Queridos Irmãos, creio
que podemos iniciar nossa conversa de hoje apresentado os conceitos de Iniciado
e Profano, e a partir daí tentar explicar por que, enquanto iniciados na Arte
Real, não somos iguais aos profanos.
Profano [de pro e
fanum] é a denominação que se aplica a todos aqueles não são iniciados em nossa
Ordem Maçônica. Esse nome ou denominação vem correndo o mundo desde os
primeiros iniciados nos mistérios antigos que chamavam de profanos aos estranhos
aos seus segredos.
Não se trata de uma denominação ofensiva, mas, apenas, uma
distinção entre iniciado e não-iniciado. Iniciado, ao contrário de profano,
denominam-se todos aqueles que têm conhecimento dos mistérios, isto é, aquele
que conhece a ciência oculta, a arte sagrada, ou aquele que conhece os
fundamentos da doutrina esotérica. Em suma, iniciado é aquele que se submeteu a
um procedimento iniciático específico.
Grosso modo, podemos
concluir afirmando que em Maçonaria, o iniciado é aquele que passou pelas
provas da iniciação, melhor dizendo, iniciado é aquele que vive a iniciação.
Entretanto, para uma
melhor compreensão do assunto, julgo que valeria a pena discorrer sobre
iniciação e outros temas correlatos, como simbolismo, esoterismo, misticismos e
filosofia maçônica, mas o espaço e o tempo de que disponho é insuficiente para
tal desiderato. Vou me ater, rapidamente, ao termo iniciação. Fico devendo o
resto.
Iniciação [do latim
initiatio] é um termo que remete o nosso pensamento à idéia de começo, entrada:
iniciar um evento, ação, circunstância ou acontecimento. Também tem um
significado de ascensão de um nível de existência para um outro de nível
superior ou mais elevado.
A iniciação é um tipo
de cerimônia adotada em muitas sociedades místicas e esotéricas, na qual é
recepcionado um novo membro após alguma tarefa ou ritual particular.
Normalmente o ritual de iniciação envolve a condução do neófito por um veterano
do grupo, e costuma consistir na exposição de novos conhecimentos - inclusive
segredos e mistérios.
Entre os objetivos de
alguns tipos de iniciação, destacam-se o aprendizado de valores fundamentais
para a vida no nível seguinte. O iniciado deve aprender a se fortalecer com o
isolamento, sobreviver em condições precárias, estar preparado para as
dificuldades da vida [por exemplo, muitas iniciações exigem que o iniciado
construa a cabana em que ficará isolado durante o ritual], aprender a caçar,
pescar, conhecer a fauna e flora, etc. O nosso ritual de iniciação maçônica é
de todos conhecidos, por isso estou me referindo a outros tipos de iniciação em
outras Ordens.
A propósito da
iniciação, os novos adeptos são “obrigados” a observarem ou cumprir as regras
da associação a que deseja pertencer. Na Ordem maçônica, temos por livre
convicção, entendido que:
Um iniciado maçom, por
livre e espontânea vontade é “obrigado”, pela sua condição de iniciado, a
obedecer à lei moral e viver segundo os ditames da honra, praticar a justiça,
amar o próximo e trabalhar incessantemente pela felicidade do gênero humano. E,
se bem compreende a Arte Real, nunca será um ateu estúpido nem um libertino
irreligioso. Mas, embora, nos tempos antigos, os pedreiros fossem obrigados, em
cada país, a ser da religião desse país ou nação, qualquer que ela fosse,
julga-se agora mais adequado obrigá-los apenas na religião na quais todos os
homens concordam, deixando a cada um as suas convicções próprias; isto é, a
serem homens bons e leais ou homens honrados e honestos, quaisquer que sejam as
denominações ou crenças que os possam distinguir. Por conseqüência, a Maçonaria
converte-se no Centro de União e no meio de conciliar uma amizade verdadeira
entre pessoas que poderiam permanecer sempre distanciadas uns dos outros.
Creio que com essas
primeiras informações conceituais já podemos responder, em parte, porque somos
diferentes dos profanos: Nós passamos e vivenciamos a nossa iniciação maçônica.
A estrutura conceitual
que acabo de apresentar constitui a introdução ao tema que me trouxe aqui nesta
noite.
E, prosseguindo, direi
que o homem profano é aquele imerso nos erros e na mediocridade material,
irremediavelmente submetido aos sete pecados capitais: orgulho ou soberba,
inveja, ira, preguiça, avareza, gula e luxuria. Capital significa “cabeça”,
como ensina São Tomás de Aquino [1224-1274], são capitais os pecados que nos
fazem perder a cabeça e dos quais derivam inúmeros males.
A propósito, o
contrário da soberba, é a humildade; da inveja, o despojamento; da ira, a
tolerância; da preguiça, o compromisso; da avareza, a partilha; da gula, a
sobriedade; e da luxúria, o amor.
E o homem iniciado,
neste contexto frasal, é aquele que aprendeu a superar e a vencer os pecados
[ou vícios] capitais que afligem o homem profano.
E, aqui temos mais um
indicativo da razão pela qual somos diferentes dos profanos com que convivemos
em nosso dia-a-dia.
Para bem se distinguir
o iniciado do profano há que se considerar, ainda, muitas outras coisas, e
essas outras coisas só se dão a conhecer mediante uma variedade de símbolos,
ferramentas de trabalho, conceitos e idéias filosóficas, espirituais e
sociológicas, sobretudo mediante o exercício de tarefas e trabalhos que revelem
os diferentes níveis de consciência, esforço intelectual individual, estudo e
disciplina férrea para, entre muitas outras competências, reconhecer no próximo
um irmão com quem haveremos de repartir nosso pão e nossa água até que possamos
alcançar, pelo livre-arbítrio, o domínio dos sentimentos e dos vícios, e pela
ascese, a iluminação.
Eis aqui, mais um
forte argumento a indicar porque somos diferentes dos profanos. Somos
diferentes dos profanos pelos laços de amizade, sinceridade, irmandade que
assentada na tríplice argamassa que a iniciação maçônica nos une à liberdade, à
igualdade e à fraternidade.
Uma vez maçom, sempre
maçom. Diz o lema que norteia a vida em Maçonaria.
Quando o profano é
admitido numa Loja Maçônica à iniciação, sua condição de iniciado perdura além
do simbolismo da “pedra bruta” que caracteriza sua condição individual de
aprendiz nos mistérios da Arte Real, para passar pela “pedra polida” e depois
pela “pedra angular”, que é aquela apta a ser usada em toda e qualquer espécie
de construção individual, e esta evolução processa-se junto com a
responsabilidade individual que se assume com os próprios atos, constituindo-se
um conceito a ser desenvolvido à medida que o iniciado progride em direção aos
graus de companheiro e Mestre, até alcançar a plenitude maçônica.
Atentem-se que a
iniciação e os graus da escalada maçônica estimula o iniciado a olhar para o
interior de si mesmo e das transformações da sua psique, e esta é a razão pela
qual distingue-se o iniciado do profano.
Tenho, assim, como
acreditar que estou respondendo por que somos diferentes do homem profano.
Somos iniciados e aptos a nós transformar, quando se fizer necessário, em
iniciadores.
Antes de concluir,
talvez valha a pena apontar o que é necessário para um profano se tornar um
iniciado.
Em primeiro lugar, é
preciso que ele tenha vocação maçônica, ou seja, que, para além de uma
identificação com os grandes valores éticos da Maçonaria regular, tenha vocação
para o simbolismo e para o ritual, e sobremodo, vocação para a prática
maçônica.
Para isto é necessário
que o profano bata à nossa porta, isto é, que manifeste o seu interesse em
entrar para a Maçonaria regular, isto no caso de não ter sido ainda cooptado
por algum ou alguns maçons.
O contacto com a
Grande Loja leva a um conjunto de conversas, entrevistas ou inquéritos que
poderão e deverão avaliar se o profano está em condições de entrar para a
Maçonaria.
É evidente que,
segundo a tradição, só pode ser maçom aquele que for “livre e de bons
costumes”, o que quer dizer, nos nossos dias, que deve ter meios de sustento,
para si e para a sua família; que não deve ter problemas com a Justiça, e que
tenha um comportamento ético e moral íntegros.
Depois do Inquérito, é
feita a votação, na Loja respectiva, uma vez que os Padrinhos e os Inquiridores
tenham apresentado os seus relatórios; depois, no caso de uma votação positiva,
é marcado o dia da Iniciação. Para além das condições éticas, vocacionais e
espirituais, é preciso também que o futuro maçom possa satisfazer as suas
obrigações materiais para com a Ordem [jóias, quotizações, etc.], para que ela
possa ter condições materiais para exercer a sua ação.
Profanos e Iniciados,
um ponto de vista diferente – Acredito que num futuro não muito distante, a
humanidade não mais precisará se distinguir entre iniciados e profanos, mas até
lá, iniciados e não-iniciados [profanos], precisam desenvolver a consciência
plena de que todos somos Filhos do mesmo Pai, seres da mesma espécie, e iguais
entre si, independentemente de raças, origens, crenças e posições sociais ou
desenvolvimento sócio, econômico, político e cultural.
E encerro este quarto
de hora com essa frase magistral do filósofo Friedrich Nietzsche:
“Ao invés de mostrarem
à altura da insustentável solidão da sua condição, os homens continuam à
procura do seu Deus despedaçado e por Ele amarão até as serpentes que moram em
meio das Suas ruínas”.
Por isso, a concepção
de Liberdade, Igualdade e Fraternidade ministrada aos iniciados maçons precisa
ser expandida para toda a humanidade até congregar num só estado o gênero
humano inteiro.
Helio P. Leite
Achei super interessante as explicações, isso auxilía muito à todos.
ReplyDeleteO Profanun era uma espécie de "varanda" nos templos da Grécia antiga onde podiam ficar os não iniciados nos mistérios. Estes mistérios se dividiam em grandes e pequenos. Os pequenos eram mais relacionados com o corpo humano e em alguns casos com a natureza. O acesso aos grandes so depois de passar por testes para provar que era digno de sabe-lo. Dentro deste grande podemos dizer que todos nos humanos exceto alguns raros casos, somos profanos mesmo sendo iniciados continuamos sendo. Como assim? O verdadeiro templo maçônico e o próprio planeta terra; e neste ponto habitamos na"varanda" a parte externa do templo; então quando iniciamos simbolicamente estamos "dando um passo" para o seu interior deixando a uma parte nossa para trás. Pode parecer fantasioso mas significa realmente isto; entretanto estamos muito arraigados no que aprendemos da ciência acadêmica e estas informações parecem conto da carochinha ou na melhor das hipóteses ficção cientifica ou ainda ideias de algum desequilibrado mental. Daria tudo para ver o semblante dos 9 Templários originais quando vislumbraram o Real Segredo em pleno seculo 12. Hoje com todo avanço tecnológico a maioria não acreditaria como há pessoas ainda hoje não acreditam que o homem pousou na Lua.
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