A luz é a essência e a escuridão a sua ausência ou ocultação. É
a dialética entre o que é e o seu contrário, mas não na dicotomia entre ser e
não ser, porque ausência não significa inexistir. A luz e a escuridão são uma e
a mesma coisa, mas nunca se sobrepõem. Quando uma aparece – a outra se furta,
embora materialmente não subsista uma sem a outra.
Todavia, a ausência de iluminação num dado instante pode ser apenas
fruto de turbulência na reflexão da luz: aquilo que não se deixa ver parece não
existir. Pode algo, então, produzir luz sem que tal represente existência?
A verdade é que só pode haver iluminação no seio da escuridão e
que apenas se torna breu quando rareia a claridade. Então, luz e escuridão são gêmeas
inseparáveis, uma vez que os contrastes dimensionam a existência mútua.
De onde provém, afinal, a luz que cruza os céus escuros do universo?
Sabemos que ela se cria a partir das incessantes explosões
cósmicas nucleares que ocorrem na matéria das estrelas ou sóis que enxameiam o
espaço sideral e que, conforme os casos duram milhares ou milhões de anos.
Faz-se assim a luz que se
transforma em iluminação quando, projetada, obtém a reflexão a partir dos
mundos que visita. No seu percurso carreia, também, o calor que aquece os
planetas, as luas, os cometas ou os asteróides que vai encontrando.
Verdadeiramente, como surgiu e porque surgiu o primeiro foco de
luz? Responder a estas questões pela lógica não será ainda possível, apesar das
projeções, dos estudos, das análises, das investigações e das formulações
religiosas, científicas ou filosóficas.
O que podemos constatar, porque comungamos do propósito que nos
congrega nesta fraternidade, é que a luz é o cerne da transcendência, é a
coroação da ascensão da vida e a aclamação da criação divina. Essa é a luz crua
que sabemos fazer sucumbir às trevas.
Viver na luz, para nós, é a única vida verdadeira e fora dessa
abrangência, vegetamos. Sem luz, carregamos o corpo pesadamente, sofremos de
todas as doenças, insuficiências e incapacidades.
Escravizamo-nos pela imensidão de necessidades, sentimos frio,
fome e sede, padecemos de ansiedade e de depressão, movemo-nos cegos pelas
expectativas fátuas, ambicionamos vazios e pelejamos por absurdos, vivemos o
dia-a-dia como um aparelho digestivo e, por fim, matamo-nos por ninharias.
A plenitude está, pois, na resplandecência da luz divina que
cega para obtermos a visão que nos indica o porquê e o para quê de estarmos
vivos.
A luz é a eternidade que vem desde sempre e nos tem de levar
para diante, irremediavelmente. É a luz que nos transfigura quando ilumina a
alma e nos corporiza como detentores do absoluto Criador.
Procurar a luz é procurar Deus e isso não se faz caminhando com
lanternas, fazendo exercícios, meditações ou obras para o ego de cada um.
Procurar Deus é viver na Verdade, na Crença e na Esperança. É
buscá-lo em nós e encontrá-lo nos outros. É comportarmo-nos com retidão num
desiderato de sincera e convicta consciência, não para tê-lo como exclusivo ou
para obter Dele uma pontuação ou valoração.
Compreender que tudo ocorre num só momento e a todo o instante,
sem espaço ou tempo, basta para nos sabermos ocupantes de um devir que é feito
deste presente antecipado em que nos encontramos.
Viver na luz que tudo trespassa e a tudo dá existência, é tocar
Deus e dele nos impregnarmos de imediato. É reconhecermo-nos na inefável
filiação divina e sermos, assim, detentores de todas as forças.
A luz é, portanto, o Deus Criador e ele é substantivamente atemporal.
Por isso, não há e nem houve um “antes” ou um “depois” excluído dele. O mundo
existe desde que Deus, a partir dele e por ele, o criou.
A um dado instante, o Universo surgiu quando se fez luz e porque
Deus a fez sem apreciações ou planos. Na luz, o tempo e o espaço passaram então
a vigorar, mas apenas enquanto percursos da nossa morfologia. Antes era Deus e
ele era tudo. Depois, é Ele mais a sua Criação.
O Criador não se explica e a sua Criação também não. Está fora
do tempo e do espaço, de qualquer tempo e de qualquer espaço e nada o pode
situar antes ou para além dele mesmo, pois foi ele quem tudo criou, num só ato,
sem princípio e fim.
A Criação universal surgida de um instante é, todavia, um contínuo
de sucedâneos provindos do definitivo e único propósito divino. Mas plural e
multíplice na infindável produção que Deus gera de si, incessantemente,
provocando alterações e mudanças no infinito universal que é a tradução
materializada da sua Criação. O Grande Arquiteto do Universo criou o Universo
com Justiça e Perfeição, porque só Ele é Justo e Perfeito.
Deste modo, o Universo é este e não outro, não por um ato
arbitrário ou seletivo, uma vez que ele não escolheu o mundo dentre vários e
nem fez opções entre melhor ou pior. Decidiu de forma singular e absoluta.
Tudo está, então, continuamente determinado. Tudo está previsto,
dado que o G∴ A∴ D∴ U∴ tudo sabe por que tudo fez e nele nada se altera. O que pode
mudar (e muda) são as decorrências da Criação, mas no âmbito do que está
fixado.
Não de forma aleatória, mas porque verificadas as condições
consagradas nas leis do universo que produzem sempre os mesmos efeitos, devidamente
ajustados.
O livre arbítrio existe, mas as decisões e os julgamentos, as opções
e as intenções, os atos ou obras, são-no no cumprimento do que as leis
universais preconizam que seja.
Estando tudo previsto, pode-se percorrer qualquer caminho em
liberdade, mas qualquer traçado está já preconizado como possível. Por outras
palavras, qualquer caminho que se trilhe será sempre sobre um chão que é o
próprio Deus.
O mundo está, assim, aparentemente organizado em leis para que
tudo corresponda ao que se necessita, mas nós temos na nossa vida de aprender a
dominar os Vícios e Paixões. Nós temos para que a luz se concretize em nós, de
procurar combater a Intolerância e a Opressão.
Clamamos por luz porque precisamos dela, pois a escuridão é como
o medo ou o mal que existem porque os criamos, os aceitamos ou a eles
condescendemos.
Quando alguém não tem luz ou não está na luz porque a não quer,
a não entende, a não procura e não se esforça por encontrá-la, porque não lhe
vê utilidade ou porque não consegue sair da penumbra em que se aprisiona, deve
compenetrar-se de que apenas precisa desejá-la, pois se a quiser firmemente,
então é a própria luz que até ele virá e num ápice existirá no seio da poderosa
iluminação e tal como a receberá também a passará a emitir.
Aqui, na magnificência da maçonaria filosófica, encontramos a
luz que precisamos, mas dependerá de cada um construir o tamanho da luz que
transporta. A luz não é nossa pertença, pois apenas a refletirmos.
As palavras que não dão luz aumentam a escuridão. Madre
Teresa de Calcutá
“Quem acende uma luz é o primeiro a beneficiar da claridade”.
Gilbert Chesterton
A. Azevedo