Hoje, mais do que nunca, a maçonaria brasileira tem que ser
colocada na perspectiva correta. Os usos que certos segmentos fazem dela é que
nos levam ao descrédito pela sociedade.
Sim, eu disse descrédito, pois infelizmente o homem
comum (que chamamos de “profano”) já não leva muito em conta o trabalho
que os bons maçons se esforçam por realizar. Todos vocês sabem disso, mas
insistem (nós insistimos) em “tampar o sol com a peneira”.
Li recente comentário do Irmão João Guilherme Ribeiro onde ele
aponta o vínculo dos valores maçônicos aos cargos e não ao mérito. Concordo com
ele, pois a maçonaria brasileira não tem líderes. Temos DIRIGENTES
legitimamente eleitos (em sua maioria homens íntegros, honrados, honestos e
retos) ‒, mas LÍDERES (pessoas com ascendência para coordenar e cujas ações e
palavras exercem modificações sobre o comportamento de outras) ‒ isso ainda não
temos.
Estamos emaranhados num cipoal de “cargos perfeitamente dispensáveis,
feitos para enfeitar cabides de aventais” ‒ disse o Mano JG. Comendas que
deveriam enaltecer o mérito foram transformadas em souvenires que
relegam para o menoscabo aqueles velhos veteranos, história viva, exemplos
legitimamente reconhecidos que construíram as Lojas e as Potências que
sobrevivem até hoje.
“Temos que premiar por merecimento ‒ acrescentou o Mano JG ‒ não
como expedientes que favoreçam troca de interesses...”
A Maçonaria atuante constrói seus projetos EM LOJA assim como
instrui seus Aprendizes, Companheiros e Mestres EM LOJA. Contudo, as Lojas são
relegadas às discussões sobre a escolha do refrigerante ou da cerveja a serem
servidos na ágape, na festinha do dia das mães e no baile do fim de ano (temas
que qualquer comissão social composta por três pessoas decidiria com mais
agilidade, economia de tempo e de dinheiro).
Paralelamente a esses desvios de finalidade e método, cresce uma
legião de “professores de maçonaria”, gente estudiosa ‒ é verdade, mas que
fazem uma LEITURA PESSOAL do que seja a Arte Real. Se por um lado essa “leitura
pessoal” é válida para quem a faz “per se”, em seu próprio âmago, ela se torna
deletéria, danosa quando proclamada em opinião indiscutível; torna-se
e castradora para os esforços íntimos dos Aprendizes, Companheiros e
Mestres que buscam a “conexão interna”. (Sýmbolon, em grego ‒ conceito formado
por SYN = junto, e BALLEIN = lançar: imagem autêntica do
que seria “lançar junto” ou conectar.) São, infelizmente, os reflexos
da era da internet, e aqui se deve ouvir o filósofo, escritor, semiólogo,
linguista e bibliófilo Umberto Eco:
“O drama da internet é que agora os imbecis têm o mesmo direito
à palavra de um Prêmio Nobel: a internet promoveu o idiota da aldeia a portador
da verdade.”
Entre os dias 21 de fevereiro e 18 de março deste ano (2018)
alguém resolveu fazer a pergunta numa pesquisa da CMI (Confederação Maçônica
Interamericana). O objetivo da pergunta era saber a opinião dos maçons sobre as
perspectivas da maçonaria brasileira para o restante deste século XXI.
Noutras palavras, eles estavam perguntando “QUE MAÇONARIA VOCÊS
QUEREM PARA O FUTURO?” Na apuração divulgou-se que “o maçom brasileiro não sabe
o que é Maçonaria” (Relatório de Pesquisa, Conclusões, 4.1, pg.23) : “... menos
de 5% dos maçons brasileiros sabem o que é Maçonaria, conforme os conceitos e
definições mais utilizados no mundo” ‒ disseram os pesquisadores.
Do outro lado, num destemido esforço de boa-vontade e idealismo,
um grupo de dirigentes maçônicos veio a público apresentar uma reflexão para o
momento político que vivemos, clamando pela premente necessidade de a sociedade
brasileira abraçar um projeto estratégico de desenvolvimento socioeconômico com
sustentabilidade, construído em bases sólidas e democráticas.
“Data maxima vênia” (como cortesmente se opõem nossos colegas
bacharéis em Direito) entendo que o posicionamento político da Maçonaria ‒ seja
no apoio a candidaturas ou na aprovação e aplauso endereçado a dirigentes
públicos ‒ tem que passar, necessariamente, pela consulta às bases ‒ isto é:
pelo diagnóstico da opinião da maioria do povo maçônico.
Muitos bons projetos têm sido apresentados pelos Grão-Mestrados
e que, infelizmente, deixaram de alcançar objetivos porque mesmo muitos dos
bons maçons não abraçaram a causa; nem mesmo se esforçaram para colher uma
dúzia de assinaturas no âmbito de suas Lojas! Noutras palavras, usando uma
expressão bastante chula: “não deram a menor bola”.
Repito: temos dirigentes, mas faltam líderes.
A liderança é fenômeno que nasce e se consolida exatamente na
participação consciente: uma vez proposta determinada linha de ação, o projeto
político almejado e os detalhes do empreendimento (plano, delineamento,
justificativa e esquemas) precisam ser encaminhados às Lojas. A boa e
centenária prática maçônica opta em discutir e votar a proposta na ordem do dia
(sacrificando, naturalmente, as já citadas pelejas sobre pela escolha do
cardápio e refrigerante das festinhas).
Uma vez aprovado o projeto almejado, a linha de ação, opiniões e
detalhes do empreendimento, o representante de cada Loja (normalmente o
Venerável Mestre) encaminhará a deliberação do seu grupo à plenária do povo
maçônico. Simples assim (onde houver vontade de trabalhar); e complicado demais
(onde predominarem as zonas de conforto).
Uma vez que não conseguimos abandonar o vício de imitar a
República no âmbito da maçonaria, acreditamos ser o momento da criação de
“conselhos da Maçonaria” ‒ compostos (por exemplo) pelo Grão-Mestre em
exercício e mais dois Grão-Mestres Passados, três maçons que tenham exercido
com êxito cargos administrativos, três que tenham liderança positiva na
instituição e mais outros seis Mestres maçons com mais de 35 anos de idade e 15
de maçonaria, eleitos pela plenária do povo maçônico, com mandato de três anos,
vedada a recondução.
Claro que esse modelo é apenas uma sugestão ‒ um sonho talvez...
um produto da minha imaginação e sem possibilidade de realizar-se; uma
fantasia, utopia ou absurdo ‒ quimera, dirão alguns. Aperfeiçoem-no,
então!
Para terminar, sei que “alguém” poderá usar as citações que fiz
contra mim mesmo: “uma tolice com o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel;
o menor dos ingênuos desta aldeia pretendendo levantar-se como portador da
verdade.”
Mas não estou sozinho nessas “divagações” que comigo fazem os
que sonham com uma maçonaria forte e atuante; uma maçonaria que leve paz,
felicidade ou esperança para fora das portas das Lojas; uma maçonaria com o
real prestígio landmarkiano de que devem gozar os Grão-Mestres, uma
maçonaria, enfim, fundada na liderança e na participação de todos os Obreiros.
José Maurício Guimarães
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