Antes de adentrarmos os fatos
relativos à Lenda de Hiram, convém alertar que uma lenda é uma narração
transmitida pela tradição, de eventos considerados históricos, mas cuja
autenticidade não se pode comprovar somente que não temos provas sobre ela.
Quanto à existência de Hiram, seu
nome é referido nas seguintes passagens bíblicas:
Em Reis 7:13 e 14: "O rei
Salomão mandou buscar um homem chamado Hurã, um artífice que morava na cidade
de Tiro e que era especialista em trabalhos de bronze(...)". "...Ele aceitou o convite de Salomão e
se encarregou de todo o trabalho em bronze."
Em Crônicas 2: 13 e 14: “... Um
homem dotado de habilidade e compreensão."
"...filho de uma mulher das
filhas de Dã, e seu pai era um homem de Tiro, hábil para trabalhar em ouro e prata,
em latão, ferro, pedra, madeira, em púrpura, em azul, em fino linho, e em
carmesim. Também em esculpir qualquer forma de escultura e manejar todo engenho
que lhe for apresentado “.
A Lenda de Hiram constitui a
essência e a identidade da Maçonaria, eis que constitui o terceiro Landmark da
Maçonaria Universal, sendo carregada de dramaticidade e simbolismo, e comporta,
essencialmente, uma alegoria moral que espelha toda a filosofia da nossa Ordem.
A Lenda de Hiram, ou a Lenda do
Terceiro Grau, é revelada somente aos Mestres maçons porque, sem ter os
conhecimentos completos dos Primeiro e Segundo Graus, não podem ser
compreendidos ainda os mistérios da vida, da morte e da ressurreição.
O novo Mestre irá estudar e
compreender que a morte vence porque, por deficiência nossa não entendemos o
segredo da vida, que é a Verdade. Com um estudo aprofundado, percebemos que a
morte é negação, a vida é afirmação; a morte é como o erro: o erro existe por
causa da ignorância e a nossa missão é descobrir o segredo da vida que vence a
morte.
A lenda inicia afirmando que David,
rei de Israel, acumulou tesouros para fazer um templo ao GADU, mas coube ao seu
filho Salomão construí-lo, pois ele, David, desviou-se do caminho da Virtude,
pela vaidade e pelo orgulho. Isso o afastou de tal missão. Salomão então
resolveu pedir auxílio ao seu vizinho Hiram, rei de Tiro, que lhe enviou Hiram
Abif, um dos melhores artífices já conhecido.
Então Hiram, símbolo do mestre e do
conhecimento real, da verdadeira sabedoria, dividiu os obreiros em três
categorias: Aprendizes, Companheiros e Mestres.
Para que ninguém violasse ou
profanasse a ordem hierárquica, confiou a todos, conforme sua categoria, as
palavras sagrada e de passe, chave do conhecimento e do trabalho de cada um, de
modo que os respectivos poderes e obras correspondentes somente fossem
confiados àqueles que estivessem realmente capacitados para exercê-los e
executa-los. A isso chamamos, “aumento de salário”.
Tudo ia muito bem até que, quando a
construção achava-se bastante adiantada, alguns companheiros, por vaidade ou
ambição e achando-se mestres mesmo sem terem cumprido o tempo necessário,
começaram a desunião.
Foram em número de quinze os
companheiros que planejaram obter do Mestre Hiram os segredos da iniciação pela
violência, a tentação do orgulho que ameaça qualquer iniciado, por mais elevado
que seja. Destes, somente três levaram a cabo seu intento.
Para atacar Hiram, aguardam a hora
em que o mestre orava no templo, quando os trabalhadores comiam e descansavam.
Jubelas colocou-se na porta
Meridional, Sul ou meio-dia; Jubelos, na Ocidental, Oeste, ou Ocidente e Jubelum,
na Oriental, Leste ou Oriente.
Jubelas acompanhou os passos do
Mestre e tentou convencê-lo a lhe dar os meios de sua elevação ao Mestrado,
este, argumentou que não poderia satisfazer seu desejo porque não havia ainda
cumprido o seu tempo e depois porque só poderia dar-lhes os sinais, toques e
palavras de passe na presença dos reis de Tiro e Salomão.
Jubelas, irritado, descontente,
munido da régua de 24 polegadas, que de antemão se apossara, deu uma violenta
pancada na garganta do Mestre e afastou-se para evitar reação por parte de
Hiram. Este, receoso quanto à presença de mais algum Companheiro, mudou de
direção e procurou sair pela porta ocidental, sendo lá surpreendido por
Jubelos, que procedeu da mesma forma que Jubelas e recebeu de Hiram as mesmas
ponderações e resposta, embora mais enérgicas. Hiram Abif, temendo ser
agredido, gritou por socorro, porém Jubelos, desesperado, temendo ser preso, aplicou
no Mestre um golpe com o Esquadro que segurava atingindo-o violentamente no
peito, na altura do coração.
Hiram Abif, já sem forças para
gritar, retrocedeu e dirigiu-se à porta Oriental, na esperança de se salvar e
encontrou Jubelum. Este, notando o estado do Mestre, tentou auxiliá-lo e
maneirosamente obter o que desejava.
Hiram Abif, notando que Jubelum
manejava um Maço, cujo uso era vedado dentro do Templo, porque era instrumento
ruidoso, percebeu que encontrara outro agressor. Impedido de fugir tentou afastar o
Companheiro, mas em vão, porque Jubelum, nada obtendo, aplicou-lhe um golpe na
testa, prostando-o morto a seus pés.
Os três agressores logo constataram
o seu fracasso e o mau resultado da trama. Então, à noite, carregaram o corpo
de Hiram Abif para fora de Jerusalém, enterrando-o no Monte Moriáh. Para marcar
o local, plantaram aos pés do improvisado túmulo um grosso ramo de Acácia.
Salomão, imagem da sabedoria e da
santidade, preocupa-se pela ausência de Hiram, chefe espiritual de todos.
Envia, então, quatro grupos de três Companheiros à sua procura, um grupo em
direção a cada ponto cardeal.
Em meio à busca, um dos grupos
encontrou os assassinos numa caverna e lá ouviram as suas lamentações e seus
remorsos pedindo castigo.
Os Companheiros os levaram à
presença de Salomão, o Rei da Justiça, que fez aplicar a cada assassino a
própria pena que cada um pedira de acordo com a sua consciência: a garganta
cortada, o coração arrancado e o corpo dividido ao meio
.
As buscas pelo corpo do Mestre prosseguem
e Salomão designa agora nove Mestres divididos em três grupos, para cumprirem a
missão.
Um dos grupos, ao subir o Monte
Moriah, deparou com um ramo de acácia plantado num monte de terra recentemente
revolvida. Ali estava enterrado o corpo do amado Mestre.
Profundo é o significado moral dessa
alegoria, cujo ponto principal é o tríplice flagelo da ignorância, do fanatismo
e da ambição desmedida.
O assassinato do Mestre Hiram
simboliza a morte do homem pela violência e a ignorância dos tiranos. Com
efeito, implantada a tirania, a primeira violência que se pratica contra o
amante da liberdade é calar a sua voz, impedindo que ele se expresse. Depois,
violenta-se-lhe o coração, ferindo-se-lhe os sentimentos, procurando destruir
sua honra, seu nome, sua família, sua autoestima, ao mesmo tempo em que se lhe
retira todo tipo de liberdade; por fim silenciam-no totalmente, ou pela ameaça
da eliminação física, ou pelo próprio cumprimento da ameaça. Esse é o golpe
fatal, na cabeça, que tira para sempre a razão, embora, como o Hiran da lenda,
o homem assim violentado sempre ressurja muito mais forte na razão que defendeu
e no exemplo que deixou.
Albert MacKey esclarece sobre o significado da
Lenda de Hiram Abif:
“... ensinar a imortalidade da alma.
Esse ainda é o principal propósito do Terceiro Grau da Maçonaria. Esse é o
escopo e objetivo do seu ritual. O Mestre maçom representa o homem quando
jovem, quando adulto, quando velho, e a vida que passa como sombras efêmeras,
porém ressuscitado do túmulo da iniquidade, e despertado para outra e melhor
existência.
Por sua lenda e por todo seu ritual, é implícito que fomos
redimidos da morte do pecado (...) o Mestre Maçom representa um homem salvo do
túmulo da iniquidade, e ressuscitado para a fé da salvação."
Paulo Roberto F. Paulino – M.’. M.’.
Bibliografia:
Bíblia Sagrada - Sociedade Bíblica
do Brasil
Catecismo Maçônico - Rizzardo da
Camino
Portal da Maçonaria-Internet
Wikipédia - Lenda de Hiram Abiff