Como cediço, a história da moderna Maçonaria, mais
conhecida nos países europeus como Francomaçonaria (franco: livre, desobrigado
& maçonaria: confraria de pedreiros), e também denominada Maçonaria dos
Aceitos (em Portugal, Aceites) ou, ainda, Maçonaria Especulativa, tem início a
partir da constituição da Grande Loja de Londres em 24 de junho de 1717, quando
houve a reunião solene das quatro principais Lojas daquela cidade: a “Goose and
Gridiron” (O ganso e a gralha); “Crown” (Coroa); “Apple Tree” (Macieira) e
“Rummer and Grapes” (Taça e uvas).
A data escolhida para essa reunião não foi uma casualidade,
pois, como se sabe, em Maçonaria cuida-se da simbologia como princípio abstrato
que se materializa em realidades particulares concretas, por meio das quais
tais estruturas, embora imperceptíveis aos olhos profanos, são manifestadamente
claras aos iniciados.
Assim, o dia 24 de junho marca não apenas o solstício (o
retorno do astro rei, o Deus Sol Invictus) de verão no hemisfério norte, mas
também presta homenagem a João Batista, um dos copatrocinadores da Maçonaria,
cuja cabeça decapitada foi dada de presente a Salomé por seu padrasto, o rei
Herodes Antipas.
Pesquisadores mais sensatos não situam o momento
pré-Maçonaria Especulativa como perdido “nas brumas da antiguidade”, no dizer
do teosófico inglês, Charles Webster Leadbeater, aceitando sua progênie nas
antigas confrarias de pedreiros, arquitetos e construtores patrocinadas pela
Igreja Medieval, o que não invalida, sob qualquer aspecto, a tese de que outras
agremiações teriam ajudado na composição da estrutura filosófica e simbólica, a
exemplo das guildas (associações de auxílio mútuo constituídas na Idade Média
entre as corporações de operários, artesãos, negociantes ou artistas)
holandesas, os carbonários, os rosa-cruzes e algumas corporações germânicas.
Voltando ao tema da conjuntura pré-Maçonaria Especulativa,
além da referência explícita ao rei Salomão e seus planos de construção do
“bet-El” (bet, casa & El, Senhor), a Arte Real pode ter ganho tal
denominação sob o patrocínio do rei Carlos II (Charles II, em inglês),
restaurador do trono da Inglaterra que, após a execução de seu pai, Carlos I
(Charles I, em inglês), seria governada pela ditadura militar de Oliver
Cromwell, autonomeado Lorde Protetor.
Carlos II subiu ao trono após a restauração da monarquia na
Inglaterra e Escócia, pouco depois da morte de Oliver Cromwell. O monarca casou-se
com a princesa Catarina de Bragança, filha do rei João IV de Portugal, que o
influenciou a se converter ao catolicismo romano. Seu irmão, Jaime II (James
II, em inglês), também se converteu à fé católica, o que provocou uma oposição
dos protestantes contra ele. Em 1679, deflagra-se a chamada “crise de
exclusão”, promovida pelos protestantes mais radicais, que, por fim,
conseguiram excluí-lo da linha sucessória.
Dado interessante é que, a partir desse conflito, surgem os
primeiros partidos políticos ingleses: os conservadores (“whigs”, abreviação de
Whiggamore, membros de um grupo escocês que marchou para Edimburgo em 1648 com
o intuito de limitar os poderes reais e aumentar a participação do parlamento)
e os liberais (“tories” [do irlandês, "tóraidhe", fora da lei,
ladrão], membros da facção jacobita que intentavam preservar a estrutura
política tradicional e combater a reforma no parlamento).
Faz-se desnecessário dizer que o termo jacobita deriva de
Jacó, variação hebraica do nome bíblico Tiago ou Jaime (Ya’aqov, em hebraico;
Jacó, Jaime, Tiago e Diego, em português; James, em inglês; Jacques, em
francês; Giacomo, em italiano).
Como convinha à classe dominante da Grã-Bretanha a
pacificação entre os jacobitas católicos (partidários de Jaime II ou Jacobus
rex [em latim]) e os partidários de sua filha protestante Maria II, casada com
Guilherme de Orange, a Maçonaria Especulativa adotaria, também, o epíteto de
Arte Real.
Fato é que, a partir do séc. XVIII, todos os reis ingleses,
bem como a maioria de seus ministros têm-se tornado Maçons, embora a
pacificação tendia a demorar-se mesmo porque os adeptos dos princípios
realistas (royalists) apoiavam o jacobinismo por acreditar que o parlamento
britânico não tinha autoridade para interferir na sucessão real.
Essa cena particular da história da Grã-Bretanha foi levada
ao cinema, mostrando o levante escocês contra as forças invasoras inglesas,
envolvendo o sistema dos clãs guerreiros das “highlands”. (região das montanhas
na Escócia)
A Maçonaria, antes operativa, ou seja, privativa dos
membros da confraria dos arquitetos e construtores, tornar–se-ia então
especulativa, aceitando, por meio de adoção iniciática, todos os homens livres,
pois àquela época a mentalidade era predominantemente escravagista, e de bons costumes,
tendo como primado o aperfeiçoamento espiritual e moral e que, ademais,
pugnavam para que fossem estabelecidos laços indissolúveis da verdadeira
fraternidade, sem distinção de raças ou crenças, condição indispensável à paz e
à compreensão entre povos.
No mundo conturbado de hoje, tem-se a Maçonaria como o mais
belo sistema de conduta moral, que, dentre outras, capacita seus iniciados a
vencerem suas paixões, dominarem seus vícios, ambições, desejos de vingança, e
tudo o mais que oprime a alma humana, tornando-se, sem alarde nem excessiva
publicação, exemplo de fraternidade, de igualdade e de liberdade.
Por tudo que ela representa, pode-se afirmar que, apesar de
conflitiva, a Maçonaria é a Arte Real da dignificação humana.
Enviado pelo
Ir.’.Getúlio Medeiros • M.’.M.’.
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