A ACÁCIA NA MAÇONARIA


 

Não vamos entrar em discussão sobre as centenas de espécies de acácia, pois esse não é o objetivo. Tendo a acácia na maçonaria um papel simbólico, a espécie de acácia pouco nos importa. Vamos ao que interessa:

Como sabemos, os judeus sofreram forte influência dos egípcios durante o tempo em que estiveram naquele território. Assim, muitos traços culturais, sociais e religiosos do Egito Antigo foram incorporados pelos judeus. Como exemplos, podemos citar a lenda de Anúbis, filho ilegítimo jogado no rio e posteriormente encontrado por uma rainha que o cria, e a lenda da arca do dilúvio, as quais foram recontadas pelos judeus e tiveram seus protagonistas rebatizados com nomes judaicos: Moisés e Noé.

O mesmo se deveu com a acácia, árvore sagrada dos egípcios e adotada pelos judeus. A acácia era matéria-prima para a produção de artigos sagrados no Egito, adotada pela sua alta densidade e durabilidade, não sofrendo ataque de insetos. Sua goma (conhecida popularmente como “goma arábica”) era utilizada nas cerimônias sagradas de mumificação.

Parece que os judeus aprenderam essa lição, pois a acácia foi a madeira indicada para a construção de todos os importantes objetos sagrados, como no tabernáculo, nos altares, e na arca da aliança. O fato de seu uso estar mais concentrado no “Êxodo” e aos poucos ser substituído pelo cedro e cipreste, confirma essa teoria da influência egípcia.

Até aí tudo bem, mas de onde sairia a inspiração para relacionar a acácia com a lenda de Hiram Abiff

Basta recorrermos a uma das principais lendas egípcias: a lenda de Osíris.

Seth odiava Osíris, que era tido como sábio e poderoso, então resolveu matá-lo. Ele fez um belo caixão com as exatas medidas de Osíris e convidou as pessoas para um jogo: aquele que se encaixasse perfeitamente no caixão, ganharia o mesmo de presente. Logicamente, quando a vez de Osíris chegou, o caixão era perfeito, e Seth e seus cúmplices trancaram Osíris dentro do caixão e o jogaram no rio. Sua mulher, Ísis, o procurou por muitos dias. O caixão havia encalhado e sobre ele havia brotado uma… acácia. A acácia serviu de indicação para que Ísis encontrasse o corpo de Osíris. Por essa lenda, Osíris é considerado o deus da morte e da imortalidade da alma.

Um corpo sob uma acácia e os ensinamentos sobre a morte e a imortalidade da alma soam familiar?

Daí a atribuir à acácia também o significado de segurança, clareza, inocência e pureza, como alguns autores querem, é forçar demais. Deixemos para a acácia sua bela missão de simbolizar a vida após a morte, assim como herdamos dos egípcios. Isso já é o bastante para um único símbolo.

Kennyo Ismail é escritor, tradutor, professor universitário, editor e um importante intelectual maçônico do Brasil.

AZUL, A COR MAÇÔNICA


 

Muitas vezes falamos de “Loja Azul” e de “Maçonaria Azul”, mas será que realmente entendemos o seu significado e a sua origem? Refiro-me ao uso da cor “azul”, juntamente com Loja ou Maçonaria.

Somos ensinados que o azul se refere à abóbada celeste e ensina a universalidade da Maçonaria. Isto é verdade e eu não iria criticar este ensinamento, mas gostaria de acrescentar e ampliar o nosso pensamento sobre a cor azul e o seu simbolismo na Maçonaria.

Apropriadamente é a cor dos graus do Antigo Ofício. Ele ensina que é o símbolo para a amizade universal e benevolência universal, como é a cor da abóbada do céu, que abraça o mundo, por isso cada Irmão Maçom deve ser igualmente extensivo nas suas virtudes de companheirismo e amor fraterno.

Entre os antigos judeus o manto do éfode do sumo sacerdote, a fita do seu peitoral e a placa da mitra eram azuis. O povo da nação judaica foi obrigado a usar uma fita azul acima da orla das suas vestes e esta foi a cor de um dos sete véus do templo.

Flávio Josefo diz-nos que a palavra hebraica para Azul era “tekelet” e que simbolicamente significa perfeição. Entre os Antigos, ser iniciado nos Mistérios era um caminho para atingir a perfeição e que falando na Maçonaria o azul, que também significa perfeição, também é utilizado para as nossas Lojas Simbólicas.

Entre os druidas simbolizava “verdade”. Os egípcios consideram o azul como uma cor sagrada, significando natureza celestial. Jeremias diz que os babilónios vestiam os seus ídolos de azul, e os chineses na sua filosofia mística o “azul” representou o símbolo da Divindade. Os hindus afirmam que o seu Deus, Vishnu, foi vestida de azul celeste, indicando assim que a sabedoria de Deus foi simbolizada por esta cor.

Entre os cristãos medievais o azul foi considerado o emblema da imortalidade, como o vermelho era do Amor Divino de Deus.

A cor azul é usada extensivamente nos graus do Rito Escocês, com vários significados simbólicos; tudo, no entanto, mais ou menos relacionada ao seu carácter original como representando amizade universal e benevolência.

No Grau 19 (Grande Pontífice), o azul é símbolo de brandura, da fidelidade, da mansidão. No grau 20 (Mestre “ad Vitam”) é usada juntamente com o amarelo e refere-se ao aparecimento do Senhor a Moisés no Monte Sinai nas nuvens de azuis e douradas. No 24° grau (Príncipe do Tabernáculo) é a cor da túnica e do avental de um Príncipe do Tabernáculo, cujos ensinamentos se referem à nossa mudança a partir desta casa de barro para a “casa não feita por mãos, mas a eterna morada nos céus”. Aqui é um símbolo do céu, como nos foi ensinado na Loja Simbólica.

Aprendemos, portanto, que pelo costume e simbolismo e não por qualquer lei aprovada ou estatutos, usamos azul ao referir uma Loja Simbólica como uma “Loja Azul”.

Autor: Foster H. Garret Tradução de Luiz Felipe Roszenweig

 

QUEM FOI BOAZ E O QUE ELE REPRESENTA PARA A MAÇONARIA


 

Na abertura dos trabalhos maçônicos no grau de aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, a Palavra Sagrada que é colhida do Venerável Mestre sussurradamente e silabada ao ouvido do irmão Primeiro Diácono é levada até o irmão Primeiro Vigilante, localizado no Ocidente, que a recebe e, da mesma forma seguindo a sequência, a transmite ao irmão Segundo Vigilante, localizado ao Sul, através do irmão Segundo Diácono.

Ao final desse procedimento ritualístico os Vigilantes informam ao Venerável Mestre que tudo está justo e perfeito em ambas as colunas, a palavra permanece intacta.

A Palavra Sagrada que é transmitida do Oriente para o Norte e o Sul é “Boaz ou Booz”, dependendo do ritual de cada potência maçônica, as quais possuem o mesmo significado. Mas afinal, o que vem a ser Boaz, qual o significado simbólico desta palavra para a Maçonaria e o que de fato ela representa?

No Dicionário Maçônico do nosso saudoso e memorável irmão Rizzardo da Camino Boaz é definido como[1]:

“... nome de um personagem bíblico, sem significado maçônico; contudo, é o nome dado à Coluna de ingresso ao templo que, tecnicamente, deveria ser colocada no Átrio; trata-se da Coluna “B” e a tradução do hebraico significa: “na força”. Também é a palavra de “passe” que é soletrada na forma convencional, obedecendo a um ritual litúrgico, que constitui uma parte sigilosa...”

Como pôde ser observado, de acordo com a definição descrita por Camino, a palavra Boaz possui, a princípio, três significados básicos; todavia, um dos conceitos citados acerca dessa curiosa palavra nos instiga a pensar e refletir: será mesmo Boaz apenas um personagem bíblico sem nenhum significado maçônico?

Teria mesmo o grande rei Salomão, profundo conhecedor da saga histórica de seus antepassados, famoso por sua elevada espiritualidade e genial sabedoria, escolhido aleatoriamente este nome para uma das suntuosas Colunas que guarneciam a entrada do grandioso templo de Jerusalém dedicado ao Deus de Israel?

A história de Boaz encontra-se narrada no livro de Rute que compõe a coletânea dos livros que constitui o Livro da Lei. Após tornar-se viúva e ainda jovem, Rute, uma mulher moabita que fora casada com um judeu, acompanha sua sogra Noemi de volta a Israel e conhece Boaz, primo de seu falecido esposo, que de acordo com as tradições daquela época tinha direito de resgate sobre ela, ou seja, por ser Rute uma mulher viúva de um parente próximo e que não teve filhos, Boaz poderia desposá-la casando-se com ela.

Após uma série de acontecimentos que se seguem narrados no referido livro, Rute e Boaz se casam e geram um filho que recebe o nome de Obed o qual é educado por Noemi, sogra do primeiro casamento de Rute que amavelmente fora acolhida por Boaz e os acompanhou por toda a vida.

Boaz era membro descendente da Tribo de Judá, uma das ramificações das doze tribos de Jacó; ele era filho de Salmon com Raab. Salmon era filho Naasson que era filho de Aminadabe que era filho de Arão que era filho de Esrom que era filho de Perez que era filho de Judá, o quarto filho de Jacó com Lia.

Segundo as Escrituras Sagradas, Rute era uma mulher predestinada a dar continuidade à descendência da tribo de Judá através de seu falecido esposo Maalon, filho de Noemi com Elimeleque; mas devido ao seu infortúnio, o Senhor a fez acompanhar sua sogra Noemi de volta às terras de Israel, cenário onde tudo deveria se passar e conhecer Boaz que, além de ser um parente próximo de Maalon, também era da mesma linhagem, o que possibilitou que se realinhassem os desígnios de Deus e gerassem Obed, aquele viria a ser o pai de Jessé que gerou o rei Davi o qual foi o pai do rei Salomão cuja descendência, após 990 anos, gerou, através de Maria e José, Jesus Cristo, o Messias.

É fácil percebermos, diante de tudo o que foi narrado, que Salomão teve razões suficientes para atribuir à Coluna “B” o nome de seu trisavô Boaz, uma vez que esse realinhou a árvore genealógica de Judá figurando assim como uma coluna que guarnece a passagem para o primeiro passo a se iniciar nos augustos mistérios maçônicos.

Boaz simboliza o consolidador, aquele que estabelece o ressurgimento de algo que parecia estar perdido, mas que foi resgatado para dar continuidade a um propósito previamente traçado.

Sendo assim, não encaremos Boaz como um simples personagem bíblico sem significado maçônico, tenhamo-lo como aquele que trouxe a estabilidade. Os mistérios que envolvem a Maçonaria vão muito além de nossa simples compreensão.

Portanto, sigamos a diante com ânimos fortes e obstinados na investigação constante da verdade que é um dos objetivos máximos que impulsionam a nossa sublime instituição através dos tempos. B-O, A-Z: Boaz!

 

Trabalho maçônico concluído em 27/09/2019 pelo Ir.’. Murilo Américo da Silva, membro da A.’. R.’. L.’. S.’. Onofre de Castro Neves nº 2.555, Or.’. Carangola/MG.

 



[1] Dicionário Maçônico. Ed. Masdras. da Camino, Rizzardo. 2018

O PROCESSO DE ADMISSÃO NA MAÇONARIA (GOB) E A LEI DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD


 

O objetivo do singelo texto é iniciar reflexões sobre a aplicabilidade da Lei Geral de Proteção de Dados- LGPD na maçonaria, conforme sugerido por um irmão, num grupo de WhatsApp, cujo nome omito, por prudência e coerência pedagógica, mas cito suas iniciais: R.B., do Oriente de São Paulo.

O processo de admissão na Maçonaria, em particular, no Grande Oriente do Brasil – GOB é sigiloso (Art. 11, do RGF), todavia, as informações do candidato são “públicas”, ou seja, é de conhecimento de “todos” no meio maçônico e são noticiadas, informadas e lidas na Lojas que compõem a Federação e algumas vezes, são informadas as outras Lojas e Potências do Oriente no qual a Loja possui sua sede. Também lhe é dada publicidade por meio de Publicação no veículo oficial de publicidade da Potência, no caso do GOB, nos Boletins Oficiais. A publicação tem por escopo possibilitar que sejam apresentadas oposições ao candidato (Art. 13, do RGF).

Tal procedimento envolve a circulação de um grande volume de dados pessoais. Por dados pessoais deve-se adotar a definição prevista inciso I, do artigo 5º, da LGPD, que é a "informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável" e ainda os dados pessoais sensíveis, definido no inciso II, do artigo 5º, assim definido, verbis: "dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural".

Por mera lógica, a utilização, o tratamento, a divulgação dos dados pessoais do candidato no contexto do processo de admissão na Ordem precisa seguir e atender necessariamente, no que aplicável, os princípios elencados pela LGPD, a saber: finalidade (art. 6º, inc. I); adequação (artigo 6º, inc. II); necessidade ( artigo6º, inc. III); livre acesso (artigo 6º, inciso IV); qualidade (artigo 6º, inciso V); transparência (artigo 6º, VI); segurança (artigo 6º, VII); prevenção (artigo 6º, VIII); não discriminação (artigo 6º, IX) e; responsabilização e prestação de contas (artigo 6º, X).

Pedagogicamente, convém destacar que a proteção jurídica da intimidade e da privacidade preexistia a LGPD, constituindo numa das expressões mais significativas dos direitos da personalidade, sendo assegurada pelo inciso X, do artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Verbis: “X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”.

Nesse sentido, num juízo preliminar, pode-se elencar três pressupostos legais para o acesso, compartilhamento e utilização dos dados pessoais do candidato:

1 – O consentimento, que deve ser livre, informado, esclarecido, inequívoco e específico, notadamente se o candidato possuir dados pessoais sensíveis. Assim, urge que sejam feitos análises e estudos quanto a necessidade de alterações na legislação gobiana e no procedimento de admissão, de forma a exigir como um dos documentos que devem fazer parte do processo de admissão (Art. 5 º do RGF) o Consentimento livre, esclarecido, inequívoco e específico, bem como conter ainda a informação o candidato é uma pessoa politicamente exposta.

2 – O legítimo interesse, destarte, faz-se necessária a prévia definição por parte da Potência/GOB por meio do Poder ou órgão competente, a necessidade, finalidade e adequação dos dados dentro do contexto do processo de admissão e o

3- O atendimento do dever legal que é a necessidade daquele que colhe, obtém, armazena, etc., os dados de terceiros (no caso candidatos), de atender o art. 18, da LGPD, que compreende no direito de o candidato obter da Potência/GOB informações em relação seus dados, destaque-se, aprovada ou não sua admissão na Ordem.

Tal texto é apenas o pontapé inicial, não visou exaurir o tema e nem fixar “verdades absolutas” notadamente, num campo tão fértil de ideias, pensamentos e confusões entre Ritos, rituais e todo ordenamento jurídico a que estão sujeitas as Potências Maçônicas sediadas no Brasil.

Neste momento o importante é refletir sobre o impacto da LGPD no processo de admissão e também em outros, para que as Potências e Lojas aprimorem suas normas e adotem providências no sentido conferir tratamento adequado, responsável e seguro aos dados pessoais de todos, bem como para que a pessoa titular de dados tenha informações sobre seus direitos e a segurança que seus dados estão protegidos e utilizados sem desvio de finalidade, tudo isso com o escopo de evitar responsabilizações futuras.

Eventual imprecisão, obscuridade ou omissão serão sanadas com a ajuda, reflexão e comentários adicionais decorrentes da leitura deste texto.


C.A.M. e TFA

Ir.´. Marcelo Artilheiro

Joinville (SC), 25 de maio de 2023

 

O GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO (GADU)


 

Grande Arquiteto do Universo (GADU), é o Termo utilizado pelos maçons para designar a Divindade Suprema. Este termo é um conceito criado pelos maçons espiritualistas do século XVIII, que fizeram a transposição da Maçonaria operativa para a especulativa [1].

Isto significa enxergar Deus como uma Entidade que “pensa” o universo e entrega a sua construção para anjos e homens como seus delegados.

Desta forma, os anjos são os mestres (chamados demiurgos) e os homens são os operários (obreiros). Esta é uma concepção derivada dos ensinamentos da Cabala e da Gnose cristã, e foi introduzida na Maçonaria pelos chamados “pensadores rosa-cruciamos”, que em fins do século XVII ingressaram na Ordem como “maçons aceites” [2].

Este conceito integra a noção de Deus como autor do universo (Supremo Arquiteto) e as tradições dos antigos construtores medievais, que viam nas igrejas por eles construídas verdadeiras réplicas do cosmo [3]. Esta concepção também está fundamentada na Bíblia, através da construção do Templo de Salomão, que segundo os maçons medievais, teria sido construído com instruções ditadas por Deus ao rei Salomão e o seu arquiteto Hiram Abiff. Esta sabedoria secreta, conhecida somente por Salomão, Hiram e Adonhiram (encarregado das obras), estaria contida na geometria, nos símbolos, nos adereços e nas formas arquiteturais daquele Templo [4].

Além da sabedoria secreta contida na Arquitetura, haveria também um outro segredo que o GADU segredou somente à Moisés. Este segredo destinar-se-ia à construção de uma sociedade perfeita (O reino de Deus na terra, que seria a nação de Israel) e ao aperfeiçoamento do carácter do homem, para que este pudesse recuperar o estado de perfeição que possuía antes da queda.

Esta sabedoria estaria contida nos cinco livros da Torá, de forma camuflada em nomes, acontecimentos, números e parábolas [5].

Moisés escreveu as leis e os mandamentos que o povo deveria seguir, mas o verdadeiro significado daqueles mandamentos e dos rituais que ele prescreveu ao povo de Israel, constitui uma sabedoria secreta que ele transmitiu de forma oral aos mestres de Israel [6].

Mais tarde, os sábios de Israel a desenvolveram nos ensinamentos da Cabala e nos comentários do Talmude. Os filósofos do cristianismo místico a completaram com os ensinamentos de Jesus, e como resultado dessa interação nós temos hoje a doutrina conhecida como Gnose [7].

Segundo a tradição esotérica, a Cabala teria sido instituída pelo GADU como forma de comunicação entre os anjos. Era, portanto, uma espécie de linguagem utilizada pela primeira criação divina, antes mesmo Dele pensar em criar a humanidade.

Segundo os ensinamentos da Cabala, antes de Deus fazer o homem, os anjos formavam uma espécie de Irmandade, ou escola teosófica, sediada no Éden, chamada Fraternidade dos Elohins. Depois da queda, alguns desses anjos a ensinaram aos homens para que estes pudessem interpretar a linguagem divina e conhecer a verdadeira vontade de Deus, e assim poder voltar, um dia, ao estado de beatitude e perfeição que possuíam antes da queda [8].

Somente alguns poucos homens, em cada geração, receberam este conhecimento. Entre eles, Adão e seu filho Seth, que a passaram aos seus descendentes Enoque, Noé e Abraão. Esta lenda é desenvolvida na Maçonaria dos graus superiores como representação pictórica e simbólica da transmissão da sabedoria aos homens. Na verdade, trata-se da explicação de como o processo de aquisição da consciência por parte do ser humano aconteceu, e como ele se desenvolveu ao longo do tempo. É uma alegoria de profundo conteúdo esotérico, mas que também se apoia em trabalhos científicos de muito respeito [9].

João Anatalino Rodrigues

Do livro “Construtores do Universo”

Notas

[1] Maçonaria operativa é aquela formada pelos pedreiros medievais. Eles formavam guildas, ou associações que mantinham em segredo os seus conhecimentos e só os transmitiam de forma muito restrita, e mesmo assim, através de uma linguagem só conhecida pelos iniciados.

Maçonaria especulativa são as associações que se formaram em fins do século XVII, pela admissão, entre os pedreiros, dos chamados “maçons aceitos”, ou seja, pessoas não ligadas ao ofício da construção.

[2] Os “maçons aceitos” eram principalmente filósofos e alquimistas, perseguidos pela Igreja em razão da Reforma Protestante e a Inquisição.

[3] A este respeito veja-se Fulcanelli, O Mistério das Catedrais, Ed. Esfinge, Lisboa, 1968

[4] Estas prescrições estão na Bíblia, nas instruções dadas a Moisés para a construção do Tabernáculo, tenda usada pelos israelitas como santuário, antes da construção do Templo de Jerusalém. Com respeito à doutrina secreta contida na Bíblia, veja-se Northrop Frye – O Código dos Códigos – Ed Boitempo, 2004

[5] No alfabeto hebraico, cada palavra deve ser combinada com o seu número para dar o seu significado exato. O nome Jesus (Yeshua), por exemplo, equivale ao número 888, número considerado perfeito pela tradição cabalística.

[6] Os Dez Mandamentos e todas as prescrições e relatos contidos nos cinco livros de Moisés, conhecido como Pentateuco. (Génesis, Êxodo, Números, Levítico e Deuteronômio).

[7] Gnose quer dizer iluminação, ou seja, a conquista da salvação pelo conhecimento das verdades divinas.

[8] A queda é descrita na Bíblia como expulsão do casal humano do Éden. Segundo a doutrina da teosofia, antes da queda, homens e anjos viviam em harmonia, e havia uma intensa interação entre as duas espécies. A razão da queda foi a ambição humana de se apropriar do conhecimento secreto, e a disposição de alguns anjos (Elohins) de transmiti-lo ao homem.

Este acontecimento é descrito na Bíblia, através da metáfora da serpente que seduz Eva para que coma a maçã, e depois a ofereça à Adão. Esta metáfora, na verdade, relaciona-se com o despertar da consciência humana (primeiro ocorrida na mulher em razão da sua capacidade de gestação). A este respeito, ver as obras de Helena P. Blavatsky, Isis Sem Véu e Doutrina Secreta- Ed. Pensamento, 1987 e 1989.

[9] Estas teses são defendidas em vários estudos científicos, entre os quais podemos destacar os trabalhos do antropólogo alemão Bachoffen (O matriacarlismo e o patriarcalismo, Alemanha-1929) e o psicanalista austríaco Carl Gustav Jung nos seus estudos sobre os arquétipos que influenciam o inconsciente coletivo da humanidade. Sobre a relação deste tema com a arquitetura veja-se o interessante estudo de Alex Horne, O Templo de Salomão na Tradição Maçônica (Ed. Pensamento, 1988).

 

ARLS CARATINGA LIVRE Nº 0922


 

O povo, as nações, cada qual tem suas efemérides, suas datas comemorativas.

A formação dos países antigos, a descoberta de novos, a independência política são datas que ficam para a posterioridade, jamais serão esquecidas.

E nós Obreiros da ARLS CARATINGA LIVRE Nº 0922 “PORTADORA DA CRUZ DA PERFEIÇÃO MAÇÔNICA”, temos também, nossa história, escrita nos anais da nossa cidade, e na nossa Ordem Maçônica. 

NOSSA HISTÓRIA 

Em 14 de agosto de 1912, nasceu do idealismo de muitos homens que já pertenceram à maçonaria, hoje glorificando-se no Oriente Eterno, embora tenham ingressado em outras cidades, inclusive Manhuaçú, e, por coincidência, foi a ARLS UNIÃO DE MANHUAÇÚ, daquela cidade que patrocinou a criação e instalação da nossa CARATINGA LIVRE, e por isso é considerada nossa Loja-Mãe.

Quando dos primeiros anos de formação, a ARLS CARATINGA LIVRE, foi dirigida por vultos que fazem parte de sua história. É o caso, por exemplo, de João Evangelista de Azeredo Coutinho, farmacêutico de profissão, que doou este terreno para construção do primeiro Templo Maçônica da cidade de Caratinga.

Por isso, ARLS CARATINGA LIVRE, tem uma dívida de gratidão com a família COUTINHO. Muito do que somos hoje, devemos aos descendentes de João Evangelista, que por sinal, fez parte da primeira diretoria, já na época de sua fundação.

O prédio antigo, da Loja, foi demolido nos anos 60 do século XX, dando lugar ao atual, no mesmo endereço. Missão difícil, mas não impossível. Com a participação dos valorosos Irmãos daquela época, e com a liderança do nosso saudoso Sapientíssimo Jovino Guzela de Abreu, concluímos nossa meta, o novo prédio da nossa CARATINGA LIVRE, hoje denominado Edifício Maçônico Jovino Guzela de Abreu. 

ARLS CARATINGA LIVRE – RELIGIÃO - FILANTROPIA 

E demonstrando que a maçonaria pugna por um ser supremo que é o Grande Arquiteto do Universo, a Segunda Igreja Presbiteriana  de Caratinga , iniciou  suas atividades religiosas, em uma sala do nosso Edifício Maçônico, cedida sem ônus, de acordo com o testemunho do saudoso presbítero da 1ª Igreja de Belo Horizonte, maçom, Dr. Jayro Boy de Vasconcelos, então Juiz de direito, em Belo Horizonte, em sua obra intitulada “A Fantástica História da Maçonaria" 1º Edição – 1999 – pág. 60, por ter sido testemunha ocular do fato.

Na sua gloriosa caminhada a CARATINGA LIVRE tem desenvolvido trabalhos de grande importância a sociedade de Caratinga e região.  Muitas são as obras sociais, mas de todas elas, uma, pela sua excepcionalidade, vamos mencionar, é a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, movida pelo sentimento de solidariedade e pelo comprometimento com a causa humanitária, com a doação do terreno no fundo da Loja pelo Irmão Omar Coutinho.

A APAE, foi fundada aos 18 de maio de 1974, nas dependências do prédio da Loja Caratinga Livre, na gestão do Venerável Mestre Onofre Fernandes Rocha Filho, sendo sua 1ª Diretoria assim constituída:   Presidente:  Margarida Vilela Vieira (esposa do nosso Irmão Dr. Hugo Vieira). Vice-Presidente: Maria Rita Ribeiro Magalhães (esposa do Dr. Paulo Magalhães). Tesoureiro: Ir. Júlio Barbosa. Adjunto de Tesoureiro: Ir. Robson Leite de Matos. Secretário: Ir. João Guilherme. Adjunto de Secretário: Ir. Klinger Ferreira Penna. 

ARLS CARATINGA LIVRE E SUAS GERAÇÕES 

Da nossa ARLS CARATINGA LIVRE, surgiram as ARLS: OBREIROS DE CARATINGA, FRATERNIDADE ACADÊMICA DE CARATINGA e FILHOS DA ACACIA. 

A ARLS CARATINGA LIVRE E A FUNDAÇÃO DO GRANDE ORIENTE UNIDO 

De tantas participações gloriosas da nossa CARATINGA LIVRE, vamos relembrar uma, voltando o ano de 1948, exatamente no dia 17 de julho de 1948, no Templo da ARLS CAYRÚ Nº 762, no Oriente do Méier, Poder Central (da época) Rio de Janeiro, nossa CARATTINGA LIVRE, ali estava na presença do nosso saudoso IR. ADOLFO DE SOUZA REZENDE, juntamente com mais 29 representantes de Lojas, entre elas: Comércio e Arte (Rio de Janeiro), União Cosmopolita (Ponte Nova), Esperança do Arquiteto (Raul Soares), Verdadeira Caridade (Carangola), Nilo Peçanha (Guassui/ES), para discutirem e aprovarem a Constituição do GRANDE ORIENTE UNIDO, criado em 13 de março de 1948, pelos nossos saudosos Irmãos: Álvaro Palmeira, Osmane Vieira de Resende e Moacyr Arbex Dinamarco.

No início de 1950, a Grande Loja do Brasil era absolvida pelo Grande Oriente Unido. Essa fusão duraria até 1956, quando Palmeira era o seu Grão-Mestre. A 22 de dezembro desse ano, pelo Decreto nº 1767, era aprovado o Convênio para incorporação e reincorporado, ao Grande Oriente do Brasil, das Lojas do Grande Oriente Unido, com base no tratado ajustado a 27 de fevereiro de 1954, que havia sido acertado entre o Grão-Mestre do GOB, Almirante Benjamim Sodré, e Leonel José Soares.

Esse Convênio foi assinado no mesmo dia 22 de dezembro, pelo então Grão-Mestre, Ciro Werneck de Souza e Silva, e pelo Grande Secretário, Antônio Astorga, representando o GOB, e pelo Grão-Mestre Álvaro Palmeira e pelo Grande Secretário Aberlado Albuquerque, representando o Grande Oriente Unido. Retornando assim todas as Lojas ao GOB, sendo que em 1963, era eleito Grão-Mestre do GOB, o IR. ÁLVARO PALMEIRA.

  
SERGIO LUIZ CARVALHO
MI. CIM. 109422

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