Antes de ser admitido no Templo, é necessário que seja feito um
preparo físico correspondente ao preparo moral que o candidato fez na câmara de
reflexões: os olhos devem ser vendados, coloca-se uma corda no pescoço e
descobre-se o lado esquerdo de seu peito, o joelho direito e o pé esquerdo.
Que significa esta preparação?
A venda que lhe cobre os olhos não é simplesmente o símbolo do
estado de ignorância ou cegueira, de sua incapacidade para perceber a
verdadeira Luz.
Como preparação para ser admitido no Templo, é evidente a
necessidade de uma constituição da obscuridade da câmara de reflexões, uma
cegueira voluntária, um isolamento das influências do mundo exterior e da luz
ilusória dos sentidos como meio para chegar à percepção espiritual da Verdade.
O cordão que lhe cinge o colo lembra-nos o dos frades, assim
como o cordão umbilical que une o feto à mãe no período de sua vida
intra-uterina. Além de indicar o estado de escravidão as suas paixões, erros e
preconceitos, em que o homem se encontra nas trevas do mundo profano, o jugo da
fatalidade que pesa sobre ele, mostra seu desejo, vontade e capacidade de
libertar-se deste jugo e desta escravidão, aceitando voluntariamente as provas
da vida e cooperando com a sua disciplina.
Desta forma, os próprios obstáculos, dificuldades e
contrariedades, convertem-se em graus e meios de progresso. Finalmente, o
triângulo da nudez, que constitui o terceiro elemento desta simbólica
preparação, é um novo despojo voluntário de tudo o que não é estritamente
necessário e constituiria um obstáculo ao progresso posterior - o despojo de
todo convencionalismo que impede a sincera manifestação de seus sentimentos e de
suas aspirações mais profundas (nudez do peito esquerdo); do orgulho
intelectual, que impede o reconhecimento da Verdade (nudez do joelho direito);
da insensibilidade moral, que impede a prática da Virtude (nudez do pé
esquerdo).
A perfeita sinceridade das aspirações é, pois a primeira
condição de todo progresso; mas faz-se necessário com ela um bem compreendido
espírito de humildade (que não deve confundir-se com um falso desprezo de si
mesmo, nem com a ignorância das divinas possibilidades que se encontram em nós
mesmos), dado que nosso progresso deve desenvolver se num plano superior à
ilusão da personalidade.
Com a primeira destas duas qualidades abrimos nosso coração, e
com a segunda nossa inteligência ao sentimento e à percepção daquela Realidade
que Jesus chamou o Reino dos Céus, meta de toda iniciação.
Enquanto a nudez do pé esquerdo - o instrumento do caminhar que
abre nossa marcha para frente - indica a faculdade do discernimento que devemos
usar em cada passo de nosso caminho e que nos permite reconhecer a verdadeira
natureza dos obstáculos e provas do caminho, nos quais podemos tropeçar.
Com este preparo, o candidato encontra-se em condições de bater
à porta do Templo, de pedir, buscar e encontrar a Luz da Verdade.