Estava relendo alguns trabalhos de Grau 1
apresentados em nossa Loja quando tive a ideia de elaborar esta Peça de
Arquitetura. Ao longo das primeiras semanas na Ordem o Aprendiz é bombardeado
com símbolos, alegorias, abreviações e significados que causam uma grande
confusão, e isso é totalmente natural.
Mas não é nossa intenção com esta Peça
relacionar estes símbolos e alegorias com seus significados. Mesmo que seu
domínio seja de fundamental importância para a formação maçônica do recém-iniciado,
este conhecimento será adquirido naturalmente mediante dedicação, estudo e
principalmente frequência aos nossos trabalhos.
O estudo da Maçonaria não se limita ao que
está contido nos Rituais. Então, resolvemos compilar alguns ensinamentos que
estão nas entrelinhas do universo maçônico.
O recém-iniciado não deve se esquivar do
aprendizado, ter vergonha de questionar ou permitir-se estacionar na estrada do
conhecimento.
Avental branco não é sinal de ignorância, de
falta de cultura. Tampouco o Avental com adornos azuis é sinal de sapiência,
pois ninguém sabe o bastante a ponto de não ter nada a aprender. Por mais que
sejamos dedicados aos estudos, percebemos uma grande necessidade de
aprimoramento acontecendo em todos os campos, tanto profissional como social,
para que se possa acompanhar o progresso da humanidade, evitando ficar para
trás, ultrapassado, pois tudo progride em uma velocidade vertiginosa.
Observem caríssimos Irmãos, que quem se
atreve a transferir conhecimentos maçônicos deve proporcionar aos ansiosos por
aprender os meios mais simples e mais efetivos. Portanto, enquanto
estivermos aqui, troquemos experiências, pois há sempre algo para aprendermos
juntos e muito possivelmente, alguém para aprender conosco também.
A primeira recomendação a todos os “recém-nascidos”
na nossa Ordem é a seguinte: Ao elaborar suas Peças de Arquitetura, muito
cuidado com os textos Maçônicos que circulam na Internet. O Rito que praticamos
em nossa Loja é chamado de Moderno ou Francês. Sob forte influência do
Iluminismo, o Rito Moderno tem como um de seus pilares a busca incessante pela
verdade, ainda que transitória, em todos os campos. Isto faz do Rito Moderno,
em minha opinião, o mais científico dos Ritos.
Portanto, interpretações
esotéricas, místicas, metafísicas ou mesmo de cunho religioso a cerca do
simbolismo maçônico não fazem muito sentido no Rito Moderno, agnóstico por sua
natureza. Mas esta é apenas a conduta do Rito. Nenhum Irmão deverá abdicar de
suas crenças pessoais por força do Rito.
Um bom exemplo disso é que no Rito Moderno falamos
em “Princípio Criador”, o qual se espera que todo maçom acredite. Porém em
muitos textos maçônicos utiliza-se “Ser Supremo”. Há uma sutil diferença entre
os dois termos. Quando usamos “Ser Supremo” estamos personificando esta força
em um sujeito. Já “Princípio Criador” pode ser Deus, Buda, Alá e até mesmo o “Big
Bang”, a grande explosão que segundo alguns cientistas deu origem ao universo.
Assim estamos realmente respeitando a crença de todos, com absoluta
neutralidade, pois em nossos trabalhos não discutimos religião. Simplesmente
aceitamos que todo Irmão é absolutamente livre para crer no seu Princípio
Criador, seja ele qual for.
Portanto é preciso ter atenção para não se
confundir com interpretações que só fazem sentido em outros Ritos Maçônicos,
que por força da tradição, herdaram práticas que para olhos destreinados podem
ser confundidas com liturgias religiosas, e, sobretudo, não ignorar que existem
fantasias, invencionices, distorções, modismos, tantos “chutes” que são dados a
esmo e incorporados no dia a dia e tidos como autênticos. O fato de todos
estarem de acordo a respeito de alguma coisa não transforma o falso em
verdadeiro. Já comentei em outras oportunidades que lamento o fato de que
alguns Irmãos fazem do estudo da Maçonaria algo muito mais complexo do que
jamais foi criado para ser.
A
verdade só pode florescer através da pesquisa e do estudo, que é obrigação de
todo Maçom interessado com a Ordem e com a humanidade.
Já que estávamos falando em rituais, vamos
dedicar algumas linhas a outro assunto que gera grande confusão. Maçonaria e
religião. Que fique bem claro aqui desde o princípio: Maçonaria não é religião.
Como já abordado em outra Peça de Arquitetura apresentada nesta Oficina, a
própria antropologia nos ensina que para se classificar algo como religião é
preciso haver o caráter sacrifical, dogmático, revelado e salvífico.
E a
maçonaria não reúne nenhum desses aspectos.
Não obstante a isso a relação entre ritual e
religião é muito frequente, mas se analisarmos o assunto vamos notar que os
rituais são parte de nossas vidas. Ritual é simplesmente a maneira como algumas
coisas são feitas, uma espécie de procedimento padrão para conseguir ordem e
disciplina aos trabalhos. Uma reunião de condôminos obedece a uma ordem
determinada, da mesma forma como uma reunião de pais e mestres num colégio e até
mesmo um julgamento. Sem essa sequência de atos a serem vencidos temos a
baderna e a perda de tempo. O resultado será sempre questionável.
A Maçonaria usa um ritual porque é um modo
efetivo para ensinar ideias importantes. Além disso, o ritual Maçônico é muito
rico e muito antigo, remontando aos primórdios de sua criação.
A confusão aumenta ainda mais por conta do
local onde trabalhamos o Templo Maçônico. Templo é o local onde se realizam as
reuniões regulares das Lojas Maçônicas. Isto pode ser verificado em qualquer
dicionário. Templo pode ser um edifício de tamanho imponente que serve o
público ou uma organização de algum modo especial, não tendo, necessariamente,
caráter religioso.
É aceitável que todo neófito interprete sua
iniciação como uma passagem “das trevas para a luz”. Isto o é de fato. Mas não
no sentido do eterno conflito entre o bem e o mal. Não significa que
o mundo profano (fora do templo) é dominado pelas trevas (mal) e que a
verdadeira luz (bem) será revelada pela Maçonaria.
Aquilo que marcha em direção à luz não é o
indivíduo iniciado, mas aquilo que nele é inédito e que por ser desconhecido, é
ainda obscuro. Não somos nós que como pessoas seremos iluminadas. São nossas
potencialidades e latências que vão para a luz. É o Maçom dentro de nós quem se
dirige para o seu “renascimento” por assim dizer. É isto que muitos Irmãos
querem dizer quando afirmam que a Maçonaria transforma homens bons em homens
ainda melhores.
Disto se deduz que será inútil e até
contraproducente aquele que não for Maçom em potencial bater à nossa porta. É
por isso que somos convidados. A natureza não pode dar aquilo que já não
tenhamos em potencial.
A Maçonaria é uma atividade prática e suas
verdades são conquistas que não são aprendidas nem explicadas por ninguém, mas
frutos de introspecção. Quando o maçom alcança este estágio fica claro o
significado do chamado Espírito Maçônico.
Mas quando o Aprendiz ouvir falar do
tal “Espírito Maçônico” não deve esperar que uma entidade de avental passasse a
frequentar nossas sessões. O Espírito Maçônico é uma mudança de foro íntimo
decorrente da evolução do Maçom como homem e de seus compromissos com as causas
humanas.
Quanto ao simbolismo não há absolutamente
nada de obscuro em suas interpretações, tampouco mensagens subliminares. Pelo
contrário, são associações diretas entre os instrumentos de trabalho dos
pedreiros medievais e as divisas que todo Maçom deve levar consigo: Retidão
Moral, justiça, igualdade, entre tantas outras.
Na realidade todo símbolo é apenas um
estímulo. A questão está em empregá-lo como fermento do ato iniciático.
Bem, ficaram muitas coisas por dizer. Mas não
poderia encerrar esta Peça de Arquitetura sem revelar o grande “Segredo
Maçônico” capaz de “mudar o curso da humanidade”. O grande segredo é que não
existe segredo. A única coisa que mantemos em sigilo são nossas formas de
reconhecimento mútuo.
Já me utilizei dos dizeres de nosso Irmão
Giacomo Casanova para concluir outro trabalho apresentado nesta Loja. Mas como
disse no princípio, foi à releitura que me trouxe até aqui. Portanto, não irei
me furtar em repetir que se podemos chamar de segredo o conhecimento íntimo que
todos adquirimos com o decorrer dos anos através dos trabalhos Maçônicos, então
este segredo é “inviolável por natureza, pois o Maçom não o aprendeu com
ninguém. Ele o descobriu de tanto ir à sua Loja, de tanto observar, raciocinar
e deduzir.”.
Bibliografia:
- Web Site http://www.comunidademaconica.com.br.
Inspirado nas brilhantes peças de arquitetura elaboradas pelos Irmãos Carlos A.
Proença Jaques, Valdemar Sansão, Anatoli Oliynik e, claro, nossas considerações
pessoais que não visam distorcer as ideias originais, apenas adequá-las ao Rito
Moderno.
- MUNIZ, André Otávio Assis. Novo Manual do
Rito Moderno – Grau de Aprendiz (Completo). A Gazeta Maçônica, 1a Edição,
2007.
Rogério Alegrucci - M.´.M.´. Trabalho apresentado
na ARLS Manoel Tavares de Oliveira, 2396 R.´.M.´. em 01/03/2011 E,´,V.´..
GOB-GOSP
Rogerio
Alegrucci