beachy Head (maldito seja!), a altura do Pilar Deep Ghyll (horrível!) ou a face leste do Dent Blanche (exploda-se!). Eu raramente me pavoneio, até mesmo as minhas poesias, a menos que esteja muito deprimido.

Prefiro tagarelar sobre minha ignorância num assunto – uma lista extensa, e sobre a superficialidade de meu conhecimento do pouco que sei fazer. Eu medito em minhas falhas da conduta que ocorrem com a humanidade, minha inocência em muitas características óbvias que ela possui. Minha simplicidade é tamanha que, frequentemente, eu me pego pensando se eu não entendi determinado assunto realmente. Assuntos nos quais outros compreendem com muito menos esforços do que os meus [...].

De fato eu temo tudo aquilo que é característico dos acanhados, sentimentais, vaidosos, escravos que se deixam prender pelas grossas coleiras e braçadeiras de linho nas salas de escritório realizando trabalhos mentais monótonos, conversando futilidades e também terminar meus dias num reformatório ou asilo.

“E novamente digo: eu pareço capaz de fazer, sem qualquer excitação ou medo, coisas que até o mais bravo e mais poderoso e livre dos homens acharia terríveis, coisas as quais nem sonhariam em fazer ou temeriam mais do que a morte.”

SABER, QUERER, OUSAR, CALAR-SE é bom caminho e ação do verdadeiro INICIADO MAÇOM. Erguendo Templos à Virtude e profundas masmorras ao Vício. Sem alarde, sem superficialidade, sem orgulho e principalmente, sem hipocrisia.
Obrigado! TFA.

ADAPTADO DO LIBER 418 A visão e a Voz (Aleister Crowley) – releitura/interferência de Fernando G. S. Ayres, M. M, Grau 18.
Loja Amor e Justiça n 02 e Loja Salvador Mocoso de Graus Superiores


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