Meus Irmãos:
Acreditamos que o
tema proposto é um dos assuntos mais delicados e polêmicos que existe na
Maçonaria. Trata-se da porta de entrada da Fraternidade:
- Que tipo de
pessoas vamos trazer ou aceitar ao nosso convívio?
- Que expectativas
geramos sobre essas pessoas e até onde o comportamento delas na vida profana
poderá intervir positiva ou negativamente dentro da Fraternidade Maçônica?
- Podemos cobrar
expectativas baseadas no nosso perfil comportamental sem nenhuma combinação
prévia? E, nesse caso, será que nós atendemos as expectativas da Fraternidade?
- Qual o perfil
ideal? Ele sempre foi o mesmo e permanece imutável?
São perguntas que
certamente não temos uma resposta definitiva, mas tentaremos, com a ajuda dos
Irmãos buscarmos alternativas mais adequadas.
Primeiramente
devemos levar em conta que, mesmo sendo a Maçonaria uma Fraternidade
conservadora, alicerçada em usos e costumes, se faz necessário que ela
acompanhe a evolução da Humanidade e procure também modernizar seus conceitos,
não só quanto a suas ações, mas também quanto ao perfil daqueles que a compõem.
Entendemos que a
maior mudança pela qual passou o perfil do candidato à Maçonaria data do ano de
1717, quando (oficialmente) passou de Operativa para Especulativa.
A Maçonaria
Operativa, cujo nome vem do latim “opera”, que significa trabalho, era uma
corporação de pedreiros que percorriam diversos países imbuídos na construção
de grandes edificações, geralmente a serviço de monarcas ou autoridades
eclesiásticas.
O perfil para
ingressar nessa corporação era o de ser conhecedor da arte de construir. Por
esse motivo também era conhecida como Maçonaria Profissional.
Com o início da
reforma de Lutero em 1517, a Igreja Católica se divide e enfraquece, perdendo
seu poderio econômico, seguindo-se das guerras religiosas que inibem
sobremaneira a prática de erguer grandes construções para homenagear o Criador.
Esta nova situação
que atingiu as corporações de pedreiros livres, fez com que os Irmãos da
Maçonaria Operativa se reunissem para avaliar o rigorismo do perfil daqueles
que quisessem entrar na Fraternidade Maçônica.
Surge então a
Maçonaria Especulativa, cuja raiz deste termo “spec” significa mirar, espelho.
Daí tem-se que a Maçonaria Operativa, com perfil de quem operava, fazia obras
materiais, enquanto que o novo perfil na Maçonaria Especulativa, mirava,
contemplava, pensava, erguia obras espirituais.
Outra grande
mudança de perfil refere-se ao cidadão fisicamente incapacitado. Até pouco
tempo, o 18º Landmark de Mackey era rigorosamente cumprido, barrando o acesso à
Fraternidade de qualquer candidato que possuísse defeito físico. Hoje, sabe-se
que a busca da perfeição moral é para nós, muito mais importante que a
perfeição física.
Atualmente,
acreditamos que as Lojas devam estar preparadas para buscar na sociedade
elementos que preencham requisitos dentro de valores, levando em conta
princípios como moral e ética, considerando as mudanças econômicas e sociais.
A tecnologia e o
fácil acesso às informações permitem que o cidadão possa se qualificar,
requisito que vemos como indispensável para quem quer pertencer a uma
Fraternidade atuante.
Dito isto,
pergunta-se:
- Existe uma
fórmula para traçar o perfil ideal do candidato?
Que ele seja livre
e de bons costumes.
- Mas que costumes?
- Será que o que é
bom para ele, será também para nós, ou vice-versa?
Acreditamos que,
poucos contatos, quer em sindicância ou quer em eventual encontro, são
insuficientes para avaliar o perfil de um candidato.
Existem pessoas que
sabem se vender muito bem, quando, na realidade, não são tudo aquilo que
ostentam. Em nossa atividade profana, podemos constatar inúmeras vezes esse
acontecimento, porém, na Maçonaria não existe o estágio comprobatório. Uma vez
Iniciado, o Neófito ingressa na Fraternidade e acerca-se dos seus mistérios e
ritualística.
No nosso
entendimento a mais fidedigna informação sobre o candidato deve partir do
relato do seu proponente.
Este irmão “nunca
deverá propor a Loja uma pessoa de cuja probidade não tenha certeza absoluta”.
Ele será seu Garante, padrinho e fiador, sendo que, uma vez aceito o candidato,
o padrinho deverá monitorar toda sua caminhada maçônica até tornar-se Mestre
Maçom.
Seu compromisso com
a Loja é tão grande que em alguns Ritos – citamos o Schröder – na Iniciação,
ainda com o candidato no lado de fora do Templo, o Venerável Mestre pergunta:
“Quem se responsabiliza por ele?” e a resposta deve ser confirmada pelo Garante
(padrinho) dentro do Templo, só aí é dado ingresso ao candidato.
Em algumas Lojas na
Alemanha antiga se alguém indicasse um candidato que não correspondesse às
expectativas da Loja, esse irmão sofria severas sanções.
Sem dúvida o
apresentador é quem mais conhece a respeito do candidato. Ele deve estar ciente
que a Maçonaria não foi criada apenas para amigos se encontrarem.
Deve saber
que o indicado tem que possuir afinidade com a Fraternidade Maçônica, possuir
capacidade de colaborar com a Fraternidade, integrar-se e submeter-se a um
conjunto de normas que se obrigará a respeitar.
O proponente
conhece a Fraternidade, conhece sua Loja e conhece seu candidato, deve avaliar
se a sua Loja é a mais adequada para seu apresentado. Não deve deixar que
parcerias profanas, por mais agradáveis que sejam, o deixem influenciar em sua
decisão.
Discordamos de
algumas opiniões que sustentam o fato de que algumas Lojas já possuem excesso
de Irmãos de determinadas profissões e que isso venha a atrapalhar.
É perfeitamente
normal que as pessoas procurem seus pares para seu convívio. O que deve ficar
bem claro é que o convite é para ingressar na Maçonaria e não num clube social.
O proponente, em
seu convívio com o candidato - que não deve ser recente - deve avaliar o grau
de compromisso dessa pessoa e se o mesmo tem capacidade moral, econômica e
intelectual para frequentar nossa Fraternidade.
Em contrapartida,
nossas Lojas têm a obrigação de preparar nossos Mestres para que os mesmos
possam avaliar o perfil dos candidatos que eles venham a convidar.
Somente com
maturidade maçônica pode-se saber se um elemento se identifica com a
Fraternidade ou não. Passa por essa maturidade também o fato de, em não aceito
seu indicado por justificados motivos, nenhuma mágoa deve permanecer com
relação aos irmãos do quadro.
Nesse particular,
embora aceita pela Fraternidade Maçônica, discordamos que um Aprendiz possa
indicar um candidato através de um Irmão Mestre. Cremos que o Aprendiz ou
Companheiro ainda não possui a maturidade que falamos anteriormente.
O exemplo deve
partir de cima. Devemos abolir definitivamente a caçada a candidatos ou
competições de padrinhos, quer seja para criar status, quer para reforçar o
caixa da Loja.
Quanto à
sindicância, deve sim ser feita, mas nunca com o objetivo
de confrontar
informações já trazidas pelo Irmão que indicou o candidato. Ressalta-se a
importância da conversa com a esposa do candidato para saber de sua
concordância e se está ciente que, se aceito, seu esposo terá que se ausentar
quando tiver trabalhos maçônicos.
Muito se tem
questionado se o candidato deve saber que será investigado e quais as
informações que deve receber sobre Maçonaria.
Mais uma vez
louvamos o sistema adotado pelo Rito Schröder que possui nos seus Usos e
Costumes originais uma sessão Branca Especial a campo, chamada de Noite dos
Convidados.
No mínimo uma vez
por ano em um local predeterminado, geralmente na ante-sala Templo (Sala dos
Passos Perdidos) ou no salão de ágapes, são recebidos prováveis candidatos
convidados por Irmãos do quadro ou de outras Lojas.
Após uma invocação
ao G.A.D.U., o Venerável se apresenta como presidente da Loja e saúda os
visitantes. Passa então a palavra aos presentes que farão uma breve
apresentação. Com o início dos trabalhos, é lido um texto previamente elaborado
sobre O Que é a Maçonaria, em seguida os convidados são estimulados a fazer
perguntas.
O Venerável Mestre
coordena quem dará a resposta a cada pergunta. Também é esclarecido aos
visitantes sobre a parte administrativa da Loja, sindicâncias e outras
informações que se fizerem necessárias.
Após, os visitantes
são convidados para o ágape, onde os Irmãos mais experientes procuram
acercar-se dos mesmos sempre com o intuito de colher mais informações.
Este costume,
original do Rito, consta no Ritual do Rito Schröder homologado pela
M.R.G.L.M.E.R.G.S., sendo aplicado por Lojas Schröder da Jurisdição.
Finalizamos
afirmando que é fundamental sabermos quem estamos trazendo para a Fraternidade.
Tenham em mente, meus Irmãos, que aqueles que hoje são aceitos para “Ver a
Luz”, serão nossos Irmãos não só para conviver conosco, mas também poderão vir
a ser os dirigentes da nossa Fraternidade no futuro.
Com Um Fraterno
Aperto de Mão.
Ir. Álvaro Germani,
ex-V. M. da C.B.A.R.L.S.”Concordia et Humanitas”, Nr. 56 – Rito Schröder
Colégio de Estudos do Rito Schröder
BIBLIOGRAFIA:
- Uma Visão
Introdutória da Maçonaria Operativa e da Maçonaria Especulativa, Iniciática,
Moderna ou Simbólica. – Ir. Augusto Nibaldo da Silva Triviños – M.M.
- A Iniciação – Ir.
Guido Bakos – P.M.
- Fisicamente
Incapacitado – Ir. Kurt Max Hauser – P.G.M.
- Pedra Bruta Sim,
Porém Escolhida – Ir. Hans Adolf Ruy Sailer – P.M.
- O Que é Noite de
Convidados do Rito Schröder – Ir. Rui Jung Neto – P.M.
- A Importância do
Padrinho no Rito Schröder – Ir. Rui Jung Neto – P.M.
- O Que é a
Maçonaria – Tradução e Adaptação Ir. Kurt Max Hauser – P.G.M.
- Ritual do Grau de
Aprendiz Maçom do Rito Schröder – G.L.M.E.R.G.S
- Depoimentos
pessoais – Ir. Kurt Max Hauser – P.G.M.
- Mensagens de
Irmãos Grupos Mestre/Maestro e Schröder