UMA RESPOSTA AOS CRÍTICOS DA MAÇONARIA


 

Da Irlanda do Norte ao Irã, do Médio Oriente aos Estados Unidos, o extremismo religioso é uma força crescente em todo o mundo.

Assustados com o ritmo acelerado das mudanças sociais e culturais, especialmente com a aparente desintegração dos valores morais e a desagregação da família, algumas pessoas neste movimento procuraram refúgio na complexidade da vida moderna, abraçando pontos de vista absolutos e rejeitando a tolerância de outras crenças.

Respostas simples, fáceis e aparentemente estáveis trazem conforto num mundo em rápida mudança. Por exemplo, algumas igrejas têm respondido à angústia pessoal dos seus membros, fazendo um círculo com as carroças. Definindo estritamente os conceitos teológicos e insistindo para que os seus membros “purifiquem” a sua comunhão renunciando a outras crenças.

O passo seguinte – já dado por várias igrejas – é ceder graus de controlo dentro das suas fileiras a facções vocais que defendem pontos de vista extremistas. Estes grupos dissidentes concentram as ansiedades generalizadas da congregação em alvos específicos. A cura proposta é destruir o suposto inimigo. A Maçonaria tornou-se um destes alvos precisamente porque encoraja os membros a formarem a sua própria opinião sobre muitos tópicos importantes, incluindo a religião.

Assim, algumas igrejas expressaram preocupações e até condenaram a Maçonaria. Geralmente, estas ações são baseadas em mal-entendidos. Um caso em questão é o relatório de junho de 1993 apresentado à Convenção Baptista do Sul pela Junta de Missões Internas da Convenção.

Este relatório definiu oito alegados conflitos entre os princípios e ensinamentos da Fraternidade Maçónica e a teologia Baptista do Sul.

Vejamos brevemente essas áreas. como representativas do pensamento de alguns membros bem-intencionados, mas mal-informados da igreja hoje, e vejamos se as preocupações são reais ou simplesmente uma questão de desinformação ou mal-entendido.

A maior parte das questões tem a ver, de uma forma ou de outra, com a linguagem. Quase todas as organizações têm um vocabulário especial de palavras que são compreendidas pelo grupo. Não é apropriado que alguém fora do grupo, e sem o conhecimento especial do grupo, se oponha aos termos, a não ser que os compreenda completamente e porque são usados.

Se alguém quiser ler o Journal of the American Medical Association, por exemplo, está no seu direito – mas não tem o direito de se queixar de que os artigos utilizam termos médicos. Uma pessoa que leia um livro de receitas tem de saber que termos como “dobrar”, “bater a manteiga” ou “bola macia” têm significados especiais – ou fará uma confusão em vez de um bolo. Ele se aplica a um não Maçom que leia materiais maçônicos. Quanto à crítica à Maçonaria feita pela Convenção Baptista do Sul (que, aliás, tinha várias coisas positivas a dizer sobre a Maçonaria), aqui fica uma breve discussão explicativa de cada ponto.

1 – Porque não veem palavras específicas no seu contexto histórico, alguns críticos queixam-se do uso prevalecente na Maçonaria de títulos e termos ofensivos tais como Venerável Mestre para o líder de uma Loja. O líder de uma Loja Maçônica é chamado de Mestre da Loja pela mesma razão que o chefe de um grupo de escuteiros é chamado de Chefe de Escuteiros.

 

O líder de uma orquestra é chamado de Mestre de Concerto, ou um eletricista altamente qualificado é chamado de Mestre Eletricista. O termo surgiu nas guildas da Idade Média, quando o trabalhador mais hábil “- era chamado de Mestre. Muito do vocabulário maçônico data desse período. Venerável, em Venerável Mestre não tem nada a ver com adoração em qualquer sentido religioso.

 

Em termos maçônicos, venerável é um termo de honra e, neste sentido, é um termo ainda hoje usado em Inglaterra e no Canadá – para se referir a funcionários como presidentes de câmara de cidades. Venerável John Doe significa exatamente a mesma coisa que o Honorável John Doe.

 

Na mesma linha, o Presidente da Câmara de Londres é tratado como Venerável Lord Mayor. Não há, certamente, nada de irreligioso no uso de Venerável ou Lord. Tais termos são uma questão de história e tradição, não de religião.

 

2 – Alguns críticos da Maçonaria objetam ao que eles chamam de rituais arcaicos e ofensivos ou os chamados juramentos de sangue na Maçonaria. Não há nada de ofensivo nos rituais para quem os compreende. São antigos, não arcaicos, uma vez que muitos deles são tão antigos que as suas origens se perderam na história. Mas não há nada de mau nisso. A Declaração de Independência tem mais ou menos a mesma idade que o grau de Mestre Maçom, mas poucos se queixam de ser “arcaica”.

 

Os alegados juramentos sangrentos referem-se às penalidades associadas às obrigações maçônicas. Tiveram origem no sistema legal medieval de Inglaterra e eram punições reais infligidas pelo Estado a pessoas condenadas por se oporem à tirania política ou religiosa. As obrigações da Maçonaria não contêm qualquer promessa de alguma vez infligir qualquer uma das penas ou de participar na sua execução.

 Na Maçonaria, são inteiramente simbólicas e referem-se exclusivamente à vergonha que um homem de bem deve sentir ao pensar que quebrou uma promessa.

3 – Certos críticos afirmam que as leituras recomendadas para os Graus da Maçonaria são de origem “pagã”. “Pagã”. como eles estão a usar o termo, significa simplesmente “pré-cristã”. O objetivo principal da Maçonaria é o estudo da história intelectual e moral do homem com o propósito de nos desenvolvermos moral e intelectualmente.

 

Tal estudo tem de começar com os conceitos de homem e de Deus, tal como eram defendidos pelas culturas primitivas e evidenciados nas suas mitologias. Os gregos e os romanos, bem como os povos mais antigos, tinham muito a dizer sobre muitos temas, incluindo a religião.

 

A ideia de que um médico deve agir no melhor interesse do seu paciente vem do pagão Hipócrates e o conceito de que o Governo não pode entrar em nossa casa e levar o que quer por capricho vem do pagão Aristóteles.

 

Nenhum de nós gostaria de viver num mundo sem estas ideias.

 

Em quase todos os domínios – direito, governo, música, filosofia, matemática, etc. – é necessário rever o trabalho dos primeiros escritores e pensadores. A maçonaria não é exceção. Mas estudar o trabalho de culturas antigas não é a mesma coisa que fazer o que eles fizeram ou acreditar no que eles acreditavam. E nunca se diz a nenhum Maçom o que ele deve acreditar em questões de fé.

Essa não é a tarefa de uma fraternidade, nem de uma biblioteca pública, nem do governo. Esse é o dever da religião revelada de uma pessoa e é apropriadamente expressa através da sua igreja.

4 – Ironicamente, algumas pessoas reclamam do fato de a Bíblia usada na Loja ser referida como a “mobília” da Loja. Não há intenção de desrespeitá-la. De fato, é exatamente o contrário que acontece. Os maçons usam a palavra “mobília” no seu significado original de equipamento essencial.

 

Uma vez que nenhuma Loja se pode reunir sem um volume aberto da Lei Sagrada (que na América do Norte é quase sempre a Bíblia), a Bíblia é essencial e tem um lugar especial de honra como “mobília” de todas as Lojas regulares.

 

5 – O uso maçônico do termo “luz” é muitas vezes mal interpretado pelos não maçons. Esta confusão pode levar alguns a pensar que os maçons estão a falar de salvação em vez de conhecimento ou verdade. Em nenhuma parte do ritual maçônico a “luz” está implícita como significando algo diferente de conhecimento. A luz era um símbolo de conhecimento muito antes de ser um símbolo de salvação. A lâmpada da aprendizagem aparece em quase todos os cartões de formatura e diplomas universitários.

 

A maçonaria usa a luz como um símbolo da busca da verdade e do conhecimento. É muito improvável que um Maçom pense que a luz representa a salvação.

 

6 – A Maçonaria não implica que a salvação possa ser alcançada através de boas obras. A Maçonaria não ensina nenhum caminho para a salvação. Esse é o dever de uma Igreja, não de uma Fraternidade. O mais próximo que a Maçonaria chega desta questão é apontar para a Bíblia aberta, e dizer ao Maçom para procurar nela o caminho para a vida eterna.

 

A Maçonaria acredita na importância das boas obras, mas como uma questão de gratidão a Deus pelos seus muitos e grandes dons e como uma questão de responsabilidade moral e social individual. O caminho para a salvação encontra-se na casa de culto de cada Maçom, não na sua Loja.

 

7 – Vários críticos acusam os escritores maçônicos de ensinarem a “heresia do universalismo”. O universalismo é a doutrina de que todos os homens e mulheres são, em última análise, salvos. A Maçonaria não ensina o universalismo ou qualquer outra doutrina de salvação. Mais uma vez, essa é a área da igreja, não de uma fraternidade.

 

É preciso procurar muito para encontrar escritores maçônicos que “ensinem o universalismo”. Mesmo que encontrasse um, é importante lembrar que qualquer autor maçônico escreve apenas para si próprio, não como um Oficial da Fraternidade. A Maçonaria simplesmente não tem uma posição, oficial ou não, sobre a salvação.

 

Uma vez que homens de todas as crenças são bem-vindos na Fraternidade, os maçons têm o cuidado de não ofender a fé de ninguém. Possivelmente, isto em si mesmo pode parecer universalismo para alguns críticos. Os maçons chamam-no de cortesia comum.

 

8 – Alguns críticos, menos ansiosos por pôr em ordem a sua própria casa do que por encontrar defeitos nos outros, afirmam que a maioria das Lojas se recusa a admitir afro-americanos como membros. Atualmente, a Maçonaria não é uma organização só para brancos, como o demonstram as centenas de milhares de maçons negros, nativos americanos, hispânicos e orientais.

 

Os maçons hispânicos e orientais podem testemunhar isso. As petições de adesão não perguntam a raça do peticionário, e seria considerado completamente errado fazê-lo. 


Ao mesmo tempo, deve dizer-se que a Maçonaria, tal como a sociedade americana e as igrejas em geral, não tem vivido inteiramente de acordo com o seu elevado ideal de fraternidade ao lidar com os afro-americanos e outras minorias.

 

Esta é uma situação que a maioria dos maçons, tal como a maioria dos americanos, está a tentar ultrapassar. Há um cisma na Maçonaria que remonta a mais de 200 anos, quando os maçons do “Prince Hall”, que são afro-americanos, se declararam independentes. Este cisma é semelhante à divisão da Igreja Metodista Unida da A.M.E. C.M.E. e da Igreja Metodista Unida das igrejas A.M.E., S.M.E. e A.M.E. Zion ou dos Baptistas Nacionais dos Baptistas Americanos e do Sul.

 

Em cada um destes três exemplos, as organizações estão a trabalhar para reparar os danos de séculos de segregação. Para cada uma delas, a reunificação completa continua a ser um objetivo ilusório, dificultado pela resistência social de ambos os lados, mas não pelos ideais organizacionais.

No caso da Maçonaria, o reconhecimento mútuo entre as Grandes Lojas “negras” e “brancas” tem-se processado a um ritmo constante desde há quase dez anos, enquanto os membros afro-americanos são cada vez mais comuns em antigas Lojas “brancas”.

Por exemplo, na celebração internacional do 275º aniversário da Grande Loja de Inglaterra em 1992 (a mais recente reunião maçônica com aproximadamente a mesma dimensão da Convenção Baptista do Sul), havia muito mais negros presentes do que na Convenção Baptista do Sul em Houston em 1993. O movimento da Maçonaria em relação às questões raciais afirma a evolução genuína da Maçonaria com o resto da sociedade e igrejas americanas em direção a uma fraternidade genuína entre todas as raças.

Em resumo, analisando as preocupações levantadas no relatório, nenhuma delas são princípios e ensinamentos como o relatório afirma. Quatro das preocupações são meramente incompreensões do vocabulário maçônico por não maçons. A queixa de que alguns dos escritores cujo trabalho a Maçonaria estuda são pré-cristãos poderia ser levantada contra qualquer estudo do homem, Governo ou filosofia. Quase todas as áreas de estudo começam com os gregos antigos (pagãos).

Todos os membros da Fraternidade sabem que a Maçonaria não invade a área da Igreja para ensinar qualquer doutrina de salvação, nem o universalismo, nem a salvação pelas obras, nem qualquer outra. E a objeção de que a Maçonaria é uma espécie de clube só para brancos é refutada pela miríade de não brancos que usam o esquadro e o compasso.

A Maçonaria é simplesmente uma Fraternidade – uma organização de homens, unidos para se desenvolverem ética e moralmente, e para beneficiarem a comunidade em geral!

Tradução de António Jorge, M M


Fonte:Short Talk Bulletin – Vol. LXXII nº 11 – novembro de 1994

 

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