Uma das passagens mais
exploradas pelos escritores e historiadores da Maçonaria é a de Henry Adamson
(1581 – 1637), poeta e historiador escocês no seu poema The Muses Threnodie de
1638, em Perth, onde anota particularmente a possível ligação entre os Rosa-cruzes,
a Maçonaria, citando a existência da Palavra do Maçom (Mason Word) e de
um second sight.
Referindo-se à
reconstrução de uma ponte sobre o Rio Tay, desmoronada em 1621, ele escreveu:
Thus Mr Gall assured it would be so
And my good genius doth surely know:
For what we do presage is not in grosse
For we be brethren of the Rosie Crosse;
We have the Mason word, and second sight,
Things for to come we can foretell aright.
Arriscamos uma tradução
livre como sendo:
Então Mestre Gall
assegurou que seria assim
E meu bom gênio assim certamente sabe:
Pelo que nós pressagiamos não é grosseiro
Pois nós da irmandade da Rosa Cruz;
Temos a Palavra do Maçom, e o sexto sentido,
Coisas que estão por vir e que nós podemos predizer com certeza.
A grande maioria dos
escritores dedica-se a analisar as ligações do movimento Rosa-Cruz com as
origens da Maçonaria Especulativa, assim como já foi amplamente explorado o
tema da Palavra do Maçom. Porém quase nada encontramos sobre o SECOND SIGHT.
Se formos buscar um
entendimento nos dicionários e enciclopédias encontraremos definições como
sendo um poder sobre-humano com sentindo da sua imortalidade, a capacidade de
ver a sua alma, o seu verdadeiro eu, alcançar maior percepção tocando as suas
habilidades internas de clarividência, intuição e para perceber fenômenos e objetos
independentemente dos seus órgãos sensoriais.
Outros ainda entendem
que a verdadeira Maçonaria existe para colocar candidatos dignos no caminho da
descoberta das nossas habilidades perdidas do Sexto Sentido; para encontrar o
“Eu” superior e eterno que está no interior de cada um.
“É a abertura de um
sexto sentido através do qual um homem realmente sente a sua imortalidade com a
mesma certeza absoluta que sente outro objeto através do sentido do tacto. Este
sexto sentido não pode ser comunicado de uma pessoa para outra; está adormecido
em todos; deve ser desenvolvido através de exercícios espirituais…“.
David Stevenson,
Professor Emérito de História Escocesa da Universidade de Saint Andrews, no seu
livro The Origins of Freemasonry, 1988, é quem nos dá algumas informações
adicionais sobre o tema.
Segundo Stevenson, o
second sight que traduzido literalmente seria segundo olhar, mas que traduzimos
como Sexto Sentido, era a habilidade literalmente de “ver” o futuro, através de
imagens visuais de eventos futuros. Muitos ainda relacionavam tal Sexto Sentido
com bruxaria.
A referência da Adamson
ao sexto sentido está ligada à fraternidade Rosa-Cruz que era oculta e buscava
o conhecimento hermético. A citação da Palavra do Maçom juntamente com o dom do
sexto sentido sugere um sentido que capacitava o Maçom a “ver” o invisível por
identificar homens que eram companheiros maçons pelos métodos que outros não
poderiam entender.
Tanto a Palavra do
Maçom, assim como o Sexto Sentido eram mistérios Escoceses que estavam a
tornar-se mais conhecidos através do tempo.
Stevenson ainda relata
passagens pitorescas ocorridas em 1689, onde Robert Kirk, ministro da Abadia em
Perthshire tenta explicar ao inglês Dr. Edward Stillingfleet sobre o Sexto
Sentido dizendo “o Dr. chamou a Palavra do Maçom de um mistério rabínico,
quando descobri algo sobre isso”. Kirk tinha grande interesse no folclore
Escocês e fenômenos super naturais, quando Stillingfleet inquiriu sobre o Sexto
Sentido que tinha ouvido apenas nas altas terras da Escócia.
Desmentindo a suspeita
sobre ser o Sexto Sentido uma habilidade ganha pelo mal, Kirk explica que “ela
era parte das Ciências Naturais e Divinas, a qual o inquiridor deveria aprender
antes de julgar” e adicionou que o Sexto Sentido era somente uma forma natural
de olhar. Gatos e felinos enxergam melhor a noite do que homens, e telescópios
ampliam a visão. Dessa forma as pessoas podem entender melhor o Sexto Sentido.
O Second Sight, ou Sexto
Sentido pode muito bem estar relacionado aos modos de reconhecimento dos maçons
das mais diversas épocas, assim como a Palavra do Maçom.
Tais modos de
reconhecimento começam a aparecer em documentos conhecidos como Catecismos,
sendo o primeiro deles o The Edinburgh Register House Manuscript (1696). Os
catecismos compostos de perguntas e respostas eram a forma mais simples de
memorizar os conhecimentos e conceitos da maçonaria, além de através deles ser
verificado se um homem fazia parte da irmandade ou não pelas suas respostas.
Como sabemos, a grande
maioria dos maçons dessa época (1600 -1700) eram analfabetos e a memorização
era fundamental para sua efetiva participação na irmandade assim como para
realizar as reuniões e cerimônias.
O Second Sight ou Sexto
Sentido poderia também estar relacionado aqui como uma capacidade de poder
averiguar a autenticidade e veracidade das respostas e postura de um homem que
se apresentasse como maçom, assim como possuir a Palavra do Maçom.
Já no The Sloane No.3329
Manuscript (1700), são apresentados os diversos modos e sinais que um maçom
pode fazer para se identificar com outro em lugares públicos. E aqui podemos
interpretar novamente o Sexto Sentido como aquele olhar ou observação atenta
para pequenos gestos e sinais que podem estar sendo feitos num ambiente para
reconhecimento de um irmão maçom.
Considerando que o
Second Sight é uma tradição antiga ainda da época da maçonaria operativa,
podemos ainda interpretar que tal talento era o de ter a capacidade de
visualizar na sua mente a construção toda nos seus detalhes para poder realizar
a devida obra nas suas minúcias. Somente um Mestre Maçom dotado desse Sexto
Sentido poderia realizar obras tão magníficas como as que testemunhamos até aos
nossos dias nas catedrais, palácios, pontes e tantas outras obras desse período
das grandes construções em pedra.
Atualmente os arquitetos
e engenheiros utilizam-se de programas de computador sofisticados que lhe
conferem a visão tridimensional dos projetos, mas essa capacidade era inerente
dos Mestres Construtores que possuíam o Sexto Sentido.
O Second Sight ou Sexto
Sentido considerado malévolo e bruxaria do passado, mal entendido e
interpretado na idade média, ficou esquecido no passado da maçonaria mas
podemos afirmar que hoje pode ser associado à intuição, sentido importante para
todo maçom reconhecer antecipadamente aqueles que possam vir a constituir as
futuras gerações de homens livres e de bons costumes.
Alberto Feliciano
Bibliografia
Stevenson, David – The
Origins of Freemasonry 1988
Wikipédia no verbete
Second Sight
Cambridge Dictionary no
verbete Second sight