Após algumas reuniões e
momentos de estudo, utilizando apenas do que foi apresentado para o grau, além
das observações cotidianas do convívio prazenteiro de uma Loja Regular, um
aprendiz está apto a apresentar suas primeiras impressões sobre o processo
de iniciação, principalmente sobre a cerimônia que concede o titulo
de Aprendiz Maçom e as transformações ocasionadas pela sua entrada e
frequência na ordem iniciática.
Ao entrar para a
maçonaria o profano passa por um longo e minucioso processo de admissão,
dividido em quatro etapas distintas. Esse processo tem por objetivo
conhecer bem o postulante à insígnia de aprendiz maçom.
O processo de escolha de
um candidato, principalmente aos olhos deste, pode ser considerado algo
demasiadamente moroso. Contudo esse tardo no desenrolar no cumprimento
fidedigno das etapas, constitui-se de elementos fundamentais para uma
escolha coerente e responsável de um futuro membro da irmandade.
O postulante à
insígnia de aprendiz maçom, por sua vez, precisa se manter
discreto durante todo o processo de escolha. Não se pode deixar que a
euforia do convite se transforme em convicção de aceitação pela ordem.
Quanto mais circunspecto for o candidato, menor a chance de decepção deste
em caso de uma possível rejeição ao seu nome.
É importante também
salientar que o candidato não deve agir de forma obsedante, a fim de
forçar e/ou acelerar o rito normal das etapas
de escolha/aceitação/iniciação. A utilização de um parco espaço de tempo
na concretização das etapas e do procedimento como um todo, aumentaria
consideravelmente a probabilidade de uma escolha equivocada.
Ao citar a palavra processo,
que tem a sua origem no latim procedere, que por sua vez
significa ‘mover adiante, avançar’, o faço de modo proposital, a fim de
deixar bem claro a importância de uma escolha bem sucedida e consequente
aceitação de um candidato indicado. Do contrário corre-se o risco
de acolher um candidato que não trará bons fluídos para a “irmandade”.
De uma
forma análoga, quero dizer que uma “erva daninha” pode causar a
deterioração do seu hospedeiro, levando-o ao enfraquecimento e/ou a morte.
Diante dessa premissa, é necessário seguir as etapas que antecedem as
“provas de iniciação” com rigor, coerência e responsabilidade, não
permitindo queimar etapas ou acelerar o seu desenvolvimento.
A escolha e aprovação de
um candidato devem passar necessariamente por uma avaliação criteriosa de
qualidades importantes e inerentes ao ser humano. Contudo, não se deve
destacar o caráter, a honestidade e a honra como sendo
características indispensáveis ao candidato indicado, pois, tais
qualidades devem ser entendidas como uma obrigação de todo e qualquer ser
humano em pleno gozo de suas faculdades mentais e consciente de suas
responsabilidades e obrigações frente à sociedade que vive.
Para poder fazer parte da
ordem iniciática, e frequentar uma Augusta e Respeitável Loja Regular, não
basta apenas o candidato indicado ser um homem de bons costumes, acreditar
em um Princípio Criador, ser solidário, gozar de boa saúde física e
financeira.
É preciso, sobretudo, amar a pátria, respeitar os princípios fundamentais do Estado democrático de Direito, que encontram as mais sublimes inspirações nos ideais da Revolução Francesa (1789-1799), e
no tão pujante lema, liberté, égalité, fraternité.
É preciso também que o
pretenso candidato deixe florescer em seu coração um desejo candente de
mudanças, que seja capaz de cavar masmorras aos mais profundos e nocivos
vícios, lutando diariamente contra toda e qualquer forma de
perversão, degradação ética e moral, corrupção, depravação em todos
os sentidos, desregramentos, libertinagem, bem como contra toda
dependência física ou psicológica que possa corromper o homem e suas
virtudes.
Após a iniciação, e
passada a euforia do momento, um aprendiz necessariamente precisa desenvolver
uma disciplina de observações e estudos, pois, só assim se tornará um
maçom virtuoso. A lapidação da pedra bruta só acontecerá se o aprendiz for
capaz de compreender o que acontece em seu entorno.
Quando um profano aceita
o convite de um maçom para iniciar o processo que poderá levá-lo a fazer
parte da ordem iniciática e a frequentar uma Augusta e Respeitável Loja
Regular, inicia-se nesse momento uma conexão, direta e bilateral, entre a
irmandade (maçonaria universal), ciente e consciente do que é ser um
maçom, seus deveres e obrigações e um profano totalmente ignorante e
desconhecedor do que o espera.
Leigo em sua essência, o
profano inicia sua caminhada em direção ao desconhecido, completamente
desnudo de conhecimento sobre a ordem, inteiramente “pedra bruta”, ansioso
para ser lapidado e fazer parte de algo que não conhece.
Ao aceitar o
convite o profano assume o risco de uma caminhada, com ângulos e retas
bem distintas, que a princípio não fazem sentido e muito menos levam a
lugar algum, tamanho o desconhecimento do candidato.
Tal caminhada será feita
na mais completa escuridão, sendo permitido enxergar a luz somente ao
final desta, como um prêmio pela coragem e perseverança do candidato.
Diante de tamanha
incongruência entre as partes, como pode um profano querer fazer parte de
algo que não lhe és apresentado? O que motiva um homem envolto em um mundo
místico, cheio de vícios e preconceitos, aceitar um convite para fazer parte
de algo tão ignoto? A resposta para tantas perguntas não é tarefa fácil
para um aprendiz, talvez o desconhecido intimida ao mesmo tempo em que
fascina o profano. Talvez esse seja o segredo da longevidade da maçonaria.
Apenas suposições.
Ao longo do processo o
profano é movido pelos mais variados sentimentos, mas nenhum assusta mais
do que o medo do desconhecido.
Entre todas as etapas
nenhuma é mais gratificante ao mesmo tempo em que aterrorizante do que as
provas de iniciação. A escuridão que ofusca o candidato não só o deixa
cego para o mundo exterior, como também o leva a pensamentos singulares e
reflexivos. A cada passagem sentimentos, medos e dúvidas afloram frutos de
uma encenação quase dramática.
É inevitável não ter
medo, pois, o desconhecido assusta. O silêncio estarrecedor, quebrado
apenas por sussurros desconexos e enigmáticos, não deixa dúvidas de que algo
está acontecendo.
Tomado de uma pressão
psicológica, o profano completamente desorientado e embriagado por um
misto de emoções, fruto, sobretudo, de um teatro psicodélico,
ainda precisa terminar sua jornada, se assim quiseres fazer parte da
ordem. Sendo submetido ao juramento.
Terminada as provas é chegada
à hora mais surreal de todo o processo, quando o neófito vê a luz, uma
visão que leva o ex-profano ao mais sublime deleite, o desvendar de um
mundo desconhecido, uma emoção indescritível, que não se deve
ser transcrita, apenas sentida, pois, transcende o belo, e surpreende a
mais incrédula das criaturas, uma verdadeira recompensa por toda a espera
e provações.
Como prêmio por toda
bravura, perseverança e retidão, o agora aprendiz maçom assume seu lugar
na Coluna do Norte. Um mero aprendiz, ansioso para se embebedar de
conhecimentos e aprendizados.
Diante dos augustos
mistérios o profano até o último minuto antes de ver a luz se manteve “em
pé e á ordem”, mesmo desconhecendo o desconhecido. Ao alcançar seu prêmio,
o agora aprendiz, passa a ter real noção do que o espera.
Passa a entender
que não está aceitando fazer parte de uma ordem iniciática para ganhar
status e/ou lograr êxito em sua vida financeira, mas sim, quando de
coração, ele está aceitando uma mudança de vida de princípios, atitudes e
principalmente está assumindo um compromisso com uma nova e complexa
família, espalhada pelos mais distantes rincões desse planeta.
O aprendiz maçom será
parte viva de um instrumento, onde para se tornar um bom maçom deverá
buscar o aperfeiçoamento diariamente, em um exercício constante de
autocrítica e mudança de hábitos. Até se tornar um maçom de corpo e alma
o aprendiz terá que desbastar a “Pedra Bruta” cotidianamente,
“cavando Masmorras aos vícios e levantando Templos à Virtude”, processo que
pode levar uma vida inteira.
Ao final do seu primeiro
estágio, o aprendiz maçom passa a compreender perfeitamente que não foi
ele que escolheu ser maçom e sim
a maçonaria que o escolheu para ser um
dos seus. Uma simbiose única entre a perfeição sublime da maçonaria e a imperfeição
dos homens que vestem ternos e capas pretas.
Autor: Kleist Alan
Tameirão
*Kleist é aprendiz maçom
da ARLS Deus, Pátria e Família, nº154, situada no oriente de Corinto e
jurisdicionada à GLMMG.
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