Maçonaria e Alquimia apesar de serem áreas e conceitos distintos têm um paralelismo relevante que não pode ser negligenciado.
Ambas, na sua definição de conceito simbólico são reconhecidas como a Arte Real, “Ars Regia”, e ambas procuram a perfeição.
Na Alquimia, o iniciado Alquimista procura
através da execução da Grande Obra, por meio de vários processos laboratoriais (nomeadamente
a dissolução, a coagulação, a cocção, a sublimação e a projeção entre outros…)
atingir o “Ouro dos Filósofos”, como também é amplamente conhecida a
desejada Pedra
Filosofal, a Perfeição.
Já na Maçonaria, o Maçom tenta através
do desbaste e burilagem da
sua “pedra bruta” (sua
essência) torná-la próxima à “pedra cúbica”, pedra essa já polida (estádio
final do trabalho maçónico).
E, enquanto ao maçom (neófito ainda) se lhe
pediu que visitasse o
interior da terra (meditasse e refletisse para si e sobre si
mesmo) para que pudesse encontrar a pedra oculta que se encontra no seu íntimo (o
seu Eu),
o alquimista durante o seu processo de aperfeiçoamento (suas operações)
também ele se depara com este VITRIOL durante o desenrolar da Grande
Obra, mais concretamente na fase do nigredo.
É nesta fase do processo alquímico que se dá o solve et coagula, (axioma alquímico bastante conhecido), pois é durante esta fase que se efetua a dissolução da matéria-prima (“libertação”) e a sua putrefação (“separação” dos elementos que a compõem).
O nigredo é uma das fases que integram a
Grande Obra, processo esse
que é considerado por vários autores como formado por três partes (existem
outras teorias em que o número de fases são quatro ou mais, dependendo o número
de operações, via escolhida
e matérias-primas usadas), partes essas a saber: Nigredo, Albedo e Rubedo.
Encontramos aqui uma das várias referências
ao Ternário (outras
poderão ser encontradas no paralelismo com outros ternários que
se encontram em ambas, Maçonaria e Alquimia, tal como: matéria/corpo, mente e
espírito, entre outros…).
Ternário esse de extrema relevância para os
maçons, pois para eles é através do Ternário (número 3) que a Dualidade/Binário
(número 2) retorna à Unidade (número 1).
Todavia na Alquimia, este “regresso à
unidade” manifesta-se
após as núpcias
alquímicas entre o Rei e a Rainha (Mercúrio e Enxofre Filosofais; matérias-primas
estas, que não têm nenhuma relação com os elementos naturais e químicos, o
metal Mercúrio (Hg) e o Não-metal Enxofre(S)) que originam o Hermafrodita/Rébis (Sal que
nada tem a haver com o “sal comum” ou o sal resultante de uma reação química
Ácido/Base), conhecido como o “dois em um”.
À semelhança do Adepto, também o Maçom
necessita de um espaço onde possa trabalhar a sua pedra até
a mesma atingir a forma desejada. Enquanto o Adepto necessita de um laboratório
(labora et ora)
físico e instrumentos e aparelhos para o auxiliar nos seus trabalhos, o Maçom
apenas necessita do seu corpo (matéria) e mente (vontade)
para trabalhar (o seu espírito).
E persistindo nesse trabalho é se possível
transformar a “pedra bruta” em
“pedra polida”.
Note-se aqui o termo “transformar”.
A Maçonaria transforma algo existente em
algo diferente, mas a matéria final é a mesma matéria original. E a
Alquimia transmuta,
ou seja, cria algo novo/diferente a partir de matérias/origens
diferentes.
Ou seja, enquanto o Maçom será sempre o mesmo
Homem apenas com as mudanças no comportamento/carácter associadas ao seu
“aperfeiçoamento moral” (porque a Maçonaria apenas (!) trata de aperfeiçoamentos morais e
é considerada uma via/caminho pessoal efetuado através da
Virtude e também a prossecução de outros princípios morais na vida do maçom), a
sua essência será
sempre a mesma.
Na Alquimia, o Adepto pega em metais menos nobres,
e tenta transformá-los em ouro/prata. Ou seja, parte de algo diferente e
que modifica a sua substância.
Neste caso, utiliza materiais filosofais e/ou físicos e
procura atingir a Perfeição (estado superior de
espírito) que tanto pode ser designado por Elixir da Imortalidade (tenho
para mim, que ele apenas é a lembrança da palavra e da ação do Homem
através dos tempos…) ou por Pedra Filosofal (na minha opinião, o
Conhecimento/Sabedoria; pois nada traz mais riqueza ao Homem que o saber…).
E essa dita Perfeição, será mais depressa obtida
(ou não…) dependendo do empenho do Adepto/Maçom durante esse trabalho que terá
a fazer (só o próprio e mais ninguém!).
Se a Pedra ficará cúbica ou
se a Obra se completará,
somente os intervenientes o saberão. Quanto a mim, apenas me resta continuar a
burilar a minha pedra “tosca” e “feia”, pois ainda se encontra muito longe da
forma que ambiciono para ela…
Nuno Raimundo
Artigo publicado no Blog “Pedra de Buril” em 31 de outubro de 2012
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