Sempre que se fala em
maçonaria, um termo é recorrente: O Grande Arquiteto do Universo, ou
G.´.A.´.D.´.U.´. (a forma abreviada mais comum).
Em quase todas as
obras maçônicas e também na maioria das citações ou reportagens, há referências
a esta expressão. Mas o que muitos leigos se perguntam sempre é: o que, ou quem
é, exatamente, este Grande Arquiteto? Qual o real significado desta
denominação?
Respondendo
objetivamente, e de maneira simplificada, afirmamos: o G.’.A.’.D.’.U.’..
É a maneira
pela qual os maçons se referem a Deus. E a razão é simples: sendo a maçonaria
uma instituição que teve origem histórica nas corporações de construtores
medievais – que eram formadas por arquitetos, engenheiros, artesãos, pedreiros
e outros profissionais ligados à área da construção civil e militar – e, ainda
nos nossos dias, valer-se de instrumentos daqueles ofícios como ícones
simbólicos (o compasso e o esquadro, por exemplo), nada mais natural que
denomine o projetista ou construtor de tudo o que existe como O Grande
Arquiteto do Universo.
Denominações adicionais para o Criador como O Grande
Arquiteto dos Mundos ou O Grande Geômetra são encontradas em alguns livros
maçônicos, todas com o mesmo significado.
Ampliando o escopo
deste artigo, consideramos importante esclarecer brevemente o conceito de Deus
na maçonaria. A imagem eternizada por Michelangelo na Capela Sistina – a de um
ancião de cabelos brancos, adotada como representação costumeira de Deus por
grande parcela da civilização ocidental – ainda que enquanto obra de arte seja
belíssima, não é suficiente para a compreensão da onipotência, onipresença e
onisciência divinas.
Em verdade, ousaríamos
dizer que é, de fato, inapropriada. Ora, qualquer que seja o ser, se este for
limitado por uma forma, não pode ter tais características.
Portanto, seguindo
este raciocínio, concluímos que a imagem de Deus como um velho senhor sentado
em um trono de nuvens é apenas o retrato humanizado do pensamento de uma época,
não devendo ser levado em conta para uma reflexão mais aprofundada.
Deus é o amor
infinito, a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, é aquele
que não tem começo nem fim, e não pode ser conhecido através dos esforços
intelectuais de uma mente humana que, por mais avançada ou capaz que seja, está
sujeita a limitações.
Deus, portanto, é uma
força que não pode ser analisada ou mensurada, só podendo ser sentida e
contemplada através de suas manifestações. Esta força é o que os maçons chamam
de Grande Arquiteto, gerador do universo, do homem e da vida em todas as suas
formas.
Um movimento anti-maçônico,
fundado nos Estados Unidos no século XX e formado quase majoritariamente por
fundamentalistas religiosos, tem distorcido continuamente o conceito do Grande
Arquiteto do Universo.
Este movimento, que já
conta com ramificações no Brasil, afirma erroneamente que o G.´.A.´.D.´.U.´.
não passa de um ‘deus maçônico’, ou ainda uma divindade que representaria uma
suposta união sincrética de ídolos antigos.
Os mais radicais
acreditam ainda que o G.´.A.´.D.´.U.´. seria uma representação do diabo.
Conforme já explicado, nada mais longe da realidade.
Aliás, para ser maçom,
o postulante tem de, necessariamente, crer na existência de um ser supremo.
Todos os trabalhos maçônicos são dedicados à glória de Deus, e os templos
maçônicos conservam abertos em seus rituais o chamado Livro da Lei, que nada
mais é que o livro sagrado da religião dos países onde funcionam as lojas
maçônicas.
No Brasil é a Bíblia
que pode ser vista na quase totalidade dos templos, e ao redor do planeta, o
livro sagrado muda conforme o caso: para os hebreus, o Talmude ou o Antigo
Testamento; para os muçulmanos, o Alcorão; para os adeptos do bramanismo, os
Vedas; para os mas deístas ou seguidores de Zaratustra, ou Zoroastro, o
Zenda-Avesta etc.
O Livro da Lei possui esse nome por conter o código de moral
e ética que devemos seguir em nossas vidas. Este nome evita ainda qualquer tipo
de sectarismo.
A única exigência que
se faz é que o volume deve conter, de fato, as sagradas escrituras de uma
religião conhecida, e fazer referência ao Ser Supremo, Deus.
É importante colocar
que a crença no Grande Arquiteto do Universo é encarada na maçonaria como uma
realidade filosófica, e não de modo dogmático.
A maçonaria, portanto,
não é uma religião, mas abriga em suas fileiras homens de todas as religiões –
por reconhecer a importância de cada uma delas, respeitando o conceito íntimo
que cada um tem de Deus. Mas a maneira pela qual cada maçom professa a sua
crença neste ser supremo é assunto de foro íntimo.
Assim, em um templo
maçônico poderão ser vistos, lado a lado, católicos, budistas, espíritas e
assim por diante, pois a tolerância e o respeito mútuo fazem que praticantes
dos mais diferentes cultos estejam unidos em prol da lapidação espiritual, da construção
de um mundo justo e da busca pelo bem de toda a humanidade.
Termino este artigo
citando o escritor Dan Brown, em carta endereçada aos maçons americanos na
época do lançamento de seu livro O Símbolo Perdido, cuja trama envolve a
maçonaria: “Em um mundo onde os homens batalham a propósito de qual definição
de Deus é a mais acertada, não acho palavras para expressar adequadamente o
profundo respeito e admiração que sinto por uma organização na qual homens de
crenças diferentes são capazes de ‘partilhar o pão juntos’ num laço de
fraternidade, amizade e camaradagem”.
Que o Grande Arquiteto
nos ilumine e guarde.
Texto: Eduardo
Neves, M.·.M.·.
Fonte: O Ganso e
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