PARADOXOS MAÇÔNICOS



Caríssimo Irmão! O presente ensaio se propõe assinalar a distância que medeia a Maçonaria da Sociedade Brasileira e os Maçons dos propósitos e princípios da Ordem. E cabe proclamar, inicialmente, que não se trata de crítica e não se busca indicar caminhos para a Ordem ou para os Maçons. A pretensão, única e exclusiva pretensão, é chamar a atenção dos Maçons à reflexão sobre alguns dos muitos paradoxos da Ordem e por extensão, despertar os maçons, no momento em que a leitura se efetivar.

A Maçonaria é uma Instituição sem fins lucrativos, constituída por homens inteligentes, virtuosos, generosos e conscientes de seus deveres e obrigações. As suas Constituições, Regulamentos, Estatutos e legislação ordinária ressaltam princípios fundamentais e postulados universais, tendo por escopo deveres de fraternidade, filantropia, prática de virtudes cardeais, esclarecimento e preparação para emancipação progressiva e pacífica da humanidade.

O propósito da Maçonaria é (ou há que ser) com o ensino interno e com a vida que jaz fora das Lojas e dos Rituais, sem os quais, os ensinamentos que induzem os maçons a dedicarem-se à felicidade dos seus semelhantes, os sentimentos de solidariedade e filantropia que os faz serem considerados Filhos do Grande Arquiteto do Universo, Irmãos e Amigos de todos os homens, e  fieis observadores da Lei do Amor que Deus estabeleceu no planeta, perde completamente seu valor, sentido e dignidade.

Caríssimos Irmãos! O Verdadeiro Espírito da Maçonaria é a fraternidade ampla, geral e irrestrita; a preservação da vida e a promoção da felicidade da espécie humana; a continuidade do processo evolutivo da humanidade; e a transcendência do ser humano das trevas para a luz, da ignorância para o conhecimento e da morte para a imortalidade. E se bem compreendermos este preâmbulo, estão explicadas as palavras ecumênicas de Anderson, de Désaguliers, de Thomas Paine e dos seus colaboradores – um maçom é obrigado, pelo seu compromisso, a obedecer à lei moral, e se ele compreender corretamente a Arte, ele não será nunca um ateu estúpido nem um libertino irreligioso – ainda que se admitam inúmeras outras interpretações.

À primeira vista ser maçom é missão fácil de ser executada, bastar-se-á deixar passar pelo processo de Iniciação, frequentar as Sessões da Loja, receber as instruções e seguir as regras basilares dos postulados maçônicos. Em tese: permitir que a sociabilidade ilustrada, a filosofia e a fundamentação maçônica se incorporem pelo poder do hábito e o passeio pela senda maçônica se conclua ao lado dos Guiais Espirituais da Maçonaria. Resumindo: é fácil ser Maçom sem buscar entender, em profundidade, os princípios fundamentais da Ordem e os desígnios do Grande Arquiteto do Universo que canalizou cada um para o ingresso na Maçonaria.

Caríssimos Irmãos! No dia em que estas palavras são/foram escritas, a Seleção do Brasil entra/entrou em campo para decidir com a Seleção do México uma vaga para continuar na Copa da Rússia, e a nacionalidade aflorada, se une, cultivando o Amor Fraternal, a fundação e telhado, o cimento e a glória da Nação, e os Maçons, meio a todos, com todos se confundem, não dizendo ou não fazendo nada que possa entravar o Amor Fraternal, como bem recomenda a Constituição de Anderson (1723). Mas, logo mais ou amanhã tudo vai retornar ao habitual, e esse ensaio seguira seu desiderato, perpetuando os argumentos dos paradoxos maçônicos.

Os paradoxos maçônicos são incontáveis e há, ademais, considerável divergência entre os Maçons no entendimento da importância da prática da caridade, da filantropia e da ação fraternal nos moldes propostos pela orientação principio lógica da Maçonaria. Quer ver? Vou, então, propor cinco questões e pedir que respondam, mentalmente, a todas, embora a avaliação se processe com a leitura da problemática exposta.

Pois bem, examinemos e faça esforço para compreender estes paradoxos, e agora, tente responder ou mentalizar respostas satisfatórias, conscientemente: o que fazem ou do que se ocupam os maçons em suas Oficinas durante as Sessões Ritualísticas? Qual o destino das contribuições semanais confiadas ao Irmão Hospitaleiro?

Como, quando e de que forma se processa a integração dos Irmãos da Loja com a Família Maçônica e com a Grande Família Universal? Como avalia o relacionamento dos maçons com a sociedade dita profana e como atuam para promover o seu aperfeiçoamento? E, quais os projetos de cooperação e/ou integração comunitária, cultural, educacional, de cidadania, de meio-ambiente e de viver bem, sob a égide da sua Loja e dos Obreiros da Arte Real?

Caríssimos Irmãos! Gradativamente, espero tê-lo colocado diante de paradoxos carecedores de rumos conciliatórios. Os paradoxos maçônicos ensaiados foram expostos, propositalmente, para que cada um possa descobrir por si mesmo, o quanto está afastado do Verdadeiro Espírito da Maçonaria, e mais afastado, ainda, dos dolorosos problemas de injustiça e de desigualdade sociais, problemas que uma ação consciente dos Maçons, em nome da Maçonaria, poderia mitigar. Para onde vamos afinal? Melhor expressando, para onde queremos ir afinal?

Penso que cheguei ao limiar do tema. Sei, bem sei que o Irmão somente sentirá o significado do paradoxo quando se colocar dentro dele – qualquer que seja – e aceitar o fato de que fazer ou deixar de fazer algo pode não ser de sua alçada ou responsabilidade, mas, penso que não pode se omitir, não pode deixar de colocar seus valores e sua atenção à mostra, e nos limites da sua capacidade, interferir. Sentir e dissentir que está fazendo ou deixando de fazer algo. Afinal, precisamos saber para onde queremos ir e o que buscamos na Maçonaria. Trata-se aqui de uma ação interior, de uma busca dentro de uma busca na superação de paradigmas.

Luiz Gonzaga da Rocha – Escritor e Articulista Maçônico. Especialista em História da Maçonaria. Membro Efetivo da ARLS Antônio Francisco Lisboa – Grande Oriente do Distrito Federal. Coordenador do Curso de Pós-Graduação em História da Maçonaria.


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