FILHO DE MAÇOM


Até onde consigo recordar e ter consciência de minhas recordações a Maçonaria faz parte delas.Com 5, 7 anos de idade lembro que perguntava ao meu pai aonde ele ia já que havia acabado de chegar do trabalho e sua resposta, semana após semana, ano após ano era sempre a mesma: "Vou à loja".Mas que diabo de loja é esta que não conheço! Pensava. Meu pai tem escritório (de contabilidade), ele não tem loja nenhuma! Continuava meu raciocínio.

Mesmo não entendendo a resposta tinha uma tremenda raiva da tal "Loja" pois tirava meu pai de casa e eu ficava sem sua companhia.

Poços naquela época fazia muito frio no inverno e mesmo assim meu pai ia na 'Loja'. Ele tinha um sobretudo que chamava de 'capote'. Quando ele perguntava para minha mãe do 'capote' eu pensava: Lá vai ele de novo para a tal 'Loja'!

E assim os anos foram passando.

Quando tomei consciência do que era o dia de Finados e que neste dia íamos a um lugar chamado Maçonaria, onde várias pessoas com espadas, com gravata, um caixão com várias flores sobre ele, e uma cerimônia onde todos participavam quietos e só alguns falavam e que estes que falavam usavam aventais e que uma destas pessoas usando avental era meu pai, compreendi que ele era 'da Maçonaria'. Não pela boca de meu pai, mas desta forma, descobri que ele era Maçom.

Vim a saber que ir 'na Loja' era ir à Maçonaria, anos depois destas cerimônias de Finados, mais precisamente durante a cerimônia de adoção de 'Lowton' da qual fiz parte. E de novo não pela boca dele. Esses maçons antigos!

Enfim sempre fui filho de maçom até o dia que um bom amigo que mais tarde reconheci como irmão, convidou-me também a participar da Ordem (Meu pai já havia passado para o Oriente Eterno). Minhas lembranças como filho de maçom são ao mesmo tempo de ser 'importante' e de incompreensão porque nada sabia sobre a Ordem. Em mim foram sentimentos antagônicos.

Meu pai além de nunca ter comentado nada sobre Maçonaria e hoje entendo sua postura, nunca intercedeu junto a Ordem para que eu fosse convidado e isto eu não entendo. A melhor explicação que tenho para este fato é que como ele nunca falava sobre maçonaria eu também nunca perguntava e como eu nunca perguntava talvez ele tenha concluído que eu não me interessava. Enfim, sou “filho de maçom” e hoje meu filho também é 'filho de maçom' como eu.

Quais são as respostas que devo a ele para que um dia a Maçonaria que indiretamente já faz parte da vida dele não seja o que foi para mim?

Quando saio para ir a 'Loja' digo ao meu filho, hoje com 11 anos, que vou a uma reunião na Maçonaria. E ele já sabe que sou maçom.

Uma vez escutei "Pai, você vai de novo à reunião? O que é que vocês conversam ia?”

Tal como eu, meu filho também não tem as respostas que o satisfaça, pois o que ele quer é que eu não saia de casa, ele quer minha companhia! Ensaio algumas respostas mas percebo que não é o que ele quer ouvir.

Concluo que como meu pai, eu ao falar com meu filho 40 anos depois não estou sendo muito diferente dele.

Aliás ele também já participou da cerimônia de adoção de Lowton. Esta é uma das faces da Maçonaria.

Ano após ano e no meu caso décadas, permanece firme em seus anseios de melhorar o homem e por conseguinte a humanidade e com a mesma essência em seus ensinamentos. Presumo que desde o ano de 1700 e pouco vem se falando a mesma coisa. Posso concluir que: ou somos incapazes de compreendê-la tal quais as crianças que nada sabem mas são curiosas, ou seus ensinamentos são utópicos, justos e perfeitos, portanto inatingíveis e a busca constante deles recomeça a cada novo Aprendiz que admitimos.

Ao tempo certo, pretendo interceder junto a Ordem para que meu filho um dia torne-se maçom e espero que meu neto também.

Por José Sólon de Oliveira

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