O Livro da Lei, símbolo da vontade suprema, integra os
ornamentos de uma Loja Maçônica, o mesmo impõe as crenças espirituais
estabelecidas pelas religiões (seja ela qual for) e não se traduz apenas o
Velho e Novo Testamento dos cristãos, mas de acordo com a filosofia religiosa
de cada povo. Ao livro se juntam o Esquadro e o Compasso constituindo as três
Grandes Luzes da Maçonaria.
O Livro da Lei é considerado indispensável nos trabalhos de
uma Loja Maçônica. Sua presença foi estabelecida em 1717, a partir da fundação
da Grande Loja da Inglaterra, de onde veio o costume para as Lojas abrirem a
bíblia no Salmo 133.
Não é regra geral, dependendo dos costumes locais se usam
outros livros sagrados (Alcorão, por exemplo).
No Brasil, as Lojas Maçônicas Simbólicas, obedecendo à
decisão da Assembleia Geral da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil,
de junho de 1952, seguem a orientação da Grande Loja da Inglaterra, e costumam
abrir o Livro da Lei no Salmo 133, versículos 1, 2 e 3.
No Salmo 133 Davi saúda a vida em fraternidade, vejamos
cada um dos três versículos:
“Oh! quão bom e
quão suave é que os Irmãos habitem em união”.
A interjeição “Oh” designa admiração, surpresa, realça o
espírito do texto ao relatar a “excelência do amor fraternal”, o grau máximo de
bondade e de perfeição causado pelo encontro dos que se amam.
Para os hebreus de antigamente, a palavra “irmão”
apresentava significado bem definido. Jerusalém não era apenas a Capital civil,
mas também uma entidade espiritual. Em algumas ocasiões, práticas religiosas
eram celebradas no Templo de Salomão.
Era um período feliz, pois todos os judeus reconheciam a
sua comum irmandade e “habitavam em união” por diversos dias, na Cidade Sagrada
para onde todos convergiam.
Mais do que qualquer outro povo, os judeus davam
importância à unidade familiar. Os filhos nunca deixavam a tenda do pai, mesmo
quando nômades. Quando um rapaz casava, outra tenda era levantada. Somente as
moças deixavam o lar, para se mudar para a tenda de seus maridos. Era o ideal
da família, que “os Irmãos habitassem em união”.
Assim como os irmãos de sangue sentiam a necessidade de
unir-se em torno do Templo Familiar, entende-se que a filosofia maçônica tomou
como exemplo essa experiência, para ensinar seus membros a estarem sempre
juntos como única família, constituindo o seu Templo Espiritual.
Davi salienta a importância que dava aos povos de diversas
aldeias que iam aos templos de Jerusalém para rezar, e Jerusalém acolhia quem
quer que fosse, viesse de qualquer lugar. Sugere “…que os irmãos vivam em união…” traçando um
programa de convivência amena e construtiva, e veremos que a palavra “irmão” se constitui uma
necessidade entre os homens daquela época.
Quando são lidos os versículos do Salmo 133 o texto atua em
todos os Irmãos presentes, como unificador das mentes em torno do grande
objetivo comum, pois neste momento constitui-se uma egrégora voltada ao criador
e à Jerusalém celeste.
“É como o óleo
precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Aarão, e que desce
a orla de suas vestes”.
O óleo citado acima, usado para unção sagrada, era
uma espécie de óleo muito especial, era um perfume raríssimo à base de mirra e
oliva, usado para ungir os reis e sacerdotes, e ou aqueles neófitos que
aspiravam a alguma iniciação. O óleo possuía um valor extraordinário sobre
todos os aspectos.
Era o símbolo da unidade e do amor entre os Irmãos. Ungir
da cabeça aos pés com óleo era sinal de grande respeito e amor entre os Judeus.
Se um convidado fosse recebido para jantar, as boas vindas lhe eram dadas,
derramando óleo sobre a cabeça.
Se alguém era bem vindo, o óleo era derramado em abundância
e corria livremente da cabeça aos pés, passando pela barba, pescoço até o
vestuário. O perfume do óleo dava ao ambiente um odor refrescante.
A barba e o cabelo compridos eram marca de distinção entre
os judeus. A barba era um sinal de veneração e virilidade, símbolo de
austeridade moral. Os Israelitas evidenciaram especial estima pela barba, a ela
conferiam forte merecimento, apreciável atributo do varão, que externava pela
sua aparência, sua própria dignidade. Para os Israelitas raspar ou
eliminar a barba demonstrava sinal de dor profunda.
Aarão era Israelita, membro destacado da tribo de Levi,
irmão mais velho de Moisés e seu principal colaborador e possui um peso próprio
na tradição bíblica, devido ao seu caráter de patriarca e fundador da classe
sacerdotal dos judeus. A referência a Aarão é correta, uma vez que ele foi
ungido como Alto Sacerdote para Moisés, antes do povo escolhido deixar o Egito
em direção à terra prometida.
Atualmente, sentimos alegria em recebermos a visita de
Irmãos de outras Lojas, os quais conosco vêm se juntar para a realização dos
Trabalhos. E essa satisfação se difunde como o óleo gerando um perfume espiritual
que transcende a nossa própria individualidade, uma vez que a união de todos
constitui o somatório da força geradora da obra a que todos os Maçons se
propõem.
As vestes daqueles que tinham por missão exercitar atos
religiosos, como a unção, o sacrifício, o culto, eram de especial significado
litúrgico e ritualístico, e variavam de conformidade com os diversos ofícios
religiosos para invocação da divindade.
Havia especial preferência pela cor branca nas vestes
sacerdotais, nas representações egípcias contemporâneas ou posteriores ao médio
império, os sacerdotes usavam um avental grosseiro e curto, já o sacerdote
leitor, usava uma faixa que lhe cobria o peito como distintivo de sua
categoria, enquanto que o sacerdote vinculado ao ritual de coroação exibia uma
pele de pantera.
No velho testamento presume-se o uso de um avental
quadrado, quando se fala na proibição de aproximar-se do altar.
Então o óleo sagrado era jorrado sobre a cabeça da pessoa a
ser ungida, descia pela barba e escorria pela orla de suas vestes.
“É como o orvalho de
Hermon que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e
a vida para sempre”.
O esplendor da natureza oferece a magia do orvalho, que
desce das alturas para florir de viço às plantas, nada mais belo e nada mais
sedutor do que o frescor das manhãs. No capim deposita-se o orvalho em
gotículas que, juntando-se umas às outras, vão nutrir a terra ávida de
alimento, parecem espadas de aço ao calor do dia, nas pétalas floridas,
formando-se pérolas do líquido cristalino, espelho da vida que exulta ao redor.
Agora quando ouvimos “…é
como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de Sião…” esta
passagem refere-se ao monte em sua pujança, sua importância para a existência
de Israel, dos montes vem o orvalho e o orvalho é a água, a vida, a natureza, o
bem mais precioso.
Os montes de Sião são um maciço rochoso situado ao
sul-sudeste do antilíbano do qual se separa um vale profundo e extenso.
Antilíbano é a cordilheira que se estende paralelamente ao Líbano, separando-o
das planícies de Bekaa.
De todas as cadeias montanhosas, é a que se posta mais ao
oriente, pois se situa do nordeste ao sul-sudeste, por quase 163 quilômetros,
suas extensões e alturas são visíveis a partir do mar mediterrâneo. Seu ponto
culminante é o monte Hermon, com mais de 2.800 metros de altitude, possui neve
em seu cume e de lá o vento traz o orvalho.
O Monte de Hermon está localizado ao longo da fronteira
norte de Israel, seu nome quer dizer “o
que pode ser visto de longe“. Mesmo durante o calor do verão,
quando o restante da região está ardendo em virtude do vento seco denominado
“siroco”, a neve que cobre a montanha é visível há muitos quilômetros de
distância.
A terra pode estar seca e árida, mas a neve, “o orvalho de
Hermon”, permanece brilhante e alva. O sistema do rio Jordão é alimentado por
esse orvalho que se derrete, tem suas principais nascentes ao sopé do Monte
Hermon.
É uma bênção para a
nação, pois o rio corre por um vale entre duas cordilheiras, que são ricas em
ferro e cobre, com abundante suprimento de carvão, fornecendo excelente base
para a indústria. O solo é alimentado por esta água, e ali se cultivam em
abundância azeitonas, uvas e outras frutas.
O Jordão tendo sua foz no Mar da Galiléia torna possível
uma intensa indústria pesqueira, colaborando para a produção de alimentos. O
monte Hermon, um verdadeiro oásis, contrastando com os países vizinhos, a neve
derretida forma os rios e os lençóis de água,
Também chamado de monte de Deus, o monte Sião foi escolhido
pelo Senhor para ser sua morada, para todos, o monte será um refúgio seguro e
inabalável (Em Salmos 2:6 vemos que Deus mesmo instalou seu reino sobre o monte
santo, “Eu, porém, constituí
meu reino sobre o monte Sião ”).
O orvalho que escorre de Hermon para os montes de Sião,
como o senhor ali mora, é dele que escorre o orvalho abençoado, e todas as suas
complacências. O “Orvalho de Hermon” é físico, exterior e visível a olho nu. O
que desce da montanha de Sião é escondido, interno, brotando em fontes por debaixo
do solo. O primeiro é simbólico, terreno; o outro é espiritual, eterno.
O homem apresenta o aspecto material, temporal, ao lado da
manifestação invisível, espiritual. Assim o “orvalho de Hermon” foi de grande
significado para a existência da Palestina. “Montes de Sião” era um lugar
sagrado, o local do Templo, a Casa do Senhor, onde se ordena “a bênção e a vida
para sempre”, o que nos induz a pensar na imortalidade da alma. A irmandade, ou
a fraternidade, é uma graça interna e algo que brota de dentro do coração. Seus
frutos são facilmente vistos, assim como a cevada, o trigo, as uvas, os figos,
que crescem resultantes da neve derretida de Hermon. Essas frutas, embora não
eternas, por sua importância para o povo, são símbolo de paz, harmonia, amor.
A benção significa tudo que é bom e lhe é agraciado. Em
Hebraico, seu significado é “berakak”
palavra que deriva de “Berek”
que por sua vez significa joelho. Nota-se a relação entre uma e outra palavra,
porque, sendo a benção a invocação das graças de Deus sobre a pessoa que a
recebe, deve ser colhida com humildade e unção, portanto, de joelhos em terra,
reverenciado e respeitosamente.
Para os Semitas, benção possui força própria e, por isso, é
capaz de produzir a saúde, se despertada a sua potencialidade energética, é
palavra que se acha envolvida por vibração, carregada de energia dinâmica e
magia, como vemos em Gênesis 49:25 “O
onipotente te abençoará com a benção do céu, com as bênçãos do abismo, que jaz
embaixo, com as bênçãos dos seios maternos e dos úteros”.
Assim “… Porque ali o senhor ordena a benção e
a vida para sempre.. ”.
A bênção que todos devemos procurar é o fruto da união
fraternal, é a dádiva espiritual, é a vida eterna.
O Salmo 133 encerra o símbolo do Amor Fraternal, com
certeza a razão de ter sido escolhido para representar a união dos maçons do
Universo.
Honório Sampaio Menezes, 33°, REAA.