Todos os maçons prestam, de tempos em tempos, juramentos à Ordem, como
compromissos destinados a estabelecer e ampliar os seus vínculos esotéricos com
a Maçonaria. Ao pronunciarem as palavras ritualísticas, eles receberam um
influxo de idéias que têm a intenção de excitar-lhes a imaginação e a mente, a
fim de que, refletindo sobre cada passagem dos compromissos, possa aperceber-se
dos seus significados ocultos, substância primordial e insubstituível da sua
imersão na Ordem.
Jura em vão aquele que jura falso, sem justiça e
sem necessidade. Jurar falso é jurar contra o que um sente ou com mentira.
Jurar sem justiça é prometer com juramento fazer coisa injusta e má, como fazer
algum mal ao próximo. Quem jurou fazer uma coisa má não deve, nem pode cumprir
o juramento,
porque se o cumpre, comete mais outro pecado.
Vamos nos ater, na nossa apreciação, às penalidades cominadas aos
perjuros, anunciadas no juramento do Aprendiz, tão divulgado na Internet e nos
livros ao alcance de qualquer profano, que julgá-lo secreto é uma
infantilidade.
*Compreender bem as conseqüências do perjúrio é conhecimento
essencial e necessário para que outros conceitos de igual importância e muito
mais complexidade esotérica tenham assento sólido e absorção plena na
consciência dos Iniciados.
Outros juramentos acompanham a vida do Maçom, na sua subida pela escada
de Jacó, todos com interpretações igualmente fascinantes e inspiradoras, mas
nenhum com tanto significado simbólico e esotérico como o que o neófito faz, um
pouco antes de ser recebido e constituído Aprendiz-Maçom. Cumpre, pois,
acendermos as luzes necessárias para que, dentro de cada Maçom, jamais fiquem
obscuros os importantes conceitos essenciais contidos no nosso primeiro
compromisso na Maçonaria.
Depois de um intróito que varia, de uma obediência para outra, o
compromisso formal do Aprendiz declara. “− Se eu for perjuro e trair meu
juramento, seja-me arrancada a língua, o pescoço cortado e meu corpo jogado nas
areias do mar, no lugar onde o fluxo e o refluxo da maré me mergulhem em
completo esquecimento”.
Tentemos, agora, entender o profundo e oculto sentido dessas frases
aparentemente tão assustadoras quanto irreais.
“Se eu for perjuro e trair meu juramento…”
“Se eu for perjuro e trair meu juramento…”
O compromitente admite a possibilidade de perjurar e a conseqüente
punição. O que está subjacente é a aceitação da falibilidade da pessoa humana,
capaz de faltar com seu compromisso pelas mais diferentes razões.
Ao admitir a sua falibilidade, o compromitente antecipa que reconhece
não ser perfeito e se submete às penalidades cabíveis. Isso, porém, não é o que
se espera de um Iniciado na Maçonaria. Ao contrário, pretende-se que todos os
Maçons sejam fiéis depositários das tradições herdadas dos antepassados e
mantenham-se incorruptíveis nos seus princípios, atitudes e ações.
Para isso, manter-se-ão tão discretos e silenciosos quanto possível, a
fim de que não se lhes escape, indevidamente, qualquer segredo. Caso contrário…
“… seja-me arrancada a língua…”
“… seja-me arrancada a língua…”
A língua tem, entre outras funções, como órgão articulador da fonação,
por excelência, produzir a fala, combinando os seus movimentos com os do
maxilar e das faces, tocando os dentes, o palato e os lábios e provendo, assim,
as palavras sonoras que pronunciamos.
Alegoricamente, a língua é, ainda, o próprio idioma, sendo, nesta
acepção, sinônimo de linguagem. Em ambas as acepções, a língua caracteriza o
símbolo da comunicação oral, verbal e física entre os seres humanos.
Ao afirmar que consente que lhe seja arrancada a língua, o neófito
declara que, caso perjure, aceita a punição de que não mais possa pronunciar,
maçonicamente, qualquer palavra ou expressão, tornando-se estéril, do ponto de
vista da comunicação verbal. Ou seja, a partir do momento em que perjura, ele
se submete a não ter mais credibilidade maçônica entre os seus Irmãos, pois a
sua palavra – antes empregada para assegurar a sua fidelidade aos nossos
princípios – perdera o seu valor dentro da Ordem.
Quando se torna indiscreto e infiel, ele tem a sua língua arrancada,
quer dizer, ele perde a credibilidade maçônica da sua palavra e as suas
declarações deixam de significar qualquer valor para os Maçons. Sua voz não
mais expressa pensamentos que a Maçonaria possa aproveitar, seja como
informação, seja como ensinamento.
“… (seja-me…) o pescoço cortado…”
Ao ser degolado, o corpo humano perde a sua força vital e morre. Separada do corpo, a cabeça não mais lhe pode comunicar as suas ordens, decisões, reações e sensações. Essa dissociação da parte pensante e da parte executora do corpo sugere que, a partir da aplicação do castigo, o perjuro não mais realizará qualquer ação maçônica, pois a sua cabeça não mais representará um maçom vivo e o seu corpo não terá condições de praticar a Arte Real com propriedade, morta que está a origem do seu saber.
Ao ser degolado, o corpo humano perde a sua força vital e morre. Separada do corpo, a cabeça não mais lhe pode comunicar as suas ordens, decisões, reações e sensações. Essa dissociação da parte pensante e da parte executora do corpo sugere que, a partir da aplicação do castigo, o perjuro não mais realizará qualquer ação maçônica, pois a sua cabeça não mais representará um maçom vivo e o seu corpo não terá condições de praticar a Arte Real com propriedade, morta que está a origem do seu saber.
Cortar o pescoço significa privar o Maçom da capacidade de agir em nome
da Ordem ou a seu serviço, permanecendo, para sempre, profano irredimível. Este
é um poderoso símbolo da tragédia causada pela infidelidade, em que o Maçom
abdica da sua Iniciação, substituindo os ensinamentos recebidos e o
desenvolvimento que tenha feito por práticas inaceitáveis pela lei maçônica.
Assim sendo, ele deixa, efetivamente, de ser Maçom, e, enquanto persistir e
delinqüir, não poderá expressar-se ou agir como tal.
“… (seja) o meu corpo atirado nas areias do mar…”
“… (seja) o meu corpo atirado nas areias do mar…”
As areias representam os bilhões de grãos que forram o fundo do mar,
sendo, alegoricamente, uma representação da imensa população da Terra. A imagem
do corpo sem vida maçônica do perjuro, ao ser atirado às areias do mar, passa a
se confundir com essa população incógnita e não identificada, misturando-se às
massas das quais havia saído, quando, ao ser iniciado, ganhou o direito de
percorrer o caminho destinado aos iluminados pela razão e pelo discernimento.
Depois de perjurar, o iniciado desiste desse caminho e aceita ser,
então, devolvido às suas origens profanas, onde Maçom nenhum voltará a
reconhecê-lo com tal, ficando, assim, ignorado pelos que foram seus irmãos, que
a sua desídia lhe permitiu trair.
O retorno à massa ignara, em termos de Maçonaria, reduz o delinqüente à
condição profana da qual havia saído, à pequenez do grão de areia, misturado
aos bilhões de outros tão insignificantes, para a Ordem, quanto qualquer deles.
Dessa forma, não mais poderá ser reconhecido pelos que foram, antes seus Irmãos
iniciados.
Esse símbolo do desprezo pela inconfidência caracteriza uma punição
moral pesadíssima e uma sujeição a essa terrível pena devolve o ex-Maçom à sua
origem iníqua.
“… onde o fluxo e refluxo da maré…”
“… onde o fluxo e refluxo da maré…”
O subir e descer alternado, ininterrupto, regular e constante das águas
do mar, formando as marés, representa as alternâncias da vida humana que, sem o
apoio de uma filosofia pura, própria, forte e objetiva, representa as venturas
e desventuras profanas, ao sabor dos acasos e sujeita às vicissitudes de
intensidade variável.
O perjuro, atirado ao mar, na linha da maré, volta a ser profano, sem as
colunas da força e da beleza a lhe proporcionarem proteção e defesa contra os
infortúnios e sem lhe proporcionar entusiasmo e incentivo, nos êxitos. Ali, na
areia do mar, a maré da vida o fará balouçar ao sabor da força das águas,
atirando-o a esmo, à esquerda e à direita, sem que a Ordem, que traiu pelo perjúrio,
tal possa impedir.
A sua vida deixa de ter o sentido de fraternidade coletiva que cada
Maçom nutre pelos seus Irmãos, passando a ser vivida como uma etapa insossa da
sua existência temporal neste mundo.
A alternância dos sentimentos e sensações, das venturas e desventuras; o
vai-e-vem, das alternâncias da vida profana, entre os bons e maus momentos, sem
o amparo dos Irmãos e da Ordem, castiga o perjuro pela sua indiscrição, pela
sua traição aos nossos princípios e é a pena acessória que acompanha o seu
expurgo do seio da Maçonaria.
“… me mergulhem no mais completo esquecimento…”
“… me mergulhem no mais completo esquecimento…”
Finalmente, sem voz nem voto, sem o direito de ser acreditado, sem
qualquer possibilidade de agir e proceder como Maçom que deixou de ser, porque
não respeitou a sua própria palavra empenhada à Ordem, o perjuro é abandonado à
sua própria sorte, ignorado pelos Irmãos que traiu vilmente, desconhecido pela
Maçonaria que abandonou ao ferir o seu compromisso de honra e riscado do rol de
homens Livres e de bons costumes para sempre.
O mergulho no esquecimento se refere àqueles que antes o reconheciam
como Irmão e que agora, frustrados e traídos, não mais o verão como tal,
deixando-o entregue à própria sorte, no balouçar constante dos fados profanos.
A sua importância para a Ordem, reduzida à nulidade, atira-o no abismo do
abandono, onde não mais poderá ofender a maçonaria ou qualquer dos seus
ex-irmãos. Esquecido e abandonado, o profano ex-maçom não tem mais o refúgio
seguro da sua Loja, da sua Ordem e dos seus Irmãos, pois o crime que cometeu
riscou-o do rol dos homens livres e de bons costumes que formam a Maçonaria.
O juramento do Aprendiz contém como percebemos muito mais sentido do que
podem sugerir as palavras que o compõem, se entendidas pelo seu lado exotérico.
Em vez de meras palavras alegóricas e teatrais, destinadas a impressionar o
neófito pela ameaça violenta que exprime o juramento e o castigo pelo perjúrio
ocultam um sentido muito mais significativo, merecedor de permanente reflexão e
constante observância.
Para perceber a extensão do castigo e a sua real aplicação, na vida
prática, é necessário que saibamos interpretar o profundo significado esotérico
do compromisso que, num momento glorioso, o Maçom assumiu, como primeiro e mais
importante vínculo espontaneamente admitido com a Ordem.
Sob o ponto de vista iniciático, a relação existente entre o neófito e a
Maçonaria tem início, exatamente, no momento em que conclui a prestação do seu
juramento sagrado, num momento solene e com o testemunho daqueles que são, a
partir daí, inseparavelmente ligados ao seu próprio destino. Tal compromisso,
se quebrado, por infelicidade ou má-fé, tem o seu castigo terrível no corte,
definitiva e permanentemente, de todos os liames criados desde a iniciação.
Não se trata, portanto, de mera simbologia vazia de conteúdo ou de
manutenção, pura e simples, de um costume ancestral. Menos, ainda, é ameaça
real de ofensa física ou castigo corporal que possa intimidar, pelo seu sentido
externo, aqueles que o prestam.
Nas palavras do juramento do Aprendiz repousam as bases onde se hão de
assentar, progressivamente, todos os seus outros compromissos, a serem
assumidos à medida que progride na Senda da Maçonaria. A cada grau elevado, o
Maçom acrescenta novos conceitos essenciais ao seu compromisso e, com eles, a
sua determinação de servir a humanidade e aperfeiçoar-se, numa construção
permanente e interminável do ser perfeito que aspira ser.
Que o Grande Arquiteto do Universo nos ajude a compreendê-lo e
cumpri-lo!
Fraternalmente,
Or∴ de Brasília, 25 de Setembro de 2007
Jethro Bello Torres – Gr∴ 3 – M∴I∴BIBLIOGRAFIA:
DOUTRINA MAÇÔNICA:
G∴O∴B∴ – RITUAL DO APRENDIZ MAÇOM –
HERMENÊUTICA E COMPOSIÇÃO FINAL:
José Prudêncio Pinto de SÁ – M. M. – ARLS “Hermes”, Or∴ Santa Maria, RS.
Jethro Bello Torres – M∴M∴ – A∴R∴L∴S∴ “ÁGUIA DO PLANALTO, e A∴R∴L∴S∴ “UNIVERSITÁRIA Ordem Luz e Amor” – Or∴ Brasília – DF
Jethro Bello Torres – M∴M∴ – A∴R∴L∴S∴ “ÁGUIA DO PLANALTO, e A∴R∴L∴S∴ “UNIVERSITÁRIA Ordem Luz e Amor” – Or∴ Brasília – DF
Boa Tarde Jethro, fico mto feliz em ver na sua bibliografia o nome do nosso querido e saudoso Ir. José Prudêncio, que tanto estudou e se dedicou a Ordem Maçônica, fui companheira dele nesses últimos 28 anos e vivi a sua luta diária pelo bem da Ordem, infelizmente em março/2021 a covid o levou de nós, tínhamos muito a aprender com ele.
ReplyDeleteGratidão
Aleci Maria MM