Sinopse
Considerações a respeito do Tronco de beneficência ou de solidariedade;
ritualística de coleta; interpretação mística e filosófica.
No Rito Escocês Antigo
e Aceito é explicado ao neófito que o Tronco de Solidariedade arrecada
dinheiro, denominado metais, que serão distribuídos depois aos necessitados.
O obreiro coloca seu
óbolo na mão e a fecha, coloca-o dentro da bolsa de coleta e lá dentro a abre e
solta sua doação, deposita para si mesmo, soltam-se os fluídos da ponta de seus
dedos, energizando o conteúdo da bolsa, fecha a mão e retira-a fechada.
Ao retirar a mão
fechada significa que assim como ele pode colocar o que lhe ditar o coração,
também poderá tirar quando necessidades o afligirem. Daí deduzindo que os
necessitados a serem socorridos em primeira instância são os próprios irmãos do
quadro.
Existem relatos que
creditam a origem deste procedimento como remanescente ao tempo em foi
construído o templo de Salomão, onde ferramentas, projetos, documentos e
pagamento dos obreiros eram colocados dentro das colunas do templo, que eram
ocas exatamente para esta finalidade.
O pagamento de
companheiros e aprendizes origina-se da tradição de retirar do interior do
tronco das colunas o salário a que faziam jus.
Mas a origem mais
convincente e lógica é francesa, pois naquela língua a palavra
"tronc" pode ser usada tanto para tronco humano como para caixa de
esmolas.
Guarda-se apenas a
simbologia deste procedimento, em verdade as colunas B e J dos templos atuais
são meras figuras simbólicas e não são ocas.
A circulação
ritualística da bolsa de solidariedade obedece ao formato de duas estrelas de
seis pontas, que por sua vez são compostas cada uma por dois triângulos um
dentro do outro, em posição invertida.
A marcha inicia no
ocidente, entre colunas, em direção ao oriente. O irmão hospitaleiro coloca a
bolsa colada a sua cintura, ao lado esquerdo do corpo e inicia a marcha.
Sem olhar para o que é
depositado na bolsa vai passando por todos os obreiros em loja.
O venerável mestre,
primeiro vigilante e segundo vigilante definem o primeiro triângulo; orador,
secretário e guarda do templo definem o segundo triângulo, o que resulta na
primeira estrela; depois passa pelos oficiais e obreiros do oriente, pelos
mestres e oficiais da coluna do sul e pelos mestres e oficiais da coluna do
norte, definindo o terceiro triângulo; companheiros, aprendizes e o cobridor
externo formam o quarto triângulo e completam a segunda estrela.
E por fim, o cobridor
externo segura a bolsa, e o próprio hospitaleiro deposita seu óbolo na bolsa,
retoma a bolsa, lacra-a e conclui o giro da bolsa postando-se entre colunas.
Comunica ao venerável mestre que a tarefa está cumprida e recebe instruções do
que deve fazer em seguida.
Normalmente o
hospitaleiro leva a bolsa lacrada até o altar do tesoureiro e ambos conferem o
valor coletado. Em seguida o tesoureiro comunica ao venerável mestre o valor
arrecadado.
Durante a circulação
da bolsa nenhum irmão pode adentrar ou sair do templo.
Normalmente é momento
em que os obreiros aproveitam para recolhimento espiritual ou relaxamento, pois
o ato de doar é tido como místico, é o sacrifício da oferenda que se faz como
culto ao conceito de Grande Arquiteto do Universo de cada um.
Para tornar o momento
mágico o mestre de harmonia baixa a intensidade das luzes e executa músicas
suaves. É uma parte do ritual que se não executado é considerado como se aquela
sessão não foi válida, à exceção das sessões brancas.
O retirar de metais
não ocorre no instante em que o obreiro retira a mão da bolsa, mas é solicitado
ao venerável mestre que determinará a seu critério mandar efetuar sindicâncias,
para só então fornecer os recursos financeiros ao irmão em necessidade.
Normalmente sequer é o
beneficiado quem faz a solicitação, na maioria das vezes tal ação parte do
hospitaleiro, mas pode ser qualquer outro irmão do quadro.
O irmão que não
consegue pagar suas contas tem direito ao uso destes recursos? Não! Isto não é
situação válida para obter recurso deste fundo.
O obreiro teve sua
casa queimada ou uma doença grave sobre ele se abateu de forma inesperada, pode
ser socorrido com recursos do Tronco de Beneficência? Sim! À critério do
venerável mestre e da loja.
Sempre precisa haver
razão válida, de real valor humanitário para se efetuar algum socorro. E esta
ajuda é feita muitas vezes de tal maneira que o beneficiado sequer sabe de onde
vem o recurso, é feita também de tal forma que não humilhe aquele; tem somente
o objetivo de amenizar o sofrimento de quem realmente necessita. É por isto
também conhecido como tronco da viúva, onde os filhos da viúva são os maçons.
Quando os fundos do
tronco dos pobres ou da viúva atingem valor razoável, parte dele é destinado
para obras de beneficência.
Nunca é totalmente
gasto, sempre fica um fundo para a eventualidade de haver necessidade de
socorrer algum irmão em real necessidade emergencial.
Não colaborar com o
ato litúrgico do tronco de solidariedade é o mesmo que fugir da prática da
caridade e torna o maçom indigno de exercer todos os demais privilégios
maçônicos.
E se possuir posses
que lhe permitam fazê-lo, e não o faz, torna-se desonesto para consigo mesmo,
pois poderá ser ele próprio o beneficiário daquele óbolo que coloca na bolsa.
Se não colabora por
vaidade ou avareza o seu caráter não é bom, ele deve desconfiar que tenha algo
errado consigo mesmo.
Dar esmola não
significa mixaria, ninharia, insignificância; é melhor que não coloque nada e
arque com as consequências que sua consciência lhe exigir.
É pela beneficência
que o verdadeiro maçom se torna digno na procura de alcançar a glória de
merecer de parte daquilo que ele considera o Grande Arquiteto do Universo, o
seu Deus, o prêmio de fazer parte da edificação da sociedade.
Em sendo tão séria,
esta disposição então porque abusar da sorte: hoje está tudo bem, mas quem sabe
o que o amanhã reserva?
Bibliografia:
1. ASLAN, Nicola,
Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, Volume I, ISBN
85-7252-158-5, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 1270 páginas,
Londrina, 2003;
2. CAMINO, Rizzardo
da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora
Ltda., 413 páginas, São Paulo, 2001;
3. CASTELLANI, José,
Dicionário Etimológico Maçônico, A-B-C, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-169-0,
segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 143 páginas, Londrina, 2003;
4. FIGUEIREDO, Joaquim
Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua
Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 550
páginas, São Paulo, 1989;
5. Paraná, Grande loja
do, Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, terceira
edição, Grande loja do Paraná, 98 páginas, Curitiba, 2001.
Charles Evaldo Boller
Loja Apóstolo da
Caridade 21 Grande loja do Paraná
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