Qual o significado da letra “G” comumente presente no centro do
Esquadro & Compasso?
Vários autores apontam vários significados, muitos dos quais
absurdos: God, GADU, Grande Geômetra, Ghimel, Gama, Geração, Gênio, Gnose,
Gomel, Glória, Gibur, Gibaltrar, etc.
Há ainda aqueles autores que, sem conseguirem se aprofundar na
pesquisa sobre o tema preferem afirmar que o verdadeiro significado do “G” é um
grande mistério maçônico, talvez nunca revelado. Uma desculpa um tanto quanto
poética.
A letra G é um daqueles tantos símbolos que sobrevivem aos
séculos, mas, infelizmente, perdem seu significado original, ganhando vários
outros significados ao longo do tempo. E vez ou outra, um desses significados
novos prevalece, sepultando de uma vez por todas o original.
Séculos atrás, conhecimento era algo raro, reservado a pequena
parcela da população, restrito aos poucos com berço ou condições financeiras
para tanto.
Naqueles tempos, a Geometria era tida quase como uma ciência
sagrada, mãe da arquitetura e da construção, sem a qual as Catedrais não podiam
ser planejadas e concluídas.
As crianças não aprendiam Geometria nas escolas, como ocorre
atualmente. Apenas aqueles que trabalhavam com construções aprendiam tais lições.
Em resumo, a Geometria era a ciência do maçom operativo, uma ciência que os
distinguia dos demais, que tornava possível a execução da Arte Real, que
levanta templos às virtudes.
A presença do “G” no Templo é representativo da Geometria como a
ciência maçônica; como foco do estudo, conhecimento e prática do trabalho
maçônico; e principalmente como origem da Arte Real, base para o uso de todas
as ferramentas do maçom. Esse significado pode ser comprovado em todos os
antigos Catecismos Maçônicos que se tem conhecimento.
A letra “G” definitivamente não é “God” ou qualquer outro nome
relacionado ao Grande Arquiteto do Universo. Apenas nas línguas anglo-saxãs, a
palavra referente a Deus começa com “G”, enquanto que o uso do “G” também
sempre constou nos países de línguas latinas. Se “G” fosse God (inglês
e holandês) ou Gott (alemão), então nos países como França, Espanha,
Itália e Portugal utilizariam um “D”: Dieu (francês), Dios (espanhol), Dio
(italiano) e Deus (português).
E isso não aconteceu e não acontece, nem nesses
países e nem nos que adotam as línguas latinas. Já a palavra “Geometria” mantém
sua letra inicial tanto nas línguas anglo-saxãs como nas latinas: Geometry (inglês), Geometrie (holandês e alemão), Géométrie (francês), Geometría (espanhol),
Geometria (italiano e português).
O surgimento de novos significados para o “G” foi surgindo entre
o século XVIII e XIX, quando os intelectuais-maçons da época, achando a
simbologia maçônica de certa forma simplista, começam a inventar significados
considerados por eles mais profundos e adequados para os símbolos maçônicos e
pegar emprestado símbolos de outras fontes (astrologia, alquimia, cabala,
templários, etc.), criando novos rituais e ritos.
Ao indicar num mesmo ritual que uma única letra tem 07
diferentes significados, não relacionados entre si, os “sábios da maçonaria”
daquela época, assim como os de hoje, revelam uma informação importantíssima a
todo maçom estudioso: na tentativa de “florear” nossa simbologia, se mostram
grandes incoerentes.
Sim, “G” é apenas “Geometria”. Pode não parecer muita coisa
hoje, mas na época era.
Espero que o próximo maçom a se aventure em escrever sobre o “G”
na Maçonaria não subestime a inteligência de seus irmãos. Não basta apenas
pegar o dicionário, abrir no “G”, selecionar algumas palavras legais e depois
filosofar um pouquinho sobre elas. É exatamente assim que perdemos a nossa
história.
Escrito por Kennyo Ismail