RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE


 

A Religião não é apenas uma, são centenas.

A Espiritualidade é apenas uma.

A Religião é para os que dormem.

A Espiritualidade é para os que estão despertos.

A Religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados.

A Espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.

A Religião tem um conjunto de regras dogmáticas.

A Espiritualidade te convida a raciocinar sobretudo, a questionar tudo.

A Religião ameaça e amedronta.

A Espiritualidade lhe dá Paz Interior.

A Religião fala de pecado e de culpa.

A Espiritualidade lhe diz: "aprenda com o erro".

A Religião reprime tudo, te faz falso.

A Espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro!

A Religião não é Deus.

A Espiritualidade é Tudo e, portanto, é Deus.

A Religião inventa.

A Espiritualidade descobre.

A Religião não indaga nem questiona.

A Espiritualidade questiona tudo.

A Religião é humana, é uma organização com regras.

A Espiritualidade é Divina, sem regras.

A Religião é causa de divisões.

A Espiritualidade é causa de União.

A Religião lhe busca para que acredite.

A Espiritualidade você tem que buscá-la.

A Religião segue os preceitos de um livro sagrado.

A Espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.

A Religião se alimenta do medo.

A Espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé.

A Religião faz viver no pensamento.

A Espiritualidade faz Viver na Consciência.

A Religião se ocupa com fazer.

A Espiritualidade se ocupa com Ser.

A Religião alimenta o ego.

A Espiritualidade nos faz transcender.

A Religião nos faz renunciar ao mundo.

A Espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele.

A Religião é adoração.

A Espiritualidade é Meditação.

A Religião sonha com a glória e com o paraíso.

A Espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.

A Religião vive no passado e no futuro.

A Espiritualidade vive no presente.

A Religião enclausura nossa memória.

A Espiritualidade liberta nossa Consciência.

A Religião crê na vida eterna.

A Espiritualidade nos faz consciente da vida eterna.

A Religião promete para depois da morte.

A Espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.

"Não somos seres humanos passando por uma experiência Espiritual...

Somos Seres Espirituais passando por uma experiência humana..."

Texto muito bonito de Pierre Teilhard de Chardin (Nascido em Orcines, 1 de maio de 1881 — Falecido em Nova Iorque, 10 de abril de1955), que foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia.

 

MAÇONARIA E ALQUIMIA… ARTES REAIS…


 

Maçonaria e Alquimia apesar de serem áreas e conceitos distintos têm um paralelismo relevante que não pode ser negligenciado.

Ambas, na sua definição de conceito simbólico são reconhecidas como a Arte Real, “Ars Regia”, e ambas procuram a perfeição. 

Na Alquimia, o iniciado Alquimista procura através da execução da Grande Obra, por meio de vários processos laboratoriais (nomeadamente a dissolução, a coagulação, a cocção, a sublimação e a projeção entre outros…) atingir o “Ouro dos Filósofos”, como também é amplamente conhecida a desejada Pedra Filosofal, a Perfeição.

 

Já na Maçonaria, o Maçom tenta através do desbaste e burilagem da sua “pedra bruta” (sua essência) torná-la próxima à “pedra cúbica”, pedra essa já polida (estádio final do trabalho maçónico).

 

E, enquanto ao maçom (neófito ainda) se lhe pediu que visitasse o interior da terra (meditasse e refletisse para si e sobre si mesmo) para que pudesse encontrar a pedra oculta que se encontra no seu íntimo (o seu Eu), o alquimista durante o seu processo de aperfeiçoamento (suas operações) também ele se depara com este VITRIOL durante o desenrolar da Grande Obra, mais concretamente na fase do nigredo. 

 

É nesta fase do processo alquímico que se dá o solve et coagula, (axioma alquímico bastante conhecido), pois é durante esta fase que se efetua a dissolução da matéria-prima (“libertação”) e a sua putrefação (“separação” dos elementos que a compõem). 


nigredo é uma das fases que integram a Grande Obra, processo esse que é considerado por vários autores como formado por três partes (existem outras teorias em que o número de fases são quatro ou mais, dependendo o número de operaçõesvia escolhida e matérias-primas usadas), partes essas a saber: NigredoAlbedo e Rubedo.

 

Encontramos aqui uma das várias referências ao Ternário (outras poderão ser encontradas no paralelismo com outros ternários que se encontram em ambas, Maçonaria e Alquimia, tal como: matéria/corpo, mente e espírito, entre outros…).

 

Ternário esse de extrema relevância para os maçons, pois para eles é através do Ternário (número 3) que a Dualidade/Binário (número 2) retorna à Unidade (número 1).

Todavia na Alquimia, este “regresso à unidade manifesta-se após as núpcias alquímicas entre o Rei e a Rainha (Mercúrio e Enxofre Filosofais; matérias-primas estas, que não têm nenhuma relação com os elementos naturais e químicos, o metal Mercúrio (Hg) e o Não-metal Enxofre(S)) que originam o Hermafrodita/Rébis (Sal que nada tem a haver com o “sal comum” ou o sal resultante de uma reação química Ácido/Base), conhecido como o “dois em um”.

 

À semelhança do Adepto, também o Maçom necessita de um espaço onde possa trabalhar a sua pedra até a mesma atingir a forma desejada. Enquanto o Adepto necessita de um laboratório (labora et ora) físico e instrumentos e aparelhos para o auxiliar nos seus trabalhos, o Maçom apenas necessita do seu corpo (matéria) e mente (vontade) para trabalhar (o seu espírito).

 

E persistindo nesse trabalho é se possível transformar a “pedra bruta” em “pedra polida”. Note-se aqui o termo “transformar”.

 

A Maçonaria transforma algo existente em algo diferente, mas a matéria final é a mesma matéria original. E a Alquimia transmuta, ou seja, cria algo novo/diferente a partir de matérias/origens diferentes.

 

Ou seja, enquanto o Maçom será sempre o mesmo Homem apenas com as mudanças no comportamento/carácter associadas ao seu “aperfeiçoamento moral” (porque a Maçonaria apenas (!) trata de aperfeiçoamentos morais e é considerada uma via/caminho pessoal efetuado através da Virtude e também a prossecução de outros princípios morais na vida do maçom), a sua essência será sempre a mesma.

 

Na Alquimia, o Adepto pega em metais menos nobres, e tenta transformá-los em ouro/prata. Ou seja, parte de algo diferente e que modifica a sua substância.

 

Neste caso, utiliza materiais filosofais e/ou físicos e procura atingir a Perfeição (estado superior de espírito) que tanto pode ser designado por Elixir da Imortalidade (tenho para mim, que ele apenas é a lembrança da palavra e da ação do Homem através dos tempos…) ou por Pedra Filosofal (na minha opinião, o Conhecimento/Sabedoria; pois nada traz mais riqueza ao Homem que o saber…). 

 

E essa dita Perfeição, será mais depressa obtida (ou não…) dependendo do empenho do Adepto/Maçom durante esse trabalho que terá a fazer (só o próprio e mais ninguém!).

 

Se a Pedra ficará cúbica ou se a Obra se completará, somente os intervenientes o saberão. Quanto a mim, apenas me resta continuar a burilar a minha pedra “tosca” e “feia”, pois ainda se encontra muito longe da forma que ambiciono para ela…


Nuno Raimundo

Artigo publicado no Blog “Pedra de Buril” em 31 de outubro de 2012


PLÁGIO NA MAÇONARIA


 

Um texto é uma propriedade intelectual de seu autor, que possui direitos morais e patrimoniais sobre ele, previstos na Constituição Federal e protegidos por lei regulamentar. O Código Penal Brasileiro inclusive prevê o crime de violação de direito autoral. Enquanto os direitos patrimoniais podem ser transmitidos a terceiros, os direitos morais são inalienáveis e irrenunciáveis. E a Maçonaria, sendo “um belo sistema de moralidade”, deve defender esses direitos. Cada maçom tem esse dever.

Quando alguém apresenta como de sua própria autoria texto, ou mesmo trechos, produzidos por outra pessoa, está violando direitos autorais, e isso é chamado de plágio. O blog “No Esquadro” hoje tem 5 anos de existência. Mas com apenas 6 meses desde sua inauguração, já começou a sofrer com o plágio. Na época, um blog maçônico chamado “Bodes da Luz” copiava vários artigos publicados no “No Esquadro” e os republicava em seu blog sem qualquer citação de autoria e fonte. Apenas modificava os títulos e as imagens dos posts.

Algum leitor pode estar pensando neste momento: “mas por que combater o plágio, se a intenção do blog é divulgar conhecimento?” Bem, há alguns anos eu também não me importava muito com isso. Pelo menos não até o dia e o modo com que tomei conhecimento desse primeiro plágio: um leitor desatento do meu blog me acusou de plágio.

Isso mesmo, fui acusado de plagiar o plagiador de meus próprios textos… Por sorte, bastou eu sugerir a esse leitor que verificasse as datas de publicação de ambos os blogs para verificar quem havia plagiado quem. No entanto, esse episódio serviu-me de alerta da menor das consequências do plágio e, principalmente, que outros casos podem não ser tão simples de serem solucionados.

Voltando ao caso do plágio inaugural do blog, pensando tratar-se de algum irmão apenas mal-informado ou descuidado, tentei contato por diversas vezes, sem receber respostas. E os plágios continuavam… 

Então, comecei a publicar comentários em cada post copiado, aproximadamente 30 posts, informando a real autoria e fonte de cada texto.

Foi quando percebi que se tratava de um caso nítido de má fé: todos os comentários foram deletados pelo administrador daquele blog. Não tive alternativa senão denunciar o “Bodes da Luz” para a plataforma de gerenciamento de blogs na qual ele estava operando. No dia seguinte, o blog estava fora do ar por violação dos termos de uso da plataforma.

Agora, 5 anos depois, pouca coisa mudou. O plágio continua sendo um mal que assola a literatura maçônica brasileira. E, por incrível que possa parecer muitas vezes cometido por maçons. O último plágio sofrido pelo blog (pelo menos que tomei conhecimento) foi há poucas semanas. Um texto do blog foi copiado e publicado em uma revista maçônica de periodicidade trimestral. 

O texto, publicado na revista no mês passado, consta como sendo de autoria de outro maçom. No entanto, cada palavra do texto é de minha autoria e foi publicado originalmente no “No Esquadro” em 2011. Posso garantir que não é nada bom ver um dos frutos dos esforços de minhas pesquisas e produção sendo utilizado para fins comerciais, sem minha prévia autorização, e ainda como sendo de autoria de outrem.

Nesse último caso, assim como no primeiro, ofereci o benefício da dúvida, acreditando que pode ter havido uma pequena confusão de parte do Irmão que submeteu o artigo ou da revista que o publicou. Nesse sentido, fiz contato com os responsáveis pela revista, informando do possível equívoco e solicitando que providências sejam tomadas para remediá-lo. O diálogo está em andamento.

Esse é um problema sério e precisa ser tratado com a devida seriedade por nós, maçons. Precisamos instruir e alertar sobre essa questão em nossas Lojas Maçônicas, desde os Aprendizes, no desenvolvimento de suas “peças de arquiteturas” para “aumento de salário”, até mesmo os mais graduados, responsáveis pelas publicações maçônicas.

Quanto às publicações, essas devem possuir uma política de declaração de direitos autorais e verificar a possível ocorrência de trechos não referenciados nos artigos submetidos antes de publicá-los, protegendo assim os seus interesses e os dos autores maçons.

Kennyo Ismail

Fonte: noesquadro.com.br

FORMAR E FORMATAR MAÇONS


 

Uma das principais questões que se colocam hoje aos maçons mais velhos, seja de que obediência forem, é a desse determinar se estamos a formar ou a formatar novos maçons.

Explicando melhor: uma das missões da maçonaria é a de permitir a criação ou o aperfeiçoamento de homens e mulheres em si, não só no seu íntimo, mas também nas relações com os outros e com o meio social e ambiental em que se interagem.

Para isso serve em traços largos a instrução que por ofício e na maioria dos ritos, cabe aos Vigilantes principalmente, nos 1ºe 2º graus.

É interessante saber que a maçonaria simbólica – repito, simbólica - não inclui no seu plano de formação qualquer ensinamento no grau de mestre, isto é, dá-se a instrução do grau quando da exaltação do grau de Companheiro a grau de mestre, mas este em si não tem ninguém responsável pela “formação” do si nesse grau. É como se o mestre maçom, por ter atingido esse grau, estivesse no pleno conhecimento do que é ser maçom, dos seus direitos e deveres, nomeadamente o de estar preparado para ensinar aprendizes e companheiros.

É claro que se pode dizer que a extensão da maçonaria simbólica pelos graus filosóficos permitirá aprofundar os conhecimentos três primeiros graus, mas isso é se os maçons tiverem interesse em enveredar pela linha filosófica dos ritos.

Voltando ao tema, o que me preocupa é saber se a “formação” dada tem como objetivo, e se permite obter, melhores maçons, melhores pessoas, melhores cidadãos, melhores seres humanos, ou se o ensino ministrado não “formatará” maçons, limitando-os na sua liberdade de aprendizagem, com o objetivo de defenderem clubísticamente as cores da sua obediência.

Para já penso que há que definir previamente, o que se deve entender por formação e formatação maçónicas.

“Formar” significa “dar forma”, estruturar, ou seja, estabelecer contornos que o próprio destinatário configurará dentro da sua liberdade de escolha e de análise; por outras palavras a forma que ele quer dar à sua aprendizagem pode limitar-se a simples leituras, à aceitação de dogmas, ou a aceitar uma amplitude de questionamentos em nome da sua total liberdade.

Este formar é extremamente difícil para qualquer mestre, já que o neófito poderá pôr em causa todos os alicerces do edifício maçónico, incluindo nalgumas obediências, os princípios que são considerados imutáveis, como por exemplo a crença maçónica (não religiosa) num Grande Arquiteto do Universo.

“Formatar”, à falta de melhor definição é a preparação de uma pessoa para ser depositária da informação veiculada, no fundo impor um certo modelo ou padrão. Esta é – ma minha exclusiva opinião – a valência preferida por quem tem por missão transmitir os ensinamentos maçónicos.

Mas não basta saber fazer os sinais maçónicos, saber andar em templo, falar à ordem, etc. É preciso perceber a sua razão de ser, o seu significado e interiorizá-lo.

Enquanto “formar” deixa sementes progressivas, “formatar” é autofágico por natureza.

Ora sucede que criar maçons formatados é contra a própria essência da maçonaria, cuja riqueza reside na diferença de pensar dos seus membros, diferença que não pode ser formatada. Se isso acontecer, condena-se a maçonaria à sua futura extinção.

2022.07.10. MPS

Manuel Pinto Dos Santos

A LEI DO SILÊNCIO


 

A tarefa mais difícil para um homem comum é guardar um segredo e permanecer em silêncio

(Aristóteles – 384-322 a.C)

A própria palavra “mistério” (segredo) significa em linguagem religiosa, alguma coisa de separado, de secreto, de oculto e de que não é lícito falar.

A imposição do silêncio não é somente uma disciplina que fortalece o caráter, é também, e principalmente, o meio pelo qual o Iniciado pode entregar-se à meditação sobre os augustos mistérios que encerram as perguntas que todo o espiritualista se faz: donde vim? Quem sou? Para onde vou? Perguntas essas que o Iniciado Maçom defronta desde o momento em que transpõe a porta da Câmara de Reflexão. É também o meio de melhor observar os ensinamentos maravilhosos contidos no Ritual.

Mesmo antes da própria admissão na Ordem, já se começa a exercitar o princípio do Silêncio. Nos momentos que precedem as Iniciações, quando o Candidato permanece na Câmara de Reflexão, o silêncio é fundamental.

Isso tem por finalidade o desenvolvimento da vontade e permite atingir um maior domínio sobre si mesmo. Não esqueçamos que somente um homem capaz de guardar o silêncio, quando necessário, pode ser seu próprio senhor.

Em Maçonaria define-se o SILÊNCIO como virtude maçônica, mediante a qual se desenvolve a discrição, corrige-se os defeitos próprios e usa-se prudência e tolerância em relação à faltas e defeitos de outros. Na Maçonaria se costuma simbolizá-lo pela trolha, com a qual se deve estender uma camada de silêncio sobre os defeitos alheios, tal qual faz o pedreiro vulgar com o cimento para descobrir as arestas do edifício em construção.

O silêncio deve ser rigorosamente mantido, não por força de disposições regulamentares ou pelos ditames da boa educação e das conveniências sociais, mas para que possa ser formado o ambiente de espiritualidade, próprio de um Templo. Ao ajudar a formação desse ambiente, tão propício à meditação, o Maçom beneficia-se a si mesmo e beneficia aos demais. A fecundação das ideias se faz no silêncio.

Devemos guardar e observar completo silêncio no decorrer dos Trabalhos. Não é de boa esquadria pelas normas maçônicas, tolerarem-se conversas paralelas, rumores, murmúrios de vozes, sussurros, chamadas de telefones celulares (que deveriam estar desligados), enquanto se desenvolve os trabalhos, observem que quando o “Irmão falador” desrespeita essas regras, a Oficina “trava” e quebra de imediato a Egrégora formada pelo “som“, pelo “perfume” do incenso e pelas vibrações dos presentes.

O Aprendiz deve por sua tenra idade simbólica não tomar parte ativa nas discussões entre seus maiores, a não ser quando interrogado ou solicitado.

O Aprendiz não pode tomar a palavra senão a convite do Venerável. Esta Lei do Silêncio deve ser por ele observada também fora do Templo, no que respeita à Ordem Maçônica.

O princípio do silêncio exigido dos Aprendizes e Companheiros tem por base filosófica: só deve falar quem sabe e, quem o sabe deve se omitir, pois, flui a sabedoria e os grandes ensinamentos, fonte dos nossos conhecimentos e alimentos para os nossos espíritos.

O aprendizado é o período de meditação e de silêncio. Saber falar com ética é sabedoria, mas saber ouvir é muito mais, pois o homem que sabe falar com respeito, com educação, com amor, naturalmente saberá também ouvir. A visão e a audição devem ser educadas, tanto quanto as palavras e as maneiras.

Em Maçonaria, ao prestar o seu compromisso iniciático, o Candidato promete guardar silêncio sobre tudo o que se passa no interior do templo maçônico. A fórmula é sempre a mesma, mas já propiciou ataques à instituição maçônica, como se ela se entregasse a práticas escusas, sobre as quais os seus filiados devessem se calar.

Mas ela visa, apenas, resguardar Toques, Sinais e Palavras, para que eles não cheguem ao conhecimento de não maçons (profanos), os quais, com esse conhecimento, poderiam ingressar, indevidamente, num templo maçônico.

O Aprendiz maçom cultiva a virtude do silêncio, porque não tem ainda a capacidade do comentário; deve apenas ouvir, meditar e tirar as próprias conclusões, até poder “digerir” o alimento que lhe é dado.

O Maçom pensa duas vezes antes de emitir opinião, porque tem obrigação de emiti-la de forma correta e que jamais possa ofender a quem a ouve. Recorda que às vezes, o silêncio é a melhor resposta.

Segundo José Castellani (Consultório Maçônico X): “O silêncio do Aprendiz é apenas simbólico, em atenção ao fato de que ele, simbolicamente, só sabe soletrar e não sabe falar. Todas as nossas práticas são simbólicas e não reais, como mostram, inclusive as provas iniciáticas”.

Esse silêncio significa que o conhecimento que o mestre lhe transmite é absorvido sem qualquer dúvida ou reação, até o momento em que se torna capaz de emitir, por sua vez, conceitos superiores e que podem até conduzir ao sadio debate.

Há algumas coisas que são lindas demais para serem descritas por palavras. É necessário admirá-las em silêncio e contemplação para apreciá-las em toda a sua plenitude.

São necessárias tão poucas palavras para exprimir a sua essência. Na realidade, as palavras devem ser as embalagens dos pensamentos.

Não adianta fazer discursos muito longos para expressar os sentimentos de seu coração. Um olhar diz muito mais que um jorro de palavras. As grandes falas servem frequentemente só para confundir. O silêncio é frequentemente mais esclarecedor que um fluxo de palavras.

Olhe para uma mãe diante do seu filho no berço. Ele consegue muito bem tudo o que quer sem dizer nenhuma palavra. São necessários dois anos para que o ser humano aprenda a falar e toda uma vida para que aprenda a ficar em silêncio.

Ouvimos que, em sua grande sabedoria, a natureza nos deu apenas uma língua e dois ouvidos para que escutemos mais e façamos menos discursos longos.

Se um texto não é mais bonito do que o silêncio, então é preferível não dizer nada. Esta é uma grande verdade sobre a qual os grandes dirigentes deste mundo deveriam meditar. Quanto mais o coração é grande e generoso menos palavras se tornam úteis…

O silêncio é a única linguagem do homem realizado. Pratiquemos moderação no falar. Isso é fecundo de várias maneiras. Desenvolverá amor, pois do falar descuidado resultam incompreensões e facções.

Quando é o pé que resvala, a ferida pode ser curada, mas quando é a língua, a ferida é no coração e perdura por toda a vida. Às vezes para manter a paz é preciso usar um poderoso aliado chamado silêncio.

Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar, e falar quando é preciso calar-se.

É necessário lembrar-se do provérbio dos filósofos: “as verdadeiras palavras não são sempre bonitas, mas as palavras bonitas nem sempre são verdades…”

Xenócrates (394 – 314) filósofo grego afirmava: “Arrependo-me de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio”.

Pitágoras (571 a 496 a.C) exigia o mais absoluto sigilo dos Aprendizes, pelo período mínimo de três anos. Estabeleceu vários conceitos que estão presentes em nossos manuais, como os quatro elementos fundamentais (terra, fogo, ar e água).

A definição do Pentagrama, configurando a Estrela de cinco pontas que representa o homem, de braços e pernas abertas. Quando de suas hastes se desprendem “chamas”, o pentagrama denomina-se “Estrela Flamígera”. Essa estrela simboliza um guia para o caminho que conduz ao templo.

O maçom vê no Pentagrama a si mesmo dominando os impulsos da carne. Foram os filósofos Pitágoras e Platão que nos legaram o valor dos números, cujos cálculos, desde uma simples soma ou subtração aos mais complicados, hoje formulados eletronicamente, tendem a esclarecer os mistérios do Universo.

Pitágoras afirmava que “quem fala semeia e quem escuta recolhe” – e esta era a obrigação dos novatos.

Se poucas palavras são necessárias dizer “eu gosto de você”, todas as outras que poderiam ser ditas são supérfluas…

Sim e Não são as palavras mais curtas e fáceis de serem ditas, mas são aquelas que trazem as mais pesadas consequências. Afirmar o bem, negar o mal; afirmar a verdade, negar o erro; afirmar a realidade, negar a ilusão; eis aqui, o uso construtivo da palavra.

Lembremo-nos de usar o silêncio quando ouvirmos palavras infelizes; quando alguém está irritado; quando a maledicência nos procura; quando a ofensa nos golpeia; quando alguém se encoleriza; quando a crítica nos fere; quando escutamos uma calúnia; quando a ignorância nos acusa; quando o orgulho nos humilha; quando a vaidade nos procura.

O silêncio é a gentileza do perdão que se cala e espera o tempo, por isso é uma poderosa ferramenta para construir e manter a paz.

Lojas há que incentivam Aprendizes e Companheiros a se exibirem em discursos repletos de lugares-comuns, ou tratando de assuntos profanos, fazendo assim perder o precioso tempo dos ouvintes. E chegam até considerar a recomendação do silêncio como se fora um atentado contra pretensos direitos maçônicos do Aprendiz.

Inútil será dizer que não tendo recebido nenhuma espécie de instrução maçônica, nada podem transmitir aos Neófitos. Assim, transformam as Sessões das Lojas em palavreado inútil que nada constroem, mas acumulam perigosos elementos para o incenso de orgulhos e vaidades e futuros desentendimentos.

O Juramento de Silêncio é um procedimento ritualístico e ao prestá-lo devemos todos (inclusive as Luzes – pousando o Malhete sobre o altar e o Guarda do Templo – embainhando ou colocando a Espada sobre sua cadeira), estender o braço direito para frente, formando um ângulo de 90° em relação ao corpo, com os dedos unidos, e a palma da mão voltada para baixo e os dedos unidos, o braço esquerdo caído verticalmente junto à perna esquerda dizendo “EU O JURO”, em atendimento a solicitação do Venerável.

Encerrados os Trabalhos, o Venerável Mestre ainda uma vez chama a si os Obreiros, confirmatoriamente. Pelo que está feito estes se manifestam em uníssono pelo sinal, pela bateria do Grau e pela aclamação. É, mais uma vez, a confirmação de cada um de seu juramento de Iniciação.

Fica em cada um a memória e a gratificação de mais um dia trabalhando em união fraterna na construção do templo da humanidade. O resto é silêncio.

Texto de Valdemar Sansão – M:. M:. (vsansao@uol.com.br)

Fontes:

Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia (Nicola Aslan)

“OBSERVANDO MELHOR O RITUAL” – (Cartilha em elaboração) Valdemar Sansão

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”
(Martin Luther King)

 

BEM INFORMAR, PARA BEM ESCOLHER!


 

A Maçonaria escolhe homens de bem, livres e de bons costumes, amantes da liberdade e legionários da razão e faz deles ainda melhores!

Graças ao prestígio que tem desfrutado em todos os períodos de sua história, a Ordem Maçônica tem sido sempre um imã que atrai numerosos candidatos à Iniciação.

Aos não-Maçons, denominados “profanos” (em Maçonaria aquele que não foi Iniciado Maçom), oferecemos uma idéia mais ou menos aproximada, desta grande Instituição e, principalmente, aos que nela pretendem ingressar. Objetivamos proporcionar-lhes uma antevisão do terreno em que poderão vir a pisar e da trilha que, obviamente, terão de seguir.

Objetivo da Maçonaria – O objetivo inicial da Maçonaria tem sido o de tornar a Fraternidade Maçônica “um centro de União e o meio de conciliar, por uma amizade sincera, pessoas que, sem ela, não se conheceriam”.

Um escritor francês, em poucas palavras, descreve esta faceta, aliás, a mais importante da Maçonaria: “Durante muito tempo ainda, haverá lugar para uma instituição dizendo aos homens: nada quero ter em comum com vossas desavenças, aos que virão a mim ensinarei o bom senso e a moderação, nas horas que passarão em meus templos, obrigá-los-ei a calar as suas dissensões e a se tratarem como Irmãos. E na plenitude de sua liberdade!

Outro escritor define a Maçonaria nestas poucas palavras: “A Maçonaria é uma associação de idealistas autênticos. Compõe-se de homens de boa vontade, bem intencionados, dotados de sentimentos de solidariedade humana. Os que quiserem ingressar em seu meio devem possuir espírito de bem servir”.

O Irmão Henri Dubois, dirigindo-se aos candidatos, prossegue: “Mas se vos perguntardes o que isto há de render ao bolso ou para as eleições, então, não, não deveis entrar e se entrastes por erro, rápido, parti! Se possuíres opiniões que vos dominam antes de serem dominadas por vós, se tendes propensões demasiadamente vivas para vos tornardes o censor dos outros, ou se não tiverdes para ti mesmo o orgulho de vossa independência em tudo o que se referir a vossa pessoa, à educação dos vossos filhos, aos atos de vossa vida religiosa, cívica ou de família, jamais tereis o caráter de um Maçom, jamais compreendereis os que o têm.

Então não vindes. Se deveis dedicar todo o vosso tempo e recursos a vossa família, nada furteis a um dever quer prevalece sobre os demais. Mas tampouco formai ilusões! Não vos deixeis levar pela idéia de que deveis fazer sacrifícios pela humanidade, para o progresso e o resto.

Não entreis para a Maçonaria salvo se o desejardes por vós mesmos. Os Maçons por certo têm o dever de assegurar a perenidade da Ordem, mas não é o número que importa.

Na verdade, a Maçonaria é a única sociedade com possibilidades de satisfazer plenamente a um homem generoso, idealista e progressista, pela razão que possui todos os elementos capazes de ajudar os homens na senda do aperfeiçoamento. Isto não significa, porém que todos os Maçons se esforcem neste sentido, objetivo principal da Ordem.

É preciso contar, obviamente, com aqueles que entraram na Instituição no intuito de “explorar os Sinais, Toques e Palavras”.

Se você ingressar na Maçonaria e, encontrando algum deles, se sentir desanimado e desiludido, é melhor não continuar. A Maçonaria necessita de homens fortes, dignos deste nome e capazes de empunhar o facho que nos legaram os nossos antecessores conduzindo-o a meta final.

De que lhe podem servir homens fracos, pusilânimes e comodistas a debandar na primeira contrariedade Prefere poucos Maçons a muitos “Profanos de Avental”.

Requisitos para ingresso – Para conseguir ingresso na Maçonaria, o que se faz por meio da Cerimônia da Iniciação em Loja, um candidato deve possuir certos requisitos mínimos sem os quais não poderá ser admitido:

a) – ser maior de vinte e um anos e do sexo masculino;
b) – estar em pleno gozo da capacidade civil;
c) – ter bons costumes e reputação ilibada, apurada em rigorosa investigação, que abranja seu presente e seu passado;
d) – possuir instrução de nível primário completo, no mínimo, ou equivalente e seja capaz de compreender, aplicar e difundir os ideais da Instituição;
e) – ter profissão ou meio de vida lícito;
f) – não professar ideologia que se oponha aos princípios maçônicos;
g) – ser fisicamente sadio, não apresentando defeito físico ou moléstia que o impeça de cumprir os futuros deveres maçônicos ou que o incapacite para a vida social, devidamente comprovado por atestado de sanidade física e mental, com firma reconhecida;
h) – aceitar a existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto do Universo.

Para ingressar na Maçonaria é preciso que o candidato esteja civilmente emancipado. O candidato não desfruta somente de bom conceito, como será livre. Livre quer dizer dispor de sua própria pessoa. Isenção de paixões e preconceitos é indispensável para a compreensão dos superiores ensinamentos da Maçonaria.

Também se dá atenção a certa independência econômica, pois as atividades das Lojas exigem de seus membros contribuições em dinheiro. Estas contribuições não são, no entanto, tão elevadas que qualquer pessoa, exercendo qualquer atividade profissional remunerada, não possa dar conta das mesmas.

A Maçonaria não é uma organização capitalista. Ela é uma Ordem Fraternal. A participação do operário, do elemento da classe média, como do milionário, tem para ela o mesmo valor.

Os inadaptados – ao indicar o elemento que é conveniente afastar da Maçonaria, outro escritor traz a sua colaboração dizendo: “Deveriam ser afastados da Maçonaria os sectários cuja mentalidade acha-se em oposição formal com os princípios fundamentais de nossa Instituição; os pretensiosos; os egoístas que praticam a Fraternidade “em sentido único”, os ambiciosos necessitados de encontrar na Loja apoio, clientes, cabos eleitorais (de acordo com o seu modo de atividade profissional ou extra-profissional); os imbecis que são um peso morto a arrastar, e enfim os astuciosos decididos a explorar sob todas as formas possíveis, o altruísmo dos verdadeiros Maçons.

 Farol luminoso – Ao admitir em seu seio homens de todas as religiões, de todas as nacionalidades, de todas as raças, de todos os partidos, a Maçonaria deu ao homem o exemplo da mais ampla tolerância, um ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

Ela se constituiu desta forma, em cimento que pode unir homens das índoles mais díspares, das classes mais diversas, e das regiões mais afastadas.

Acima das religiões, dos partidos, das classes e das raças, a Maçonaria teve o grande mérito de fazer com que os homens se estendessem a mão por onde se encontrassem e se chamassem Irmãos. 

Maçonaria é um farol luminoso que pode esclarecer e iluminar a humanidade sofredora. A sua razão de ser é, ao contrário do que pensam os que não a compreenderam, tentar unir e harmonizar os homens. A sua finalidade é demonstrar-lhes que o EGOÍSMO é a fonte de todos os males e que não chegarão à salvação sem o calor da FRATERNIDADE e do AMOR.

Procuramos nestas páginas de maneira simples, mostrar quem a Maçonaria busca para os seus quadros de Obreiros e o que é necessário para dela fazer parte.

Valdemar Sansão – M.’. M.’.
vsansao@uol.com.br

Fonte de consultas:

a) “UMA RADIOSCOPIA DA MAÇONARIA” – Nicola Aslan (Edit. A Trolha).
b) – “O DESPERTAR PARA A VIDA MAÇÔNICA” – Valdemar Sansão (Editora “A Trolha”).
c) “VOCÊ QUER SER MAÇOM?” Cartilha em elaboração (Valdemar Sansão).

“A Maçonaria é uma Instituição humanitária e sublime que exalta tudo o que une e repudia a tudo que divide, porque aspira fazer da Humanidade uma grande família de Irmãos”.

 

O ESOTERISMO DOS CONSTRUTORES DE CATEDRAIS


 

A frase composta para o título consiste em três conceitos distintos: primeiro o de esoterismo, de seguida, o de construtores e, finalmente, o das catedrais que são os monumentos mais grandiosos do catolicismo romano.

Estes três elementos justapostos refletem uma crença compartilhada por certos maçons: os construtores de catedrais praticavam entre eles, e gravavam nas pedras das igrejas, colégios e catedrais, mensagens e sinais de esoterismo, que para alguns autores do final do século XIX, se tornam pura heresia ou anticlericalismo se não ateísmo.

Vejamos rapidamente cada um destes conceitos separadamente, antes de compreender, porque é muito mais uma questão de compreender que de aderir.

O ESOTERISMO

O esoterismo é uma maneira de pensar sobre a vida interior e que se manifesta na discrição, mesmo em segredo. Assim como o símbolo, de que só alguns podem entender o significado, escreve Marie Madeleine Davy na sua indispensável “Introdução ao simbolismo romano”, publicado pela Editora Flammarion.

O esoterismo é uma forma universal de pensar, ao mesmo tempo no tempo e no espaço. Há esoterismo quando há conhecimento reservado a eleitos e revelado em segredo. Esta ideia remonta a tempos mais antigos.

Ela é encontrada em abundância na Grécia. Em seguida, em Roma, com os celtas, os etruscos e os alemães, mesmo dentro do cristianismo com diversas tradições secretas ente as quais o gnosticismo; na Idade Média, com os cavaleiros templários, os cátaros, a lenda do Graal, os grandes poetas entre eles o maior, sem dúvida, Dante, com a alquimia, a adivinhação, a magia, a astrologia; no Renascimento com Paracelsus e um florescimento de pensadores e escritores esoteristas; no século XVII com os Rosacruzes, e no século XVIII com o ocultismo, a teosofia nascente; no século XIX, com ocultismo invasivo, a Teosofia e a escola de Papus; no século XX, com um resumo de todos os itens acima, usando o prefixo muito conveniente: néo.

Uma constatação geral: o esoterismo parece ser apanágio de intelectuais e pensadores pelo menos alfabetizados, ou seja, capazes de ler e escrever, e sobretudo, livres para pensar à margem de quadros impostos.

A questão colocada acaba sendo saber se, em toda esta confusão onidirecional, os construtores de catedrais puderam constituir um vetor de um ou outro destes diferentes sistemas secretos.

A existência de um esoterismo cristão é afirmada por alguns, incluindo, obviamente, Guenon que vê ali “o lado interior da tradição cristã”, mas que é rigorosamente rejeitado por outros e principalmente pela Igreja Católica Romana que nega absolutamente a existência de qualquer dimensão esotérica na doutrina cristã.

De fato, como conciliar afirmações contraditórias tais como “não deis pérolas aos porcos”, Mateus VII, 6, com “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia”, Mateus X, 27.

Mesmo assim, como conciliar a afirmação: “não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim sobre um lampadário para iluminar o dia” com o seu oposto absoluto “estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram” Mateus VII, 6.

No exame dos textos cristãos tanto canônicos quanto apócrifos, podemos então recorrer a muitas referências que lhe eram totalmente contrárias. Por exemplo, de um lado, a crença num esoterismo cristão proveniente do pensamento do próprio Jesus marcada por um significado supostamente oculto contido nas suas parábolas, e, de outro, a completa ausência e mesmo a recusa desse modo de pensar a doutrina que ele pregava.

OS CONSTRUTORES, OU MAÇONS OPERATIVOS

Portanto, se existe um esoterismo cristão, ou vestígios de qualquer outro pensamento esotérico que tenha uma origem diferente dentro do cristianismo, os trabalhadores que construíram as catedrais maravilhosas constituíram o vetor? Vejamos, portanto, como eles eram tanto espiritual quanto sociologicamente

No século XII, a arte da construção é dirigida pelo mestre de obras, que é ao mesmo tempo arquiteto e engenheiro, e até mesmo empresário. O seu status social é frequentemente muito importante. Ele possui casas, às vezes um castelo. Com frequência ele assinava as suas obras.

Ganhando até vinte vezes o salário de um trabalhador qualificado, ele está perto do poder de quem depende a sua sorte, e compartilha muitos privilégios. É também chamado Mestre Pedreiro. É ele quem tem uma formação emprestada de Pitágoras e de Euclides particularmente. Devemos encontrar vestígios disso no nosso grau de companheiro Maçom…

Quanto ao patrão da obra, ele é muitas vezes constituído por uma comunidade religiosa, mosteiro, claustro ou capítulo de cânones. Ele inclui os únicos estudiosos da época, o clero secular que conheceu em diversos momentos de um estado vizinho à decadência. Os monges são muitas vezes eles mesmos, ao mesmo tempo mestres da obra e mestres de obra.

Há outras escolas ou colégios de construtores que conhecem formas diferentes e hierarquizadas de organizações corporativas, e tudo isto ao longo da Idade Média. Estes trabalhadores trabalham por conta de cânones e capítulos constituídos em conselhos particulares para os bispos.

A mão de obra abundante e não qualificada é recrutada na classe dos desenraizados: servos em fuga, filho de camponeses, filhos de famílias numerosas, além de trabalhadores especializados tais como pedreiros e canteiros.

Esta última categoria inclui tanto os “desbastadores de pedras” (canteiros de pedras brutas) que os escultores- talhadores (pedreiros livres, abreviado como freemasons ou frimaçons sob o Cardeal Fleury), a noção contemporânea e distinta de artista sendo então desconhecida e inexistente.

Todo este pessoal era analfabeto. As contas de salários estavam cheias de erros de soma, que não enganariam uma criança de 10 anos nos nossos dias.

As marcas lapidares, de transporte e sinais de posse são grafites rudimentares compensando a ignorância generalizada do alfabeto.

Esta mão de obra analfabeta é profundamente católica romana, assim como toda a sociedade da época. A cultura estava exclusivamente nas mãos dos clérigos.

A composição de imagens religiosas parte de princípios impostos pela Igreja Católica, precisamente codificados e de que qualquer desvio era punido. Os escultores contam a história sagrada aos fiéis, eles também analfabetos, de acordo com uma tradição cristã onde os monges e os mestres de obra são os depositários exclusivos e vigilantes.

Havia um segredo dos Pedreiros? Vários regulamentos corporativos revelam que no final da Idade Média, compromissos deviam ser assumidos de não revelar “certos truques do ofício” e nada mais. Esta obrigação de segredo não estava ligada particularmente ao oficio de construção, mas estava relacionada com a maior parte dos ofícios organizados como sindicatos.

Os sapateiros e ferreiros tinham os seus.

Knoop e Jones, antes da escola francesa, estudaram a fundo o conjunto das Antigas Obrigações inglesas. Todos estes manuscritos, tipos de regulamentos ou constituições profissionais defendem rigorosamente isso: “o primeiro dever do Pedreiro é fugir da heresia, e também amar a Deus, à Santíssima Trindade, à Virgem Maria, os santos e a Santa Igreja, não brigar e ser discreto”.

Existe mais de uma centena desses manuscritos, que vão de 1389 a 1722. Os principais textos são: Ms Regius, datado de 1389; o Ms Cooke, do início do século XV; o Ms Plot datado de 1686; o Ms Grand Lodge datado de 1583; o Ms. Roberts datado de 1722. Eles nada contêm, absolutamente, que seja de natureza esotérica, observam Knoop e Jones.

Eles foram escritos por alguns monges piedosos e eram destinados a serem lidos em grandes ocasiões a “trabalhadores totalmente analfabetos, profundamente crédulos e supersticiosos” assim os descreveu Bernard Jones.

A CATEDRAL

Monumento grandioso e manifesto explosivo da dogmática romana, a catedral é o símbolo vivo da onipotência da Igreja, mas também da mais autêntica espiritualidade cristã. A catedral é símbolo. A sua própria função é de ordem simbólica, numa sociedade teocrática e teocêntrica, onde tudo tem um significado espiritual e simbólico que remete a Deus. Ela é também ensino.

Marie-Madeleine Davy escreveu que “a fé penetra a existência, ou melhor, ela É a existência”. Os monges e ninguém mais, também preservaram de alguma forma, pedaços de tradições simbólicas vindas da Mesopotâmia, do Egito, da Pérsia, da China, da Índia e da Palestina, todas as regiões de onde vêm elementos exóticos que às vezes adornam as capitéis e pórticos.

A alquimia tem ali o seu lugar, muito pouco esotérico, no sentido moderno do termo. Ela é integrada ao universo simbólico da catedral. Alguns prelados apropriam-se da Arte Real, enquanto outros a ela se opõem e a rejeitam. Mas, no século XII, a alquimia é uma disciplina, ao mesmo tempo natural e hermética, o que não é absolutamente um pecado. A Alquimia serve para lembrar aos fiéis, entre outras imagens alegóricas, que ela é o templo de Deus; ela é considerada uma ciência “sacramental”.

A Igreja não é, contudo, unânime em considerar que o povo precisa de imagens edificantes e assustadoras. São Bernardo, por exemplo, critica com ironia, mas com firmeza todo este material de monstros ridículos “que os monges devem considerar como estrume”, escreveu este homem santo que não era brando com isto.

Em conclusão, como, sob estas condições, admitir a tese de romancistas anticlericais do século XIX, argumentando que os nossos trabalhadores analfabetos e devotos teriam constituído o veículo de tais ou quais tradições esotéricas do culto de Isis ou de Druidas celtas?

E a se supor por um momento que se tal fosse o caso, seria preciso reconhecer que esta transmissão secreta foi exercida somente através dos mestres de obras, o que implica que ela foi infiltrada à revelia dos capítulos de cânones, à revelia dos bispos muito vigilantes e financistas desses projetos caríssimos. Que ela fosse ainda mais exercida à revelia dos trabalhadores ingênuos e supersticiosos encarregados da sua execução revela, uma vez mais, pensamento ilusório.

Ou ainda, infinitamente mais absurdo ainda, com a sua cumplicidade herética em tudo? E, finalmente, questão determinante, a intenção de quem receberá esta “mensagem”, o público presente nas igrejas católicas sendo composto de praticantes sinceros, mas ingênuos, incapazes de compreender o alcance escondido de alusões ditas esotéricas? A mensagem da Igreja sempre foi exclusivamente exotérica.

Mas a resposta a estas objeções é bem conhecida, e ela floresce mesmo em alguns círculos maçônicos, permeáveis a fábulas e mitos. A Tradição Esotérica seria então transmitida para o uso exclusivo somente dos “iniciados”.

Talvez, mas iniciados em quê? No culto de Ísis, sob São Luis? Nas práticas dos Druidas, sob Filipe, o Belo? E existe um único documento irrefutável que permita apoiar cientificamente estas extravagâncias imaginativas? A resposta é claramente, não.

CONCLUSÃO

Por que, e quem propagou esta imagem ridícula do Maçom anticlerical, que ainda existe nos dias de hoje, e até mesmo numa certa maçonaria? Quem é o inventor da imagem anticlerical, e com que finalidade?

Por duas razões, na minha análise, que levam ao conceito francês de uma maçonaria nacionalista e política, quando ela afirma:

A Maçonaria nasceu na França e não na Inglaterra ou na Escócia. Ela mesma foi exportada da França para a Inglaterra, originalmente! Ela descende em linha reta dos construtores de catedrais, que praticavam uma espécie de esoterismo de natureza anticlerical, herética, à margem da Igreja Católica, em filiação direta dos Grandes Iniciados egípcios, dos Collegia Fabrorum Romanos, dos druidas celtas, seguidos pelos Templários os Rosa-cruzes, os Alquimistas e alguns outros “Atlantes”. Em resumo, observemos, por um conjunto eclético de adversários pré-históricos do papado.

Esta filiação herética e anticlerical é reivindicada ao final do século XIX pelos maçons franceses em ruptura com a tradição maçônica. A intrusão da política em loja, por volta de 1860, que coincidirá com a ejeção do GADU e da Bíblia, leva a nova instituição secular a inventar uma justificativa e uma ascendência nobre, tanto histórica quanto espiritual: a do canteiro de pedras, do pedreiro, da imagem anticlerical, Grande Iniciado e detentor de segredos extraordinários, apesar de todo o poder espiritual e temporal da Igreja. Sabemos o destino que reservou a Santa Inquisição a esse tipo de pessoas.

Este construtor de catedrais puramente imaginário é, portanto, o ancestral sonhado do Maçom “comedor de padres: inimigo da Igreja Católica, mas ao mesmo tempo detentor de tradições e mistérios antigos genuínos, ou seja, que não se originam do judaico-cristão. Ele é o arquétipo da Tradição Autêntica (vamos lá com as guenonices capitalizadas!), que vem de todos os lugares, exceto de Roma e de Jerusalém.

E esta concepção surpreendente encontrou ecos cúmplices em alguns círculos intelectuais. E garante tiragens gigantescas ou faraônicas a autores populares.

Para alguns, trata-se de um sonho. Não os culpamos por escolher esta opção, muitas vezes fascinante porque mais suave e consoladora que a dura realidade.

“Eu sou bela, ó mortais, como um sonho de pedra… “Meu trono é o azul como uma esfinge misteriosa… “Porque eu tenho o que fascina estes amantes dóceis “Espelhos puros que fazem mais belas todas as coisas: “Meus olhos, meus olhos enormes, de claridades eternas.

Para outros, esta opção calmante é um cálculo ideológico. Como tal, ela é lícita, justa e salutar de denunciar, como todas as fraudes moral e intelectual. Eu jamais me privaria disto. O sono da Razão produz monstros.

Jean van Win
Adaptado de tradução feita por  J. Filardo

Bibliografia

Initiation à la Symbolique romane, M.M. Davy, Champs, Flammarion.

L”Esotérisme, Pierre A. Riffard, Robert Laffont.

Images et Symboles, Mircea Eliade, TEL, Galli-mard.

L”Ordre corporatif dans la Belgique ancienne, André Frantzen, D. De Brouwer,1941

Le Moyen Age, Christian Papeians. Ed. Artis-Historia, Bruxelles.

Chateaux et Cathédrales, Marcel Brion, Edito Service, Genève.

Les Bâtisseurs de cathédrales, Jean Gimpel, Seuil.

Freemason”s Guide and Compendium, Bernard E. Jones, Harrar & Compagnie Ltd, London.

Signs & Symbols in Christian Art, George Ferguson, Hesperides Book, New York-Oxford University. (Pres-criptions iconographiques de l”Eglise).

La Bible et les Saints, Gaston Duchet, Guide icono-graphique, Flammarion.

Textes politiques. Saint Bernard de Clairvaux. 10/18, Union générale d”éditions.

La Franc-Maçonnerie opérative, Louis Lachat, Ed. Figuière, Paris.

Questionável e tendencioso:

Les origines religieuses et corporatives de la Franc- Maçonnerie, Paul Naudon, Dervy

Delirante e imaginário :

Le Message des constructeurs de cathédrales, Christian Jacq, Rocher.

 

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