Por mais antigo que seja o período da história
pesquisado, verificamos que o ato de tomar as refeições sempre foi uma
atividade social, no sentido de ser realizada coletivamente. Nos sítios
arqueológicos mais antigos sempre são encontrados sinais de restos de fogueiras
e alimentos (conchas e ossos) em quantidade suficiente para demonstrar esta
ação do grupo.
Os sambaquis encontrados em vários lugares do
Brasil são exemplos disto. Aliás, antes mesmo do domínio do fogo, sabe-se que a
atividade extrativista era coletiva. Até mesmo, observando os nossos primos
mais distantes, os gorilas e chimpanzés, notamos que também eles fazem suas
refeições coletivas, sendo, segundo alguns estudiosos, fator de agregação do
grupo.
Em recente documentário no Canal Discovery,
apareceu concretamente a situação em que um novo membro é aceito na comunidade
de Gorilas a partir do momento em que é permitido, pelos demais, participar das
atividades de alimentação.
Ao longo da história da humanidade as refeições coletivas sempre apareceram de diferentes formas e com diferentes nomes. Assim vamos encontrar os jantares, banquetes, piqueniques, saraus, festas, convescotes, ágapes.
Ao longo da história da humanidade as refeições coletivas sempre apareceram de diferentes formas e com diferentes nomes. Assim vamos encontrar os jantares, banquetes, piqueniques, saraus, festas, convescotes, ágapes.
Nos momentos mais importantes da história tanto do
ponto de vista político, como econômico e social, grandes e importantes
decisões foram tomadas antes, durante ou depois de refeições.
Qualquer que seja o livro, o filme ou documentário
e até mesmo em notícias de jornais, verificamos a procedência desta afirmação.
A refeição conjunta ajuda a quebrar os espíritos e a selar compromissos. Alguém
se lembra de algum encontro entre estadistas em que não apareça um almoço ou
jantar na reportagem? Uma outra curiosidade, algum dos senhores parou para
contar quantas cenas de refeições aparecem no filme “O Poderoso Chefão”? Para
manter a coesão de uma “famiglia” se deve, realmente, precisar de muitas e
muitas refeições coletivas.
Fazendo um giro de 180º lembremos o primeiro milagre de Cristo, aquele que o iniciou na sua vida pública: foi o milagre do Vinho, nas bodas de Canaã. Logo em seguida aparece a multiplicação dos peixes e pães. Mais do que o milagre, eu quero reforçar a existência da refeição coletiva após a pregação do sermão da montanha. Por fim, suas últimas instruções aos apóstolos, só poderiam ter tomado lugar na “Última Ceia”.
Os maçons operativos costumavam realizar suas refeições nos próprios canteiros de obras, nos intervalos e após os trabalhos. Costume este que percebemos em qualquer construção aqui em nossas cidades. Esta, entretanto, não era uma característica apenas dos pedreiros. Em todas as profissões, do tropeiro ao pastor, do madeireiro ao construtor, dos monges aos soldados as refeições coletivas existiam e existem e contribuem para agregar a coletividade.
Mas voltemos à maçonaria. Comer e beber juntos sempre foi importante para a maçonaria. Em todas as Lojas de todos os países, as decorações dos pratos, copos e outros utensílios utilizados nas refeições com símbolos maçônicos e brasões de Lojas demonstram a importância deste convívio para os Maçons.
Fazendo um giro de 180º lembremos o primeiro milagre de Cristo, aquele que o iniciou na sua vida pública: foi o milagre do Vinho, nas bodas de Canaã. Logo em seguida aparece a multiplicação dos peixes e pães. Mais do que o milagre, eu quero reforçar a existência da refeição coletiva após a pregação do sermão da montanha. Por fim, suas últimas instruções aos apóstolos, só poderiam ter tomado lugar na “Última Ceia”.
Os maçons operativos costumavam realizar suas refeições nos próprios canteiros de obras, nos intervalos e após os trabalhos. Costume este que percebemos em qualquer construção aqui em nossas cidades. Esta, entretanto, não era uma característica apenas dos pedreiros. Em todas as profissões, do tropeiro ao pastor, do madeireiro ao construtor, dos monges aos soldados as refeições coletivas existiam e existem e contribuem para agregar a coletividade.
Mas voltemos à maçonaria. Comer e beber juntos sempre foi importante para a maçonaria. Em todas as Lojas de todos os países, as decorações dos pratos, copos e outros utensílios utilizados nas refeições com símbolos maçônicos e brasões de Lojas demonstram a importância deste convívio para os Maçons.
Chama a atenção a palavra convívio, que no sentido
etimológico tem o mesmo significado de banquete, esta última, palavra de origem
francesa, devido a utilização de pequenos bancos — banquets, banquetas — nas
refeições..
Bem, comecemos a alinhavar os pensamentos. Convívio vem de viver juntos, com fraternidade. Significa, também, a refeição realizada em ambiente fraternal. Por outro lado “banquete”, na sua origem, não possuía o significado pomposo que tem nos nossos dias. Poderíamos, então, até usar a expressão de “convívio ritualístico” para designar as refeições ritualísticas.
Bem, comecemos a alinhavar os pensamentos. Convívio vem de viver juntos, com fraternidade. Significa, também, a refeição realizada em ambiente fraternal. Por outro lado “banquete”, na sua origem, não possuía o significado pomposo que tem nos nossos dias. Poderíamos, então, até usar a expressão de “convívio ritualístico” para designar as refeições ritualísticas.
O “Banquete Ritualístico” é uma das mais antigas e
sólidas tradições maçônicas. A Constituição de Anderson contém inúmeras
referências e descrições sobre estas refeições. Como muito das obrigações
consuetudinárias vem desse documento, vamos transcrever uma das passagens, a
que está na página 54 do documento original. Não é nenhuma das que tratam dos
importantes banquetes anuais para a escolha do grão-mestre, mas uma passagem
singela cujo objetivo é ensinar bom comportamento aos Irmãos, e onde a refeição
aparece como algo normal e cotidiano nas reuniões maçônicas:
“Conduta depois que a Loja terminou e antes que os Irmãos saiam.”
“Podeis diverti-vos com brincadeiras inocentes, tratando-vos uns aos outros segundo vossa maneira, mas evitando todo excesso, não forçando um Irmão a comer ou beber além da sua inclinação, e não o impedindo de sair quando seus negócios o chamarem, nem fazendo ou dizendo algo de ofensivo, ou que possa impedir uma conversação fácil e livre; pois isso destruirá nossa harmonia, e fará malograr nossas louváveis finalidades.”
Como podemos ver, após a sessão vem sempre uma refeição, que precede aos Irmãos abandonarem o local de reunião. Não é por acaso que as quatro primeiras Lojas que formaram a Grande Loja da Inglaterra operavam nas Tabernas “The Goose and the Gridiron”( O Ganso e a grelha), “The apple tree”( A Macieira), “The Crown”( A Coroa) e “The Rummer and Grapes”( O Copo e as Uvas).
No “Emulation Working”, mais conhecido entre nós como “Rito de York”, cada encontro é seguido por um Banquete obrigatório ou repasto fraternal. Já no R.'.E.'.A.',A.'. existe o ritual para os Banquetes Ritualísticos da Ordem, que é inspirado nas tradições das Lojas militares pré - revolucionárias da França. Nesta tradição tudo que está à mesa é comparado com assuntos e utensílios relacionados à artilharia. Assim, água é pólvora fraca, vinho é pólvora forte, copos são canhões e sal é areia.
O Banquete Ritualístico é por vezes chamado de Ágape. No Dicionário Aurélio lê-se:
Ágape
1. Refeição que os primitivos cristãos tomavam em comum.
2. P. ext. Banquete, almoço ou outra refeição de confraternização por motivos políticos, sociais, comerciais, etc.
3. Ét. V. caridade (1).
Ágapa
1. Var. de ágape [q. v.]: "nas ágapas dos cristãos primitivos cantavam-se os salmos ao som do órgão!!!" (Alexandre Herculano , Lendas e Narrativas, II, p. 207).
Procurando a palavra caridade tem-se:
Caridade
[Do lat. caritate.]
S. f.
1. Ét. No vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus; ágape, amor - caridade.
No Dicionário Ilustrado de Maçonaria a definição para ágape é: “Banquete de Confraternização” que os primeiros cristãos adotaram para comemorar a última ceia de Jesus Cristo com seus discípulos. Em certa época tal refeição era realizada diariamente e à noite. No ano de 397, a Igreja aboliu as ágapes sob a alegação de que os mesmos haviam se transformado em verdadeiros festins que fugiam aos princípios religiosos”.
Já na excelente coleção de Nicola Aslan, “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia” encontramos: Ágape – Do grego agapê, amor. Nome que na Igreja primitiva era dado à refeição que os cristãos faziam em comum, em comemoração da ceia de Jesus Cristo com seus discípulos e na qual se davam mutuamente, o ósculo da Paz e da Fraternidade.
“Conduta depois que a Loja terminou e antes que os Irmãos saiam.”
“Podeis diverti-vos com brincadeiras inocentes, tratando-vos uns aos outros segundo vossa maneira, mas evitando todo excesso, não forçando um Irmão a comer ou beber além da sua inclinação, e não o impedindo de sair quando seus negócios o chamarem, nem fazendo ou dizendo algo de ofensivo, ou que possa impedir uma conversação fácil e livre; pois isso destruirá nossa harmonia, e fará malograr nossas louváveis finalidades.”
Como podemos ver, após a sessão vem sempre uma refeição, que precede aos Irmãos abandonarem o local de reunião. Não é por acaso que as quatro primeiras Lojas que formaram a Grande Loja da Inglaterra operavam nas Tabernas “The Goose and the Gridiron”( O Ganso e a grelha), “The apple tree”( A Macieira), “The Crown”( A Coroa) e “The Rummer and Grapes”( O Copo e as Uvas).
No “Emulation Working”, mais conhecido entre nós como “Rito de York”, cada encontro é seguido por um Banquete obrigatório ou repasto fraternal. Já no R.'.E.'.A.',A.'. existe o ritual para os Banquetes Ritualísticos da Ordem, que é inspirado nas tradições das Lojas militares pré - revolucionárias da França. Nesta tradição tudo que está à mesa é comparado com assuntos e utensílios relacionados à artilharia. Assim, água é pólvora fraca, vinho é pólvora forte, copos são canhões e sal é areia.
O Banquete Ritualístico é por vezes chamado de Ágape. No Dicionário Aurélio lê-se:
Ágape
1. Refeição que os primitivos cristãos tomavam em comum.
2. P. ext. Banquete, almoço ou outra refeição de confraternização por motivos políticos, sociais, comerciais, etc.
3. Ét. V. caridade (1).
Ágapa
1. Var. de ágape [q. v.]: "nas ágapas dos cristãos primitivos cantavam-se os salmos ao som do órgão!!!" (Alexandre Herculano , Lendas e Narrativas, II, p. 207).
Procurando a palavra caridade tem-se:
Caridade
[Do lat. caritate.]
S. f.
1. Ét. No vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus; ágape, amor - caridade.
No Dicionário Ilustrado de Maçonaria a definição para ágape é: “Banquete de Confraternização” que os primeiros cristãos adotaram para comemorar a última ceia de Jesus Cristo com seus discípulos. Em certa época tal refeição era realizada diariamente e à noite. No ano de 397, a Igreja aboliu as ágapes sob a alegação de que os mesmos haviam se transformado em verdadeiros festins que fugiam aos princípios religiosos”.
Já na excelente coleção de Nicola Aslan, “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia” encontramos: Ágape – Do grego agapê, amor. Nome que na Igreja primitiva era dado à refeição que os cristãos faziam em comum, em comemoração da ceia de Jesus Cristo com seus discípulos e na qual se davam mutuamente, o ósculo da Paz e da Fraternidade.
No início, em Jerusalém, as ágapes se realizavam
todas as noites, mas posteriormente, foram reservados para os domingos. A eles
assistiam homens de todas as classes e cada um contribuía de acordo com seus
meios, pagando os ricos a parte dos pobres.
Paulo assinala e condena os abusos que cedo se
introduziram nos ágapes, tendo sido os festins noturnos apaixonadamente
atacados pelos pagãos, que os apresentavam como servindo de pretexto a infames
libertinagens.
O concílio de Cártago, em 397, aboliu tais
banquetes em comum”. Continua Aslan: “Em maçonaria, este nome é muitas vezes
utilizado para indicar o banquete ou refeição ritualística que,
obrigatoriamente, se segue aos trabalhos da Loja. Simboliza a recreação em
comum, merecida depois do trabalho, e é presidida pelo Venerável. No Brasil, o
banquete é obrigatório apenas nas festas da Ordem, e particularmente depois de
uma iniciação”.
A palavra ágape, em português, é admitida em ambos os gêneros, masculino e feminino. Em grego significa de ternura. “A palavra ternura contém noções de afeição, amor e devoção. O equivalente Latino de ágape é caridade.
A palavra ágape, em português, é admitida em ambos os gêneros, masculino e feminino. Em grego significa de ternura. “A palavra ternura contém noções de afeição, amor e devoção. O equivalente Latino de ágape é caridade.
Dar o significado de “amor” para ágape, pode levar uma
subjetividade de conteúdo. A oposição, em Grego, de ágape é Eros, que é o amor
possessivo, enquanto ágape é o amor gentil, da bondade, da fraternidade.
O sentido de Eros é próprio para o inflamado amor
dos amantes. Com o transcorrer do tempo, o seu significado envolveu até paixão
sexual se tornou uma metáfora do significado místico e do fervor espiritual.
(...) Já Ágape é adequada para o amor fraterno, de irmãos, para um amor
pacífico e ao próximo. Ágape é então dividir a alimento, do corpo, do coração e
do espírito. E precisa ser realizado com prazer se é para ser compensador”.
Finalmente, vale lembrar que historicamente o Grau de Mestre surgiu bem depois dos dois graus básicos originados da Maçonaria Operativa, que são o de Aprendiz e Companheiro. Este último, Companheiro, corresponde ao termo Inglês Fellow-Craft, da antiga maçonaria operativa escocesa. No trabalho do Irmão L. Cousseau, publicado na revista Le Chaine d’Union, de julho de 1961, sob o título “O Maravilhoso Ensino Maçônico”, ao analisar o grau de Companheiro, ele define: “Insiste sobre a primazia do amor altruísta” e o associa à forma de como o Companheiro se coloca à Ordem. A origem de seu nome, do Latim, vem de Compane, que como a palavra sugere em seu sentido etimológico, são aqueles que dividem o pão. Os que sabem dividir o pão, lembrando o que foi dito no parágrafo anterior, sabem que o prazer e a felicidade são objetivos legítimos.
Tem sido um discurso corrente, que algumas Lojas Maçônicas estão passando por momentos de desânimo, com quadros se afastando, rareando as novas iniciações e com baixa participação de IIrr.'. nos Trabalhos realizados .
Finalmente, vale lembrar que historicamente o Grau de Mestre surgiu bem depois dos dois graus básicos originados da Maçonaria Operativa, que são o de Aprendiz e Companheiro. Este último, Companheiro, corresponde ao termo Inglês Fellow-Craft, da antiga maçonaria operativa escocesa. No trabalho do Irmão L. Cousseau, publicado na revista Le Chaine d’Union, de julho de 1961, sob o título “O Maravilhoso Ensino Maçônico”, ao analisar o grau de Companheiro, ele define: “Insiste sobre a primazia do amor altruísta” e o associa à forma de como o Companheiro se coloca à Ordem. A origem de seu nome, do Latim, vem de Compane, que como a palavra sugere em seu sentido etimológico, são aqueles que dividem o pão. Os que sabem dividir o pão, lembrando o que foi dito no parágrafo anterior, sabem que o prazer e a felicidade são objetivos legítimos.
Tem sido um discurso corrente, que algumas Lojas Maçônicas estão passando por momentos de desânimo, com quadros se afastando, rareando as novas iniciações e com baixa participação de IIrr.'. nos Trabalhos realizados .
A crise econômica, aumentando o risco de desemprego
e de falência, tem exigido que os Irmãos se dediquem cada vez mais aos
trabalhos profanos, o que talvez justifique em parte esta situação. Entretanto,
devemos ter o senso crítico para diagnosticar se temos descuidado também do
congraçamento entre Irmãos, que constrói relacionamentos e evita o aparecimento
da discórdia.
Precisamos dar mais atenção a esta parte de nosso
ritual consuetudinário, realizando a ágape após a sessão obrigatoriamente e não
deixando de realizar os banquetes ritualísticos da Ordem e de Iniciação.
Bibliografia
José Castellani — Origens Históricas e Místicas do Templo Maçônico
Joaquim da Silva Pires — Rituais Maçônicos Brasileiros
Daniel Béresniak — Symbols of Freemasonry
Nicola Aslan - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia
Sebastião Dodel dos Santos — Dicionário Ilustrado de Maçonaria
James Anderson — Constituições dos Franco — Maçons ou Constituições de Anderson de 1723
Marcelo Bezerra
Bibliografia
José Castellani — Origens Históricas e Místicas do Templo Maçônico
Joaquim da Silva Pires — Rituais Maçônicos Brasileiros
Daniel Béresniak — Symbols of Freemasonry
Nicola Aslan - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia
Sebastião Dodel dos Santos — Dicionário Ilustrado de Maçonaria
James Anderson — Constituições dos Franco — Maçons ou Constituições de Anderson de 1723
Marcelo Bezerra
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