Há duas razões que justificam o segredo em maçonaria. A
primeira, mais fácil de compreender, é histórica; e a segunda, complexa, é
profundamente ritual.
Na primeira temos de ler o contexto social e político onde nasce
e se implementa a tradição maçônica – num espaço de tensão conflitual entre o
iluminismo e um domínio do espaço público pela religião cristã.
A discrição ritual e a intervenção político-social deram margem
para um perspetivar subversivo da maçonaria, que poderia pôr em causa
o establishment.
Como tal, a atitude persecutória levou, invariavelmente, a uma
postura dissimulada por parte dos seus seguidores – mais evidente em regimes
políticos autocráticos e em países onde o catolicismo estaria mais vigente (não
só pela presença da Inquisição, mas também pela obrigatoriedade teológica da
condenação moral).
Esta justificação parece demasiadamente datada, já que hoje não
se verifica nenhum destes constrangimentos. Contudo o segredo permanece – por
uma memória coletiva; e deverá permanecer – pela dimensão ritual, que é
essência da própria maçonaria.
A maçonaria é uma ordem iniciática e de fundamento gnóstico. Com
uma dimensão mais esotérica que exotérica. Como tal, vive pela ideia da procura
de uma verdade oculta, não doutrinada porque individual.
Na tradição maçônica é suposto haver uma predisposição para esse
conhecimento, que só é verdadeiramente revelado para quem o procura (numa
espécie de círculo esotérico). Ou seja, a verdade é oculta porque não é
revelada, nem pronunciada – só pode ser sentida.
Concebamos este processo como uma descoberta perpétua, onde a
tal “verdade” surge não como presente, mas como troféu. É o velho clichê,
importa a viagem não o destino. E agora temos o ritual, que é veículo para esta
viagem.
O ritual maçônico é uma recriação hermética onde se manifesta
uma determinada realidade. O ritual é o símbolo em movimento, que assume um
significado para lá literalidade. Partindo de arquétipos, o objeto passa a ter
um sentido para lá da sua função imediata – tornando-se, por isso, um símbolo.
A este processo (do “para lá do objeto”) chamamos conhecimento
hermético, onde se transmite a chave hermenêutica do símbolo (na mitologia
grega Hermes era o mensageiro dos Deuses). A relação com este processo é
silenciosa. Como tal, secreta. Assim sendo, quando temos o símbolo em
movimento, e predisposição para interpretá-lo, é que se re-cria uma
realidade que se apenas manifesta àqueles que nela querem estar. Por isso se
diz que somente crianças e iniciados acreditam em contos – essa predisposição
não é revelada, logo é secreta.
Autor não identificado
Esta Prancha é fruto de uma reflexão realizada no seio da R∴ L∴ Gomes Freire de Andrade nº4 (GLLP / GLRP)
Esta Prancha é fruto de uma reflexão realizada no seio da R∴ L∴ Gomes Freire de Andrade nº4 (GLLP / GLRP)
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