AS FUNÇÕES
INTELECTUAL SUPERIOR E EMOCIONAL SUPERIOR DO SISTEMA DE GURDJIEFF
A Maçonaria tem sido definida ao longo do tempo por vários modos, entre
eles como um “sistema de Moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos”.
Nas instruções ministradas na Ordem, aspectos essenciais deste sistema
são expostos paulatinamente, a partir da observância de rituais que remontam às
“Escolas de Mistérios da Antiguidade”.
Alguns autores que escrevem sobre a “Arte Real” ensinam que “quando a
Maçonaria Livre e Aceita começou a ter uma vida própria, separada da Maçonaria
Operativa, ela usava símbolos e emblemas para lembrar a seus membros os
princípios morais e espirituais inerentes á sociedade. Ao longo do período em
que se deu esse desenvolvimento, (...) o uso geral dos símbolos era uma prática
comum e de uso cotidiano; assim, a sua incorporação em qualquer instituição
esmerada, tal como a dos Maçons Especulativos, não seria nada extraordinária”.
Esses são os sistemas que, no passado, eram chamados de “Mistérios”,
entre eles os do Egito, os da Pérsia, os de Elêusis, na Grécia e outros na
Babilônia, Roma e nos grandes centros da alta antiguidade.
A esse respeito, na “Introdução sobre a Doutrina Esotérica” que abre a
grande obra do Sr. Èdouard Schuré em português (“Os Grandes Iniciados”),
enfatiza-se que “todas as religiões têm uma história exterior e uma história
interior; uma aparente, outra oculta.
Por história exterior entendo os dogmas e os mitos ensinados
publicamente nos templos e nas escolas, reconhecidos no culto, e as
superstições populares.
Por história interior entendo a ciência profunda, a doutrina secreta, a
ação oculta dos grandes iniciados, profetas ou reformadores que criaram,
sustentaram, propagaram estas mesmas religiões.
Esta é a “tradição esotérica ou doutrina dos mistérios, é bastante
difícil de discernir, pois ela se passa no fundo dos templos, nas confrarias
secretas, e seus dramas mais surpreendentes se desenrolaram inteiramente no
mais profundo das almas dos grandes profetas, os quais não confiaram suas
crises supremas ou seus êxtases divinos a nenhum pergaminho e também a nenhum
de seus discípulos”.
Estes círculos exotéricos e esotéricos delimitam a fronteira entre a
humanidade mecânica e o trabalho isto é, entre a "Torre de Babel" ou
o "Reino da Confusão das Línguas" e a busca através de
"sofrimentos intencionais e esforços conscientes" do conhecimento de
si.
Podem ser visualizados nas esferas concêntricas que demonstram as
dimensões exotérica, mesotérica e esotérica da vida. A passagem de uma a outra
compreende uma fase "transicional" de tomada de decisão, de
rompimento da dualidade e formação da tríade no ser humano, isto é, a criação
de uma linha contínua de resultados.
Com toda a sua sagacidade, o filósofo Greco-armênio, Georges Ivanovitch
Gurdjieff, expressava sua interpretação das escolas de conhecimento e de
mistérios como meios de transmissão de verdades arcanas que não poderiam ser
traduzidas nos marcos da linguagem convencional. Segundo ele deveria haver uma
“ciência objetiva”, uma unidade de todas as coisas e “procurava-se,
pois, colocá-la em formas capazes de assegurar sua transmissão adequada, sem
risco de deformá-las ou corrompê-las”.
Assim, “dando-se conta da imperfeição e da fraqueza da linguagem
usual, os homens que possuíam a ciência objetiva tentaram exprimir a ideia da
unidade sob a forma de ‘mitos’, “símbolos” e ‘aforismos’ particulares que,
tendo sido transmitidos sem alteração, levaram essa ideia de uma escola a
outra, freqüentemente de uma época à outra”.
Estas ideias não atuavam sobre os estados convencionais, normais de
consciência do homem, mas sobre níveis superiores, o que ele denominava “centro emocional superior” e o “centro intelectual superior”. Ao
primeiro, o “centro emocional superior”, destinavam-se os mitos, ao segundo, o
“centro intelectual superior”, os símbolos.
A Maçonaria, portanto, elegeu como meio por excelência de aprendizagem a
simbologia herdada tradições do passado que permeiam as instruções dos seus
graus e seu Manual de Ritualística. Resultante da confluência mais recente das
velhas Oficinas operativas de Roma e da Itália em seus albores, das corporações
de ofício medievais e das contribuições dos filósofos herméticos e mestres da
"Arte Real, esta nobre Ordem é a guardiã no Ocidente de um corpo de
verdades que são incorporadas pelo Obr.'. através do trabalho consciente em
Loj.'.. Isso significa que na verdadeira Maçonaria, assim como no
"Trabalho", nenhuma transformação pode se operar sem que haja uma "harmonização"
do Templo interno e do externo, do físico, do emocional e do intelectual. Tal
como no "Quarto Caminho" nada é possível sem que os centros sejam
harmonizados, tanto é que ao entrar no Temp.'. físico o cortejo de MM.'. deve,
conduzido pelo M.'. de Cer.'., entrar em um "oceano de
tranquilidade".
Na Maç.'., mais que em outras ordens, prerrogativas fundamentais do
trabalho estão presentes. Em primeiro lugar, a necessidade de ser um bom "Chefe de Família", alguém que
tenha responsabilidades e as cumpra. Ao contrário das falsas "ordens"
de adolescentes (bruxaria, satanismo, simulacros da "Golden Dawn" e
Thelema e mesmo da "Rosa Cruz" mercadológica) a Maçonaria exige que o
M.'. seja trabalhador, tenha renda e seja fiel às suas obrigações no casamento
e com a família.
Gurdjieff advertia que nenhum
lunático ou vagabundo poderia ingressar no trabalho. Nenhum lunático ou vagabundo pode ser iniciado na
Maçonaria.
Outras exigências da condição maçônica também são similares às do
Trabalho. É indispensável uma vida sexual saudável e sem aberrações. Também é
preciso tempo e recursos para cumprir obrigações maçônicas e socorrer aos
homens.
È fundamental a humildade porque
no trabalho das oficinas todos os Obr.'. são iguais e regidos pelo nível. Em
uma Loj.'. mesmo o Ven.'. M.'., caso transgrida os rituais ou a Lei Maçônica
pode ser corrigido pelos IIr.'. O objetivo da Maçonaria, assim como no Grupo do
Quarto Caminho ou a "Sangha" budista é escapar da "prisão do
mundo material" e esse ato não se executa sem ajuda mútua. Por isso,
equivocadamente, a Ordem foi confundida por tanto tempo como uma Sociedade de
Socorro Mútuo. De certa forma não deixa de sê-lo.
Porém, ser Maçom não significa que se
está no Trabalho Real.. No Trabalho Real
de um Grupo Gurdjieff é preciso sempre estar trabalhando não apenas
exteriormente, mas, sobretudo interiormente. Nas Loj.'. se diz um Ir.'. que
está indisposto com outro Ir.'. não deve comparecer a suas reuniões para não
comprometer a Egrégora.
Porém, nem sempre este mandamento é levado a sério na prática. Em
sentido amplo, no Trabalho, as coisas não são vistas tão
"formalmente" e o mestre de um Grupo pode tomar decisões mais ou
menos duras que soem como destempero ou demasiadamente violentas.
Nesse sentido, o "Trabalho"
transcende todo o resto e penetrar
nele, como diria Nicoll, é submeter-se a mais Leis ainda que o comum dos
mortais na Terra. É preciso estar ciente disso antes de tomar qualquer decisão
preliminar sobre ele.
Autor não identificado.