OS PRECONCEITOS E DOGMAS MAÇÔNICOS



Ao completar, no dia 7 de agosto de 2006, 10 anos de maçonaria e, portanto, na busca de me tornar um livre pensador, eu gostaria de apresentar uma breve reflexão. Na minha iniciação, ao abrir os olhos para a luz, eu me vi diante de um mundo totalmente novo: o maçônico. Com base na curiosidade pela ciência e pela verdade, aquele momento me encheu a consciência de perguntas. E para respondê-las, eu comecei a ler, pesquisar e meditar sobre os meus próprios questionamentos.

Vários autores maçônicos e não maçônicos, pouco a pouco, me esclareceram sobre a real maçonaria. Então, a luz, embora ainda tênue, foi vista de forma um pouco mais clara por este aprendiz. No entanto, a minha maior surpresa foi encontrar tanta ortodoxia e tanta vaidade numa instituição dita libertária, adogmática e fraterna.

Segundo o filósofo e místico indiano Krishnamurti: “Sentindo medo, inventamos deuses, inventamos teorias, intelectualmente, teologicamente e religiosamente. Temos ideias, fórmulas relativas do que devemos ser”.

De acordo com o Ir.’. Breno Trautwein, em seu livro Dogmas e Preconceitos Maçônicos, escrito em 1997: “Os homens atuais são de uma cadeia infinita de seres, cujo progresso é resultante do trabalho e do pensamento de outros homens dedicados à verdade, não importando a intolerância dos ignorantes, dos fanáticos e dos poderosos”.

Seria a maçonaria fruto de dogmas ou da experiência apoiando a razão? A Maçonaria é fruto do pensamento humano, do desejo do ser humano pela religião natural. Entretanto, ao examinarmos alguns de seus ensinamentos, surpresos notamos a sua decadência filosófica, caindo para um dogmatismo absurdo, além de inúmeros falsos preconceitos.

Mas o que é preconceito? Preconceito é um juízo pré-formulado, ou seja, uma opinião que se expressa antes de uma reflexão mais profunda, sobre a sua veracidade. Isso é fruto da ignorância, alicerçada na suposta autoridade de um indivíduo ou de um pequeno grupo, impondo a todo um conjunto social, de forma arbitrária. É do preconceito que nasce o dogma, ponto básico considerado indiscutível de uma crença religiosa, filosófica ou mesmo científica. Dogmas são princípios aceitos como indiscutíveis ou ditos como inalteráveis. O dogmatista diz-se de pessoa com ideias autoritárias. Segundo Albert Einstein: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.

Na verdade, uma boa parte de minha indignação refere-se a Albert Makey, autor de uma versão de 25 landmarks, assim como seu fã clube no Brasil, cuja definição que tem como autor o Ir.’.Castellani. Albert Pike, elaborador da versão de apenas cinco landmarks, fruto de um amplo estudo e de uma arrasadora e erudita crítica contra o emaranhado de falsos limites, apresentados pelos autores da época, incluído, aí, o seu discípulo Albert Mackey.

Poderíamos então dizer que esses não são dogmas; que são leis; que são princípios básicos! Mas mesmo tendo sido impostos, sem uma aprovação pela maioria, sem a análise da validade e dos benefícios para a coletividade atingida; e, por esse motivo, caracteriza o Dogma. Neste particular refiro-me a alguns landmarks ultrapassados pelos usos e costumes do mundo de hoje e ditos como imutáveis. E aí eu pergunto: como uma lei, feita por homens, pode ser considerada imutável, se as leis naturais se auto ajustam para manter o universo em equilíbrio? Não posso concordar que haja conhecedores absolutos de todo o saber maçônico. O primeiro landmark ou princípio, como queiram chamá-lo, que precisaria estar em todas as versões, a meu ver, é "Ser Livre e de Bons Costumes", o que resultaria no uso do bom senso, para a boa aplicação dos demais princípios necessários a nossa instituição. Mas também não importa se um landmark, dito imutável, foi aprovado pela maioria ou não: dogma é dogma e, por isso, é anti-filosófico, anti-progressista e, portanto, contrário a Maçonaria.

O dogmatismo, na Idade Média, foi religioso e teológico, baseando-se na censura do pensamento, na condenação à morte dos hereges queimados em praça pública e para escarneamento dos fiéis. Se olharmos a história da Inquisição, concluímos que nela figurou o dogmatismo levado às suas últimas consequências, até a morte, por aqueles que julgavam ter o monopólio da verdade e realmente detinham, circunstancialmente, o monopólio do poder. Atualmente, o dogmatismo tem assumido um caráter ideológico e político, embora não inclua dogmas religiosos, cuja aceitação depende da fé, incluem teses de conteúdo econômico, social e político, discutíveis como quaisquer teses, levados à institucionalização pela intolerância e pela violência.

Fruto das ideias predominantes em nosso mundo atual, a ordem maçônica não pode fugir do seu destino de liberdade de pensamento e de opinião. Segundo Descartes, em “Discurso do Método”, livro escrito em 1637, ele diz que: “O conhecimento e a ciência exigem trabalho, questionamentos sistemáticos e método. O dogmatismo é o pior companheiro da filosofia.” Mas os maçons criaram vários dogmas fundamentados, ora nas proposições de potências maçônicas imperialistas, ora em suas arbitrárias e profanas legislações, que é fruto da ignorância da verdadeira maçonaria.

Segundo Validivar: “Nenhum homem é livre se a sua mente não é como uma porta de vai-e-vem, abrindo-se para fora a fim de liberar suas próprias ideias e para dentro a fim de captar as boas ideias dos outros”. Sendo a Maçonaria fruto do pensamento humano, isto é, de livres pensadores no campo das ideias, os maçons especulativos não podem dar a outrem o direito de pensar e decidir por eles; jamais podem deixar de buscar, incessantemente, a Verdade.

Bibliografia:
 “Dogmas e Preconceitos Maçônicos", de Breno Trautwein, Editora A Trolha.
 “Discurso do Método", de René Descartes, Editora L&PM Pocket


PEDRO JUCHEM
M.'.M.'., Loja Venâncio Aires II, nº 2369 – G.'.O.'.B.'. / RS, Brasil

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