MAÇONARIA, UMA ESCOLA DE ÉTICA



O maçom precisa conscientizar-se da extrema limitação da sociedade maçônica da qual participa. É comum, após algum tempo da iniciação e até mesmo depois da exaltação, o Ir.’. começar a sentir um sentimento generalizado de frustração e a questionar os IIr.’. mais antigos sobre a verdadeira finalidade da Maçonaria.         
           
 Por aí já se vê que ele ainda não conseguiu apreender o verdadeiro objetivo da instituição a que pertence, pois exige de tais IIr.'. que a Ord.’, deva participar e encampar movimentos filantrópicos, políticos ou sociais, como se estes fossem fins maçônicos.
           
Todo aquele que nela ingressa possui um motivo, ou uma série deles para tal, mesmo aquele, injustamente apontado pela nossa própria instituição e considerado óbice intransponível ao ingresso do profano e cujo impacto sofre na C.’. das RRefl.’.: a banal curiosidade.
           
 Aliás, a frase que todos conhecemos está mal formulada e o sentido que se lhe atribui, longe está de impedir alguém de ingressar na Maçonaria. Muito pelo contrário, pois a curiosidade é filha da dúvida e esta é incompatível com o fanático, com o intolerante, com o espírito limitado do homem.
            
A dúvida é o apanágio dos filósofos, dos tolerantes, dos poetas e, sobretudo, dos maçons. Quem não duvida não pode ser curioso, mas quem tem dúvidas possui curiosidade em descobrir a verdade, vai tentar achar a certeza. Essa procura em descobrir a verdade, a não-dúvida, é característica do homem de ciência, do espírito aberto, do pesquisador, do filósofo.

E a Ord.’. é uma instituição eminentemente filosófica. A curiosidade nada mais é do que o desejo de ver, de saber, de informar-se, de desvendar, de conhecer determinados assuntos, de ter interesse. Ninguém sabe tudo e Sócrates já dizia que “só sei que nada sei”.
            
Cada ser humano possui uma característica própria. Se ele for comunicativo, expansivo, extrovertido e, psicologicamente, necessita de maior vida social, irá encontrá-la no clube maçônico, a própria Loj.’.; mas se, ao contrário, for um introvertido, um tímido, ensimesmado, a Ord.’. também irá lhe proporcionar condições para superar suas próprias inibições.
            
E se ele tiver um espírito filosófico, estará como um peixe dentro d’água, na Maçonaria; se for um tanto místico, que significa “ser misterioso, espiritualmente alegórico ou figurado”, também encontrará seu lugar num dos bancos da Loj.’.. E se ele for possuidor de um temperamento inquieto, essencialmente revolucionário e político, também conseguirá encontrar sua tribuna própria na oficina, onde poderá desenvolver-se e expor seus pensamentos com toda liberdade.
            
Em suma. Em nossa instituição cabem todas as motivações e tendências, desde que cumpridas algumas exigências prévias, além da passagem pela iniciação, visto tratar-se também de uma sociedade também fundamentalmente iniciática.
           
Entretanto, se aquele que nela ingressou pensou que sua motivação fosse exclusiva, ou seja, se aquele homem bondoso, de espírito altamente filantrópico esperava encontrar em nossa instituição unanimidade nesse sentido, frustrou-se. Se ele esperou depois de algum tempo que a Ord.’. devesse encampar algum movimento filantrópico ou político, é porque não conseguiu enxergar o que é, na realidade, a instituição maçônica. Daí, ou bem apreendeu sua essência e nela permanece; ou então se decepcionou e cai fora.
           
Mutatis mutandis é o que se verifica nas diversas motivações e nos diversos anseios, onde a unanimidade é inexistente numa Loj.’..
            
Na verdade, esse conjunto de pessoas que se reúne periodicamente possui em comum, entre outras virtudes, o fato de serem homens livres e de bons costumes, onde poderão conviver harmonicamente entre si e até mesmo encontrar numa oficina as respostas aos seus anseios e esperanças.
           
Enganam-se, contudo, aqueles que pretendem, ingênua ou deliberadamente, transformar nossa instituição, de modo exclusivo, num partido político, ou numa entidade assistencial, ou numa escola meramente filosófica, ou num clube social, ou numa igreja mística.
            
Quem possuir tais exclusivas pretensões, deve filiar-se a um partido político, ou participar de uma entidade de benemerência, ou estudar filosofia, ou ser sócio de um clube qualquer ou então deve ter uma religião, que, como todas as religiões, é plena de mistérios e certezas.
            
O que não se pode é alguns tentarem instrumentalizar a Maçonaria e os IIr.’. para servir a seus particulares e pessoais interesses. Esses não são objetivos maçônicos; ao contrário. Por isso, pensem bastante aqueles IIr,’, que ainda não descobriram a verdadeira essência de nossa instituição.
            
Há nela espaço para todos os homens livres e de bons costumes, mas não se pode querer exigir tomadas de posição da Maçonaria no mundo profano, nos mesmos moldes das outras sociedades civis. Nem posições filantrópicas, nem sociais e menos ainda as políticas. Para tanto existem as mais várias opções no mundo profano, e que, aliás, a própria Ord.’. recomenda e até mesmo incentiva tal participação.
            
Não se pode esquecer, que, sobretudo, a Maçonaria é, essencialmente, uma escola filosófica de aperfeiçoamento ético do ser humano e não apenas uma mera filosofia.
            
Uma escola de Ética, simplesmente.   
 
Luís Carlos Bedran

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