A ORDEM QUE PROTEGE A CENTELHA DIVINA


 

Começo a sentir uma dormência no braço. São umas picadas que me começam a acordar. As costas estão doridas. Terei passado horas deitado numa superfície bastante dura, uma pedra… veio-me à memória uma pedra de xisto, que na aldeia dos meus pais no norte do país faz de mesa suportada por uns pés de carvalho. Sim a madeira de carvalho é muito boa, resiste ao tempo; e o que resiste ao tempo tem valor, tudo o que resiste, sobrevive e se adapta é forte, é bom, já Darwin pensava, dizia e escrevia…

Agora comecei por me perder na memória longínqua da mesa de xisto onde a minha Família se reunia. Reunia e reúne, porque a Família é forte, também resiste ao tempo. A tradição na minha Família faz dela uma família forte. E perdi-me de novo… Entretanto, as picadas no braço desapareceram, e o sangue voltou a preencher o sistema vascular do braço, sim, já consigo mexer os dedos, sangue venoso e sangue arterial entendem-se e chegam a acordo nas trocas gasosas das células musculares… Enfim, o corpo humano é a criação justa e perfeita. Curioso, justo e perfeito parece um slogan político, mas não é daí que eu já ouvi esta expressão tão feliz…

Agora consigo abrir os olhos que estavam colados com lágrimas secas… Sim, adormeci a chorar, mas não me lembro por quê? Mas estava a chorar a morte de alguém, de um amigo de um mestre, sim era de alguém pelo qual tinha bastante estima e consideração, talvez um Professor.

Quando me levanto para ficar sentado no escuro, reparo na dor forte na parte lateral da cabeça, e que mal me permite abrir o olho direito. Sim, fui atingido na cabeça e devo ter ficado aqui inanimado durante esta noite.

Continuo sem nada ver, giro o corpo pelo pó que cobre a pedra onde estou, faço uma volta de 360°, típico de quem dá voltas à vida e não sai do mesmo sítio, estou a patinar na inércia do momento…

Mas calma, sinto um frio nas costas, sim é uma corrente de ar. Desta vez a volta é de apenas 180° e este tipo de volta é das que valem à pena; servem para nos mudar a direção para o rumo certo, aliás, a direção até poderia ser esta, mas desta feita com o sentido invertido, com o correto para esta situação, quem sabe?

Se vier ar, vem da saída deste lugar escuro, frio, úmido; cheira a mofo, cheira a desolo, o ambiente é de comoção, tristeza.

Estarei na parte escura da Lua?

Estarei no meu inconsciente?

A sonhar?

Estarei a escrever este texto ou ele já estaria escrito, neste mesmo momento, neste mesmo local? Sim, este texto sempre cá esteve e sempre vai estar, está dentro de mim, de mim faz parte. O momento não dura só o momento, o momento é eterno.

E agora as sinapses acendem, impelem o impulso nervoso, temos condução axônica, transdução de sinal, sinapses neuronais e neuromusculares que me permitem dar a mim mesmo a ordem de me levantar e sair daqui, deste lugar horrível…

Mas… por azar, o local não é muito alto e bati com a cabeça no teto. Pedra dura e rugosa… O teto e a minha cabeça… Agora estou mais acordado, dói-me a cabeça um lado de cada vez, com a batida de agora e com o ferimento de ontem, está completa a dor de cabeça, vai pelo perímetro completo… esquerda e direita, que parvoíce, que dor…

Que cabeça a minha, esqueci-me que para caminhar, primeiro temos de gatinhar… Sim, é isso, a gatinhar avanço, não me magoo, quando for à altura, sim quando for à altura certa, a centelha divina que temos em nós, a programação divina que o Arquiteto nos deu para sermos e estarmos vivos dará o comando… Sermos e estarmos, que conveniente para os anglo-saxônicos terem o mesmo verbo para estes dois estados… Sermos e estarmos… Não conseguimos ser amigos, sem estarmos. Não conseguirmos estar bem conosco, sem o sermos, em bem e em valores comigo e com os outros…

Sim, os outros, eu não estava sozinho. Programação divina do Arquiteto… sermos justos e perfeitos… agora sim, lembrei-me… que felicidade me percorre, qual sistema vascular, qual sinapse neuronal, sim, é o orgulho em ser Maçom que me percorre o corpo… o orgulho… o ser e sentir… Orgulho em ser Maçom!

Já me recordo da minha missão, éramos mais de 90 no início, mas sua Majestade com a sua justiça salomônica apenas me escolheu a mim e a outros oito. Sim fomos eleitos nove para esta missão.

Oh meu Deus, mas se eu estou assim, fora de combate, não estou a ajudar os outros oito, Estarão bem os meus Irmãos? Mas não ouvi até agora o grito pelos filhos da viúva…

Agora tudo faz sentido, agora e sempre, a teoria espaço-temporal do Einstein faz, fez e fará com que a alegoria da caverna se recrie em nós, relembrando o passado, vivendo o presente e projetando o futuro…

O Platão sabia do que falava, na sua Caverna, o Einstein das suas explicações matemáticas da nossa existência e convivência com o Universo. Física, Filosofia. Parece que os extremos se tocam na minha cabeça, o concreto e o metafísico, o prático e o retórico, o bem e o mal, a escuridão e a luz, a caverna e o exterior, e o eu, sem par, sozinho nesta dança, o eu que fica atolado nos pensamentos e imóvel nas intenções…

Mas, esperem, estou a ver neste momento uma fonte de água cristalina… e tenho sede, vou aproveitar… esta água, imaculada, fresca, transparente, pura, aquele ideal que temos de uma mulher, da nossa mulher… e que sede que eu tenho, e também de água; o resto não é vício e paixão, é amor, é amor pela vida, cumpro os desígnios do criador de amar uma mulher, a minha. E depois os falsos moralistas do reino, com a história da carne ser fraca… claro que é se não fosse fraca não me doía tanto à cabeça com os ferimentos que tenho…

Vislumbro agora uma luz muito tênue que substitui à porta da caverna a luz natural… Mas por Deus, tão tênue que és que não substitui em nada a luz, a luz pela qual os meus olhos anseiam a luz que me aquece a sabedoria, a luz que me afasta dos tontos e dos parvos que habitam o reino. A sorte, é que dos tolos, Deus tem piedade e sua majestade o Rei Salomão, é muito justo e benevolente com os mais fracos…

Escuto passos, escuto cavaleiros, sim, vêm no início do sopé que conduz a esta caverna escondida e aninhada a meio da montanha; mas não lhes grito por agora, vou entrar de novo dentro da caverna para ser o primeiro dos nove, nem acredito, sou um Cavaleiro Eleito dos Nove, vou chegar primeiro, vou apanhar eu o assassino do Mestre Hiram, agora é nítido como a pedra por talhar no fundo das rochas para onde a fonte de água cristalina jorra…

Vou capturar o inimigo da Luz, da verdade, sim e serei recompensado junto de sua Majestade… mas silêncio… em mim, cá dentro, para fora da minha boca, para vocês que se seguem dentro do meu pensamento, a ouvir e a construir esta narração, seus loucos, continuam comigo dentro do meu pensamento… e o louco sou eu… meu Deus, o louco sou eu…

Sim eu reconheço aquele que está a dormir junto ao corpo decapitado. É Johaben…

Mas se este é Johaben, e acabam de chegar mais 8 Cavaleiros eleitos, o que faz com que sejam 9…

E estão a discutir uns com os outros, Joahaben com a cabeça do assassino numa mão e um punhal forrado a sangue na outra; os outros 8 gritam por Vingança… e viram-se para mim, para o desconhecido deles, eles não me conhecem, agora lembro-me de tudo…

Eu encontrei a caverna, e lá dentro vi o assassino do Mestre Hiram. E nem tive coragem de captura-lo, nem tive coragem de ser misericordioso com ele para que fugisse. Dirigi-me ao Capitão dos Guardas de sua Majestade e o resto da História, vocês já sabem…

Eu sou o desconhecido, eu sou o inconsciente, o vosso, o meu, eu sou o eterno, já cá estive, estou aqui neste momento, e vou ficar escrito neste papel, e enquanto se lembrarem do que aqui foi lido ou escutado por vós, irmãos Cavaleiros Eleitos, eu vivo, eu existo, eu sou a luz, sou a justiça, sou a vingança, sou a matéria, o corpo, a luz, o átomo, a centelha Divina que se acende para que se saia da escuridão da ignorância, eu sou a Maçonaria…

Luis Pinheiro

 

NATAL E A MAÇONARIA


 

À primeira vista, o Natal não tem conexão intrínseca com a fraternidade da Maçonaria. O que quero dizer com isto é em nenhum lugar nos graus que ela se vincula a qualquer feriado particular na sua prática, em particular a época de Natal.

Existem, porém, certas celebrações que se tornaram parte da fraternidade e que estão ligadas a um dos símbolos interessantes que está no cerne da prática. Sem qualquer referência específica, diz-se que os Maçons vêm de uma Loja do Santo João; o porquê e como, específicos desta ligação perdem-se nas areias do tempo metafórico, mas alguma conexão infere um equilíbrio para o equinócio celestial (do Verão até ao Inverno e vice-versa).

Através desta ligação, o Inverno seria representado por São João Evangelista, cuja festa cai no dia 27 de Dezembro.

Este Santo S. João tem um significado simbólico interessante, pois, como S. João Baptista (que representa o outro Santo S. João) foi o precursor da vinda de Cristo, João Evangelista é considerado o primeiro discípulo no Lago de Genesareth que reconheceu o Cristo e acreditou que ele tinha ressuscitado.

Sobre o Santo também se diz que ele foi o único discípulo de Cristo que não o abandonou na hora da sua Paixão aos pés da cruz. João Evangelista também é chamado de Apóstolo da Caridade, o que pode ser em parte, a sua ligação com a Maçonaria, além da sua determinação inabalável e pureza do seu amor pelo divino.

Ao estudar a construção original dos dois Santos de nome João, a conclusão a que cheguei foi que eles encontraram um equilíbrio entre zelo e conhecimento.

S. João Baptista que foi o precursor do Cristo vivendo no seu zelo pela vinda do filho de Deus e S. João Evangelista como a representação de saber que o Cristo era o filho de Deus. Somente ao decifrar o componente de saber ficou claro para mim que não se tratava do grau de conhecimento adquirido, mas do grau em que S. João Evangelista confiava na sua intuição, para saber o que estava diante dele. Um paralelo interessante vem no livro de Mateus, onde esta mesma lição é comunicada a Pedro pelo Cristo que diz em Mateus 16: 15-17

“Mas e tu?” perguntou. “Quem dizes que eu sou?”
Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.
Jesus respondeu: “Bendito és tu, Simão, filho de Jonas, porque isto não te foi revelado pelo homem, mas por meu Pai que está nos céus”.

Isto está um pouco fora do contexto original, mas ilustra o conhecimento revelado com base na experiência, na aprendizagem.

S. João Evangelista chegou a esse conhecimento pela sua experiência com o Cristo.

Outra maneira de encarar essa experiência é passar das trevas para a luz, um despertar e, se se for mais além, o despertar da consciência. Esta consciência ajusta-se perfeitamente à ideia do Sol Invictus, ou o sol conquistador que supera o seu cativeiro noturno do Solstício de Verão e novamente começa a vencer a noite nos seus minutos cada vez maiores de luz do dia.

Olhando para algumas das outras ligações simbólicas, diz-se que S. João Evangelista se relaciona com o símbolo alquímico do triângulo apontado para cima que representa o fogo, onde novamente podemos ver uma ligação com a luz e o conhecimento. Quando combinamos o signo alquímico de S. João Baptista com o de D. João Evangelista, criamos a estrela de Salomão, e a dualidade de fogo e água; para além disso, a dualidade de luz e escuridão e Verão e Inverno.

Outros trabalhos atribuídos a S. João Evangelista são as Epístolas de João e o livro do Apocalipse, embora a sua conexão com eles nos séculos posteriores tenha sido controversa, já que muito da sua vida de 2000 anos atrás se perdeu no tempo. Dentro da Igreja, o seu dia de festa é mencionado pela primeira vez no Sacramentário do Papa Adriano I, cerca de 772 d.C..

A mensagem da Igreja, e algo que cada um de nós pode tirar de S. João Evangelista, é “Aplica-te, portanto, à pureza de coração e serás como S. João, um discípulo amado de Jesus, e serás preenchido com sabedoria celestial”.

A festa de S. João Evangelista é pouco lembrada hoje, exceto dentro da Maçonaria onde é celebrada por algumas Lojas que ainda praticam o ritual da Loja da Mesa onde os Irmãos se reúnem para celebrá-la com brindes aos Irmãos presentes e ausentes.

No passado, era considerado um dia de festa de grande importância para a Maçonaria por causa da sua proximidade com os feriados e a presença de membros da Loja perto de casa. Por causa disto, deu a esses irmãos um festival para se reunirem para pontuar o encerramento do ano.

No entanto, reunir-se assim é algo menos conveniente nos dias modernos, já que a maioria das famílias viaja para o exterior para comemorar o feriado.

O fato de ser menos celebrado não diminui a importância do dia, nem do símbolo em si, pois no ritual moderno somos lembrados que viemos do Santo S. João em Jerusalém, e como tal devemos fazer uma pausa e refletir sobre o que significa.

S. João Evangelista dá-nos uma lição importante para buscar o conhecimento e despertar das trevas e renovar no osso compromisso com o despertar da luz do Sol Vitorioso. Mesmo retirando a metáfora cristã, podemos saudar com o Sol Invictus, ou o sol conquistador, à medida que o conhecimento é rê-despertado da sua derrota fria e invernal.

Através das lentes do simbolismo, S. João Evangelista dá-nos uma forma de encontrar ressonância com o feriado da doação e da compaixão à fraternidade do amor fraterno, alívio e verdade – a Maçonaria.

Feliz Natal!

Greg Stewart 

Tradução de António Jorge

Fonte: Freemason Information

O QUE É QUE O TEU COMPORTAMENTO DIZ SOBRE A MAÇONARIA?


 

Eu publiquei isto no meu blog pessoal há algum tempo e tive reações espantosas. Não sei se pensamos muito sobre isto, mas deveríamos… já escrevi sobre isto antes.

Quando me tornei Maçom em 2005, eu estava a juntar-me a um grupo de homens. Não era só me juntei a um grupo de homens, mas tornei-me um representante desse mesmo grupo. Entrei para esse grupo com o desejo de me aperfeiçoar.

Eu abracei os princípios, ideais e costumes que o grupo acreditava ser importantes desenvolver em nós mesmos para nos tornarmos homens de bom caráter. Não havia nada em nenhuns elementos básicos de caráter que colidisse com as minhas crenças religiosas ou pessoais.

Nos últimos catorze anos, conheci alguns dos melhores homens que já encontrei e aprendi muito sobre a Maçonaria, sobre a vida e sobre as características para se ser um homem de princípios elevados. Aspiramos a viver de acordo com um padrão mais elevado do que aqueles do mundo profano lá fora.

Eu costumava dizer que a melhor propaganda da Maçonaria eram os seus membros. Na era das redes sociais, não sei se isso é verdade. Muitas vezes fico envergonhado pela maneira como vejo os maçons se comportarem nas redes sociais.

Eu vejo os maçons postando textos que eles sabem que iniciarão um grande debate e depois participando em discussões online que são desrespeitosas e grosseiras. Há uma página das redes sociais que parece orgulhar-se da falta de respeito que mostram, uns pelos outros.

É também um fórum público. Este comportamento certamente que não representa os meus valores nem a maioria dos Maçons que conheço, e seguramente também não demonstra os padrões da nossa fraternidade.

Eu pergunto-me o que os não-Maçons pensam sobre a nossa Fraternidade quando veem os nossos membros a comportar-se desta forma.

Eu questiono-me sobre que perspectiva os Maçons que procuram informações pensam, quando tropeçam nesses fóruns. Vou lhes dizer honestamente… se eu tivesse visto algo disto em 2004, quando me interessei pela Maçonaria, não tenho a certeza sobre se teria entrado.

Na verdade, tenho a certeza de que não teria. Esta conduta dos nossos membros (nossos representantes) não é o que eu pensava que a Maçonaria era naquela época, e definitivamente não é o que eu sei que a Maçonaria deveria ser hoje.

Eu acredito verdadeiramente no que esta Fraternidade pode fazer pelos homens, no que pode fazer pelas comunidades e na influência positiva que os valores que incutimos nos nossos membros, podem ter no mundo. Eu estudei isto. Eu apliquei. Eu escrevi sobre isto. Eu falei sobre isto. Eu vivi isto nos últimos 14 anos.

Devo admitir, no entanto, às vezes tenho dúvidas sobre a direção que estamos a tomar. Esta loucura pública está por baixo de nós. Não podemos sequer falar sobre algo tão mundano como a forma de nos vestirmos para funções oficiais sem entrar em discussões públicas bastante feias, uns com os outros.

Nós tornamo-nos tão focados interiormente em nós mesmos como indivíduos e nas nossas próprias necessidades nesta época, que esquecemos que fazemos parte de um grupo – cada um representando um ao outro e todos nós representando um padrão mais alto que aspiramos.

Esquecemos  que não somos Maçons para transformar a Maçonaria numa imagem de nós mesmos; tornam Maçons para ser transformados pelos ensinamentos e valores tradicionais da nossa Fraternidade. Para fazer parte de uma longa e orgulhosa tradição. Para sermos homens melhores – elevar-nos acima do mundo bruto e profano ao nosso redor e servir de exemplo para os outros.

Tentemos lembrar-nos sempre de quem somos e que representamos, quando interagimos com o mundo… e tentemos lembrar-nos que, quando nos apresentamos como Maçons para o mundo, cada um de nós representa a TODOS nós.

Todd E. Creason

Tradução de António Jorge

 

PARA QUE SERVE HOJE A MAÇONARIA?


 

Escrevia alguém no O Expresso do penúltimo fim de semana de Maio de 2020:

“A vida é feita de contrastes e confrontos entre conceitos avessos. Não é possível ver a Luz se nunca mergulhamos na Escuridão. Não existe bondade sem crueldade. Conhecemos a paz por termos visto a Guerra. O Sagrado só existe se, ao lado, estiver presente a noção de Profano. Qualquer enquadramento requer, então, a oposição de forças antagônicas”.

E este texto levou-me para os três inimigos da Maçonaria, a Ignorância, o fanatismo e a Tirania.

Primeiro porque hoje, no XXI, nunca tanto conhecimento esteve disponível para tantos. E, no entanto, nunca tantos ignorantes tiveram tanto poder como agora. Poder de passar a sua mensagem ignorante e estúpida, poder de efetuar alterações nas sociedades pela propagação da ignorância e da estupidez.

Das brigadas acéfalas anti vacinas que provocaram surtos de sarampo no coração da Europa civilizada o ano passado aos negacionistas de movimentos extremistas que dizem que o Holocausto é uma ficção ou que o Socialismo tira povos da miséria.

Depois por que assistimos hoje a hordas de fanáticos que acreditam na superioridade, moral ou biológica, de grupos de humanos sobre outros.

Da extrema-esquerda que se acredita superiormente moral a todas as outras formas de pensamento político, cultivando neste campo o discurso de ódio dos inimigos políticos em vez de adversários aos fanáticos que se creem biologicamente superiores aos outros povos e assim justificam o seu extermínio, apresentado os outros como uma pestilência que urge extirparmos da sociedade.

Passando pelos eco terroristas que entende que os humanos são o mal do Mundo e que este se deve livrar dos humanos como forma suprema de purificação da Mãe Natureza, como se a Natureza tivesse consciência e fosse uma entidade pensante, tendo a Ciência já capitulado aos pés do altar da Ignorância e ficado quase sequestrada pelos fanáticos.

E assim chegamos à Tirania, que hoje assume muitas formas, sendo que a mais perigosa, para mim, é a Tirania do pensamento. Assente numa agenda que nos quer meter nas nossas cabecinhas que só há uma linha de pensamento legitima que é moralmente superior às outras todas, que é a única aceitável.

E esta assume especial relevo porque no ocidente as médias, na sua grande maioria, embarcaram nesta Tirania, uma censura global do pensamento.

Dado o seu imenso poder, criam hoje percepções generalizadas da realidade que vão todas num sentido, o de apresentar um Mundo em que só determinada forma de pensar é tolerada.

Hoje praticamente não temos noticias, temos opinião, paga, travestida de informação séria. A consequência deste processo é no imediato a percepção de que o Mundo está extremado. A seguir, o Mundo fica mesmo extremado.

Os nossos inimigos de ontem são os de hoje e serão os de amanhã. Termino como comecei: Para que serve hoje a Maçonaria?

Algum de vós tem dúvidas?

J. E. Sousa – M M da R L Alengarbe, nº24, a Or de Albufeira em 6020

 

FAÇA-SE LUZ!


 

No início da maçonaria podia haver – e havia! – diferentes correntes de cristianismo na maçonaria, mas todos os maçons eram cristãos. Ao longo do tempo, com a abertura das mentalidades, foi sendo possível admitir membros de outras religiões.

Nos nossos dias, a maçonaria regular apenas exige a crença no “Grande Arquiteto do Universo”, explicando que este nome não é o de uma “divindade maçônica”, mais um novo nome a dar a essa mesma Entidade em que cada um crê; é Aquele a quem os cristãos chamam Deus, os muçulmanos chamam الله [Allah], os judeus יהוה [YHWH], os Hindus chamam ब्रह्मा [Brahmā], e por aí adiante.

Deste modo, quando os maçons se pretendem referir a essa Entidade, fazem-no todos através do mesmo nome, ficando assim atenuadas as diferenças decorrentes das diferenças de crença que possam verificar-se, e reforçado o sentido de identidade entre eles, pois, afinal, até todos creem no mesmo Ser Supremo – mesmo que cada um à sua maneira.

Uma vez que a maçonaria é assumidamente uma invenção humana, tem a liberdade de se reinventar e renovar sempre que tal se revele necessário e oportuno.

É assim que, se bem que alguns dos símbolos a que a maçonaria recorre sejam da sua própria criação, a simbologia maçônica é, na sua maioria, “tomada de empréstimo” – umas vezes de forma mais direta e outras nem por isso – de outras simbologias já existentes.

Ao longo da história da maçonaria tem-se assistido a um cuidado cada vez maior com a procura de certa neutralidade, do não favorecimento de uma fé em detrimento das demais, e isso se consegue, frequentemente, através do recurso a símbolos de religiões já desaparecidas mas cuja carga simbólica permanece entre nós por via literária, filosófica ou mitológica.

A referência aos planetas, ao Sol, às estações do ano e a antigas figuras mitológicas pretende apenas constituir ilustração dos princípios morais que se pretende transmitir. Os solstícios, por exemplo, ao serem os momentos em que os raios solares estão mais próximos da perpendicular (no solstício do verão) ou da horizontal (no solstício do inverno) em relação à superfície da Terra, simbolizam respectivamente a retidão moral (verticalidade) e a fraternidade (estar ao mesmo nível).

Alertar uma adolescente para os perigos dos predadores sexuais pode ser complicado de fazer; no entanto, recordar-lhe a “história do lobo mau” e, subtilmente, estabelecer um paralelo, pode ser muito mais eficaz do que uma longa e desajeitada conversa. A maioria dos chamados “contos infantis” pretende, precisamente, estabelecer uma base simbólica a revisitar mais tarde, uma vez já absorvidos os princípios, mas sob uma nova realidade: a das circunstâncias da vida real de cada um.

Uma das primeiras estranhezas que se sente quando se ouve, pela primeira vez, uma ata numa sessão, é a da data: “aos vinte dias do mês de janeiro do ano maçônico de seis mil e doze(…)”. Por que “seis mil e doze” se estamos no ano de dois mil e doze? Recordemos o que é que constitui o primeiro ano nossa era: o ano em que terá ocorrido o nascimento de Cristo; por isso se dizia “AC” (Antes de Cristo) e DC (Depois de Cristo), que também se escrevia “AD” (Anno Domini, “Ano do Senhor”). Hoje em dia dizemos estar no ano 2012 EC (“Era Cristã” ou, ainda mais politicamente correta, “Era Comum”).

Outros calendários há, cujo início se deu há mais ou há menos tempo. Mede-se o tempo decorrido desde a fundação de Roma (753 AEC) ou do Japão (660 AEC), desde a viagem de Maomé de Meca a Medina (622 EC) ou, de acordo com o calendário judaico, desde a criação do mundo (3761 AEC).

Não era desejável que um calendário – e respectiva bagagem cultural – se impusesse sobre os demais no seio de uma fraternidade em que se pretendia que todos se sentissem iguais.

A solução encontrada foi estabelecer-se o “Anno Lucis” – o Ano da Luz – como aquele em que, aproximadamente, o Criador terá, pela primeira vez, feito surgir a Luz. Se recordarmos que a maçonaria é filha do Iluminismo, não faz senão sentido medir-se o tempo desde esse instante. É por isso que, simbolicamente, se soma 4000 anos (número distinto de qualquer calendário existente) ao ano atual e se lhe chama “ano da era maçônica”.

E, de cada vez que isso se faz, os maçons são recordados de que a fé e a crença de cada um devem ser respeitadas, e que a busca da Luz (ou seja, do conhecimento) deve ser levada a cabo por todos os maçons, independentemente da sua crença, fé ou convicção religiosa.

Paulo M.

Publicado no Blog “A partir pedra” 

O CONCEITO DE DEUS NA MAÇONARIA


 

Quando lemos nos textos da Inquisição o processo de John Coustos, há um fato que é realmente deslumbrante.

Trata-se da perfeita e total incredulidade dos juízes que interrogavam o Maçom J. Coustos, quando este afirmava a sua normalíssima crença em Deus, e não só a sua, mas também a de todos os outros réus do mesmo processo, que é como quem diz da mesma Loja. Portanto, já em 1730, os Maçons tinham grande fama, não exatamente de ateus mas sim de gente herética com credos e práticas nada ortodoxas. Vejamos onde é que tal fama poderia ter tido origem.

Se nos quisermos limitar ao exame dos documentos escritos relativos à história da Maçonaria na Idade Média, encontramos de imediato um documento da maior importância, o célebre decreto do Concílio Cismático de Avignon de 18 de Junho de 1326. Aí se verifica a condenação das Sociedades e “Confrarias” que reúnem nas Igrejas.

Ora isto é perfeitamente esclarecedor no sentido em que revela uma evidente animosidade contra determinados agrupamentos cristãos, perfeitamente natural em tempos de confusão cismática. Para mais, essas confrarias de cristãos putativamente heréticos despertavam enormes suspeitas com as suas reuniões misteriosas e os sinais e símbolos aliquibus exquisitus.

Um exame específico das relações entre a Igreja e diversas instituições, designadamente a Ordem Maçônica, que na realidade a situação de conflito com essas instituições se a sempre que a unidade doutrinária da própria Igreja é posta em perigo.

No entanto, a melhor prova de que a Ordem Maçônica não pode viver fora do conceito mais clássico de Deus, encontra-se documentada pela mesma época no célebre Poema Regius. Segundo os paleógrafos do British Museum o manuscrito, com data provável de 1390, consta basicamente de um enunciado de regras pelas quais se deviam reger as comunidades de maçons.

Esta parte normativa divide-se em 15 artigos correspondentes a uma espécie de regulamento e a 15 pontos que constituem no seu conjunto uma verdadeira Constituição e, que bem poderíamos chamar pontos de Regularidade. Vejamos o enunciado do primeiro ponto:

Obrigação do amor a Deus, à Igreja e aos Irmãos. Ou seja, amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.

É evidente que o primeiro texto das primeiras Constituições apresentadas por Anderson à Grande Loja em 1722 repete grande parte dos pontos e das regras constantes do manuscrito Regius, em tempos comunicado às Lojas de Londres pelas Lojas de Edimburgo e Kilwarney.

Daqui se pode deduzir que a célebre divisão da História da Maçonaria em períodos Operativo e Especulativo é altamente controversa. Na realidade o texto de Anderson de 1722 é inicialmente aceito por aqueles que mais tarde virão a ser chamados Antigos e que permanecerão afastados da Grande Loja Unida de Londres durante um século.

Isto parece ser devido ao fato de um ano depois, isto é, em 1723, Anderson ter apresentado um novo texto das Constituições. Ora esta versão representava um profundo corte com velhas tradições constantes das “Old Charges” e do próprio Manuscrito Regius.

Por outro lado, a redação do texto referente às Obrigações do Maçom não era muito clara, em parte devido a situações de conflito com o Grão Mestre, o Duque de Wharton, que motivaram referências azedas a “ateus estúpidos ou libertinos irreligiosos.

Nessa frase se têm apoiado as Maçonarias ditas Irregulares, para defenderem que Anderson admite a existência de “ateus inteligentes”. Portanto, o Deus da Constituição de 1723 é seria um Deus de Deísmo abrangente, contrariamente ao clássico Grande Arquiteto do Universo que é expressão de um verdadeiro Teísmo e não se presta a confusão alguma.

Esse, o dos velhos textos, é o Deus da Bíblia, Deus dos Judeus, como dos Cristãos ou até mesmo dos Muçulmanos. A Bíblia é uma das Grandes Luzes da Maçonaria, preside aos seus trabalhos e compreende o Antigo e Novo Testamento. A Maçonaria Tradicional inspira- se tanto no Evangelho como na lei de Moisés ou dos Noaquitas.

O G:. A:. D:. U:. é um Deus que fala ao Homem, a Noé, aos Patriarcas, a Moisés, a Jesus e através deles a toda a Humanidade.

Notemos que nesta fase da História de Inglaterra acima de tudo importava agregar os maçons num esquema religioso aceitável por todos os homens de bem, ou seja, em torno de um Deus sobre o qual se pudessem entender pacificamente Católicos e Protestantes.

As interpretações dadas pelas obediências irregulares ao texto pretensamente deísta são absolutamente abusivas. Com efeito a abrangência do texto de 1723 representa uma abertura mas sim em relação à entrada dos primeiros Judeus na Ordem Maçônica que se verifica justamente nessa altura. A imprecisão possível do texto de 1723 abrindo caminho a uma interpretação iluminista tipo Voltairiano ou mesmo Newtoniano está, aliás, amplamente condenada no mesmo texto, com as frases relativas aos ateus e aos libertinos. De resto, essa mesma imprecisão é desfeita pelo próprio Anderson em 1738. Passo a citar o texto do artigo Primeiro:

“(…)no que respeita a Deus e à Religião. um Maçom é obrigado, implicitamente a observar a Lei Moral. Se é um verdadeiro Noaquita e se compreende bem o ofício, não será nunca um ateu estúpido, nem um libertino irreligioso, nem agirá contra a sua própria consciência.

Noutros tempos, os cristãos que viajavam estavam sujeitos a conformar-se com os costumes cristãos do país em que se encontravam, mas como a Maçonaria existirá em todas as Nações mesmo de religiões diversas, eles são agora obrigados a aderir àquela Religião sobre a qual todos os homem estão de acordo deixando a cada irmão as suas próprias opiniões quer dizer, devem ser homens de bem e leais, de honra e de probidade, quaisquer que sejam os nomes, religiões e confissões que os distingam. Porque todos estamos de acordo sobre os três Grandes Artigos de Noé” (fim de citação).

A referência bíblica da Aliança Noaquita, que não existe no texto de 1723, prova irrefutavelmente a vocação universalista da Ordem na fidelidade ao velho princípio na Fé de um Deus Revelado. O Noaquismo sem dúvida alguma é a revelação de Deus a Noé. Já dizia o Cavaleiro Ramsey que a Maçonaria era a expressão mais abrangente do monoteísmo.

Naturalmente esta concepção ecumênica, extensiva aos próprios judeus, volta a despertar profundas suspeitas de heresia, na medida em que é de fato, naquela época, uma ideia extremamente arrojada.

Mas enfim, muito mais haveria a dizer. A própria teoria da Via Substituída, tão decisivamente analisada por Jean Baylot, enferma dum erro gravíssimo.

O conceito de Deus incluído dentro dum Movimento Religioso não pode ser nunca alvo de uma concepção pessoal. A palavra religião deriva do latim religare, e como o seu nome indica une indivíduos em torno de uma ideia sagrada. Um conceito individual de Deus só é concebível, portanto, fora de um contexto coletivo, ou seja, não há religiões de uso individual e exclusivo.

Ora e voltemos ao próprio Anderson de 1723. O Maçom não poder ser nunca um ateu estúpido ou um libertino irreligioso. Portanto, jamais Anderson, aliás, presbítero bem ortodoxo, se poderia estar referindo a um Deus pessoal tipo “Princípio Criador Universal”, completamente alheio às religiões “oficiais” da época.

Verdade seja dita que os tempos atuais dificultam para muitos uma tomada de posição clara neste aspecto. Diz Mircea Eliade que a única criação do homem moderno no campo das religiões foi a destruição sistemática do sagrado ou, quando tal não foi possível, a sua completa camuflagem.

E esta iconoclastia foi de tal forma exaltada por auras mediáticas de radicalismo super-intelectual que a simples confissão da Fé em Deus começou a exigir alguma coragem aos pobres de espírito que a quisessem afirmar.

Mais ainda, dentro do tal esquema de camuflagem a que alude Eliade muitos homens há que, afastados das práticas tradicionais dos cultos por todo o imenso esforço do “fundamentalismo ateu”, escondem envergonhadamente a sua crença em Deus, chamando-lhe eufemisticamente nomes tão pomposos e vazios como o célebre Principio Criador Universal e outras sandices que tais.

Recordo a propósito uma deliciosa intervenção num programa televisivo do Prof. Fernando C. Rodrigues quando entrevistado pela jornalista Teresa Guilherme. Perguntou ela ao Prof. C. Rodrigues se o satélite português iria descobrir muita coisa e, obteve em troca esta resposta lapidar; “Muita não direi, mas é natural que descubra mais algumas zonas da nossa ignorância”.

E a propósito contou que a sua sobrinha havia uns dias tinha dito à mãe que o seu colégio projetava um piquenique para o dia seguinte no Jardim Zoológico. E logo a mãe lhe disse que não lhe parecia que tal fosse possível porquanto o boletim meteorológico previa muita chuva para o dia seguinte.

A pequena quis saber por que é que eles diziam isso e a mãe pacientemente explicou que pelas fotografias do satélite se observava que havia uma baixa de pressão situada a nordeste dos Açores que se dirigia para a Península Ibérica com uma forte componente de ar marítimo e, portanto iria chover.

E porque é que essa depressão vem para cá? Perguntou a pequena. E a mãe explicou que a diferença de pressão atmosférica ia impelir para cá as nuvens. E a pequena perguntou mais uma vez, mas porque é que a pressão atmosférica está assim? E a mãe respondeu que nessa altura do ano as pressões mais altas vão para o hemisfério Sul. E a pequena voltou a perguntar por que é as pressões mais altas vão para o Hemisfério Sul? Foi então que a mãe lhe deu a mais científica de todas as respostas: Olha filha, porque Deus Nosso Senhor quer que chova amanhã…

Mas, e porque falamos de M. Eliade é talvez interessante analisarmos aquele que é um argumento tão definitivo que francamente muitas vezes não me apetece esgrimir com ele, porquanto para mim na realidade o assunto se esgota na própria definição de Maçonarias.

Ora, vejamos e deem-lhe, por favor, as voltas que quiserem: A Maçonaria é uma Sociedade Iniciática, ponto parágrafo e mais que final.

Pois bem, o iniciatismo não tem possibilidade alguma de existência fora de um conceito Sagrado. Admitir o contrário deste verdadeiro postulado científico só pode revelar ou uma triste ignorância ou uma degradação profunda de atos supostamente iniciáticos.

Muito mais havia a dizer neste aspecto. Na realidade, realçamos com frequência o Iniciatismo da Ordem Maçônica, orgulhamo-nos que isso assim seja, cultivamos muito cuidadosamente os rituais de Iniciação, mas esquecemo-nos daquilo que eles têm implícito. Sem sombra de dúvida, obedecemos a todos os padrões e regras fundamentais dos ritos iniciáticos, tal como estão imutavelmente definidas desde os tempos clássicos de Van Gennep:

A privacidade dos ritos.

O seu significado especial para um grupo de indivíduos.

A sua apresentação de forma teatralizada.

A sua realização sobre a forma de experiência participativa.

Tudo isto nos define como uma Sociedade Iniciática, a última que persiste no Mundo Ocidental. Retire-se-lhe o conceito Sagrado, e o que é que resta?

Uma paródia, uma cegada, uma brincadeira de crianças crescidas, diria mesmo uma espécie de festa de recepção aos calouros… Aqueles que conhecem as iniciações das Maçonarias Irregulares sabem bem como elas tem tendência a transformar-se em comédias mais ou menos a garotadas, tentação essa que às vezes infelizmente também se verifica por errada tradição nas Maçonarias Regulares.

Refiro-me explicitamente a alguns comportamentos cuja ligeireza é por vezes lamentável e que traduz apenas uma fraca convicção do sentido sagrado da cerimônia, quando não a sua total incompreensão.

É que não basta afirmar num papel a condição de crente para se poder ser Maçon. É preciso, sim, ter condições para cumprir o primeiro e mais fundamental dos Landmarks e acreditar verdadeiramente na existência de Deus.

E eu confio inteiramente nos meus Irmãos. Sei que hão de vencer as forças sociais que modernamente obstaculizam a fruição dos valores espirituais e hão de prosseguir com a valorização do nosso indestrutível patrimônio de iniciatismo, em Espaço e Tempo Sagrados, no Templo que dia a dia todos construímos.

Fernando Teixeira – Antigo Grão-Mestre da GLLP/GLRP

Bibliografia

Mellor, Alec – Os Grandes Problemas da Atual Franco-Maçonaria, Ed. Pensamento, S. Paulo Bailey, Foster – L’ Esprit De La Maçonnerie, 1957, A. Lucis Trust, Genéve

 

PEDRA FILOSOFAL E MAÇONARIA


 

Obter uma pedra filosofal era um dos principais objetivos dos alquimistas em geral na Idade Média. Com ela, o alquimista poderia transmutar qualquer “metal inferior” em ouro. Ela pode ser compreendida como um símbolo para a elevação da consciência.

Com uma pedra filosofal, também seria possível obter o Elixir da Longa Vida, que permitiria prolongar a vida “indefinidamente” bem como transmutar seres do reino científico-biológico (reino animal) sem sacrificar algo que dê um valor considerável em troca.

Busca por pedras filosofais são, em certo sentido, semelhantes à busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. No seu romance Parsifal, Wolfram Eschenbach associa o Santo Graal não a um cálice, mas a uma pedra que teria sido enviada dos Céus por seres celestiais e teria poderes “inimagináveis”.

A atividade relacionada com a pedra filosofal era chamada pelos alquimistas de “A Grande Obra”

Ao longo da história, criações de pedras filosofais foram atribuídas a várias personalidades, como Paracelsus e Fulcanelli, porém é “inegável” que a lenda mais famosa se refere a Nicolas Flamel, um alquimista real que viveu no Século XIV.

Segundo o mito, Flamel encontrou um antigo livro que continha textos intercalados com desenhos enigmáticos. Porém, mesmo após muito estudá-lo, Flamel não conseguiria entender do que se tratava. Segundo a lenda, ele teria encontrado um sábio judeu numa estrada em Santiago na Espanha, que fez a tradução do livro, que tratava de cabala e Alquimia, possuindo a fórmula para uma pedra filosofal. Por meio deste livro, Nicolas Flamel teria conseguido fabricar uma pedra filosofal.

Segundo a lenda, esta seria a razão da riqueza de Flamel, que inclusive fez várias obras de caridade, adornando-as com símbolos alquímicos. Ao falecer, a casa de Flamel teria sido saqueada por caçadores de tesouros ávidos por encontrar pedras filosofais. A lenda conta que, na realidade, ambos, Flamel e a sua esposa, não faleceram, e que nas suas tumbas foram encontradas apenas as suas roupas no lugar dos seus corpos.

Uma pedra mágica que chamou a atenção até mesmo do maior mago das trevas de todos os tempos, Harry Potter, datando de centenas de anos atrás.

O que é a Pedra Filosofal em Harry Potter?

Segundo os livros de Harry Potter, a pedra filosofal é uma pedra artificial com poderes mágicos capazes de transformar qualquer material em ouro puro e de produzir o Elixir da vida. Foi criada pelo bruxo Nicolas Flamel.

A pedra filosofal, no entanto, não é uma invenção de J.K. Rowling para a série de livros de Harry Potter. Por muitos anos várias pessoas tentaram criar essa substância tão incrível, tais pessoas eram conhecidas como alquimistas. Tudo que possuíam para buscar a criação da pedra era a concepção teórica de que ela existiria, e as especulações de alquimistas do passado de como obtê-la.

De acordo com textos medievais, a pedra filosofal seria uma combinação dos quatro elementos clássicos, fogo, terra, água e ar. Teria a forma cristalina, parecida com vidro, e apresentar-se-ia em duas cores.

A branca seria usada para transmutar metais em prata, e a vermelha para transmutar em ouro. A pedra branca era considerada numa versão imatura da vermelha. Outras características da pedra são reveladas como mais pesada que o ouro, solúvel em qualquer líquido e nunca consumida pelo fogo.

A pedra também teria a capacidade de criar uma lâmpada que nunca se apaga, reviver plantas e transformar cristais comuns em pedras preciosas.

A busca pela pedra filosofal era conhecida como Magnum Opus (A Grande Obra), e muitos alquimistas dedicavam as suas vidas em busca dessa substância. O Magnum Opus era descrito como quatro estágios para alcançar a pedra filosofal, descritas por cores e cada uma correspondendo a um processo diferente.

Os Alquimistas possuíam outros objetivos além da transmutação de metais em ouro. Uma das suas buscas mais conhecidas era a produção de um remédio capaz de curar todas as doenças, chamado de Panaceia. Outra era a produção do solvente universal, que pudesse dissolver qualquer substância.

O Hermetismo (Hermes Trismegisto – Legislador e Filósofo egípcio) é uma tradição religiosa, filantrópica, filosófica e esotérica baseada principalmente nos escritos atribuídos a Hermes. Este escritor influenciou grandemente a tradição esotérica ocidental e foi considerado de grande importância durante o Renascimento e a Reforma.

Nem sempre o homem utiliza a linguagem escrita ou falada para expressar os seus pensamentos e sentimentos.

Não raro ele utiliza sons ou imagens que têm um sentido intrínseco e precisa ser conhecido pelo destinatário da mensagem.

Na Maçonaria, a Alquimia é espiritual, é um método e um processo esotérico para transformar a natureza inferior do homem em algo mais refinado, mais espiritual, com maior compreensão de si mesmo e dos misteriosos significados da vida.

O objetivo dos Alquimistas era a criação da Pedra Filosofal. Na Maçonaria, a proposta é transformar a pedra bruta em polida, esquadrejada.

Tanto num quanto na outra, a proposta última é a purificação.

Metaforicamente, o caminho simbólico da Maçonaria consiste em, partindo da pedra bruta, chegar-se-á Pedra Filosofal.

O homem nasce para levar a vida a efeito, mas tudo depende dele, que pode deixar que ela escape. Envelhecer, qualquer animal é capaz disso. Crescer é prerrogativa dos seres humanos. Só alguns reivindicam esse direito.

A Alquimia Hermética ou filosófica, não é o conhecido conceito da transmutação do chumbo em ouro. Trata-se, na verdade, da transformação de si mesmo. Isto é possível quando se compreende a verdadeira natureza do si mesmo e se tem a firme compreensão de que é em essência, um ser divino.

O homem não é um mero produto da natureza. Ele deve e pode aprimorar-se a si mesmo para manifestar o seu verdadeiro potencial divino, transmutando a  sua natureza quotidiana comum, com a natureza divina completa que ele realmente é.

Podemos concluir, então, que, na ausência da possibilidade de explicar a natureza esotérica da Maçonaria, sem recorrer aos seus símbolos, é necessário considerar o paralelismo com os símbolos alquímicos.

José Maria de Oliveira Fontes – MI – 32º Ponte Nova – MG

Fontes

Wikipédia

Ernesto Veras

 


OS QUATRO ELEMENTOS


 

Os quatro elementos conhecidos na Antiguidade eram: o ar, o fogo, a água e a terra.

Em todas as teorias cosmogônicas do mundo antigo, existe a ideia de um elemento primordial, do qual derivariam todos os demais elementos.

O mais antigo conceito relativo a essa ideia é aquele associado aos trabalhos do sábio grego Thales, de Mileto, que considerava a água como elemento fundamental.

Na Grécia mesmo, todavia, muitos filósofos defenderam ideias diferentes.

Anaxímenes afirmava que o elemento primordial era o ar, já que ele podia ser condensado, formando nuvens e chuvas, cujas águas, evaporando, formavam, novamente, o ar, deixando um resíduo sólido de terra.

Heráclito,com base no mitraismo persa, que via a manifestação do poder divino no fogo, defendia a teoria desse elemento, afirmando que tudo, no mundo, está em constante transformação e que o elemento que pode provocar as mais intensas transformações é o fogo.

Feresides escolheu, como fundamental, o elemento terra, pois, afirmava ele, ao se queimar um corpo sólido, obtém-se água e ar.

Aristóteles, finalmente, defendendo uma concepção de Empédocles, afirmava que esses quatro elementos eram fundamentais e que todos os corpos eram formados por combinações deles.

Todavia, assim como os antigos discípulos de Zoroastro, ou Zaratustra, na antiga Pérsia, os hermetistas, os alquimistas e os Rosacruzes consideravam o fogo como o símbolo da divindade, já que, esotericamente, ele é o único elemento cósmico, daí as denominações de fogo fluídico (o ar), fogo líquido (a água), fogo sólido (a terra), e fogo sideral (o próprio fogo), dadas aos quatro elementos.

A Cabala hebraica aplica a expressão fogo branco ao Infinito Incognoscível de Deus (o Ein Soph) e a expressão fogo negro à sabedoria e à luz absoluta (a cor negra é o resultado da absorção de toda a luz).

Os antigos rosacruzes possuíam uma cerimônia chamada fogo novo, que era celebrada no sábado de aleluia, em homenagem à ressurreição de Jesus.

Tudo o que existe é filho do fogo e é através dele que tudo se renova; daí a máxima hermética Igne Natura Renovatur Integra (o fogo renova toda a Natureza), cujas iniciais, I.N.R.I., já foram usadas com diferentes sentidos, inclusive pelo cristianismo.

As ideias de Aristóteles, básicas para a alquimia e úteis na astrologia, eram ensinadas nas escolas de pensadores de Alexandria, no Egito.

Nela, se deu a fusão entre as práticas egípcias e as teorias gregas, mais tarde desenvolvidas pelos Árabes.

Estes, ao conquistar, em 642 a.C., o Egito, trouxeram, para o Ocidente, a nova contribuição à cultura da época.

José Castellani MM

 

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