O PAVIMENTO DE MOSAICO



A perfeição que buscamos, que aprendemos e que queremos semear, só será alcançada quando cada um de nós parar de frente ao PAV.'. MOSAICO e conseguirmos meditar e compreender toda sua profundidade, toda lição que nos transmite, toda força que traz em si, apesar de toda singeleza e pureza, que na maior parte das vezes nos faz olhá-lo, como se fossem meros ladrilhos pintados de branco e preto. Ledo engano daqueles que assim agem e assim pensam.

O pesquisador Maçom Joaquim Gervásio de Figueiredo em seu “Dicionário de Maçonaria”, define PAV.'. MOSAICO como sendo “um dos ornamentos da Loj.'., composto por ladrilhos ou quadriculados alternadamente brancos e pretos. Simbolizam seres animados que decoram e ornamentam a criação, bem como o enlace, de espírito e matéria em vida”.

Apesar de no antigo Egito o PAV.'. MOSAICO ser um lugar sagrado, proibido de ser pisado e com forte apelo religioso, na Maçonaria é o lugar por onde caminham todos os IIr.'., independente de Grau, sem ter ligação com qualquer religião, pois ele não é o tapete sagrado ou o “santus santorum”, do Templo de Jerusalém.  

Ele está em Loj.'. para ser pisado com respeito e seus quadrículos brancos e negros estão – ao serem pisados – para lembrar que todos somos iguais, independentemente de credo, raça e cor, e que deve haver simetria, perfeita harmonia entre os homens.

Harmonia, eis algo difícil de ser alcançado. No mundo profano, a harmonia parece cada vez mais distante. Porém, após ter sido gerado na Câmara de Reflexões, o novo homem deve buscar essa harmonia com maior afinco e com certeza, no mundo maçônico, ela tende a se tornar mais acessível a cada dia e a cada vinda à Loja.

A Loj.'. é um emblema da natureza, uma representação do universo.
No Or.'., sob o Dossel que cobre o assento do V.'. M.'., no centro do triângulo luminoso que tudo ilumina com a sua luz resplandecente, brilha o misterioso G:., cujo verdadeiro significado só é conhecido pelos Iniciados.

O G.'.A.'.D.'.U.'. em sua fantástica criação do mundo, espalhou por toda sua obra contrastes e opostos, que dão o perfeito equilíbrio da natureza. O dia e a noite, os mares e os continentes, o frio e o calor, o sol e a chuva, as presas e os predadores, a matéria e o espírito, enfim, a divina criação é justa e perfeita com seus opostos, perfeitamente distribuídos e cada qual com seus limites, como o PAV.'. MOSAICO, o chão da Loj.'., que representa o Universo onde nós vivemos e pisamos, com esses contrastes que se harmonizam. 
 
E nossa luta pela harmonia se torna pior quando é travada dentro de nós, seres humanos. O comportamento da humanidade está repleto de opostos. O homem muda parcialmente do branco para o preto e vice-versa.

A nossa luta constante em sermos o mais perfeito possível, após sairmos da Cam.'. de RRef.'., a cada vez que nos deparamos frente ao PAV.'. MOSAICO, nos lembramos do pior dos nossos defeitos: a Ambição. A ambição de querermos alcançar todos os Graus, a ambição de nos tornarmos VV.'.MM.'., a ambição de termos e sermos ou nos considerarmos melhor que o próximo, mais próximo o nosso Ir.'., a ambição de nos aproveitarmos de um de nossos IIr.

Nesse sentido, coloco a todos a importância do PAV.'. MOSAICO, que a mim constantemente tiro lições, aprendo e a ele me rendo, face a sua harmonia, me ensina que a ambição dos homens por uma parte, e pela outra, a vaidade, tem feito da terra um espetáculo de sangue: a mesma terra, que foi feita para todos, quiseram alguns fazê-la unicamente sua: digam os Alexandres, os Césares, os Hitlers, outros conquistadores; heróis não por princípio de Virtude, ou de Justiça, mas por um excesso de fortuna, de ambição e de vaidade.

 Esses mesmos, que tomados por si sós cabiam em um breve espaço, medidos pelas suas vaidades, apenas cabiam em todo o mundo: uma conquista injusta sempre começa pela opressão dos homens conquistados e pelo destroço de uma terra alheia. 

O PAV.'. MOSAICO nos ensina exatamente o contrário, sermos o que somos, mas, sem ambição, sem vaidade.

Caso o Ir.'. não tenha percebido, olhe atentamente para o PAV.'. MOSAICO e deixe-o entrar dentro de si, sinta a sua força, o seu poder, solte-se, não tenha medo, ele muito nos ensinará, pois sua força e ensinamentos são infinitos.

O PAV.'. MOSAICO nos ensina que nascem os homens iguais, um mesmo e igual princípio os anima, os conserva, e também os debilita e acaba.

Somos organizados pela mesma forma e por isso estamos sujeitos às mesmas paixões, e às mesmas vaidades.

Para todos nasce o Sol; a aurora a todos desperta para o trabalho; o silêncio da noite anuncia a todos o descanso. O tempo que insensivelmente corre e se distribui em anos, meses e horas, para todos se compõe do mesmo número de instantes.

Essa transparente região a todos abraça; todos acham nos elementos um patrimônio comum, livre e indefectível; todos respiram o ar; a todos sustenta a terra; as qualidades da água e do fogo a todos se comunicam. O mundo não foi feito mais em benefício de uns, que de outros; para todos é o mesmo; e para o uso dele todos têm igual direito; ou seja, pela ordem da natureza, ou seja, pela ordem da sua mesma Instituição.

Todos achamos no mundo as mesmas partes essenciais. Que coisa é a vida, para todos mais do que um enleio de vaidades e um giro sucessivo entre o gosto, a dor, a alegria, a tristeza, a aversão e o amor? Tudo isso o PAV.'. MOSAICO nos mostra claramente e nos ensina. Nós, é que não prestamos atenção ao mesmo.

Quem imagina o que deseja, tudo pinta com cores lisonjeiras e mais vivas; por isso a verdade é grosseira e mal polida; tudo que descobre é sem adorno; antes faz desvanecer aquela aparência feliz, com que os objetos, primeiro se deixam ver na ideia, do que se mostrem na realidade.

Todas essas propensões e inclinações se encontram em cada um de nós e assim devia ser, porque as variações do tempo, da idade, da fortuna e dos sucessos a todos compreende, e a todos iguala; só a vaidade a todos distingue, e em todos põe um sinal de diferença e um caráter de desigualdade e por mais que a terra fosse feita para todos, nem por isso a vaidade crê que um homem seja o mesmo que outro homem.

O PAV.'. MOSAICO, em sua retidão, separa tudo isso, respeita, não agride, é fundamental para a Maç.'., pois mostra claramente que somos todos iguais e assim devemos nos manter por mais que a tentação da ambição ou da vaidade nos ataque. 

Jamais seremos verdadeiros Maçons se dentro de nós houver a vaidade, a ambição, a inveja, o interesse ou qualquer forma de aproveitarmos da situação do próximo em nosso benefício.

Tirada a insígnia, o que fica é um homem simples; despida a toga consular também fica o mesmo. Se tirarmos do capitão a lança, o casco de ferro e o peito de aço, não havemos de achar mais que um homem inútil e sem defesa, e por isso tímido e covarde.

Os homens mudam todas as vezes que se vestem; como se o hábito infundisse uma nova natureza: verdadeiramente não é o homem o que muda, muda-se o efeito que faz em nós a indicação do hábito. 

Debaixo de um apresto militar, concebemos um guerreiro valoroso; debaixo de uma vestidura negra e talar, o que nos figura é um jurisconsulto rígido e inflexível; debaixo de um semblante descarnado e macilento, o que descobrimos é um austero anacoreta.

O homem não vem ao mundo mostrar o que é, mas o que parece; não vem feito, vem fazer-se; finalmente não vem ser homem, vem ser um homem graduado, ilustrado, inspirado, de sorte que os atributos, sons que a vaidade veste o homem, são substituídos no lugar do mesmo homem; e este fica sendo como um acidente superficial e estranho: a máscara, que encobre, fica identificada e consubstancial à coisa encoberta; o véu que esconde fica unido intimamente à coisa escondida; e assim não olhamos para o homem; olhamos para aquilo que o cobre e que o cinge; a guarnição é a que faz o homem, e a este homem de fora é a quem dirigem os respeitos e atenções; ao de dentro não. 

Este despreza-se como uma coisa comum, vulgar e uniforme em todos.

A vaidade e a fortuna são as que governam a farsa desta vida; cada um se põe no teatro com a pompa, com que a fortuna e vaidade o põem; ninguém escolhe o papel; cada um recebe o que lhe dão. 

Aquele que sai sem fausto nem cortejo, e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição e à miséria, esse é o que representa o papel de homem. Este compreendeu o sentido do PAV.'. MOSAICO, este é o verdadeiro Maçom.

O Balandrau que usamos, tira de nós a aparência de riqueza, do saber, da ambição, da vaidade, ao contrário de outras vestes talares, nos iguala e nos mostra que somos todos iguais, todos IIr.'., que independentemente de qualquer posição profana, somos IIr.'. em todos os momentos, ligados por uma união inquebrantável, como é inquebrantável o poder e os ensinamentos do PAV.'. MOSAICO, que nos faz simples e livres da vaidade, do poder, da arrogância, do elitismo, da ambição, da inveja.

Nos une e nos mostra o caminho correto para trilharmos juntos o bem, a caridade, a Igualdade, a Fraternidade e principalmente a Liberdade, nos mostra com clareza ímpar que a morte está de sentinela, em uma mão tem o relógio do tempo, na outra a foice fatal e com esta, de um golpe certo e inevitável, dá fim à tragédia, corre a cortina e desaparece.

Para nós, Maçons, a morte não assusta quanto mais nos aprofundamos em nossos Graus, mais os despojamos das coisas profanas e no momento final estaremos prontos e despojados de todas as vaidades e luxúrias.

Sem o PAV.'. MOSAICO nada seríamos, nada aprenderíamos, pois cada um de nós, ao sermos contemplados como verdadeiros Maçons, saberemos, dia a dia, encontrar um alento para nossas vicissitudes.

"Quando virdes um desvio num de nossos IIr.'., um erro que significar um perigo para a sua vida ou um lastro para a sua eficácia, falai-lhe com clareza, com a clareza do PAVIMENTO MOSAICO.  E vos agradecerá.
   
G.W.T. M.


TEXTO: Ir.'. George Washington T. Marcelino
Or:. de São Paulo – SP

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