SOBRE O GRAU ROSA-CRUZ


 

Um pouco de história

No ano de 1582, o Calendário foi mudado ou introduzido (ou criado um) o qual levou o nome do papa que o autorizou ficando conhecido como Calendário Gregoriano. Nesta época, em plena Idade Média, havia também o temor do fim do mundo, previsto para o ano de 1584.

E foi neste caldeirão, época que a Igreja Católica se estava deteriorando, em clima de perseguições, que apareceu um livro em forma de romance.

Este livro pôs a descoberto, para alguns, conhecimentos herméticos atribuídos a um lendário Christian Rosencreutz, ou Cristiano Rosa-Cruz. Christian foi um personagem misterioso. Para algumas sociedades iniciáticas, como a AMORC, é apenas uma referência ao nascimento de uma nova Ordem ou revelação de conhecimentos. Para outros, ele existiu, de fato.

Em 17 de Agosto de 1581, nascia em Wuertenberg, Alemanha, JOHAN VALENTIN ANDREA, neto de um enérgico teólogo de nome Jacó Andréa. Johan Andréa estudou em Tübingen, Alemanha e viajou pelos lugares mais importantes da época: Estrasburgo, Génova, Paris, Zurique, Basileia e outros locais. Mais tarde viajou também para Viena, Veneza e Roma. Foi também pregador da Corte e a sua importância adveio das suas pregações onde defendia uma renovação e uma nova ordem espiritual na vida.

Serge Hutin, em História da Alquimia, apresenta a hipótese de que Andréa e outros alquimistas, teriam sido escolhidos, à época – 1604 – para exteriorizar os ensinamentos Rosas-cruzes. Esta foi a data da descoberta simbólica do túmulo de Christian Rosencreutz tido como o lendário fundador da Fraternidade.

Muitos historiadores consideram o luterano Jean Valentin Andréa como sendo o criador da Fraternidade Rosa-Cruz.

Andréa escreveu um romance – classificado por alguns como um romance satírico – com o nome de “O Casamento Alquímico de Cristiano Rosa-Cruz” um personagem que se punha a campo contra os malefícios dos alquimistas e as suas atividades secretas. O livro foi publicado em Estrasburgo no século XVII.

O casamento Alquímico é um dos três grandes documentos da Fraternidade Rosa-Cruz. Para os Rosas-cruzes – independente da corrente – ele representa uma viagem iniciática em busca da Iluminação. É uma viagem de sete dias e que se desenvolve num castelo misterioso onde deveriam ser celebradas as bodas de um rei e uma rainha.

Nesta caminhada o iniciado é conduzido a uma união entre a sua Alma e Deus (Esposa e Marido).

Os estudiosos citam, como obras básicas da Fraternidade Rosa-Cruz:

Fama Fraternitatis,

O casamento Alquímico de Christian Rosencreutz,

Confessio Fraternitatis, Echos de la Fraternité du Très Louvable Ordre de la R-C (12 páginas) editado em Strasburg.

Fama Fraternitatis é um documento dirigido às autoridades políticas, religiosas, intelectuais e cientistas. Este documento revelava ao mundo a existência da Fraternidade e fazia um balanço da situação, do caos em que se encontrava o mundo Ocidental. Ao mesmo tempo revelava alegoricamente a figura de Christian Rosencreutz (1378-1484).

O documento Confessio Fraternitatis complementava o anterior e apresentava a Ordem como um caminho de regeneração, de Reforma Universal (O fato é que entre 1614 e 1520 catalogaram mais de 400 títulos sobre o assunto).

O romance “O Casamento Alquímico…” ao contar a história da viagem do lendário Christian Rosencreutz, relata as provas a que foi submetido, dos trabalhos que teve que realizar na sua caminhada com o fim de conquistar o Tosão de Ouro, a Pedra Filosofal, da busca da perfeição e a sua integração com o Cosmos.

Um estudo aprofundado do livro – segundo Serge Hutin – revela a espiritualidade e o ritualismo rosacruciano. Revela também que o adepto deve abandonar o egocentrismo e deixar de agir com interesse pessoal sob pena de fracassar no seu empreendimento.

O lendário Christian Rosenkreuz teria nascido em 1378 e falecido em 1484 e o seu túmulo descoberto em 1604. Era um monge que teria adotado o cristianismo antipapa.

O Herói do romance tinha viajado pelo Oriente, no século XIV e ali aprendido a Sublime Ciência. Em 1384, teria tomado conhecimento, de artes secretas na Arábia e, entre elas, a de prolongamento da vida. Tinha retornado a Alemanha e, na provecta idade de 105 anos, enfastiado da vida, voluntariamente se extinguiu.

Uma característica marcante do rosacrucianismo é uma aliança na BUSCA DE ILUMINAÇÃO interior e a adoção de um ritualismo complexo. Trata-se, desde esta época, de uma sociedade acessível aos dois sexos.

Assim, pode-se definir a Fraternidade como sendo uma Sociedade Secreta, ocultista, cabalística, teosófica e que se considera herdeira da sabedoria esotérica ligada ao mundo antigo.

A Fraternidade tem como símbolo uma Cruz e uma Rosa no entroncamento das duas hastes. É uma sociedade herdeira de conhecimentos secretos Orientais.

Em 1614 a palavra Rosa-Cruz alcançou força, ganhou espaço e apareceu um escrito anônimo de nome Transfiguração Geral do Mundo que podia incluir nela Fama Fraternitatis R-C ou seja, Rosae Crucis ou Rosa-Cruz sem necessidade de escrever por extenso porque já era bastante conhecida.

A obra, Confessio colocava em destaque os fins a que se propunha a Ordem. Segundo este documento, a Ordem seria uma ordem de alquimia de alto quilate na qual, em lugar de pesquisas sem perspectiva da Pedra Filosofal, entraria um fim superior: “Um abrir de olhos pelo qual o indivíduo ficasse aparelhado a ver o mundo e os seus segredos com mais profundidade. A claridade interior e a absorção em si levariam então ao verdadeiro reconhecimento”.

Andréa ficou surpreso com a repercussão que teve o seu romance. Em consequência, viajou a muitos lugares e ocorreram muitas entrevistas com nobres para fundar Lojas Rosas-cruzes que, no início, só aceitavam protestantes. Foram fundadas várias Lojas nos principais países europeus. O movimento cresceu tanto que, em contrapartida, o papa fundou a Ordem da Cruz Azul para fazer frente a outra predominantemente de protestantes.

Na Áustria as sociedades secretas foram fechadas por ordem do imperador com exceção, apenas, das Lojas Maçônicas e, foi por essa razão, que muitos membros da Fraternidade se refugiaram nas Lojas Maçônicas e que deste então, tornaram-se inseparáveis.

Entre alguns nomes vinculados à Fraternidade Rosa-Cruz, citamos Robert Flud que também é mencionado como sendo o primeiro Rosa-Cruz na Inglaterra (1574 / 1637). Robert Flud foi médico e amigo de Maier além de ser um dos alquimistas e astrólogo do seu tempo.

Michel Maier (1568 – 1622), foi médico do imperador Rodolfo II em Praga. Maier, num dos seus textos afirma: “E que ninguém creia que todas as coisas ocultas possam ser reveladas, e que um progresso possa ser feito pelas ciências e artes a tal ponto que se não possa descobrir mais nada porque a abundância da natureza é tal, que os círculos da natureza se acham conexos entre eles e se ligam com o os anéis de uma cadeia a qual não terminará nunca, enquanto o mundo existir”.

Citam-se, ainda, outros membros da Fraternidade: Michel Poiter, francês, Francis Bacon (há quem afirme ser ele o autor de O Casamento Alquímico), Willian Shakespeare (é uma hipótese a partir das suas obras), Henry e Thomas Vaughan; Paracelso, Jacob Boheme, Elias Ashmole e outros tantos nomes famosos.

Cavaleiros Medievais

A primeira referência feita aos cavaleiros ocorreu no século XI, com relação a RAUL DE BEAUMONT (1087-1110). A Sagração do Cavaleiro seguia uma cerimônia própria que implicava em entrar em estado de vigília, orações e, em geral, a sagração era feita com o patrocínio da igreja cristã. Depois de Sagrado, o cavaleiro podia:

Participar de torneios.

Usar cores simbólicas.

Buscar a permanência dos seus feitos na memória do povo.

Lutar pelos seus monarcas (protetores).

Lutar pelos mais fracos e indefesos.

Lutar pela mulher dos seus sonhos e assim por diante.

Havia várias ordens de cavalaria que começaram a surgir no século XI e a primeira ordem de cavaleiros que se teve notícias foi a Ordem Hospital de São João de Jerusalém (Hoje a Cruz de Malta), criada em 1099. A segunda é a dos Cavaleiros Templários, surgida em 1118. A terceira, a dos Cavaleiros Teutónicos, criada em 1190.

Ainda sobre a Fraternidade Rosa-Cruz, citam-se os traços mais tradicionais, entre eles:

Sujeitar-se à autoridade de um chefe Rosa-cruz.

Viver na clandestinidade.

Não serem destacados pelo uniforme.

Adaptar-se aos costumes do país.

Serem enterrados em sepulturas secretas.

Indicar o seu sucessor.

Os membros da Fraternidade Rosa-Cruz reuniam-se num local denominado “Morada do Espírito Santo”. E, tinham como principais objetivos:

Não aspirar a subversão da ordem.

Professar a religião Luterana.

Respeitar as leis do país.

Considerar como inimigos os fazedores de ouro e os heréticos.

Entendemos que o Grau Rosa-Cruz nos Altos Graus da Maçonaria tenha surgido de uma matriz formada pelos traços gerais das Ordens de Cavalaria e da Fraternidade Rosa-Cruz. O primeiro, no nível terreno. O segundo, estimulando a busca da integração dom o Eu superior ou o Cosmos.

Fraternidade Rosa-Cruz e a Maçonaria – Fontes Comuns

Há uma lenda, citada no Manual Rosa-Cruz da AMORC, que diz que o simbolismo da Cruz teria tido origem nos primórdios da civilização, oriundos talvez da Atlântida, quando o homem em pé, de braços abertos, olhando para o SOL. Depois, volta-se para o ocidente, para saudar onde será o fim do dia e vê a sua sobra, em forma de uma cruz, a sua sombra de braços abertos.

Alguns autores afirmam que a Cruz teve origem na Cruz Ansata, da tradição do Antigo Egito e que a rosa, representa os ciclos da vida: fragrância, ciclo de florescimento à vida, amadurecimento, até uma completa exuberância para depois desfolhar-se e transformar-se em terra e nela encontrar a oportunidade de renascer. (Manual Rosa-Cruz AMORC). Sob ponto de vista hermético, a Rosa representa Segredo e Evolução. A Cruz representa o fardo, o carma das nossas vidas. (Manual Rosa-Cruz).

Segundo, Serge Hutin, Robert Flud lembra o nome da liga por meio de uma alusão ao Sangue de Cristo na Cruz, no Gólgota. A cor da rosa lembra o sangue de Cristo e os espinhos, a coroa. Há outras hipóteses.

Para Sege Hutin, os símbolos da cruz e a rosa são anteriores ao cristianismo. Assim, o símbolo cristão da cruz e a rosa na interseção são bem mais antigos que o cristianismo. O sentido principal deste símbolo refere-se à obtenção da perfeição humana com a passagem do adepto acima das limitações naturais de tempo e espaço.

Como se sabe, nesta época, a Maçonaria deixava de ser operativa para ser especulativa. Haviam Lojas isoladas pelos principais países e cidades europeias. Somente mais tarde, em 1717, mais precisamente em 24 de junho, no dia do solstício de Verão na Europa, foram reunidas quatro Lojas em Londres, que funcionavam em tabernas para formar a primeira obediência passando, assim, a ter procedimentos comuns dentro do mesmo território de poder.

A seguir, foram colecionados os Landmarks (marcos de divisa de terra) e, como é de conhecimento geral do mundo maçônico, foi escrita uma constituição conhecida como a Constituição de Anderson, ou do pastor Anderson, que foi o coordenador do que se chamaria hoje do Grupo de Trabalho.

Mais tarde foram sendo elaborados os ritos e, no Rito Escocês Antigo e Aceito, o grau 18, nos Altos Graus, ou Graus Filosóficos para diferenciar dos três graus iniciais que são os graus simbólicos, foi associado ao Grau Rosa-Cruz pelas suas características. O grau de CAVALEIRO Rosa-Cruz, tem os seguintes pontos básicos que devem ser observados:

O Cavaleiro Rosa-Cruz tem por dever o exercício da CARIDADE.

Levar conforto e amizade ao seu companheiro.

Evitar a maledicência, a inveja, calúnia e a lisonja.

Ser patriota.

Participar da cerimônia, com os seus pares, na Quinta feira Santa.

Ao entrar numa sessão já começada, depois das saudações de praxe, sentar-se-á no último banco a espera de ser chamado.

O Irmão que ocupar o cargo de outro que veio a falecer, deverá usar a joia envolta em “crepre”, durante um ano como sinal de luto.

Os postos de guarda deverão ser preenchidos com os Cavaleiros mais novos.

Todos os anos celebrarão, por uma refeição, a Fraternidade dos Irmãos do Quadro.

E os propósitos do Cavaleiro Rosa-Cruz, na Maçonaria, foram definidos pelos ritualistas como sendo:

Observância no cumprimento dos seus deveres.

Ser conservadores de seus pensamentos e das suas tradições seculares.

Ter muita confiança entre si.

Ter como dever ESTUDAR a história e os ensinamentos da Maçonaria, e, em particular, do grau e no cumprimento da sua missão.

Honrar esposa e filhas de maçons.

Manter o compromisso de só ouvir a Consciência e de só aceitar a verdade.

A Maçonaria enlaçou a lembrança de Jesus à antiga associação dos Irmãos Rosas-cruzes. Estes Irmãos foram intrépidos naturalistas que sob as aparências mais ou menos sinceras da Alquimia, promoveram pesquisas científicas por meio da observação.

Sob pretexto da medicina, percorreram durante dois séculos todo o Ocidente da Europa, recolhendo elementos que outros deveriam fazer frutificar, par refundir o método científico. Inúmeros livros foram escritos pró e contra eles. É uma história que deveremos estudar pois a sua história se funde com a história da Maçonaria. E nós os reconhecemos como nossos antepassados.

Assim como os Rosas-cruzes foram ardorosos livres pensadores do século XV e XVI e os audaciosos defensores das ciências naturais puras, assim JESUS foi o livre pensador da moral. Ninguém, como ele, pregou resolutamente a moral Ideal, fundada sobre os sentimentos, a única possível naquele tempo. Ninguém feriu com mais vigor e sucesso a hipocrisia e a tirania sacerdotal da época.

A doutrina de Jesus Cristo repousa na intuição de Deus, como providência, e da Alma Humana como sendo imortal. A antiga maçonaria sempre proclamou os mesmos princípios, mas com um corretivo: LIBERDADE DE ESPIRITO E OBRIGAÇÃO DO TRABALHO, isto é, com indagação da VERDADE.

Identificando-se com a obra dos Rosas-cruzes, a Maçonaria proclamou o estudo da Natureza, como base de todo o progresso, porém, com este aditivo: A NATUREZA NÃO ESTÁ SOMENTE NA MATÉRIA, MAS, TAMBÉM, NAS LEIS MORAIS, cuja sede é a Consciência e cuja realidade está demonstrada pela formação da sociedade humana.

De uma forma geral, entendemos que a Fraternidade Rosa-Cruz tem uma forte ligação com os conhecimentos do Oriente e com os Templários que buscaram no Oriente parte dos seus ensinamentos. Não podemos confundir Maçonaria com Rosacrucianismo e nem com a tradição dos Templários, mas, indiretamente, incorporamos parte dos seus ensinamentos o que nos torna parciais herdeiros dessas duas grandes correntes místico-filosóficas fortemente ligados aos ensinamentos orientais.

Cronologia de Fatos ligados ao Grau Rosa Cruz

1087 – Registro Histórico do primeiro Cavaleiro sagrado pela Igreja.

1090 – Nascimento da Ordem dos Cavaleiros Teutónicos.

1099 – Nasce a Ordem de São João de Jerusalém.

1118 – Nascimento da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo – Templários.

(266 anos mais tarde…)

1534 – Suposto nascimento do lendário Christian Rosencreutz (Cristiano Rosacruz);

1581 – Nasce Johan Valentim Andréa, na cidade de Wuertenberg, Alemanha, neto de um teólogo enérgico de nome Jacó Andréa; Valentim Andréa viajou por muitos lugares. Era um iniciado. SUPOSTO autor do romance Casamento Alquímico. Muitos autores o consideram como o pai do Movimento Rosa+Cruz. O romance conta a história do suposto iniciado Cristiano Rosacruz. Uma característica geral da Fraternidade é a BUSCA DA ILUMINAÇÃO. Outras obras que vieram após:

CONFESSIO (Que coloca os fins da Ordem).

Mudança do Calendário (Calendário Gregoriano).

Previsão do Fim do Mundo era o clima que o mundo estava vivendo à época.

1604 – A Fraternidade Rosa-cruz vem ao Mundo.

1614 – O mundo toma conhecimento dos primeiros sinais da Fraternidade Rosa-cruz.

Autor desconhecido

Referências Bibliográficas

História e Mistérios das Sociedades Secretas, de Hermann Schreiber e Georg Schreiber. IBRSA, SP.

Nicola Aslan em “Grande Dicionário de Maçonaria e Simbologia”, Editora A Trolha.

Manual Rosa-Cruz, AMORC

História da Alquimia, Serge Hutin, Edições MM,

Ritual do Grau 18 do REAA, Supremo Conselho de SC para o REAA.

A Bíblia dos Rosa-Cruzes, de Bernard Gorceix, Editora O Pensamento.

 

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