O NÍVEL CULTURAL DA MAÇONARIA



Tenho verificado que a cultura na Maçonaria está muito aquém. O quadro é simplesmente desolador. O maçom em geral tem, em média poucos anos de estudo, não lê, não estuda e nada sabe. E o que tem esse fato a ver com a Maçonaria? Tudo! Não é possível realizar novos progressos sem o auxílio da cultura e do saber.

O 1º grau (ensino fundamental), há 40 anos, dava ao cidadão uma base de cultura geral muito maior do que a de hoje e a culpa de tal retrocesso é, exclusivamente, do vergonhoso e criminoso sistema educacional que, paulatinamente, foi implantado no país e, evidentemente, dentro da própria Maçonaria. No 1º grau de hoje o estudante ainda é um semi-analfabeto que não sabe sequer cantar o Hino Nacional, que há muito foi expulso das escolas.

O maçom não gosta de ler. A afirmativa é absolutamente VERDADEIRA. Há uma mínima parte do povo que ama a leitura, outra, um pouco maior, que a detesta e a esmagadora maioria nem sabe que ela existe, e a Maçonaria é formada por homens vindos do povo.

Em todos os rituais maçônicos, fala‑se nas sete ciências que formavam a sabedoria dos antigos, composta pela Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Quem só com apenas o 1º grau tem o mínimo de conhecimento sobre tais ciências? Com exceção de alguns rudimentos de Gramática e de Matemática, ninguém!

O mundo moderno não é mais composto por sete ciências; as ciências se multiplicaram infinitamente: Física, Química, Engenharia, Geografia, Medicina, Sociologia, Filosofia, História, etc., cada uma delas com infinitas especialidades e ramificações, cada vez mais avançando nos campos das descobertas, pesquisas e realizações enquanto o maçom ficou estacionado no atual 3, 1º grau. EIS O GRANDE PROBLEMA.

Hoje, com raríssimas e merecidas exceções, chega‑se a Mestre Maçom entre seis meses a um ano e meio; ao Grau 33, entre três e quatro anos. Chega‑se a Mestre e ao Grau 33 sem se sair do 1º grau. O dicionário de Aurélio Buarque de Holanda define: “MESTRE – homem que ensina; professor; o que é perito em uma ciência ou arte; homem de muito saber”.
Será que está acontecendo alguma coisa errada?

Para quem deseja subir nos graus da Maçonaria é exigido um trabalho escrito (muitas vezes meramente copiado, sem pretensão de aprender) e as taxas de elevação (que geralmente são caríssimas). Só isto, nada mais do que isto e... tome‑lhe grau por cima de grau, sem o mínimo avanço cultural. Mas, em compensação, os aventais, colares e medalhas na subida dos graus vão ficando mais caros, mais bordados, mais coloridos e mais vistosos. E lá vai o nosso maçom falando em“beneficência”, “filosofismo”, “Pedra Bruta”, “Pedra Polida”, “Espada Flamejante”, “Câmara de Reflexões”, etc... E para completar o FEBEAMA (Festival de Besteiras que Assola a Maçonaria) diz, por ter ouvido dizer, que a Maçonaria é milenar.

Diz um provérbio popular que “NINGUÉM AMA O QUE NÃO CONHECE”. Como pode esperar a Maçonaria que seus Mestres Maçons, seus componentes dos Altos Corpos Filosóficos, sejam bons transmissores de suas doutrinas, histórias e conhecimentos se... nada sabem?

A Maçonaria é antes de tudo um vasto conjunto de ciências políticas, históricas, geográficas e sócio-econômicas adquiridas ao longo dos séculos. É simbolismo e filosofia pura, é ciência humana no seu mais Alto Grau. Como pode uma pessoa sem interesse pelo estudo adquirir e transmitir tantos conhecimentos? Só se for por um milagre!

Como pode, apenas com boas intenções, um leigo ensinar medicina para médicos, leis para juízes, aviação para um futuro piloto, engenharia para um futuro engenheiro, Maçonaria para um futuro Maçom?

Tiro por mim que já li quase uma centena de livros e que tenho mais como prazer do que por obrigação dedicar pelo menos meia hora por dia aos estudos maçônicos e outras literaturas de interesse para o meu aperfeiçoamento espiritual, cultural e profissional. E ainda não me considero um “EXPERT”. Reconheço, com toda humildade, que ainda tenho muito que aprender, e tenho o 3º grau completo.

Como pode uma pessoa sem cultura estudar e pesquisar as Lendas do Rei Salomão, Hiran Abiff, Rainha de Sabá, Cabala, entre tantos, sem conhecer História Antiga? Como podem entender a gama de conhecimentos contidos na Constituição de Anderson, Landmarks, Ritos, Painéis, entre outros assuntos totalmente desconhecidos do nosso Mestre Maçom e de uma grande parte daqueles que alcançaram o “TOPO DA PIRÂMIDE” e que se consideram com direito a cadeira cativa no Oriente para que seu “PROFUNDO SABER E CONHECIMENTO MAÇÔNICO POSSAM ILUMINAR” as colunas.

A verdade costuma ser brutal, mas, infelizmente, esta é a pura realidade que precisa de muitos com coragem para dizer.

O Maçom que estuda e pesquisa pode ser o “O SOL DA CULTURA”, talvez nem seja o vaga-lume que só tem sua luz notada nas trevas, mas, com certeza, é o espelho que poderá transmitir a Luz do Sol ou pelo menos a do vaga-lume.

A Maçonaria, composta de homens livres e de bons costumes e de boa cultura, obviamente, será muito melhor. No século XVII ela era composta pelos iluministas, no século XIX, no Império Brasileiro era composta da nata intelectual da nação e hoje ??? Sec XXI ??? Sem comentários...

Uma sociedade, um país, é preparada primordialmente pelo sistema educacional e cultural que consegue adquirir e formar. Seria muito bom começarmos a preparar os membros da Maçonaria, pelo menos em nossas Lojas, para o Terceiro Milênio, com pessoas um pouco mais cultas. Para ai sim, podermos ter um país melhor para nossos filhos, netos e descendentes.

Denilson Forato .'. MI -  VMD-PAL-GOP-COMAB-CMI


O PRIMEIRO MAÇOM


Nas pedreiras de antigamente, o trabalho de cortar, desbastar e lavrar pedras era uma atividade de caráter iniciático. Trabalhava-se com maço, ponteira e  cinzel em etapas distintas, conforme se quisessem pedras para alicerce, para parede ou para acabamento.

Cada tipo de pedra era trabalhado por operários especialmente treinados para o mister. Daí as graduações que se estabeleceram entre aprendizes e profissionais. Mais tarde, a atividade do artesão do maço (o maçom), evoluiu para um tipo mais sofisticado de trabalho, que já se podia chamar de arte.

Foi quando ele começou a tirar da pedra outras formas, imitando a natureza no seu trabalho de formatação das realidades físicas. Esse tipo de trabalho demonstrava que o homem possuía uma inteligência criadora e que sua consciência podia ser refletida na natureza através das obras de suas mãos. 

A história da aplicação do engenho humano nas pedras se confunde com a história da evolução do seu próprio psiquismo. O termo maçom é derivado dessa ocupação e a espiritualidade que acompanha essa profissão é decorrente dessa projeção da consciência sobre a matéria, formatando coisas e objetos, numa imitação da própria atividade criadora de Deus.

primeiro maçom foi o homem que desbastou a primeira pedra bruta, transformando-a em material de construção. Daí dizer-se que a Maçonaria é tão antiga quanto a presença humana sobre a terra, pois ela é uma prática que pode ser considerada contemporânea dos primeiros grupos humanos.

É bom que se diga, entretanto, que essa antiguidade só pode ser colocada enquanto prática operativa e atividade especulativa. Não é a Maçonaria como instituição, porquanto esta só apareceu no inicio do século XVIII a partir do trabalho de Anderson e seu grupo [1]
  
É também nesse sentido que podemos definir a Maçonaria como a arte de interar a mente humana com os elementos da natureza para produzir obra de criação. Como prática operativa ela é o trabalho que constrói o mundo, e como atividade especulativa uma fórmula que aprimora o espírito. Em ambos os sentidos ela é arte de construir, é arquitetura.  

Nos antigos canteiros de obras do Egito e da Mesopotâmia já se costumava separar os trabalhadores em grupos distintivos pelos seus graus. Aprendizes não comungavam com Companheiros nem estes com seus Mestres Um sistema de senhas e códigos eram usados nos diversos níveis profissionais, garantindo dessa  forma o segredo profissional e o método de transmissão dos ensinamentos. [2]

No próprio canteiro de obras do Rei Salomão, por ocasião da construção do Templo de Jerusalém, havia, segundo a Bíblia, profissionais e aprendizes de todos os tipos, desde cavou queiros para abrir as valas, serventes para acarretar e transportar cargas, até mestres arquitetos e fundidores, como Hiram e Adoniram, este último também administrador da obra.

E foi a partir dessas antigas fontes que nasceu a tradição iniciática que inspirou a divisão da Loja Simbólica dos maçons modernos em Aprendizes, Companheiros e Mestres.  Assim, podemos dizer que a organização da maçonaria tem inspiração nos antigos canteiros de obras egípcios e especialmente em suas pedreiras, cuja hierarquia contemplava essa divisão, sendo a congênere medieval – as antigas corporações de ofício, que congregava os pedreiros livres- uma adaptação de suas ancestrais egípcias.

De outra forma, podemos dizer também que a tradição iniciática que acompanha a profissão do construtor foi desenvolvida mais por necessidade prática do que por motivos religiosos, Constituía um sistema pedagógico, que ao mesmo tempo em que proporcionava segurança aos seus membros, representava um meio de defesa para os seus mercados, pois além de regular o exercício do ofício, mantinha um número ideal de profissionais.

Essa tradição foi repassada aos canteiros de obras medievais. Foi nestes últimos que a tradição de separar os trabalhadores por seus graus de profissionalização sacralizou-se, especialmente pelo fato das organizações dos pedreiros medievais estarem estreitamente ligadas á Igreja.

Sendo a época medieval um tempo de intensa busca espiritual, a prática do ofício de construtor passou a ser uma forma de ascese, onde o trabalho da mente se unia ao esforço das mãos para construir a obra externa, que era o edifício propriamente dito, e a obra interna, que era o próprio espírito do construtor. É dessa época a ideia de considerar o corpo humano como uma morada de Deus, da mesma forma que o era a Igreja.

O primeiro maçom especulativo

Não há consenso entre os historiadores de quem teria sido o primeiro maçom especulativo, ou seja, a primeira pessoa não pertencente aos quadros profissionais dos pedreiros livres a ser admitida como membro em suas Lojas.

O mais antigo registro de uma iniciação desse tipo é o de John Boswell, lorde de Aushinleck  que, em 8 de junho de 1600 foi recebido como maçom aceito na Saint Mary’s Chapell Lodge (Loja da Capela de Santa Maria), em Edimburgo, na Escócia. Essa Loja teria sido fundada em 1228, no canteiro de obras preparado para a construção da Capela de Santa Maria, naquela cidade, que então era a mais importante da Escócia.

Era costume, naquela época, a organização de Lojas entre os pedreiros, pois assim se chamavam às assembleias dos obreiros que se reuniam para discutir sobre os assuntos referentes às obras e à profissão.

Após a iniciação de Lorde Bosswel, o processo de aceitação de maçons não profissionais se tornaria comum.

Logo se espalharia pelos canteiros de obras da Escócia, Inglaterra, Alemanha, França e outros países, de tal maneira que, ao final do século XVI, o número de maçons aceitos- então chamados de especulativos   ultrapassasse, os operativos. Assim, na primeira metade do século XVII, encontram-se registros de várias pessoas importantes sendo admitidas nas Lojas dos pedreiros livres.

Nomes como os de William Wilson, aceito em 1622, Robert Murray, tenente-general do exército escocês, recebido, em 1641, na Loja da Capela de Santa Maria, que se tornou posteriormente, Mestre Geral de todas as Lojas do Exército; o coronel Henry Mainwairing, recebido, em 1646, numa Loja de Warrington, no Lancashire e o famoso antiquário e alquimista Elias Ashmole, recebido na mesma Loja e no mesmo dia (16 de outubro) que o coronel Henry.

Na área da arquitetura os maçons operativos já haviam perdido a maior parte do seu prestígio, já que a forma arquitetônica tradicional deles, a gótica, já havia caído em desuso, eclipsada pela modelo neoclássico. Porém, em 2 de setembro de 1666, um grande incêndio irrompeu na cidade de Londres, destruindo mais da metade da cidade -cerca de quarenta mil casas e oitenta e seis igrejas.

Nessa ocasião, os maçons operativos foram chamados para participar do esforço de reconstrução da cidade, sob a direção do renomado mestre arquiteto Cristopher Wren, que foi logo iniciado maçom.  Foi no canteiro de construção da igreja de S. Paulo, que ele presidia que em 1691, foi fundada a Loja São Paulo (em alusão à igreja), conhecida como Loja da taberna "O Ganso e a Grelha", uma das quatro Lojas que, em 1717, iria, juntamente com as outras três Lojas londrinas, se unir para a fundação da Grande Loja de Londres. Nasceria dessa fusão a Maçonaria moderna. Londres só iria terminar em 1710.

  
[1] Anderson, por exemplo, situa o nascimento da Maçonaria no Éden e indica seu filho Seth como sendo o primeiro maçom histórico. “Entretanto, antes do nascimento da moderna maçonaria, com a fusão das Lojas Londrinas e o advento das Constituições de Anderson, havia Lojas que atribuíam essa primazia ao rei Nenrode, citado na Bíblia como “poderoso caçador” perante o Eterno”,  pela construção da famosa Torre de Babel.

Há também os que sustentam ser Moisés o primeiro maçom pelo fato de ele ter fundado a primeira e verdadeira fraternidade do mundo, ou seja, a nação de Israel. Da mesma forma, existem teses que conferem esse título a Zorobabel, o rabino judeu que liderou a reconstrução de Jerusalém após a volta do cativeiro da Babilônia. Esse parece ter sido o pensamento de André Michel de Ransay, por exemplo.
 
[2] Em nosso trabalho “Lendas da Arte Real”, identificamos Moisés com Osarseph, um líder dos trabalhadores das pedreiras, que organizou e liderou essa classe de trabalhadores no Egito, fundando uma poderosa organização. Isso teria ocorrido no século XIV AC, época em que a maioria dos historiadores acredita ter ocorrido o Êxodo israelita. Segundo Apion, esses trabalhadores, escravos na maioria, eram estrangeiros e as regras estabelecidas por Osarseph eram bastante semelhantes às que Moisés escreveu para os israelitas.

Por: João Anatalino


''A MENSAGEM DO EVANGELHO NA LINGUAGEM MAÇÔNICA''



1. Nasci para uma missão especial: ensinar os homens a atingir o mestrado. Essa missão foi profetizada nos seguintes termos:

A Acácia há de florescer no deserto.

2. Após uma preparação de 3x10 = 30 anos até a idade de 33 anos (período de três anos) trabalhei para a libertação dos oprimidos.

3. Meu trabalho foi precedido de outro predestinado, o qual representou o profano buscador, preparador, o qual se aprimora para se tornar um Iniciado, fazendo surgir depois o Mestre Cristificado.

4. Eu expulsei os vendilhões do Templo, ensinando que não se deve explorar a ignorância do povo negociando santidades e também ensinando que o Templo-corpo deve ser limpo de todas as perturbações mundanas.

5. Como construtor operativo (marceneiro), passei a especulativo quando deixei a casa dos meus pais para trabalhar em prol da redenção do homem, por isso fui considerado a pedra angular da grande obra.

6. Como construtor especulativo eu disse: "Reerguerei o Templo em três dias", referindo-me ao Templo da virtude.

7. Passei pela prova da Iniciação, quando pelos caminhos escabrosos no deserto, tive que superar as minhas próprias limitações para seguir em frente no meu propósito.

8. Passei pela Cerimônia de Purificação (limpeza pela água), momento em que o fogo do espírito mais puro invadiu o meu ser, transformando-me em verdadeiro Iniciado.

9. Curei os doentes (a doença simbólica) da sociedade doentia, ou seja, viciada pelo fanatismo (pelo fanatismo fui condenado à morte), pela ignorância (dos que têm olhos, mas não vêem, têm ouvidos, mas não ouvem), pela intolerância e o materialismo.

10. Dei vistas aos cegos – a ignorância é uma cegueira. Vim ao mundo para iluminar as trevas. Essa deve ser a missão de todos os meus seguidores sinceros.

11. Dei vida aos mortos – os mortos merecem uma nova vida. O profano deve morrer para renascer o Iniciado. (Lázaro foi levantado para a vida.)

12. Multipliquei os pães – o pão deve ser repartido sempre com quem tem fome.

13. Transformei a água em vinho – o que é comum e natural, mediante ação de bondade – ação transformadora, do Iniciado, modifica-se para melhor.

14. Andei sobre as águas – verdadeiro Mestre deve servir de referencial positivo para os demais (água = multidão).

15. Falei por parábolas para que nem todos entendessem a minha mensagem, pois as pérolas não estão disponíveis àqueles que não estão aptos para aproveitá-las.

16. Usei do artifício da Palavra de Passe, por ocasião do preparo da ceia da Páscoa, para não permitir a entrada de pessoas despreparadas nessa reunião especial, destinada somente aos escolhidos.

17. Lavei os pés dos discípulos – é a purificação do homem para ingressar no Templo sagrado, através da Iniciação.

18. Deixei a mensagem: "Amai-vos uns aos outros" e não à guerra religiosa.

19. Incentivei a busca pessoal quando eu disse: "Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á" – é a porta da Iniciação estreita, onde cabe apenas um de cada vez.

20. Expulsei os maus espíritos dos homens – aqueles espíritos que aprisionam o homem: a inveja, a intolerância, o desejo de posse e outros demônios.

21. Fiz ressuscitar um filho único de uma viúva (Lucas 7:11-17), alegoria que nos ensina que da matriz sempre surgirá à esperança de vida plena com os eflúvios do Mestre dos Mestres.

22. Escolhi um número simbólico de discípulos, dos quais fui o Mestre Iniciador (e lhes atribuí nome simbólico) para constituir a minha Loja de atuação (esse número é o 12 = 3x4).

23. Ensinei aos meus discípulos a lição do trabalho e da fé, quando lhes ensinei a pescar.

24. Curei os paralíticos – é o homem omisso que fiz passar à condição de conscientizado para o trabalho em prol da humanidade e de si mesmo.

25. Não repudiei a sabedoria, pois na minha infância estive com os doutores, "cresci em estatura e em sabedoria".

26. Desci ao seio da terra por três dias após a minha morte. Assim, deixei a minha mensagem de que o Iniciado deve passar pela prova da terra antes da sua exaltação final (ou atuação: terra = mundo).

27. Fui crucificado entre dois personagens, cada um de nós significando estágios do próprio homem: o homem embrutecido, que precisa aprender; o homem que reconhece a beleza do arrependimento e o Mestre, capaz de dar uma palavra de conforto para si próprio e aos demais.

28. O meu corpo foi protegido por um discípulo oculto, mensagem de que nem todos os meus discípulos estão nas praças públicas ou em contato com o povo, existindo aqueles que, em segredo, se mostram capazes de agir como verdadeiros discípulos, sem ostentação.

29. Ensinei a oração em local secreto, sem alarde.

30. Ensinei que a caridade se faz com a mão direita de modo que a mão esquerda não note, isto é, sem glórias para as pessoas ou para Instituições.

31. Ensinei que devemos ser luz para o mundo e o sal da Terra.

32. Fui traído por três personagens: por um discípulo (JUDAS), por um líder religioso (CAIFÁS) e por um líder político (PILATOS).

33. Ressaltei a importância do juramento, dizendo aos vulgos que não jurassem, pois não tinham maturidade suficiente para cumprir os juramentos.

34. Ensinei que nem todo aquele que me diz: "Senhor, Senhor" entrará no reino dos céus... Muitos me dirão: "Não pregamos nós em vosso nome e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos milagres?" E eu, no entanto lhes direi: "Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus" (Mateus 7:21-23)

A/D
 


O SIMBOLISMO DO TEMPLO MAÇÔNICO


O Templo Maçônico reúne dentro de si o espaço e o tempo sagrados. Basta apenas traspassarmos sua porta e faz-se evidente a diferença entre o mundo exterior e o Profano, aonde o tempo decorre linearmente em forma indefinida e amorfa, e o recinto sacro, onde se percebe um tempo mítico e significativo: o “tempo” das origens do ser humano, a eternidade e a simultaneidade, conhecidas e compreendidas na interioridade do homem que estabelece esta comunicação ritual desde as profundezas do templo.

Por outra parte, o Templo é um modelo do Universo, ao qual imita em suas formas e “proporções” e, como ele, tem por objeto albergar e ser o meio da realização total e efetiva do ser humano. Nas tribos mais primitivas, encontramos a choupana ritual (ou a casa familiar) como lugar de intermediação entre o alto e o baixo.
Efetivamente, nela o teto simboliza o céu e o chão, a terra; os quatro postes onde se assenta são as colunas onde se apóia o macrocosmo. É muito importante assinalar que sempre nessas construções há um ponto zenital que está aberto a outro espaço. 
Exemplo: a pedra caput ou cimeira, que não se colocava na construção das catedrais, ou o orifício de saída da choça cerimonial (na casa familiar esta saída é simbolizada pela chaminé, o lar).
Esta construção, imagem e modelo do Cosmo, têm, pois, uma porta de entrada que se abre ao percurso horizontal do Templo (transposição da porta, passagem pelas águas do batistério, perda no labirinto cuja saída desemboca no altar, coração do Templo), e posteriormente um orifício de saída sobre o eixo vertical, desta vez localizada na sumidade, simbolizando o Coroamento da Obra e o rendimento a outro espaço, ou mundo, inteiramente diferente, que está “mais além” do Cosmo, ao qual o Templo simboliza. 
É também o Templo uma imagem viva do microcosmo e representa o corpo do homem, criado à imagem e semelhança de seu criador; inversamente, o corpo do homem é seu Templo.

O centro de comunicação vertical é o coração, e ali, nesse lugar, acende-se o fogo sagrado capaz de gerar a Aventura Real da transmutação, após as provas e experiências de Conhecimento que levam até lá. Em nosso diagrama Sefirótico, a porta horizontal se abre de Malkhuth a Yesod, enquanto a vertical de Tifereth a Kether.

Ou seja, que todo o trabalho prévio, encaminhado ao Conhecimento, tem que ter por objetivo imediato a chegada ao coração do Templo, o fogo perene do altar sobre o qual se assenta o Tabernáculo, espaço vazio construído com as réguas e proporções harmônicas do próprio Templo, e do qual é sua síntese. Terá então terminado com a primeira parte dos Mistérios Menores (mistérios da Terra) e começará sua ascensão simultânea pela segunda parte (os mistérios do céu), ficando para além do Templo, ou seja, para o supra cósmico, os Mistérios Maiores, que por serem inefáveis não podem ter aqui análise e nem comentário.

Na realidade, este processo é prototípico e válido para qualquer mudança de plano ou estado, onde se manifesta à sua maneira.

Fraterno Abraço
RuyR@mires.'.


O TRABALHO FORA DE LOJA: SEGUNDO VIGILANTE


Ao Segundo Vigilante de uma Loja maçônica compete, além do exercício das funções rituais, a coadjuvação do Venerável Mestre na administração da Loja, em conjunto com o Primeiro Vigilante, e, sobretudo, a superintendência no trabalho e na formação dos Aprendizes.

Quanto ao seu papel na administração da Loja, se nele falhar ou executar deficientemente, tal implicará uma sobrecarga do Venerável Mestre (que terá de suprir a falta ou a deficiência no auxílio) e, sobretudo uma quebra ou uma deficiência na planificação e execução de longo prazo da atividade da Loja.

Não é por acaso que, pese embora a Loja delegue a responsabilidade e o poder de decisão no Venerável Mestre, se refira que a administração do grupo recai sobre as "Luzes da Loja", ou seja, no conjunto composto pelo Venerável Mestre e os dois Vigilantes. Porque tendencial - e desejavelmente - estes três Oficiais da Loja cumprem uma linha de sucessão na direção da mesma, a boa cooperação entre esta tríade, independentemente das alterações concretas dos elementos que nela se integram, permite um desenvolvimento harmonioso, a longo prazo, do trabalho da Loja.

O Segundo Vigilante tem dois anos para se preparar para o exercício do ofício de Venerável Mestre. O Venerável Mestre pode iniciar ou prosseguir projetos de longo prazo, com o conhecimento e a participação dos seus Vigilantes, sabendo que eles estarão aptos a dar continuidade aos projetos e a inserir neles, se necessário, as modificações que se mostrem aconselháveis.

Mas o principal objetivo, a principal tarefa, do Segundo Vigilante é assegurar o acolhimento, a integração e a preparação dos Aprendizes. E essa tarefa, para ser bem executada, não pode ser deixada apenas para os dias de sessão. O Segundo Vigilante tem de ter disponibilidade, interesse e organização para acompanhar individualmente cada Aprendiz.

Quando é iniciado numa Loja maçônica, o novel Aprendiz, por regra, entra num grupo em que conhece muito poucos elementos (por vezes só um ou dois), com regras estabelecidas que inicialmente desconheça e cujo conhecimento tem de adquirir em simultâneo com o seu cumprimento, e com uma ligação forte entre os seus elementos.

Sente-se um estranho, um peixe recém-entrado num aquário já bem povoado... Para que a sua integração no grupo ocorra rápida, fácil e harmoniosamente, é importante o apoio do Segundo Vigilante. É este quem deve dar as primeiras indicações, os primeiros esclarecimentos, ao novo elemento, quem deve zelar pela rápida e tranquilizadora integração do novo "peixe" na segurança do "cardume" dos Aprendizes, com ele e nele tomando conhecimento dos "meandros do aquário".

Paralelamente à integração dos novos elementos, compete ao Segundo Vigilante coordenar a sua formação. Afinal de contas, Aprendiz é para aprender... Esta tarefa é complexa a vários títulos. Desde logo, porque naturalmente haverá Aprendizes em vários estádios de integração e formação, havendo que corresponder às necessidades de cada um de forma individualizada.

As necessidades de integração e de auxílio na formação de um Aprendiz recém-iniciado são, naturalmente, diversas de outro que já leva alguns meses de integração ou de um terceiro que tem já a sua primeira fase de preparação quase terminada e que ultima a elaboração e apresentação da sua prancha de proficiência ou que, apresentada esta, aguarda a oportunidade para o seu aumento de salário.

Mas também há que ter noção que coordenar a formação de um grupo de Aprendizes maçons não tem rigorosamente nada a ver com lecionar uma turma de jovens estudantes. Os Aprendizes maçons serão Aprendizes, mas são homens ativos, alguns homens maduros, em pleno auge das suas carreiras profissionais ou já na fase mais avançada dela, com famílias constituídas, responsabilidades que asseguram filhos que educam e guiam. São Aprendizes, mas não são - longe disso! - meninos! O tempo em que aprendiam ouvindo as preleções do "sôtor" já é para eles passado, para alguns já longínquo. 

O Segundo Vigilante tem de coordenar a formação do conjunto de Aprendizes, normalmente heterogêneo, em termos de idade, de experiências de vida, de formações acadêmicas, profissionais e culturais e em diferentes estádios de desenvolvimento na aprendizagem da Arte Real. Mas, com todas estas diferenças, são, Aprendizes e Vigilante, essencialmente IGUAIS.

Não há qualquer relação de superioridade, nem intelectual, nem acadêmica, nem de responsabilidade. A única coisa que diferencia o Vigilante dos seus Aprendizes é tão só a experiência em Maçonaria que aquele adquiriu e que tem a obrigação de ajudar a que estes adquiram.

A tarefa de coordenar a formação dos Aprendizes não é, pois, fácil. Cada Vigilante terá de desempenhá-la por si, em função das suas circunstâncias, das suas disponibilidades, das suas capacidades, das características do grupo e dos indivíduos que lhe cabe coordenar. 

Não há, assim, um modelo único de formação que se possa aconselhar. Nem sequer um único método a seguir. No entanto, pode-se sugerir um plano e um método de formação que - sempre sujeito e aberto às adaptações e alterações que cada Vigilante entender necessárias e justificadas - se entende adequado para atender às diferenças do grupo de Aprendizes e apto a captar e manter o interesse de gente por vezes já altamente formada e especializada nos respectivos campos profissionais e que, assim, não está propriamente na disposição de regredir aos seus tempos de polidores dos bancos da escola.

Sugiro que, no início das suas funções, no dealbar do ano maçônico, o Segundo Vigilante selecione até sete temas, não mais, que constituirão a base da formação de Aprendizes nesse ano. Uma hipótese (entre muitas e variadas) pode ser, por exemplo:

1) HISTÓRIA DA MAÇONARIA
2) SÍMBOLOS DO GRAU
3) VALORES MAÇÔNICOS
4) RITUAL DE INICIAÇÃO
5) O MAÇOM PERANTE O CRIADOR
6) O MAÇOM PERANTE SI PRÓPRIO
7) O MAÇOM PERANTE A SOCIEDADE

Repare-se que cada um destes temas é suficientemente amplo e aberto para ser abordado, tratado, desenvolvido, de uma miríade de diferentes maneiras. É esse o objetivo! Não se vai ensinar nada a ninguém, muito menos um pensamento único ou uma visão "correta". Como homens livres e de bons costumes que são com a maturidade que lhes foi reconhecida como apta a integrar a Loja, os Aprendizes não precisam ser ensinados, de receber lições. Apreciarão, pelo contrário, enquadramento e meios para que cada um aprenda o que quiser, pelo ângulo que entender, com a perspectiva que achar melhor.

A cada tema corresponderá um ciclo de trabalho de duas sessões e um desenvolvimento.

Para a primeira sessão de cada ciclo, o SEGUNDO VIGILANTE deve ter identificada e preparada (desejavelmente em ficheiros informáticos para serem disponibilizados aos Aprendizes) bibliografia sobre o tema, nos vários aspetos e abrangências dele, tão variada quanto possível - cinco a dez obras ou trabalhos.

Na primeira sessão do ciclo, o Segundo Vigilante deve introduzir o tema, designadamente chamando a atenção para os aspetos mais importantes nele, os sub-temas ou questões que acha que serão importantes que os Aprendizes sobre eles debrucem a sua atenção. Deve indicar a bibliografia, de preferência chamando a atenção para diferentes formas de tratar o tema ou os diferentes aspetos abrangidos pelos trabalhos disponibilizados. Deve designar um LÍDER DE DISCUSSÃO para a sessão seguinte sobre o tema. De preferência, os líderes de discussão devem ser designados por ordem de antiguidade dos Aprendizes.

O LÍDER DE DISCUSSÃO fica com o encargo de preparar e dirigir a discussão sobre o tema na sessão de trabalho subsequente, escolhendo vários aspetos do tema a tratar para colocar em debate, competindo-lhe garantir que, na sessão seguinte, haja mesmo discussão, debate sobre o tema, sem tempos mortos.

Finalmente, o Segundo Vigilante designa a data da sessão de trabalho subsequente, exorta os Aprendizes a prepará-la lendo a bibliografia fornecida e o mais que entenderem e acentua que a sessão subsequente consistirá num debate de todos sobre o tema, dirigido pelo LÍDER DE DISCUSSÃO, que só será proveitoso se todos e cada um, entre as duas sessões, lerem a bibliografia, aprenderem sobre o tema e se prepararem para, expondo o que cada um aprendeu ajudar à aprendizagem dos demais.

Na segunda sessão, processa-se a discussão do tema, sob a direção do LÍDER DE DISCUSSÃO. Esta será tanto mais proveitosa quanto melhor o LÍDER DE DISCUSSÃO e os demais Aprendizes se tiverem preparado entre as duas sessões. Se porventura ninguém se tiver preparado convenientemente, provavelmente a sessão será muito aborrecida, constrangedora e muito pouco proveitosa... Mas, pelo menos ensinará a todos que, em Maçonaria, não se ensina, aprende-se - e que a aprendizagem é um esforço individual de cada um, posto em comum com o grupo.

Na discussão da segunda sessão, o Segundo Vigilante deve intervir o menos possível - apenas quando necessário para repor a conversa no tema, quando o grupo dele se afastar (as conversas são como as cerejas...).

Finalmente, após a segunda sessão, o LÍDER DE DISCUSSÃO fica encarregado de preparar e apresentar uma prancha sobre o tema - que poderá vir a ser a sua prancha de proficiência para aumento de salário.

Repete-se, ao longo do ano, este esquema, com os vários temas. Ao fim do ano, tem-se Aprendizes preparados, não por terem ouvido umas preleções, mas por se terem debruçado sobre vários temas, por si e para si e para todos. Tem-se trabalhos elaborados - e tendencialmente de boa qualidade, porque resultantes de discussão em grupo e elaborados por quem se preparou para dirigir essa discussão. Tem-se um conjunto de obreiros que criou naturalmente espírito de grupo. O Segundo Vigilante ainda tem o bônus de, no ano seguinte, ir ter, como Primeiro Vigilante, Companheiros que foram Aprendizes bem preparados e bem habituados a preparar-se.

Finalmente, este método permite que, com toda a naturalidade e sem custo, sem demasiado esforço nem dificuldade, os novos Aprendizes que sejam iniciados ao longo do ano se integrem no trabalho da Coluna de Aprendizes, No ano seguinte, o trabalho recomeça, com os mesmos ou outros temas, ou alguns destes e temas novos, consoante o entender o Segundo Vigilante de então.

Não tenho dúvidas que uma Loja que siga consistentemente este método de formação de Aprendizes terá, mais cedo do que mais tarde, uma escola de obreiros da melhor qualidade, prosperará e cumprirá devidamente o seu papel de fazer, cada vez mais, de homens bons homens melhores!

Rui Bandeira    


A FORMA DA LOJA


Os rituais antigos registram que a forma da Loja é a de um “quadrado oblongo”. Talvez você esteja pensando: “Como é possível um quadrado ser oblongo? Aí não seria quadrado, e sim retângulo! Esse termo está errado!”

Se você pensou algo parecido, saiba que muitos ritualistas ao longo dos últimos séculos pensaram como você. Esses ritualistas também acharam o termo de certa forma contraditório e foram substituindo-o ao longo do tempo. Hoje, vê-se “quadrilongo” e até a aberração “retângulo alongado”! Ora, se é retângulo, então já é alongado, não é mesmo?

A verdade é que o quadrado oblongo, o quadrilongo e o retângulo são apenas nomes diferentes para a mesma figura geométrica. Nenhum deles está errado, nem mesmo o “quadrado oblongo”, o mais antigo deles. Entenda o porquê:

Procure na bíblia a palavra “retângulo”. Aliás, não procure porque você não encontrará. Isso não significa que não há objetos e construções retangulares descritos na bíblia. Simplesmente, o termo não existia.

Para que se entenda melhor a questão, deve-se compreender o verdadeiro significado da palavra “quadrado”. Quadrado vem do “quadratus”, que é o particípio passado do verbo em latim “quadrare”, que significa “esquadrar”.

Assim sendo, quadrado, no sentido original, era toda forma geométrica de quatro lados formada por ângulos retos. Quando os quatro lados eram do mesmo tamanho, o quadrado era “quadrado perfeito”, e quando dois lados paralelos eram maiores que os outros dois, era “quadrado oblongo”. A palavra retângulo veio surgir muito tempo depois.

Mas quais as medidas corretas?

“Sem simetria e proporção não pode haver princípios na concepção de qualquer templo.”

Vitrúvio
O quadrado oblongo, como todo retângulo, pode ter qualquer tamanho, desde que dois lados paralelos sejam maiores do que os outros dois. Um templo maçônico, tendo a forma de um quadrado oblongo, também pode ter qualquer tamanho, conforme o espaço físico, interesse e recursos financeiros permitem. Mas a questão que interessa aos maçons é se há uma proporção correta a ser respeitada, como bem sinalizou Vitrúvio, autor das primeiras obras que detalham as Ordens de Arquitetura, tão importantes para a Maçonaria.

Nesse sentido, existem duas teorias:

A primeira é de que a proporção é de 1×2, ou seja, as paredes do Norte e do Sul devem ter o dobro do comprimento das paredes do Oriente e Ocidente. Essa teoria se sustenta na proporção conhecida como “ad quadratum”, de origem romana e que foi muito usada na construção de igrejas góticas.

A segunda teoria, e mais aceita, é da Proporção Áurea, que é de aproximadamente 1×1, 618. Essa famosa proporção, também conhecida como Proporção de Ouro e Divina Proporção, foi utilizada na concepção do Parthenon e adotada por artistas como Giotto.

Também está presente na natureza, como em algumas partes do corpo humano e nas colmeias, além de vários outros exemplos envolvendo o crescimento biológico, o que torna tal proporção ainda mais intrigante. Pitágoras, figura extremamente importante na Maçonaria, registrou a presença da Proporção Áurea no Pentagrama, tornando esse o símbolo de sua Escola. O próprio Vitrúvio era fã devoto da proporção.

O retângulo feito com base na Proporção Áurea é chamado de “Retângulo de Ouro”. Para se ter uma ideia de sua influência e aplicação até nos dias de hoje, os cartões de crédito convencionais respeitam a Proporção Áurea.

Desvendado o “mistério do quadrado oblongo”, é importante observar que a Maçonaria apenas declara que o templo tem tal formato, sem explicitar qual seria a proporção adequada. Mas se você é adepto de uma das proporções e não encontrá-la no templo de sua Loja, não se preocupe. Afinal de contas, não se fazem mais templos como antigamente.

KENNYO ISMAIL


A LENDA DO PELICANO


Conta uma lenda medieval que um pelicano saiu de seu ninho em busca de comida para os seus recém-nascidos filhotes. Não notou que por perto se escondia um predador, só esperando a sua ausência para atacar o ninho.

Mal o pelicano desapareceu no horizonte, o danado atacou os coitadinhos, que ainda não tinham aprendido a voar e nem a se defender. O predador devorou a todos, só deixando como sobra as pequeninas ossadas com as penas que mal começavam a despontar.

Quando o pelicano voltou ao ninho viu a tragédia que ocorrera. Atirando-se sobre os corpos dos filhos chorou horas e horas, até que suas lágrimas secaram.

Sem mais lágrimas para chorar pelos filhos mortos, começou a bicar o próprio peito, fazendo verter sobre o corpo dos pequeninos o sangue que jorrava dos ferimentos que ele mesmo provocara com aquela mutilação. No seu desespero não percebeu que as gotas do seu sangue, pouco a pouco iam reconstituindo a vida dos seus filhos mortos. E assim, com o sangue do seu sacrifício e as provas do seu amor, a sua família ressuscitara.

SÍMBOLO DE AMOR E SACRIFÍCIO

Provavelmente foi a partir dessa lenda que o pelicano se tornou um símbolo de amor e sacrifício. Durante a Idade Média eram vários os contos e tradições em que esse pássaro aparecia como representação da piedade, do sacrifício e da dedicação á família e ao grupo ao qual se pertencia. Essa terá sido também, a razão de os cátaros, os rosa-cruzes, os alquimistas e outros grupos de orientação mística o terem adotado em suas simbologias.

Para os alquimistas o pelicano era um símbolo da regeneração. Alguns operadores alquímicos chegaram inclusive a fabricar seus atanores ― vasos em que concentravam a matéria prima da Obra ― com capitéis que imitavam um pelicano com suas asas abertas. Tratava-se de captar, pela imitação iconográfica, a mesma mágica operatória que a ave possuía, ou seja, aquela capaz de regenerar, com seu próprio sangue, os filhotes mortos.

Os rosa-cruzes em sua origem, em sua maioria eram alquimistas. Daí o fato de terem adotado o pelicano como símbolo da capacidade de regeneração química da matéria não é estranho. E é compreensível também que em suas imaginosas alegorias eles tenham associado essa simbologia com aquela referente ao sacrifício de Cristo, cujo sangue derramado sobre a cruz era tido como instrumento de regeneração dos espíritos, medida essa, necessária para a salvação da humanidade. Daí o pelicano tornar-se também um símbolo cristão, representativo das virtudes retificadoras do cristianismo, da mesma forma que a rosa mística e a fênix que renasce das cinzas. [1]

OS CÁTAROS

Porém, quem mais contribuiu para que o pelicano se tornasse um símbolo místico por excelência foram os cátaros. Os sacerdotes dessa seita, que entre os séculos XI e XII se tornaram os principais opositores da Igreja Católica na Europa, chamavam a si mesmos de “popelicans”, termo de gíria francesa formado pela contração da palavra pope (papa) com pelican (pelicano). Significa, literalmente, “pais pelicanos”, numa contra facção com os sacerdotes da Igreja Católica que eram considerados os predadores da lenda (no caso uma serpente, como conta Leonardo da Vinci em sua versão da lenda. [2] 

De certa forma, os cátaros, com suas tradições místicas e iniciáticas, se tornaram irmãos espirituais dos templários e antecessores dos rosa-cruzes e dos maçons. Condenados pela Igreja Romana por suas idéias e práticas heréticas, eles foram exterminados numa violenta cruzada contra eles movida pela Igreja em meados do século XIII. [3]

Os cátaros chamavam a si mesmos de filhos nascidos do sacrifício de Jesus. Eles diziam possuir o verdadeiro segredo da vida, paixão e morte de Jesus, que para eles não havia ocorrido da forma como os Evangelhos canônicos divulgavam. Na verdade, eles não acreditavam na divindade de Jesus nem na sua ressurreição, mas tomavam tudo como uma grande alegoria na qual a prática do exemplo de Cristo era a verdadeira medicina da ressurreição. E dessa forma eles a praticavam, sacrificando a si mesmos em prol da coletividade a qual serviam. Dai serem eles mesmos pelicanos. [4] 

O CAVALEIRO DO PELICANO

A Maçonaria adotou a lenda do pelicano por influência das tradições rosa-cruzes que o seu ritual incorporou. Por isso é que encontraremos, no grau 18, grau rosa-cruz por excelência, o pelicano como um dos seus símbolos fundamentais. O próprio título designativo desse grau é o  de Cavaleiro do Pelicano ou Cavaleiro Rosa-Cruz.

O Simbolismo do pelicano é uma alegoria que integra, ao mesmo tempo, a beleza poética da lenda, o apelo emocional do mistério alquímico e o romanticismo do sacrifício feito em nome do amor. Tanto o Cristo quanto a natureza amorosa vertem seu sangue para que seus filhos possam sobreviver.

José de Alencar, grande expressão do romanticismo brasileiro utilizou esse tema em um de seus mais conhecidos trabalhos, o poema épico Iracema. Nesse singelo poema a índia Iracema, sem leite em seus seios para alimentar Moacir, o filho dos seus amores com o português Martim, rasga o próprio seio e o alimenta com seu sangue.

Assim, o filho da aborígene com o colonizador torna-se o protótipo do homem que iria povoar o novo mundo, a “nova utopia”, a civilização renascida, fruto da interação da velha com a nova civilização. Seriam esses “filhos renascidos” do sacrifício da sua mãe que iriam, na visão do escritor cearense, mostrar ao mundo uma nova forma de viver.

Tudo bem maçônico. A propósito, José de Alencar também era maçom.  [5]

Autor: Irmão João Anatalino
NOTAS
[1] – Símbolos também muito caros à Maçonaria.
[2] – Leonardo da Vinci também reconta essa estória, que segundo alguns autores, seria uma fábula de Esopo.
[3] – BAIGENT, Michael, LEIGH, Richard, LINCOLN, Henry. The Holly Blood and The Holly Grail, Ed. Harrow, Londres, 1966. Veja também a nossa obra Conhecendo a Arte Real, Madras São Paulo, 2007
[4] – Veja no romance O Pêndulo de Foucalt, de Humberto Ecco, um interessante jogo de palavras com esse termo e o segredo dos templários.
[5] – Em outra de suas obras indigenistas José de Alencar faz do seu herói, o índio Ubirajara, um verdadeiro cavaleiro medieval numa santa cruzada em defesa da honra, da coragem e da perfeição moral. Isso mostra o quanto a Arte Real influenciou o trabalho desse grande escritor brasileiro


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