A Solidariedade é uma
das marcas características do Homem, que o distingue das demais criaturas
porque brota de seu íntimo e se origina da Lei Natural impressa pelo Criador em
seu espírito. Basta atentarmos para as incontáveis tragédias que diuturnamente
os meios de comunicação de massa nos colocam diante dos olhos.
Em meio aos quadros
terríveis, alguns dantescos, invariavelmente aparecem, como anjos de
misericórdia, aqueles que se doam a si mesmos para minorar os sofrimentos
alheios, às vezes sob o risco ou até mesmo com o sacrifício de suas próprias
vidas.
Se formos ao
dicionário, encontraremos como definição que Solidariedade é: “Adesão ou apoio,
no sentido moral, à causa, empreendimentos, princípios, etc., de outros de tal
forma que um indivíduo se vincula à vida, aos interesses e às responsabilidades
de um grupo social, de uma nação ou da humanidade como um todo.”
Se nos voltarmos,
agora, para a instituição maçônica veremos que nela a Solidariedade constitui
uma das colunas mestras de sua construção, dada a universalidade da
Ordem.
É por meio desse
sentimento que nos unimos, em espírito, a outros Irmãos Maçons, inclusive
àqueles de cuja existência sequer temos conhecimento mas com quem, a cada dia,
do meio-dia à meia-noite, trabalhamos espiritualmente para construir a Paz e
erguer o Templo da Fraternidade Universal.
Como diz a Quinta
Instrução de Aprendiz, a Solidariedade é o laço que nos une e nos fortalece na
luta incansável e ininterrupta que devemos manter contra os inimigos magnos da
felicidade do Homem. Mas, ainda que exaltada dentro da Ordem, ela não pode ser
praticada apenas dentro do universo maçônico e deixada de lado na vida profana.
Isso seria uma
incoerência, porque antes de sermos Maçons somos irmãos universais,
independente de nossas nacionalidades, cor, crença política ou religiosa.
Se semelhante nosso
sofre, quem quer que seja ou onde esteja, nossa natureza comum de filhos do
mesmo Pai deveria nos irmanar nesse mesmo sofrimento. Mas é justamente aí, na
visão do sofrimento que se tornam nítidos os dois lados contraditórios do
problema: Luz e Trevas. Por que, diante de tragédias dos últimos anos, como as
de Biafra, Ruanda, Angola, Zaire, África do Sul, Bósnia, para citar apenas
algumas das mais cruentas, se vemos exemplos da mais exaltada Solidariedade de
um lado, de outro também se destaca uma fria Indiferença de tantas pessoas e
mesmo nações?
O monstro de
crueldade, Stalin, que durante tantos anos dirigiu com mão de aço a União
Soviética, disse certa vez que “uma morte é tragédia, mas milhões são apenas
uma estatística” e a realidade do mundo de hoje continua dando razão àquela
afirmação de crueza inaudita.
Quando o sofrimento se
torna, apesar de concreto, uma mera abstração que desaparece ao apertar do
botão da televisão ou do fechamento da página do jornal nós nos separamos dele,
deixando de vê-lo sob a ótica da Lei Natural. Não nos irmanamos, pois, não o
sentimos como nosso também; alienamos-nos dele, simplesmente.
Ao longo de minha
vida, tanto profana como maçônica, tive a oportunidade de me deparar com
inúmeras abordagens, textos e concepções sobre a Solidariedade, alguns
superficiais, outros por demais filosóficos mas, alguns também de conteúdo
maravilhoso e inspirador.
Dentre esses,
lembro-me bem deste que se segue e que reproduzo na esperança de que sirva para
alimentar a chama da Fraternidade e da Solidariedade em nossos corações, única
forma de nos sentirmos verdadeiramente unidos e irmanados com todos os que
sofrem e choram na solidão gelada em que são colocados pelo desamor. “Um
discípulo chegou-se a seu Mestre e perguntou-lhe:
- Mestre, qual a
diferença entre o Céu e o Inferno?
Respondeu-lhe o
Mestre:
- Vi um grande monte
de arroz, cozido e preparado como alimento. Ao redor dele estavam muitos homens
famintos. Eles não podiam se aproximar do arroz, mas possuíam longos palitos de
dois a três metros de comprimento. Pegavam, é verdade, o arroz mas não
conseguiam levá-lo à própria boca porque os palitos eram muito longos.
E assim, famintos e
moribundos, embora juntos, permaneciam solitários curtindo uma fome eterna
diante daquela inesgotável fartura. Isso era o Inferno. - Vi outro
grande monte de arroz, cozido e preparado como alimento.
Ao redor dele estavam
muitos homens famintos, mas cheios de vitalidade. Eles não podiam se aproximar
do arroz, mas possuíam longos palitos de dois a três metros de comprimento.
Pegavam, é verdade, o arroz mas não conseguiam levá-lo à própria boca porque os
palitos eram muito longos. “Mas, com seus longos palitos, ao invés de levá-los
à própria boca serviam-se uns aos outros o arroz e assim saciavam sua imensa
fome, numa grande comunhão fraterna, juntos e Solidários”.
‘“Isso era o Céu.”
Reflitamos um pouco
sobre o que essa parábola oculta em sua linguagem figurada e se o mundo hoje
não é, em grande parte, aquele primeiro grupo de homens, juntos mas solitários,
padecendo de fome diante da fartura. Ao depararmos com o sofrimento, o que
sentimos?
O aguilhão da culpa,
por nada fazermos, ou uma identificação?
De nada serve
racionalizar o problema, dizendo: “Não posso fazer nada. Esse problema está
muito longe e não tenho como ir até lá” ou “Faço o que posso com quem está mais
próximo de mim e sempre contribuo com o Tronco de Beneficência de minha Loja”.
Pode-se fazer mais, sim.
Pode-se estender a
ponte e compartilhar o sofrimento em espírito.
Pode-se erguer os
olhos para o Senhor da Compaixão e orar, em união com todo o sofrimento do
mundo.
Se for Solidário
apenas porque uma regra me diz que devo sê-lo que mérito há nisso, se até uma
criança é capaz de seguir regras, ainda que não saiba discernir o seu conteúdo?
Se for Solidário
apenas com quem está mais próximo de mim, o que estou realizando se até mesmo
os animais são capazes de defender os seus?
Cada um de nós
recebeu, embutida no espírito pelo Criador, a semente da Solidariedade. Ela
está dentro de nós mas não lhe damos um solo, não a irrigamos, não nos tornamos
jardineiros. Carregamos a semente adormecida, encerrada em uma cela; não a
colocamos na terra.
Temos medo que ela
morra, o que é verdadeiro num certo sentido pois morrer ela precisa para que a
árvore nasça. Cada desabrochar é morte e nascimento e a semente tem que morrer
mas é precisamente por isso que temos medo, porque protegemos a
semente.
Diz uma história
oriental que certo rei tinha três filhos, todos fortes e talentosos e estava
indeciso e confuso quanto a qual deles entregar o reino. Assim, chamou um
Mestre e perguntou-lhe o que deveria fazer para resolver o impasse.
O Mestre aconselhou-o
a sair em uma longa viagem deixando com cada filho uma determinada quantidade
de sementes de uma flor muito rara e dando-lhes instruções para que as
preservassem o mais cuidadosamente possível, eis que suas vidas dependeriam
disso. Satisfeito com o conselho do Mestre, o rei procedeu como lhe fora dito e
partiu em viagem.
O filho mais velho era
mais experiente nas coisas do mundo e calculou que o melhor seria guardar as
sementes a salvo e assim poder devolvê-las a seu pai, intactas. Assim pensou e
assim fez. Colocou-as em um cofre e pendurou a chave em uma corrente que levava
permanentemente presa ao pescoço.
O segundo filho
calculou que sendo as sementes de uma flor muito rara, deveria vendê-las e
fazer um bom dinheiro. Quando o pai retornasse, compraria outras sementes novas
pois ninguém saberia dizer a diferença. Assim pensou e assim fez.
O terceiro filho era
menos experiente nas coisas do mundo e mais inocente e calculou que as sementes
deveriam ter um significado. Pensou consigo mesmo, “As sementes existem para
crescer. A própria palavra já tem o sentido de Origem, o que indica que ela é
uma busca e a menos que se torne algo, não tem significado. Ela é como uma
ponte que se tem que atravessar”. Assim pensou e assim fez. Foi ao jardim do
palácio e plantou as sementes. Após uma longa ausência, retornou o
rei e quis logo saber das sementes, mandando chamar os filhos à sua
presença.
O mais velho pensou
que o mais novo iria ficar muito mal perante o pai, porque destruíra as
sementes; e o mesmo se daria com o segundo, porque as vendera. Mas, o mais novo
não estava preocupado em vencer, apenas em preservar as sementes e isso só
conseguira quando entendera que elas precisavam morrer e depois renascer, para
dar novas sementes.
O rei chamou o mais
velho e disse-lhe: “És um estúpido e por isso perdeste o reino, porque uma
semente só pode ser preservada se tem a oportunidade de morrer no solo, se tem
a oportunidade de renascer”.
Ao segundo filho
disse: “Agiste melhor que teu irmão mais velho, mas também perdeste o reino,
ainda que tenhas compreendido que as sementes envelheceriam. Mas, a quantidade
não mudaria.
“Quando a semente é
preservada, multiplica-se por milhões”.
Ao terceiro filho
disse: “É teu o reino, porque soubeste compreender, na inocência, a mensagem
que antes dos tempos já te fora dada pelo Criador”.
BIBLIOGRAFIA
Ir.'.Antonio Carlos de
Souza Godói
A.’.R.’.L.’.S.'. Nove de
Abril de Mogi Guaçu
Lendo este texto, eu percebi o quão fraca estava minha fé. A primeira problemática na questão da solidariedade que percebi foi: não posso ajudar a alguém que está na África por exemplo, e orar por ela que nem me conhece não resultará em nada.
ReplyDeleteEntretanto, o G∴A∴D∴U∴ é onipotente, onipresente e onisciente. Assim sendo, a oração que eu fiz aqui, será ouvida por Ele nos céus, e minha fé chamará a atenção dos anjos para aqueles que são alvo da minha oração.
A outra problemática: se eu absorvo o problema de todos, aquilo certamente irá me deprimir e não terá servido para nada.
Entretanto, é o contrário: entender o que o outro está sentindo, ou até sentir, faz com que nosso coração fique ainda mais amoroso, e nossa consciência exercitada. E serve para toda a humanidade.
Assim como o G∴A∴D∴U∴ é onipresente, o mal também o é, visto que é a ausência do bem, que está em todo local. Se eu rejeito ter compaixão por alguém distante, estarei exercitando não ter compaixão por alguém próximo de mim também. Estarei exercitando banalizar o problema, de uma forma tão perigosa que daqui a pouco eu mesmo estarei causando esse mesmo problema, porque não tem importância alguma.
Acima de tudo, praticando a solidariedade, eu estou ajudando a humanidade e a mim, pois estou exercitando valores, que são compartilhados com filhos, filho dos filhos, pais, pais dos pais, amigos, e amigos dos amigos.
Meus parabéns por mais esse artigo.
Djoni de Araújo Neves Filho - Apr∴M∴
A∴R∴L∴S∴ Fraternidade Caucaiense nº 63
Oriente de Caucaia - Ceará
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