Interstício quer dizer solução
de continuidade, o intervalo entre duas superfícies da mesma ou diferente
natureza.
A Maçonaria utiliza a expressão
em termos de tempo. Interstício é o intervalo de tempo que deve decorrer entre
dois fatos. Designadamente, interstício é o intervalo de tempo que deve
decorrer entre a Iniciação do Aprendiz e a sua Passagem a Companheiro e também
o tempo que se impõe decorra entre essa Passagem e a Elevação do Companheiro a
Mestre.
O interstício é uma regra que
admite exceção: o Grão-Mestre pode dele dispensar um obreiro e passá-lo ou
elevá-lo de grau sem o decurso do tempo regulamentar ou tradicionalmente
observado. No limite, a Iniciação, Passagem e Elevação podem ocorrer no mesmo
dia. Mas a dispensa de interstícios é rara – deve ser verdadeiramente
excepcional – e só por razões muito fortes deve ocorrer.
Assim sucede genericamente na
Maçonaria Européia. Já a Maçonaria norte-americana é muito menos exigente neste
aspecto, sendo corrente a prática de conferir os três graus da Maçonaria Azul
num único dia. Esta é, aliás, uma conseqüência e também uma causa das
diferenças entre as práticas e as tradições maçônicas em ambas as latitudes.
Mas impõem-se observar que algumas franjas da Maçonaria norte-americana,
designadamente nas Lojas que se consideram de Observância Tradicional, se aproximam
neste como noutros aspectos, da prática européia.
A razão de ser do interstício é
intuitiva: a que dar tempo para o obreiro evoluir, para obter e trabalhar os
ensinamentos, as noções, transmitidas no grau a que acede, antes de passar ao
grau imediato. Em Maçonaria busca-se o aperfeiçoamento e este não é, nem
instantâneo (instantâneo é o pudim...), nem automático. Depende de um
propósito, de um esforço, de uma prática consciente e perseverante.
É um processo. E, como processo
que é, tem fases, tem uma evolução que se sucede ao longo de uma lógica e de um
tempo. Por isso, em Maçonaria não se tem pressa. O tempo de maturação, o tempo
de amadurecimento, a própria expectativa, são essenciais para um harmonioso
desenvolvimento individual.
Os graus e qualidades maçônicos
não constituem nada, apenas ilustram, representam, emulam a realidade do Ser e
do Dever Ser. Não se tem mais qualidades por se ser maçom (embora se deva ter
qualidades para o ser...). Há muito profano com mais valor e maior
desenvolvimento espiritual e pessoal do que muitos maçons, ainda que de altos
graus e qualidades.
Para esses os maçons até criaram
uma expressão: maçom sem avental. Mas procura-se ilustrar com a
qualidade de maçom a tendência para a excelência, a busca do aperfeiçoamento.
O Mestre maçom não é, por
decreto ou natureza, necessariamente melhor ou mais perfeito do que o
Companheiro ou o Aprendiz. Mas com os graus a maçonaria ilustra um Caminho, um
Processo, para a melhoria de cada um. Há por aí muito Aprendiz que é mais
Mestre de si próprio que muito Mestre de avental com borlas ou dourados. Mas o
mero fato de ter de fazer a normal evolução de Aprendiz para Companheiro e de
Companheiro para Mestre potencia o que já é bom, faz do bom melhor, do melhor, ótimo
e do ótimo excelente.
Assim, em Maçonaria consideramos
profícuo e valioso que o profano que pediu para ser maçom aguarde, espere,
anseie, pela sua Iniciação. E que o Aprendiz tenha de o ser durante o tempo
estipulado e tenha de demonstrar expressamente estar pronto para passar ao grau
seguinte, por muito evidente que essa preparação seja aos olhos de todos; e o
mesmo para o Companheiro passar a Mestre; e idem para o Mestre começar a ver
serem-lhe confiados ofícios; e também para o Oficial progredir na tácita
hierarquia de ofícios e um dia chegar a Venerável Mestre.
Tempo. Paciência. Evolução. De
tudo isto é tributário o conceito de interstício, tal como é aplicado em
Maçonaria.
O interstício pode ser diretamente
fixado, regulamentar ou tradicionalmente, ouresultar indiretamente de outras
estipulações. Por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues consideramos que
não é o mero decurso do tempo que habilita um obreiro a aceder ao grau
seguinte. Mas reconhecemos que o decurso de um tempo razoável é necessário.
Estipulamos, assim, no nosso
Regulamento Interno, que o interstício para que um obreiro possa aceder ao grau
seguinte seja constituído pela presença a um determinado número de sessões.
Com isso, estipulamos que certa
assiduidade é condição de acesso ao grau seguinte e, como a Loja reúne duas
vezes por mês, onze meses por ano, indiretamente fixamos um período de tempo
mínimo de permanência no grau.
Os nossos Aprendizes, quando passam a
Companheiros, merecem-no! E os nossos Companheiros, quando são elevados a
Mestres estão em perfeitas condições de garantir a fluente persecução dos objetivos
da Loja, incluindo a formação dos Aprendizes e Companheiros.
Nós não temos
pressa...
Rui Bandeira