Cometem crime, os escritores que publicam na íntegra, em seus livros, rituais maçônicos?
Aproveitando recente estada em Madri, Espanha, comprei vários livros sobre Maçonaria, escritos em espanhol. E em dois deles encontrei informações surpreendentes, que me fizeram lembrar do massacre que vem sofrendo o Grão-Mestre Geral, do Grande Oriente do Brasil, soberano irmão Marcos José da Silva, por ter ele registrado na Biblioteca Nacional, os rituais dos graus simbólicos.
Refiro-me ao livro “ La Verdadeira História de los Maçones”, de autoria de Jorge Blaschke, não maçom, e Santiago Rio, maçom e historiador, editado pela Editorial Planeta S.A, em 2009. Esse livro apresenta às páginas 269/320, na íntegra o Ritual de Aprendiz, do Rito Escocês Antigo e Aceito, tal como se usa na Espanha, desde 1931. Ali estão todas as informações referentes ao grau de aprendiz, a cerimônia de iniciação, as instruções do grau, como se dão os toques e o sinal de ordem, discurso do orador, etc.
O outro livro, é de autoria de J. M. Ragon, com o título “MASONERIA – Curso Filosófico de las Iniciaciones antiguas y modernas”, editado por “Ediciones Libreria Argentina, Madri, 2009.
Nesse segundo livro, o autor preleciona com detalhes sobre os três graus simbólicos, sobre os graus capitulares, sobre os graus filosóficos, desvendando e tornando público os mistérios dos graus maçônicos, transmitidos tão somente aos iniciados, em nossa Sublime Ordem.
Lendo esses dois livros, lembrei-me, também, do último livro do inesquecível irmão e escritor José Castellani,” Loja de Mesa”, onde foi publicado na íntegra o nosso Ritual de Banquete, adotado pelo Grande Oriente do Brasil.
Ademais, o escritor maçônico, Paulo R. M. de Almeida, lançou em dezembro de 2008, pela editora Trolha, o livro: Manual de Banquete Ritualístico, onde está inserido o ritual de banquete praticado pela Grande Loja Maçônica do Estado do Rio de Janeiro.
Pois muito bem, neste momento é de se perguntar: O Grão-Mestre Geral, do Grande Oriente do Brasil, irmão Marcos José da Silva teria cometido o crime de quebra de sigilo maçônico, ao determinar o registro dos rituais dos graus simbólicos, adotados em nossa Federação Maçônica?
As opiniões a respeito dessa iniciativa do atual Grão-Mestre Geral do GOB, são por demais divergentes e algumas, diria, ousadas, que resultaram em ações judiciais no judiciário maçônico e profano.
Contudo, antes de julgar o procedimento adotado pelo irmão Marcos José da Silva, é necessário e oportuno que se faça uma análise isenta a respeito do uso e da publicação de nossos rituais. Senão vejamos!
Não se tem notícia que o nosso irmão Castellani tenha sido julgado por publicar em seu livro “ Loja de Mesa”, o ritual de banquete em sua íntegra. Também não se tem notícia de que o irmão Paulo R. M. de Almeida, tenha sido processado maçonicamente por ter publicado em seu “Manual de Banquete Ritualístico” todo o ritual de banquete, em uso na GLMERJ.
Só para citar dois exemplos. Teriam esses dois escritores maçônicos cometido o crime de quebra de sigilo maçônico, ao divulgarem em seus livros um ritual de uso restrito de maçons?
Por outro lado, alguns irmãos criticam, via internet, a iniciativa do nosso ex-Grão-Mestre Geral Laelso Rodrigues, por ter ele, em sua gestão, vendido o maquinário da então Gráfica do GOB, onde eram impressos os nossos rituais. Todavia, tal crítica por si só não se sustenta. Haja vista, que todos os rituais maçônicos de outras potências maçônicas brasileiras, ditas regulares, são impressos em gráficas particulares.
E como fica a situação dos maçons falecidos, cujos rituais e paramentos, não são devolvidos por suas famílias às Lojas , onde eles eram filiados, os quais são vendidos em Livrarias, que revendem livros usados Também é de se perguntar: e os irmãos que se evadem da Ordem e que também não devolvem os seus rituais, preferindo vendê-los aos “sebos” de livros, à disposição dos profanos. Como ficam tais procedimentos?
A meu ver não existiram e não existe crime, em face da publicação de rituais em livros, vendidos em livrarias particulares e muito menos em razão de seus registros na Biblioteca Nacional. Isto porque, segundo os nossos preceitos os nossos segredos maçônicos estão restritos tão somente as informações quanto aos sinais, toques e palavras, as quais infelizmente já são do domínio público, publicados que foram em diversos livros escritos por maçons e por maçonólogos.
Até porque, também, com o advento da “Internet”, os ditos segredos maçônicos caíram por terra. Nessa rede mundial, qualquer maçom ou leigo encontra milhões de informações a respeito da Maçonaria, inclusive vídeos com toda a cerimônia de iniciação maçônica
Circulam também na “Internet” diversas listas de discussão, criadas por maçons, filiados as ditas potências regulares, cujos participantes tratam do dia a dia do GOB e de suas Lojas. Ofendem participantes e denigrem a imagem de autoridades maçônicas. Tratam de assuntos que dizem respeito a economia doméstica de nossa Ordem. Essas listas a meu ver criaram governos paralelos, porquanto os seus participantes discutem, debatem, julgam e condenam irmãos e autoridades maçônicas. E por diversas vezes são invadidas por profanos, sem que os moderadores dessas listas tenham conhecimento.
É de se perguntar: as listas de discussão, que circulam pela “Internet”, constituídas por maçons regulares ou não regulares se constituem em foro competente, para tratar de assuntos maçônicos? Os seus membros estariam cometendo crime de quebra de sigilo maçônico? As listas que usam a sigla “GOB”, sem autorização oficial, estariam cometendo crime maçônico, de apropriação indébita e ou de falsidade ideológica? Estariam cometendo crime maçônico de omissão, as nossas autoridades que permitem o uso do sigla “GOB” sem a devida permissão legal?
Seria crime maçônico, um participante dessas ditas listas, solicitar a um outro participante, o envio, pela dita lista, de um ritual maçônico em sua íntegra e ser atendido, as vezes por alguma autoridade maçônica, participante da lista? Numa boa, sem estresse e nem reservas.
Por outro lado, estaria cometendo crime maçônico, cuja pena é a expulsão da Ordem, o maçom filiado ao GOB, que procura a justiça profana, antes de esgotar a via maçônica?. Alguém tem notícia de que os autores dessas iniciativas foram devidamente punidos, de acordo com a legislação penal maçônica?
Estariam cometendo crime maçônico de lesa a maçonaria, os nossos juízes maçônicos, considerados intocáveis, quando adotam decisões ao arrepio da lei maçônica e das leis profanas?
Estariam cometendo crime maçônico de omissão? As nossas autoridades maçônicas, inclusive os membros do Ministério Público Maçônico, por não denunciarem aos tribunais maçônicos, os maçons que exercem mandatos populares ou não, que cometem crimes profanos, denunciados exaustivamente pela grande imprensa brasileira, pela prática de apropriação indébita, corrupção ativa e passiva, enriquecimento ilícito, falsificação documental, falsidade ideológica, formação de quadrilha e muitos outros e que continuam filiados às Lojas do GOB, lépidos e faceiros.
Estariam cometendo crime maçônico, os Veneráveis que para se verem livres de obreiros indesejáveis e perniciosos às suas Lojas, concedem-lhes Quite-Placet, que permitem a essas figuras deletérias buscarem a filiação em outras Lojas, onde com certeza, menos dia, mais dia, irão novamente perturbar a boa ordem dos trabalhos?
Quem deveria atirar a primeira pedra ou melhor: quem deveria julgar quem? Nesse mar de incertezas em que se converteu o relacionamento interpessoal entre nós. Haja vista o conflito existente entre o Grão-Mestre Geral, atual, o soberano irmão Marcos José da Silva e o Grão-Mestre do Distrito Federal, eminente irmão Jafé Torres. Pergunta-se: quem está certo, quem está errado? Para mim os dois estão de certo modo errados.
O Irmão Jafé Torres porque ao tomar conhecimento de um fato insólito, referente a demolição do prédio “ gobinho “, situado no terreno do Poder Central do GOB, em Brasília, onde se reuniam várias Lojas do GODF, não entrou em contato com o Grão-Mestre Geral, para esclarecer tal fato. Preferindo, divulgar fotos da demolição do referido “gobinho”, convocando veneráveis e autoridades maçônicas do DF, para deliberarem sobre os possíveis desdobramentos, dali decorrentes.
O Grão-Mestre Geral, por não ter convocado o Irmão Jafé, tão logo tomou conhecimento da presença do Grão-Mestre do DF, no cenário da demolição. Preferindo convocar todos os Veneráveis das Lojas que funcionavam no prédio demolido, para que eles em entrevista à TV-GOB informassem se foram constrangidos com a referida demolição. E ainda mais, por comparecer à Soberana Assembléia Federal Legislativa, para prestar esclarecimentos e informações a respeito do GOB e ali tenha aproveitado o ensejo para falar da demolição do “gobinho”, finalizando por chamar o irmão Jafé Torres de “mentiroso”, na presença de aproximadamente 700 irmãos, deputados federais. Oficializando com isso, o conflito de autoridade e de jurisdição maçônica.
Pergunta-se: por esse impasse, estariam ou estão cometendo crime maçônico, essas duas autoridades? Uma vez que esses dois Grão-Mestres prestaram juramentos, nos atos de suas posses, de manterem unidos os obreiros e de promover ações para fortalecer os laços de fraternidade e de tolerância entre os irmãos do GOB e do GODF.
Imbróglio esse, que vem incomodando e constrangendo aos irmãos do Distrito Federal, em face da proximidade com essas duas autoridades, que no momento não se toleram. Ou seja, os maçons do DF estão como o marisco, entre o rochedo e o mar. E pelo visto, esse impasse entre essas duas autoridades só terminará quando os dois concluírem os seus respectivos mandatos.
Pergunta-se: Quem teria estatura moral e maçônica, para atual como árbitro nesse conflito? Visando alcançar uma conciliação entre essas duas autoridades. Quem tiver que se habilite, enquanto há tempo, já que até agora, nenhum dos dois envolvidos buscou satisfação no judiciário maçônico
Ademais, o que se pode falar dos inúmeros conflitos eleitorais que estão ocorrendo em vários Grandes Orientes Estaduais, cujos desdobramentos já chegaram às barras dos tribunais maçônicos e profanos. Desavenças essas que só causam prejuízos, alguns irreparáveis, ao fortalecimento do GOB, como a maior potência maçônica do mundo latino.
Pergunta-se: Quem vai julgar quem? Para coibir ou eliminar as inúmeras irregularidades e conflitos interpessoais e inter-grão-mestrados, aqui apontados e outros que poderiam ser apontados, não fosse a exigüidade de espaço e de tempo. Diria, que somente a consciência de cada um dos envolvidos.
Entristecido, pergunto: Estaria generalizada a prática de crimes ditos maçônicos, no âmbito do GOB? Desapareceram as linhas da tolerância, tão decantada em nossa Federação Maçônica? Estaria, por isso, todo o tecido social maçônico impregnado pelo câncer da intolerância, da discórdia, da falta de fraternidade, da lealdade, cuja fase já se encontra em metástase, ou seja, irrecuperável?
Quem poderá estancar essa metástase, se é que ainda seja possível? A qual está solapando as vigas mestras da Maçonaria, no âmbito do Grande Oriente do Brasil
A bem da verdade!. Uma coisa é uma coisa! Outra coisa é outra coisa! No nosso âmbito maçônico, para alguns maçons protegidos por autoridades maçônicas, quando flagrados em delitos maçônicos, aplica-se o direito fraternal maçônico, aquele do deixa disso, do deixa ficar, da tolerância descabida. Para outros, que não são amigos do Rei ou dos Condes, aplicam-se a letra fria da lei maçônica, que de tão fria, as vezes, extrapola os limites da legalidade.
Em síntese, quem tem isenção para atirar a primeira pedra, nessa floresta de irregularidades em que se transformou o GOB?
Por último: Por que o Grão-Mestre Geral não convoca uma Suprema Congregação, ampla e irrestrita?, para: propor, para discutir e deliberar sobre um pacto maçônico, na busca de uma boa convivência, de tolerância mútua e de sentida fraternidade, visando restabelecer, enquanto é tempo, as boas relações interpessoais e inter-órgãos.
Seria uma iniciativa da nossa maior autoridade maçônica, com vistas a estancar e pletora de ações judiciais maçônicas e profanas, que a cada dia vêm sendo ajuizadas. Até porque não adianta tapar o sol com a peneira e achar que tudo é uma maravilha, que não existem réus e inocentes no âmbito maçônico do GOB, preferindo-se convocar Supremas Congregações para tratar de temas da nacionalidade brasileira, antes de organizar a nossa casa, reforçar os nossos laços fraternos, aumentar a nossa auto-estima e o orgulho de sermos maçons.
· Helio Pereira Leite-Grão-Mestre de Honra do GODF